A DESERTIFICAÇÃO VERDE ESTRANGEIRA E A DESTRUIÇÃO DO CERRADO BRASILEIRO.

A pretexto de incrementar o progresso e o desenvolvimento econômico de algumas regiões do Brasil, várias frentes de sistemas produtivos, no decorrer das últimas décadas causaram danos irreparáveis aos sistemas biológicos – animal, vegetal - e até mineral. Centenas de milhares de hectares, de florestas, cerrados, caatingas e milhares de rios, riachos, lagoas, lagos foram destruídos. Onde antes corriam rios caudalosos, hoje açoreados, quando não mortos, são testemunhas reais dos desmandos praticados, por uma agropecuária mal planejada. Se é que um dia houve planejamento. E o que falar da agricultura? Esta sim, além de promover uma desertificação sem volta, provocou a poluição dos rios –via agrotóxicos -, condenou a extinção de rios, pela ausência de um programa de micro-bacias. Isto sem contar com a flora e a fauna.

O Brasil então se apresenta ao mundo como uma nação que devasta a natureza, para alimentar bocas estrangeiras. O Brasil se apresenta ao mundo como sendo o país celeiro do mundo. A que custo?

No balanço rasteiro do governo brasileiro, existe hoje algo em torno de 130 milhões de pastagens degradadas. O que representa afirmar que de forma irresponsável, extinguiram em termos de fauna e flora, 130 milhões de hectares. Mas esta degradação/extinção acrescenta ainda sistemas erosivos, que por sua vez promovem a perda de milhares de milhões de toneladas de solo, que inevitavelmente irão parar nos leitos dos rios.

A monocultura é a responsável pelo surgimento dos primeiros desertos verdes no Brasil. A pretexto de abrir novas frentes de produção, alguns estados como o Mato Grosso, Goiás, Piauí, Maranhão e Pará simplesmente promoveram uma devastação, na qual a produção obtida em termos de grãos e arrobas de gado, jamais irá pagar o dano causado. A natureza foi duramente e cruelmente agredida.

O estado do Paraná, na área considerada como corredor da fome – Arapoti, Castro, Jaguariaíva, parte do município de Ponta Grossa, Tibagi, Piraí do Sul, Ventania, Curiúva, Ibaiti e outros mais, hoje são considerados desertos verdes e bolsões de miséria mais acentuada, do que antes do aparecimento das grandes empresas de reflorestamento. Nestes desertos verdes municipais, onde o Pinus Taeda é a principal espécie cultivada. Nas áreas ocupadas com este tipo de cultura, não se encontram mais, o nhambu, o jacu, a lontra, a jaguatirica, a anta, o tateto, todos foram extintos literalmente nestas áreas destinadas ao reflorestamento.

No momento está em marcha em vários estados brasileiros, uma verdadeira corrida pela a implantação de áreas para o plantio de eucalipto, no cerrado brasileiro, sob o pretexto de se produzir carvão, que será destinado às siderúrgicas, para a produção do ferro gusa. Assim como existe em paralelo uma corrida devastadora do bioma cerrado para este mesmo tipo de plantio/cultura, destinado a produção de celulose.

Chama à atenção a presença de empresas especializadas em promover a devastação do cerrado, nos estados do centro-oeste e norte do Brasil, para o plantio de eucalipto.

A biodiversidade deixa de existir a cada hectare devastado. A morte biológica de ecossistemas, dá vida à monocultura florestal exótica. O eucalipto sob o pretexto de gerar lucros, na realidade gera miséria. A principio determina o fim da biodiversidade do cerrado, que por sinal é muito frágil. Determina o fim das veredas e dos buritizais, o fim das araras, que fazem seus ninhos nos pés de buritis. Seca de forma radical, não só as veredas, como todos os cursos de água que abastecem sistemas naturais de cursos de água.

Mas qual seria a alternativa, para se evitar a formação de desertos verdes, provocado pelas plantações indiscriminadas de eucaliptos? Acredito que no cerrado, existam variedades de madeira que crescem tão ou até mais rápido que esta espécie exótica. O que falta na realidade são pesquisas orais. Isto mesmo. Pesquisas orais. Garimpar conhecimentos como os moradores mais antigos, de todo o cerrado brasileiro e encontrarão respostas exemplificadas, em mais de 50 espécies de árvores, que se pesquisadas adequadamente irão fornecer, matéria prima, sem penalizar o meio ambiente do cerrado.

Em relação à geração de lucros, de empregos, de movimentação financeira regional, tudo isto, sequer paga um milionésimo do estrago irreparável que uma plantação de eucalipto provoca. Inclusive na diminuição de água subterrânea, que abastece sistemas hídricos fluviais. O cerrado irá sofrer uma modificação do seu ecossistema, de forma considerável. Haverá modificação no sistema de chuvas, de temperatura, da fauna, da flora, da biodiversidade, de costumes, de tradições e porque não dizer, irá provocar a expulsão de famílias centenárias, que habitam estes locais.

Sob o falso pretexto de trazer o progresso, com a implantação de desertos verdes, gerando impostos, mão de obra, novas formas de bem estar social, empresas internacionais estão adquirindo milhares de hectares, em parceria com empresários nacionais e promovendo a desertificação verde, no cerrado brasileiro.

Interessante esclarecer, que estas desertificações, em sua maioria são realizadas em vales férteis, com excelente capacidade de retenção de água e terras planas. As empresas não se interessam por áreas com declives acima de 20%. As empresas desertificadoras do cerrado brasileiro, sequer fizeram uma Audiência Pública, para discutir a inclusão de pequenos produtores rurais, inclusive os da Agricultura Familiar, para que se analisasse a possibilidade da sua inclusão. Pequenas propriedades, com 20,30 hectares, poderiam explorar não mais que 20% com eucalipto, o que provocaria um aumento de renda, não só do plantio deste tipo de arvore, mas também a exploração da apicultura, da agrosilvicultura, da pecuária de pequeno porte e até de lavouras estacionais. Existem hoje milhares de assentamentos rurais que poderiam ser considerados e aproveitados.

Mas, fazer o quê? Nada. O poder econômico internacional esmaga com coturnos de aço, e armas potentes, representadas pelos interesses políticos, toda e qualquer ingerência e contestação que não lhes agrade.

Feliz Deserto Verde, novas gerações que irão conviver com o odor de enxofre, das futuras fábricas de celulose.