A dicotomia entre a Inversão da hierarquia abordada na Obra Romeo And Juliet de Shakespeare confrontando o caos e a (des) ordem

A dicotomia entre a Inversão da hierarquia abordada na Obra Romeo And Juliet de Shakespeare confrontando o caos e a (des) ordem

Ana Damares Mendes*

Diante da complexidade que a obra analisada demonstra,seja pela intensidade que os sentimentos( amor e ódio) são enfatizados, ou até mesmo pela ação onde geralmente são abordadas situações de desentendimentos entre ao personagens é que surgem os questionamentos: Como explicar o papel dos servos na Obra? E por que essa rivalidade tão forte entre todos os componentes das famílias Montequios e Capuletos que vai desde os servos até o pai das famílias? E mais como explicar a questão da (des) ordem social na obra em contra posição com o Amor entre Romeo and Juliet ? Baseada nas problemáticas já citadas anteriormente é que estas relações serão abordadas ao longo do trabalho( o papel do servos,a rivalidade da famílias, e (des) ordem social e a relação do amor de Romeo and Juliet). As características enfatizadas no presente artigo são apresentadas pela importância das ações dos personagens e até que ponto estas ações podem ser relevantes para o caos abordado.

É importante destacarmos aqui a quão importância de se manter a ordem de uma sociedade já que é através da ordem que surgem as alianças ,o crescimento e valorização do local onde vive. E ainda, uma sociedade onde prevalece a ordem é sempre bem vista,tanto para negócios como também como exemplo a ser seguido,e o líder,neste o caso,o rei ou príncipe tem um papel fundamental para manter esta “ ordem”, manter a hierarquia adotada desde os primórdios dos tempos e fazer com que a sociedade usufrua destes privilégios.

Outra questão que é interessante introduzir aqui é o papel dos servos em uma casa de família que possui status na sociedade,(vale lembrar que estamos apenas introduzindo o papel dos príncipes e servos mas ainda não estamos nos detendo a obra, mas sim generalizando os possíveis funções de cada um para que ao longo do artigo possamos nos deter especificadamente na obra em destaque “ Romeo and Juliet ”.) A função dos servos neste caso,seria apenas servir de forma eficaz seu senhor e jamais se impor e deixar que suas ações interfiram diretamente nas decisões de seus senhores.Assim como os filhos que possuem a obrigação de obedecer seus pais acima de qualquer coisa, e desobedecê-los é uma forma de afrontá-los,ação a qual a sociedade condena.

A ( des) ordem causada pelo caos enfrentado na sociedade.

É notório afirmar que em Romeo and Juliet há a presença constante de desentendimentos já que a história é contada no auge da guerra civil, mas a questão analisada é como os componentes da sociedade reagem a tal situação. Já que há brigas é necessário neste caso que haja o controle dessas brigas para que assim a sociedade não tenha grandes percas.O fato do príncipe sempre precisar de certa forma se meter na briga entre as famílias nos leva a entender que há sim uma desordem,a questão analisada é até que ponto acontece essa desordem, porque precisa-se de certa forma ser dominada por algo ou alguém e a pessoa que se espera é o príncipe. O príncipe deveria com o poder que possui ter domínio da situação mas o que vemos é que ele se perde totalmente, é tanto que o fato de ter decidido em uma das brigas entre as famílias que o causador da contenta pagaria com sua própria vida quando ele precisa colocar a ação em prática volta atrás na decisão.

Essa atitude nos remete analisar que o caos começa no próprio poder da sociedade, digamos que no topo, é importante lembrarmos da importância que a sociedade tem e o respeito pelo príncipe mas neste caso, como respeitar e obedecer alguém que não cumpre com sua palavra? É certo que o fato da briga entre Romeo e Telbaldo ser iniciada pelo próprio Telbaldo e que neste caso,já está morto, mas há uma promessa e a atitude do príncipe aqui merece um enfoque maior.

O fato do príncipe voltar atrás na sua decisão causa um verdadeiro transtorno na sociedade,é certo afirmar que através desse ato e também pelo fato dele constantemente precisar se impor nas desavenças da família nos remete afirmar que o príncipe não tem a credibilidade que um príncipe deveria ter.E ainda, se o príncipe tivesse realmente a credibilidade devida ,bastaria uma ordem e todos cumpririam e não mais haveria as brigas,mas a história nos mostra várias vezes que o príncipe se impõe, ordena que parem e todas as brigas continuam a acontecer.

Vale lembrar que as desavenças ocorridas na ruas são também entre os servos, isso nos leva mais uma vez a afirmar que até os mais simples também não temiam ao príncipe, causando assim uma (des) ordem ainda maior.

A inversão da hierarquia proposta pela sociedade onde os servos conseguem induzir na ação dos demais.

É importante salientarmos aqui a importância que os servos possuem em Romeo and Juliet, mesmo sendo inferiores na quesito financeiro eles possuem um poder de persuasão e conseguem até interferir nas decisões dos seus servos. O fato dos servos possuírem uma ligação íntima com seus servos os fazem de certa forma privilegiados por saberem até mais que os próprios parentes,um exemplo disso é o fato de quando Juliet precisa da ama para acobertar seu amor com Romeo, a ama sabia de tudo ,muito mais que a própria mãe de Juliet. É certo afirmar que neste caso também os servos tem mais importância que os pais quando Juliet resolve enfrenta-los para viver o amor com Romeo. Há de certa forma a inversão da Hierarquia já que num lar, o pai é o soberano e as decisões dele não podem jamais ser questionadas,o que nos mostra que a inversão neste caso é proposta pela sociedade, porque é ela que impõe as regras e costumes, mas cabe a cada um seguir ou não.

A inversão ocorre também com Romeo, o fato e a maneira como trata os servos nos chama atenção para a temática discutida, é certo que há uma consideração, tanto da parte dos servos pelos seus senhores como também dos seus senhores pelos servos. É tanto que são os servos que brigam na maioria das vezes em nome da casa de seus senhores.

É muito importante em Romeu e Julieta o fato de Romeu- não importa o quanto esteja atormentado –ser invariavelmente cortês com seus anteriores,e, quando chama algum deles de “ companheiro”, não o está tratando com condescendência. Por outro lado, a fala inicial de Tebaldo é: what,art thou draw among these heartles hinds?”[como? Saca a espada contra esses servos indefesos?]Seis jogos de palavras em dez sílabas (“ draw”, “ heart” [hind] são palavras com dois sentidos), em que ele consegue dizer que os criados ( “hinds”) brigões são covardes ( “ heartless”). Eles se apressam em provar que, embora possam ser desordeiros, não são covardes. Telbaldo apenas considera que eles o são,porque são inferiores a ele em condição social. Então percebemos que ,embora Telbaldo seja dúvida em um homem refinado e até mesmo brilhante, não temos certeza se iremos gostar dele.(FRYE,Northrop.pp.18-19

È válido afirmar que o fato da forma como tanto os servos como os próprios membros dos Montequios e Capuletos se expressam nos chamam atenção,nota-se que não há diferença nas maneiras e modos de se expressarem. Cabe analisarmos tal fato como mais uma comprovação da inversão da hierarquia porque pelo poder que as famílias em destaque possuem,o mínimo é de se esperar bons modos, boas maneiras ,mas vemos que isso não ocorre com frequência,o que perpassa são vocábulos considerados impróprios para serem usados,pelo menos espera-se palavras mais bonitas dos Montequios e Capuletos.

È Notório enfatizar Frei Lourenço com um personagem que merece também um enfoque maior, é pelos desafiador aceitar que um padre tenha um plano como o dele, mas não é essa a questão e sim a forma como ele fez,é certo que tinha bons objetivos e o fato de pensar tudo em algo como forma de unir as famílias pode até parecer algo bom,mas há o fracasso e essa a questão analisada como explicar tal fracasso? E o que seria este fracasso?

É ele que,não tem certa dose de maquiavelismo, dirige os acontecimentos: á a benção nupcial, clandestina, aos amantes , para contrariar a briga insensata das duas famílias; dá a bebida narcótica a Juliet para salvá-la do casamento forçado; manda ,pelo frei Jonh , a carta a Romeo para informá-lo ,para que tudo retunde em bem. Frei Lourenço pretende transformar o acaso absurdo em ordem razoável.E fracassa em tudo. A cena na cela, quando Frei Jonh lhe confessa o acaso estúpido que impediu que Romeo recebese a carta- é uma das cenas mais trágicas do teatro shakespeariano . Unnappy Fortune! Responde Frei Laurence. “ desgraças da fortuna! Ele tem que reconhecer a “ deusa” que estraga os homens; a desgraça que é a desorganização deste mundo. ( CARPEAUR, Oho Maria.pp.77)

Há neste caso dois tipos de fracasso,que podem ser claramente perceptíveis,o primeiro é o fato dele deixar se levar pela emoção, e mesmo que no plano inclua mentir,enganar, correr os devidos ricos ele resolve conduzir o plano. O fato dele aceitar e mais grave ainda induzir Juliet a concordar como única forma de conseguir viver o amor dela com Romeo nos faz analisar como algo negativo perante a sociedade o que denota mais uma inversão da hierarquia conduzida perante a sociedade,já que a mesma acredita que um padre tem que ser considerado um alguém puro,sem mancha. E o segundo fracasso seria neste caso o fracasso do plano,o provável e planejado por ele não ter dado certo e duas mortes causados de certa forma pelo ódio das suas próprias famílias e como busca para a paz das mesma.

Romeu e Julieta é de tal modo envolvente , apaixonante, que ao menos dois aspetos são normalmente esquecidos: por um lado, até que ponto a linguagem é excessiva em momentos de crise;por outro lado, o fato de a obra não ser( ou pelo menos não ser só) uma historia de a mor mas,sim um sermão sobre os males da guerra civil: Romeu e Julieta compram com suas vidas a paz entre duas famílias, que viviam em luta gratuita e danosa para a comunidade. Está será ,talvez , a primeira tragédia comunitária, pois quem passa pelo doloroso aprendizado trágico comunitária, pois quem passa pelo doloroso aprendizado trágico são as famílias e não os jovens amantes, vitimas destruídas porque se amam em um mundo de ódio. (HELIODORA, Barbara. Falando sobre Shakespeare.p.42)

O amor nasce em meio ao ódio como forma mantenedora da paz entre as famílias.

O fato de Romeu E Julieta estarem aptos a viver esse amor custe o que custar é algo que contrapõe todos os costumes impostos pela sociedade, afinal eles tem todos os motivos para desistirem desse amor mas preferem sacrificar suas vidas em prol desse amor.

Romeo e Julieta compram com suas vidas a paz entre suas duas famílias,que viviam em luta gratuita e danosa para a comunidade.Esta será. Talvez, a primeira tragédia comunitária,pois quem passa pelo doloroso aprendizado trágico são as famílias e não os jovens amantes, vítimas destruídas porque se amam em um mundo de ódio.(HELIODORA,Barbara.pp.42)

Surpreendentemente , Romeu e Julieta tem que ser encarada como um beco sem saída(...)( Heliodora,Barbara.p.132)

Em suma o resultado de toda essa inversão da hierarquia causada pelo príncipe,pelos servos,padre e as famílias Montequios e Capuletos causaram apesar da forma como uma solução para manter a paz entre as famílias. É relevante afirmar que é uma tragédia e por isso o amor de Romeu e Julieta não ter sido possível ter conseguido perdurar por mais tempo na terra afinal o amor que eles sentiam um pelo outro é amor diferenciado dos demais,é o chamado a religião do amor,onde só cabiam eles dois e mais ninguém.O resultado de tudo isso acontece devido a inversão da hierarquia e o caos que acontece na peça , a (des) ordem com que a sociedade é apresentada e os fatos e ações que se encaixam no final para a tragédia ter o seu devido sentido e valor.

Bibliografia

HELIODORA, Barbara.Reflexões Shakespearianas.Organização Célia Arns de Miranda,Liana de Camargo Leão.-Rio de Janeiro:Lacerda editores.2004.

FRYE,Northrop. “Introdução”.In: Sobre Shakespeare.( Northrop Frye on Shakespeare).Org: Robert Sandler.trad.: Simone Lopes de Mello. São Paulo: EdUSP,1999,p.13-28)

CARPEOUR, Oho Maria.pp,70-78. Both your Houses.