. Formação de professores: identidade e saberes da docência

Muito se fala em formação de professores, visando resgatar saberes e competências adquiridas no decorrer da formação inicial, uma vez que estudos apontam para esta discussão Este tema surgiu em âmbito internacional nas décadas de 1980 e 1990, Segundo Nóvoa (1995), esta nova abordagem veio em oposição aos estudos anteriores que acabavam por reduzir a profissão docente a um conjunto de competências e técnicas, gerando uma crise de identidade dos professores em decorrência de uma separação entre o eu profissional e o eu pessoal.

Nesse contexto é necessário trabalhar a identidade docente levando em conta os diferentes aspectos de sua vida, seus medos e anseios, suas convicções, seus saberes seu modo de ver o mundo, tudo isso irá resgatar a importância da formação do professor, num processo de auto-formação, dos saberes iniciais em confronto com sua prática vivenciada. É na junção desses saberes que o professor deverá ser formado, conciliando a sua bagagem com o novo aprendizado de uma nova sociedade, num processo de construir e reconstruir seus conhecimentos conforme a necessidade de sua utilização. Diante desse fato Pimenta (1999:109) relata que o desafio, então, posto aos cursos de formação inicial é o de colaborar no processo de passagem dos alunos de seu ver o professor como aluno ao ver-se como professor, isto é, de construir a sua identidade de professor. Para o qual os saberes da experiência não bastam.

Ao refletirmos sobre os saberes da docência, colocaremos no centro da discussão os saberes pedagógicos, os quais são constituídos no dia-a-dia da sala de aula, na pratica cotidiana. Selma Garrido (1999, p 115) contribui para esta questão quando afirma que os saberes sobre educação não geram os saberes pedagógicos. Estes só se constituem a partir da prática que os confronta e reelabora.

Portanto é preciso que a prática seja refletida e analisada constantemente, fazendo com que o professor reelabore os seus saberes adquiridos e o confronte com suas experiências cotidianas. Pensar e refletir sobre a sua prática pedagógica é buscar soluções para cessar os problemas, é encontrar novos caminhos para a superação do fracasso escolar e aprimoramento de sua metodologia.

Professores reflexivos e críticos que atuam como verdadeiro agente transformadores na escola e na sociedade é vista como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores, que atuam com convicção nos seus ideais.

Os problemas da docência

Estudos acerca da formação docente no contexto das reformas educacionais, sobretudo sobre as transformações que vêm ocorrendo no mundo atual, levando o docente a novos saberes, novas exigências e a um ritmo acelerado na jornada de trabalho é tema muito discutido entre vários estudiosos. A vida moderna e as exigências no âmbito do trabalho levam os indivíduos a, gradativamente, desenvolver algum tipo de distúrbio.

As relações entre o processo de trabalho docente e as condições sobre as quais ele se desenvolve, pode ocasionar doenças físicas ementais para os professores, constituindo um delinear entre saúde e doença, levando-os muitas vezes ao afastamento do trabalho ou a sua aposentadoria por motivos de saúde (GASPARINI; BARRETO; ASSUNÇÃO, 2007).

O fato de o magistério reunir condições desfavoráveis de trabalho, baixos salários, indisciplina, violência e desvalorização profissional, mostra que o profissional da educação se depara com problemas de saúde gerados pelo estresse de uma vida corrida e carga horária intensa, levando-os ao afastamento de sua função.
No Brasil, pouco se fez no sentido de avaliar os efeitos do trabalho sobre a saúdeem categorias de trabalhadores onde esses riscos são menos visíveis, como é o caso dos professores. De acordo com Codó (1999),
Um em cada quatro educadores sofre de exaustão emocional. Apesar desses dados, observou-se que 90% dos trabalhadores em educação estão muito satisfeitos com a atividade que desenvolvem, a grande maioria está muito comprometida com o seu trabalho. Assim como entender um trabalho onde coabitam siameses o prazer e o sofrimento, a realização e a perda de si mesmo, o inferno e o paraíso.

Cogitar um novo paradigma no cotidiano docente é estar atentos aos desafios enfrentados por essa classe de trabalhadores, no intuito de dar mais subsídios e uma melhoria na qualidade de vida dos mesmos. Professores que amam o que fazem desestimulados de fazer da prática pedagógica um trampolim para o sucesso de seus alunos e de sua carreira profissional, ficam a deriva à espera de melhorias na educação e de uma maior valorização profissional.




Síndrome do esgotamento profissional - (SEP)

A partir da década de 70 surgiram os primeiros estudos sobre este tema. O BURNOUT como é conhecido, afeta, cada dia mais docentes, gerando um crescente índice de transtornos psiquiátricos. De acordo com Remor (2002) a SEP é considerada como um estresse crônico produzido pelo contato com a demanda escolar, provocando nos docentes um esgotamento físico / ou psicológico.
Burnout pode ser definida como um fenômeno psicossocial. É um tipo de estresse de caráter persistente, relacionado com situações de trabalho resultante da constante e repetitiva pressão emocional, associada com intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo.

A síndrome de Burnouté constituída, segundo Maslach e Leiter (1999), por três dimensões; Exaustão emocional, Despersonalização e Baixa realizaçãopessoal, fatores que vão sendo construídos no cotidiano enfrentado pelos docentes que acumulam inúmeras funções dentro do contexto escolar e que nem sempre é a mais satisfatória para ele.
Segundo Esteve (1999, p, 31)... Supõem um profundo eexigente desafio pessoal para os professores que se propõem a responder ás novas expectativas projetadas sobre eles.Com isso geram uma carga negativa sobre si por não darem conta das atividades impostas, competências solicitadas aos educadores, parecem ir bem além daquela referida aos saberes específicos às áreas do conhecimento.

Qual o perfil dos docentes com SEP

Docentes com a síndrome do esgotamento profissional tendem a alterar a sua personalidade, tornam-se infelizes e insatisfeitos consigo mesmo, com o seu desenvolvimento profissional e com grande tendência ao negativismo.
Para Maslach e Jacksom (apud Codó 1999, p 238), na síndrome de Burnout, "o trabalhador se envolve afetivamente com os seus clientes, se desgasta e, num extremo, desiste, não agüenta mais, entra em Burnout", ou seja, perde a energia de continuar o seu trabalho lhe parecendo inútil lutar contra a questão apresentada.
A necessidade de desempenhar vários papéis muitas vezes contraditórios ao seu ponto de vista gera em si uma sensação de incompetência e desânimo diante dos problemas cotidianos. Alguns autores contribuem com essa discussão quando afirmam que;
Não é possível determinar, com exatidão a origem da SEP, sua seqüência ou as correlações das diferentes fases implicadas no seu desenvolvimento. O que se sabe é que docentes com grande atividade e com grande jornada de trabalho estão mais propensos a adquirirem a SEP.Alvarez, Alonso e Bernaré (1999).

Faber (1991) parte dopressuposto de que as causas são uma combinação de fatores individuais, organizacionais e sociais,Gerando assim uma classe que além de serem desvalorizadas ficam a mercê das políticas organizacionais que nada fazem em prol do bem estar docente, colocando em último plano a questão saúde na esfera educacional, muito se fala em qualidade de vida, mas não se dá os subsídios necessários para a concretização desse tema na escola, onde docentes são esquecidos e encarregados de transformar o mundo dentro de um contexto pobre de condições físicas /psicológicas.

Segundo Cury,
[...] não temos tempo para filosofar sobre a vida, sobre o belo, cada vez trabalhamos mais, nos angustiamos mais com as coisas do passado e do futuro. Nunca a medicina, a psiquiatria e a indústria do lazer desenvolveram-se tanto, noentanto nunca a humanidade esteve tão doente. A indústriados antidepressivos esta cada vez mais poderosa, porque esperamos as pessoas adoecerem para depois tratar. Será que podemos criticar a escravidão que o sistema nos impõe?

Tudo isso nos mostra qual tamanho é a dimensão desse problema, docentes adoecem mais e mais na busca da realização do seu trabalho e na esperança de mudanças no contexto da educação, geram desequilíbrios emocionais na luta incessante de concretização e sucesso na vida pessoal e profissional. A severidade de burnout entre os profissionais de ensino já é, atualmente, superior à dos profissionais de saúde, o que coloca o Magistério como uma das profissões de alto risco (Iwanicki & Schwab, 1981; Faber,1991).
Torna-se fundamental a importância de destacar que a prevenção e a erradicação de burnout em professores não é tarefa solitária deste, mas deve contemplar uma ação conjunta entre professor, alunos, instituição de ensino e sociedade, criando um elo de solidariedade e cumplicidade.




REFERÊNCIAS


JC Sarrieira, A síndrome de Burnout: A saúde em docentes de escolas particulares, Disponível em: www. Simpro-rs.org.br/cepep/palestraSimproburnout.doc.


RIOS, Azeredo Terezinha et. all. IN: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIBA. Pedagogia em Regime Especial. Campina Grande, PB, 2006. (Coletânea de Textos Didáticos ? v, n. III).

UNESCO. Quatro Pilares da Educação, instituídos a partir do relatório elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI. 1999.



ZANDONATO, Zilda Lopes. Indisciplina escolar e relação professor-aluno, uma
análise sob as perspectivas moral e institucional. Presidente Prudente, 2004.
Dissertação (Mestre em Educação), Universidade Estadual Paulista.