A DESIGUALDADE SOCIAL E A ESTÉTICA DAS CLASSES A E B

Por Marcelo C. P. Diniz 


Alguém já escreveu que nada emociona mais do que a beleza. E o que é beleza, afinal? Antigamente, esta palavra era utilizada para denominar exatidão, precisão. Mais tarde, evoluiu para significar simetria. Na realidade, a beleza é uma percepção individual caracterizada pelo que é agradável aos sentidos. Esta percepção é influenciada pelo contexto, pelo ambiente cultural, pelos costumes.

Na sociedade moderna, os ideais de beleza têm sido ditados pela mídia e chegamos a tal extremo que a magreza foi valorizada a ponto de gerar modelos doentias. Porém, mulheres gordas podem ser consideradas lindas em algumas ilhas do Pacífico, negras são belíssimas na África, amarelas são maravilhosas na Ásia.

Neste ponto, é oportuno citar a estética, que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Filósofos antigos, como Platão e Aristóteles, diziam que a essência do belo seria alcançada identificando-o com o bom e o verdadeiro, tendo em conta os valores morais.

Filosofia à parte, eu chego na janela do meu apartamento e vejo estacionadas duas kombis para frete, mal conservadas, meio sujas, com um carregador encostado: descamisado, barrigudo, bermuda, chinelo de dedo, barba por fazer. Bem próximo está um carrinho que vende pão com manteiga e se protege da chuva com um daqueles plásticos azuis amarrado numa árvore.

Meus ideais de beleza estão definitivamente chocados. E aquilo tampouco é estético. É preciso dar um jeito de tirar esses caras da minha rua. Quem sabe se eu falar com alguém que seja influente na Prefeitura? Quem sabe se eu tirar umas fotos e mandar para a coluna do Ancelmo, será que ele publica? “Desordem urbana” seria um bom título.

Olha o preconceito aí, gente!

Vamos inverter o raciocínio: por que a rua é minha? Por que o cara de chinelo de dedo não pode trabalhar por aqui? E o ambulante, coitado. Também não está ganhando a vida?

Pois é. Sempre que segregamos, sempre que tendemos a tirar os menos aptos da cena econômica, às vezes em nome de uma estética culturalmente duvidosa, estamos lutando pela desigualdade social.

A responsabilidade social, ainda incipiente, tornou-se palavra de ordem em muitas empresas. Mas tem muita gente que se dispõe a colaborar desde que não suje as mãos. Preto e pobre, só se for de longe. Soube de uma escola de classe média que tinha um programa de educação voltado para crianças de comunidades carentes. Quando resolveu fazer uma interação dessas crianças com os seus próprios alunos, os pais estrilaram na hora.

__ O que autoriza a senhora a julgar que os meus filhos devam conviver com esses meninos pobres, filhos sei lá eu de quem?

Aqui vale lembrar um personagem maravilhoso: ele é verde, grande, feio e fedido... mas, no fundo, esse ogro de aparência assustadora é extremamente simpático e bonzinho. O nome dele é Shrek e, com toda a sua “feiúra”, conquistou os corações de milhões de adultos e crianças nos cinemas de todo o mundo.

 

Shrek veio para confirmar que o nosso ideal de beleza, na realidade, não é aquele vendido pela mídia. Nós queremos o bom, o verdadeiro, a simpatia, o amor. No Brasil, o que mais temos são ogros. Mas, se não vamos até eles, como saber?


PS: O AUTOR LANÇOU NOVO MOVIMENTO NA POLÍTICA:

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