A DIMENSÃO ÉTICA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL  

                                        Risolete Nunes de Oliveira Araújo¹

¹Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental e Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP.  

RESUMO: O presente ensaio destina-se a uma discussão sobre a dimensão dos valores éticos  em educação ambiental.  E ainda, propor um repensar das relações entre a educação e o meio ambiente no plano da ética ambiental. Discutir a ética ambiental como uma nova concepção filosófica da relação homem-natureza, um estudo que extrapola os limites intersociais do homem, dando azo ao nascimento de uma nova ética diversa da ética tradicional, chamada de ética ambiental, mas para que isto ocorra é necessário que tenhamos a plena conscientização da problemática ambiental.

Palavras - chave: Educação Ambiental; Ética Ambiental; Meio Ambiente.

ABSTRACT: This paper aims at a discussion of the ethical dimension of environmental education. And also propose a rethinking of the relationship between education and the environment in terms of environmental ethics. Discuss environmental ethics as a new philosophical conception of man-nature relationship, a study inter beyond the limits of social man, giving rise to the birth of a new ethic different from traditional ethics, environmental ethics call, but for this to occur is necessary that we have full awareness of environmental concerns.

Keywords: Environmental Education, Environmental Ethics, Environment.

1. Introdução

Para discussão de como está sendo dimensionada a educação ambiental, fundamenta-se o tema a partir da abordagem contextual no plano internacional, objetivando demonstrar, como a Educação Ambiental foi postulada nos eventos técnicos e políticos internacionais.   O debate terá  um recorte analítico a partir da década 1970. E se fará uma breve exposição das principais Conferências Internacionais que contribuíram de forma significativa para a concepção da emergência da Educação Ambiental.

Em seguida, de forma fundamentada se fará uma exposição de que a crise ambiental atual tem uma face voltada para a crise cultural, de como o homem no decorrer da história se relacionou com o meio ambiente. E como a educação ambiental pode transformar esse paradigma. E por fim, busca-se a dimensão ética da educação ambiental, que se mostra como um debate ainda em construção.

2. Antecedentes históricos da educação ambiental

A problemática ambiental percebida como ameaça  se caracteriza no inicio da década de 1970, essa inquietação passou a fazer parte da realidade mundial, muito embora viesse de encontro aos interesses daqueles que temiam que a mobilização mundial em defesa do meio ambiente pudesse impedir suas atividades degradadoras e lucrativas. Nesta mesma década, foi elaborado por uma entidade relacionada à revista britânica The Ecologist, chamado de O Manifesto para Sobrevivência, o qual destaca que o aumento indefinido do consumo não poderia ser sustentado por recursos e matérias primas finitas. Para melhor compreensão importante relativizar as conferências internacionais que discutiam a dimensão da educação ambiental.

Assim, com fundamento em Guimarães (2005), no cenário mundial a questão ambiental ganhou grande repercussão com a Conferência realizada em Estocolmo, em 1972. E no referido evento se estabeleceu uma abordagem multidisciplinar para a Educação Ambiental.

Em 1975 realizou-se em Belgrado o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental, onde são formulados os princípios básicos para um programa em da EA.

Já em 1977, em Tbilisi, Geórgia (ex- URSS), considerada por Guimarães (2005) e Pedrini (2008) a Conferência Internacional mais marcante. Em síntese a proposta seria de a EA basear-se  na ciência e tecnologia para a consciência e adequada apreensão dos problemas ambientais. E despertar o indivíduo a participar ativamente na solução de problemas do seu cotidiano. Esta conferência é apontada por Grü (2007) um dos eventos decisivos nos rumos que a EA vem tomando em vários países do mundo, inclusive no Brasil.

Nesse contexto, EA deveria ser entendida, para constituir uma educação com a qualidade necessária para desempenhar uma função produtiva, com vistas a melhorar a vida e proteger o meio ambiente, prestando a devida atenção aos valores éticos.

Segui-se o estudo com a Conferência de Moscou em 1987, que segundo Pedrini (2008), a EA deveria preocupar-se tanto com a promoção da conscientização e transmissão de informações, como com o desenvolvimento de hábitos e habilidades, promoção de valores, estabelecimento de critérios e padrões e orientações para a resolução de problemas e tomada de decisões. O objetivo era, portanto, modificações comportamentais nos campos cognitivos e afetivo.

            Observa-se a dimensão que a EA vem tomando ao longo de cada Conferência, ressalta a preocupação dos estados e organismos internacionais com o meio ambiente.

            Em 1992 o Brasil entra na rota das Conferências Internacionais, a Conferência aqui realizada  ficou conhecida como  Rio-92, ficou conhecida como a maior reunião com fins pacíficos já realizada na história humana. Nesse evento se massificou o conceito de desenvolvimento sustentável.

        Em face de todo exposto, o quadro descrito tem contribuído para formar o consenso de que a educação ambiental deveria ser capaz de reorientar as premissas do agir humano em sua relação com o meio ambiente, conforme explica Grün (2007).

3. Educação Ambiental: uma contextualização de valores éticos

A crise ambiental é vista como sintoma de uma crise cultural, que tem uma face voltada para cultura ocidental. O modo de exploração dos recursos naturais, a poluição em seus diversos níveis, o comprometimento dos ecossistemas, sistemas de valores que propiciam a expansão ilimitada do consumo material.  Na visão de Grün (2007) nossa civilização é insustentável se mantidos os nossos atuais sistemas de valores. O autor segue em sua análise lecionando que a educação ambiental resgata, se reapropria  certos valores.  Valores estes que não estão no nível mais imediato da consciência, mas se encontram reprimidos através de um longo processo histórico.

Nesse sentido seria parte da tarefa da educação ambiental é proceder a uma tematização a respeito dos valores que regem o agir humano em sua relação com o ambiente.

Nessa discussão Galli (2012), defende que a ganância do homem acabou por levá-lo a atos totalmente alheios a julgamento de valor, uma vez que não distingue entre o bem e o mal que possa fazer não só ao meio ambiente, mas também a todos os seres vivos. Com o passar dos anos e com as revoluções vividas pelo homem desde a revolução industrial até a recente revolução tecnológica, o homem rompeu não apenas o vínculo que o mantinha ligado à natureza, mas também permitiu e até estimulou que se arrefecessem suas relações com seus semelhantes.

A autora em comento ainda postula que a ética ambiental pode servir de ponto de partida não apenas na proteção do meio ambiente, mas também para a totalidade dos vieses que envolvem ás relações atinente á vida humana.

Nessa conjuntura, para Galli (2012) a educação ambiental pode ser capaz de realizar o resgate de valores éticos precípuos que sirvam de base para a formação de pessoas mais conscientes da sua condição de parte integrante do meio em que habita.

Em Sirvinskas compartilhando as ideias de Capra (apud Galli, 2012) aponta que a educação ambiental deve ser fundamentada na ética ambiental. E para este autor ética ambiental é o estudo dos juízos de valor da conduta humana em relação ao meio ambiente, nas palavras do próprio autor:

[...] é a compreensão que o homem tem da necessidade  de preservar ou conservar os recursos naturais essenciais à perpetuação de todas as espécies de vida existentes no planeta Terra. Está compreensão está relacionada  com a modificação das condições físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, ocasionada pela intervenção de atividades comunitárias e industriais, que pode colocar em risco todas  as formas de vida. O risco de extinção de todas as formas de vida deve ser uma das preocupações do estudo da ética ambiental ( apud GALLI, 2012, P. 39).

Esse entendimento é reforçado por Reigota (1994), quando propõe, que é por meio da educação que se deve capacitar ao pleno exercício da cidadania, favorecendo a formação de uma base conceitual suficientemente diversificada, técnica e culturalmente aceitável, de modo a permitir que sejam superados os obstáculos à utilização sustentável do meio. O referido autor sustenta que:

Para que isso ocorra, é preciso formar pessoas conscientes, críticas, éticas, preparadas, portanto para enfrentar esse novo paradigma. A educação ambiental nos níveis formais e informais tem procurado desempenhar esse difícil papel resgatando valores como o respeito à vida  e à natureza, entre outros, de forma a tornar a sociedade mais justa e feliz. (REIGOTA, 2012, p. 10).

Essa postura, segundo o autor, se configura em uma ideologia que conduz à melhoria da qualidade de vida e ao equilíbrio dos ecossistemas para todos os seres vivos.  Assim, mais do instrumento de gestão ambiental, ela deve tornar-se uma filosofia de vida, que se expressa como uma forma de intervenção em todos os aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos e estéticos.

Desse modo Reigota (1994), contribui com o presente estudo afirmando que a educação nunca é neutra. Ela reflete necessariamente a ideologia de quem com ele trabalha, podendo ser reprodutora ou questionadora do sistema sociopolítico e econômico dominante. Então, torna-se de suma relevância a organização e divulgação de ideia de uma educação ambiental fundada na ética ambiental, para formar indivíduos conscientes e capazes de respeitar a vida em todas as suas manifestações, para garantir a sustentabilidade do planeta.

4- A dimensão ética da educação ambiental: um debate em construção   

            Segundo Grün (2007), ao abordar a busca de uma solução para o problema ético da educação ambiental, afirma que não há uma saída fácil para o problema, mas existem caminhos capazes de apontar perspectivas para passarmos a dimensão ética da educação ambiental.

            O autor em destaque apresenta uma análise histórica da educação ambiental demonstrando a existência de um antagonismo entre modernidade e tradição nos currículos escolares. Desse modo, o estudo das disciplinas de dá fora de um contexto cultural-ambiental, onde a natureza é vista com algo primitivo, bárbaro, a superstição que o tipicamente moderno quer eliminar a qualquer custo. Fato que dificulta a relação entre práticas culturais  e o meio ambiente. Na hipótese lançada por Grün, é que abordar as questões ambientais em uma perspectiva ético-histórica que perpasse todo o currículo imposto pelo pensamento científico moderno, ou seja, a ética ambiental é multi e pluridisciplinar  por excelência, e deve ser preocupação das mais diversas áreas do conhecimento.

O autor  compreende que o pensamento científico moderno impôs barreiras quase que intransponíveis para que as questões ambientais encontrassem espaço na educação moderna. E uma forma de se abrir esse espaço é recorrendo à história humana com história das formações culturais que condicionam nosso relacionamento com o meio ambiente. A dimensão ética da educação ambiental deveria ser buscada na história recalcada de nosso relacionamento com o meio ambiente, conclui Grün (2007).

            Dentro dessa visão é fundamental que se faça um resgate e se estimulem valores, condutas e tradições que sempre protegem o meio. Nesse sentido Galli (2012), direciona que não se pode almejar a chamada salvaguardar da natureza e a sustentabilidade socioambiental sem que o ser humano repense suas atitudes diante do meio. A autora prossegue afirmando que uma postura ética ambiental, global faz-se indispensável como garantia da própria vida humana na Terra, já essa existência deve ser sinônimo de caráter e representa respeito no modo de ser e agir da comunidade mundial para o meio ambiente.          

5- Considerações finais

Diante do exposto ao longo do trabalho, é oportuno o surgimento de uma reação ética na atualidade, com a finalidade de preservar a vida humana e de todas as demais formas de vida, bem como de todos os ecossistemas do planeta. Com efeito, o desenvolvimento econômico deve conciliar uma atitude socialmente justa e economicamente viável de exploração do ambiente, contudo, sem exaurir sua capacidade natural de se reproduzir para as gerações futuras. Lembrando que esta geração tem um compromisso ético em salvaguardar o planeta para as gerações que ainda estão por vir.

A evolução histórica que trouxe o homem á pós-modernidade, fez com que a crise ambiental  chegasse ao ponto que se encontra, deixando evidenciado a necessidade de mudança do modo de viver das pessoas, não apenas em relação  ao ambiente, mas em relação aos seus semelhantes.

 Uma nova forma comportamental torna-se imprescindível e urgente. Acordar para uma nova consciência ética frente à fragilidade do mundo natural, com suas complexas questões ambientais, objetivando o surgimento de uma sociedade mais equitativa, pacífica e harmoniosa, e a própria preservação da vida humana, daí a importância de se conscientizar todos os segmentos da sociedade para essa nova relação ética, e seria a educação o fio condutor.

6- Referências Bibliográficas

FORTE, Sérgio Henrique Arruda Cavalcante. Manual de elaboração de tese, dissertação e monografia. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2004.

GALLI, Alessandra. Educação Ambiental como Instrumento para o desenvolvimento sustentável. 3° ed. Curitiba: Juruá, 2012.

GUIMARÃES, Mauro. Dimensão Ambiental na Educação. São Paulo: Papirus, 2005.

GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 11° ed. São Paulo: Papirus Editora, 2007.

PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. 6° ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994.