O mundo contemporâneo atingiu um dinamismo antes nunca percebido, provocando mudanças de hábitos e convertendo identidades, até então ditas como ideais, em “identidades ultrapassadas”. O homem moderno tornou-se um indivíduo fragmentado, multifacetado. Esta nova ótica retirou de todo cidadão a estabilidade do ser e agir conforme paradigmas instituídos e aceitos como únicos, acertados e perpétuos. Portanto, o homem-família, o homem-social, o homem-trabalho, acaba sentindo despreparo e desconforto por ter que administrar simultaneamente um cabedal de perfis e personalidades de grupos heterogêneos. Naquilo que concerne às relações de trabalho, que é o foco principal deste texto, o novo paradigma das interrelações pessoais é infinitamente mais delicado e compassivo. A questão é: como lidar com tanta diversidade cultural, intelectual e social ao mesmo tempo, e sob intensa e constante pressão? Neste cenário extremamente diversificado o profissional de coaching desenvolve um verdadeiro e difícil “trabalho de arte”. Justamente porque o seu papel está na façanha de influenciar o coachee sem apresentar soluções prontas sejam elas práticas ou teóricas, sem subjugar. A influência deve ser sutil, porém, alicerçada por conhecimento prático-teórico suficientes para motivar a busca por novos saberes e soluções. É importante ressaltar que, quando a necessidade presencial do profissional de coaching é reconhecida pelo próprio coachee a mecânica de todo processo flui de forma mais espontânea. No entanto, quando percebida por alguém de grau mais elevado na escala hierárquica do coachee, a relutância é natural e provável, afinal, “outro” estará apontando uma carência talvez não admitida. Diante do exposto é notório o fato de que o maior entrave nas relações coach versus coachee não ancora nos problemas propriamente ditos, mas sim, no administrar o subjetivo. E, é relevante evidenciar que o subjetivo é tempero indissociável da pluralidade de interpretações. Cada coachee traz consigo uma personalidade construída por diferentes pessoas e ambientes pelos quais manteve contato por sua vida, e isto, não está registrado em algum diário ou manual operacional. Todo seu conhecimento prático-teórico também. Este capital intangível possui um valor inquestionável para aquele que o detém e resume-se, na maioria das vezes, em sinônimo de algo intransferível e imutável. Esta imutabilidade, muitas vezes inconsciente, é que determina radicalmente a resistência contra as modificações das bases de valores pessoais. O ser humano ressente-se em abrir mão de tudo que lhe custou tempo e dinheiro. Por isso, e acima de tudo, o coach precisa deter a prática das relações interpessoais e conhecer tudo que for possível sobre as variáveis que moldam e conduzem o comportamento humano. O homem é um ser cognitivo inato e permanecerá num sistema organizacional recheado de complexidades por grande parte de sua vida, ora sendo influenciado, ora influenciando, ou seja, ele será produto e produtor do meio que vive. O ser humano visto como peça fundamental de todo e qualquer sistema de produção, precisa adequar suas características pessoais, especificamente suas potencialidades e limitações. O profissional de coaching terá a incumbência árdua de buscar compreender o incompreendido pelo coachee, e de fazê-lo expressar o compreendido, porém não expresso. Assim, cabe à relação coach x coachee identificar e ajustar modelos que influenciam diretamente aspectos psicológicos e sociais decorrentes das relações de trabalho. Portanto, o processo de coaching, além de reformular e corrigir práticas e relações de trabalho, sejam elas pessoais ou operacionais, resulta em acréscimo de conhecimentos multidisciplinares a todos os envolvidos.

 Referências:

ARAÚJO, A. Coach. Um Parceiro para o seu Sucesso. São Paulo: Gente, 1999.

CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 1980.

 KRAUSZ, R.R. Coaching Executivo: A conquista da Liderança. São Paulo: Nobel, 2007.

 SIMÕES, J.J. Psicologia e Dinâmica da Vida em Grupo. São Paulo: Loyola, 1980.

 SOUZA, P. R. M de. A Nova Visão do Coaching na Gestão por Competências: A Integração da Estratégia. São Paulo: Qualitymark, 2007.