Falar a respeito da Descolonização Afro-Asiática é uma tarefa que suscita um sentimento de grande satisfação pessoal. Talvez porque do ponto de vista histórico, político, econômico e principalmente social este processo representa a grande ruptura do mundo colonial/imperialista que, devolveu (ainda que tardiamente) às nações afro-asiáticas contemporâneas o direito à liberdade e a identidade sócio-cultural que os fora negado durante tanto tempo. Contudo, não podemos negar que para algumas nações, o prolongamento do período de exploração colonial, que interrompeu seu curso natural de desenvolvimento, condenou-osa uma contemporaneidade de miséria, de fome, de guerras civis e lamentavelmente de extinção social. Chegamos inclusive ao ponto de formulações de proposições analíticas do tipo: " A África é um continente que está gradualmente desaparecendo por conta de fomes e doenças epidêmicas".

Mas, antes de caracterizar o processo de Descolonização é fundamental a citação do processo original que o subsidiou, isto é, o processo de Colonização, posto que, é inevitável associá-lo ao nascimento do mundo moderno com a Expansão Marítima Européia, uma vez, que, éa partir deste evento que as grandes potências absolutas dão início as suas sucessivas invasões além'mar e subjugação dos povos e culturas não ocidentais. E, sepor um lado, a busca por novos mercados e territórios conduziu a colonização de várias nações não cristãs,a corrida imperialista pré e pós I Guerra Mundial concluiu sua consolidação.

Enquanto a I GM consolida a Colonização, são os eventos do segundo conflito mundial que irão desencadear o processo de Descolonização da África e da Ásia, quando ocorre a simplificação do mundoemduasáreasdeinfluência:umanorte-americanaeoutra

soviética, enquanto a Europa perde paulatinamente as "rédeas" de suas colônias, propiciando, assim, vários movimentos de insurreições contra a antiga ordem das "metrópoles modernas", buscando apenas um bem comum- a velha e incomparável LIBERDADE (ainda que tardia). Infelizmente, de um modo em geral, a liberdade na descolonização foi confundida com libertinagem o que dificultou largamente a consolidação da emancipação das ex-colônias. As problemáticas e conflitos, agora internos, acirram-se ainda mais quando tangenciamos a discussão política e sócio-cultural.

As nações afro-asiáticas quando renascem já trazem consigo o germe degenerativo da segregação. Muito embora, encontros, conferências, movimentos libertários, documentos oficiais defendendo os direitos humanos, a soberania, a integridade e a igualdade entre todas as nações se sucederam até que o consenso foi alcançado: "O futuro da África e da Ásia depende da unidade", expressão quase clichê em ensaios analíticos. De qualquer forma, não existe nenhum outro princípio mais lógico e mais notório dentro desta problemática, mas como construir essa unidade?

Como compreender uma África recém descolonizada que difunde o famigerado APARTHEID? Isto é, uma única África que se divide em duas partes: uma nativa e negra que defende a reestruturação do país com base em seus princípios sócio-culturais e outra branca e européia que representa a incontestável permanência do interesse imperialista na construção da "nova" África. E, se de um lado, na Índia Gandhi se notabiliza pela defesa do pacifismo e da resistência na luta pela emancipação, no Vietnã temos uma situação exatamente oposta, uma divisão interna entre norte e sul que dizimou pela guerra centenas de vietnamitas, vietcongs e norte-americanos. Neste caso, todos lutaram com o firme propósito de subjugar-se uns aos outros.

Qual seria, então, a conceituação ou a análise mais coerente: a Descolonização da África e da Ásia" ou a "Descolonização Afro-asiática e a Construção do novo padrão colonial uni-imperilista"? Tomara a África sobreviver para ilustrar a resposta deste questionamento!

"...Em 1967, no Egito, o discurso do presidente senegalês conclamou os povos africanos a construírem uma "África unida" a partir das convergências culturais: ...se queremos construir uma África unida , devemos faze-lo solidamente e, para isso, fundá-la sobre nossas convergências culturais, não sobre nossas divergências políticas.."

(Discurso do presidente do Senegal, Léopold Senghor, em 1967, na Universidade do Cairo apud RIBEIRO, Pedro Freire. Grande História Universal. Rio de Janeiro: Bloch, 1973)

" Em 1948, na África do Sul, o Partido Nacional Reunido, favorecido pela legislação eleitoral instituída pela "elite branca", chegou ao poder e oficializou a política de segregação racial: o apartheid. O racismo na África do Sul diferenciou-se das demais formas de preconceito porque lá ele foi institucionaliza, regido por leis nacionais. O apartheid era o regime político baseado na discriminação racial que previa a separação de negros e brancos, impedindo os primeiros de possuir os mesmos direitos da leite branca dominante..."

(MARQUES, Adhemar, BERUTI, Flávio e FARIA,Ricardo. História do Tempo Presente(textos e documentos). São Paulo: Contexto, 2003.