A Direção Espiritual da mulher Cananeia, com Jesus (Mt 15,21-28)
Diac. Joacir S. d?Abadia

Texto bíblico
21 Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia.
22 E eis que uma cananeia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio.
23 Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com seus gritos.
24 Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
25 Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: Senhor, ajuda-me!
26 Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _ 27 Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos... 28 Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.

Estrutura do texto

Introdução: "Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia" (v. 21).
Desenvolvimento em cinco partes:
1) Diálogos entre a mulher e Cristo:
Os três pedidos da mulher:
a) "Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio" (v. 22);
b) "Senhor, ajuda-me!" (v. 25) e
c) "Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos..." (v. 7);
2) A intercessão dos discípulos: "Despede-a, ela nos persegue com seus gritos" (v. 23);
3) A declaração de Jesus: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (v. 24);
4) Jesus fala sobre os coes: "Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos" (v. 26) e
5) Jesus reconhece a fé da mulher: "Ó mulher, grande é tua fé!" (v. 28).
Conclusão: as realizações (v. 28):
a) da súplica: "Seja-te feito como desejas" e
b) Da cura: "E na mesma hora sua filha ficou curada".

O contexto da perícope
Depois de passar um tempo na Galileia, Jesus vai à terra estrangeira. Parte, então, para a região de "Tiro e Sidônia", no norte da Galileia, atual Líbano.
Uma terra estrangeira onde grande parte das pessoas eram pagãs. "Uma delas era esta mulher que foi ter com Jesus. Esta mulher, sem nome, o evangelista Marcos [Mc 7,24-30 (grifo meu)] chama-a de Síro-Fenícia, Mateus diz que ela é cananeia. Os dois títulos têm o mesmo significado: é uma mulher estrangeira" .

Atitude da mulher
Ela era conhecedora do poderio de Cristo. Dirige-se a Ele em gritos animalescos constantes: "Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim!" (v. 22). Utiliza, assim, dois títulos da tradição judaica: "Senhor" e "Filho de Davi". Quando usa "Esse título ?Filho de Davi? mostra que, para ela, o Mestre não era um simples profeta, mas o Messias prometido" .
Porque Jesus devia ter piedade da Cananeia? Ele "sabia que, ao lhe gritar de longe, sem qualquer cerimônia, aquela mulher estava passando por uma grande aflição, e precisava realmente deu um milagre... Ali estava uma fé muito firme" (Idem). Ela diz: "Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio" (v. 22). Vê o problema de filha como sendo o seu próprio. Porém, não tem nenhuma resposta de Jesus, o qual queria provas concretas da confiança daquela mulher Cananeia.
Este silêncio de Jesus leva-a cessar os gritos. Sua atitude corporal é que entra em cena. Ela "veio prostrar-se diante dele!" (v. 25): "A atitude não é só de súplica, mas de adoração: ela discerniu a ascendência misteriosa de Jesus" .
Reafirmando sua confiança no Messias, faz humildemente seu pedido cheio de fé: "Senhor, ajuda-me!" (v. 25). "Essa restrição do pedido denota a dimensão de sua fé: exige menos, mas mantém a mesma esperança e talvez essa de dilate ainda mais!", como diz France Quéré.

A atitude de Jesus com a Cananeia, sua dirigida Espiritual
De início Jesus se porta indiferente com os gritos uivosos da mulher. Não lhes responde. Continua com sua caminha na terra estrangeira. Porém, a mulher Cananeia "gritava" (v. 22) sem parar.
Então seus discípulos disseram: "Despede-a" (v. 25). Ou seja, queriam ficar livres dos gritos confiantes daquela mulher que suplicava cura para sua filha "atormentada por um demônio" (v. 22).
"Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (v. 24). Jesus responde não a mulher, mas a seus discípulos com essa palavra forte que já valia "por uma recusa clara", como percebe Isac Lorena. Isso porque "Jesus se considerava dentro da justiça ditado por seu Pai. Ele não pode ultrapassar as fronteiras. Além do mais, uma diferença inerente à natureza separa o judeu do pagão" .
Depois do gesto e da súplica da mulher (cf. v. 25), "Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _ Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos..." (Mt 15,26-27). Isso, porque "Os pagãos eram chamados de cães pelos hebreus" .
A cananeia disse: "Certamente, Senhor" (v. 27). Ou seja, concordou com tudo que lhe fora dito. "No entanto, a pagã modificou uma palavra: o filho tornou-se o senhor. Revela assim um grande respeito e parece aumentar ainda mais da distância que separa um judeu de uma Cananeia" (Quéré). Assim foi a Direção Espiritual da mulher Cananeia com Jesus.

Quem é que toma a iniciativa
A Cananeia suplica ao Senhor a cura para sua filha. Ela é uma ponte por onde passa Jesus a falar sobre a abertura da salvação aos pagãos dizendo-lhe: "Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas" (v. 28).
Foi, pois, pela fé manifestada através dos gestos humildes desta mulher pagã que o senhor atende seu clamor. "E na mesma hora sua filha ficou curada" (v. 28).

Quais as consequências na vida da mulher Cananeia
Ela não mais aparece nos Evangelhos a não ser em seu paralelo em Mc 7,24-30 com o nome de siro-feníncia. Sem, contudo, possibilitar saber as reais consequências de cura na vida desta mulher pagã.


BIBLIOGRAFIA

BARBAGLIO, Giuseppe, et al. Os Evangelhos. Vol. I. Tradução de: Jaldemir Vitório. São Paulo: Loyola, 1990.
LORENA, Isac. A mulher no Evangelho. São Paulo: Paulinas, 1976.
QUÉRÉ, France. As mulheres do Evangelho. Tradução de: M. Cecília de M. Duprat. São Paulo: Paulinas, 1984.
SAYLA, Bantu Mendonça K. UMA FÉ PERSEVERANTE Mt 15,21-28. Disponível em: http://blog.cancaonova.com/homilia/2009/08/05/uma-fe-perseverante-mt-1521-28/. Acessado em 03 de setembro de 2010.