UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC

CAMPUS FLORESTA

CENTRO MULTIDISCIPLINAR

CURSO DE PEDAGOGIA

FRANCISCO ALÉCIO SOUZA DE OLIVEIRA

MANOEL RONALDO DA SILVA CAMILLO

A DEPREDAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR DE CRUZEIRO DO SUL DENOMINADA ABC

CRUZEIRO DO SUL

2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC

CAMPUS FLORESTA

CENTRO MULTIDISCIPLINAR

CURSO DE PEDAGOGIA

FRANCISCO ALÉCIO SOUZA DE OLIVEIRA

MANOEL RONALDO DA SILVA CAMILLO

A DEPREDAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR DE CRUZEIRO DO SUL DENOMINADA ABC

Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado à banca examinadora para obtenção do título de graduado em licenciatura plena em Pedagogia. Sob orientação do Profº Msc. Pierre Pires.


CRUZEIRO DO SUL

2009

A DEPREDAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR DE CRUZEIRO DO SUL DENOMINADA ABC1

Francisco Alécio Souza de Oliveira2

Manoel Ronaldo da Silva Camillo3

RESUMO

Esta pesquisa foi uma análise feita sobre depredação escolar, na Escola Municipal de Ensino Fundamental ABC, trouxe diversas revelações precisas sobre o cotidiano da atividade da escola. Foi possível ver as relações existentes entre localização da instituição de ensino e sua depredação. O objetivo geral deste trabalho é constatar, mediante pesquisa, se a escola está passando por processo de depredação, sendo os objetivos específicos verificar de que maneiras a depredação está afetando a estrutura física da escola; averiguar até que ponto a depredação prejudica a rotina da desta; identificar se a comunidade discente está contribuindo para a depredação, ou se essa deteriorização é proveniente da comunidade externa; averiguar que ações a escola promove no intuito de eliminar ou minimizar ações que, porventura, causem depredação. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa, método crítico analítico do tipo estudo de caso. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: conversa informal, observação não participante e entrevista semi-estruturada. Os sujeitos da pesquisa foram: diretora da instituição (entrevista semi estruturada), com alunos e professores foi realizada conversa informal e observação não participante. Foi possível detectar que a Escola ABC encontra-se em processo visível de depredação, presente em pixações, rabiscos em cadeiras, furtos praticados na escola e arrombamentos de portas e janelas. Atitudes estas ligadas à situação de vandalismo por parte de alguns moradores do bairro onde a escola está localizada, no qual alguns alunos indivíduos praticam depredação, às vezes utilizando-se dos conhecimentos sobre as dependências da escola, algo que, pelo que se pode observar, está ligado também com a falta de consciência que a escola é um bem de todos. Percebemos que a escola não fica inerte a situação de depredação, reagindo com medidas que dão certo: solicitação de rondas policiais, conscientização (palestras para as crianças, exposição dos problemas de depredação aos pais de alunos, palestras com o conselho tutelar), integração com a comunidade. Assim, a depredação tem sido amenizada, mediante esforços que não cessam, visto que a depredação escolar ainda é algo longe de ter um fim, mas que aos poucos pode ser amenizada, tendo a conscientização da comunidade como uma forte aliada, pois a partir do momento em que as pessoas tomam consciência de que a escola é um bem de todos, promovem sua sustentabilidade e conservação.

Palavras-Chaves: Conscientização. Depredação. Marginalização. Vandalismo.

________________________

1Trabalho de conclusão de curso orientado pelo Profº Msc. Pierre Pires

2Aluno do 8º Período do Curso de Pedagogia da UFAC; Funcionário Público; End.:Rua Pernambuco, s/n, Bairro Telégrafo, Cruzeiro do Sul-AC (68) 99825964

3Aluno do 8º Período do Curso de Pedagogia da UFAC; Funcionário Público; End.:Travessa Alita, nº 12, Bairro Telégrafo, Cruzeiro do Sul-AC/ [email protected]; Fone: (68) 99665340

1 INTRODUÇÃO

A instrução educacional sempre foi concebida como um dos maiores pilares na formação da sociedade. Sabemos que a escola é o ambiente onde a maioria das pessoas passam boa parte do tempo de suas vidas. Por se tratar de "coisa pública" a escola, no Brasil apresenta um quadro de desgaste e depredação que a afeta e que acarreta despesas, algumas vezes, desnecessárias ao erário.

O objetivo geral deste trabalho é constatar, mediante pesquisa, se a escola está passando por processo de depredação, tendo como objetivos específicos verificar de que maneiras a depredação está afetando a estrutura física da escola; averiguar até que ponto a depredação prejudica a rotina da escola; identificar se a comunidade discente está contribuindo para a depredação, ou se esta deteriorização é proveniente da comunidade externa; averiguar que ações a escola promove no intuito de eliminar ou minimizar ações que porventura causem depredação.

A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa, método crítico analítico do tipo estudo de caso. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: conversa informal, observação não participante e entrevista semi-estruturada. Os sujeitos da pesquisa foram: diretora da instituição (entrevista semi estruturada), com alunos e professores foi realizada conversa informal e observação não participante.

Atinente às afirmações prestadas acima nos engajamos em pesquisar a situação de uma escola da Rede Municipal de Ensino Fundamental, no Município de Cruzeiro do Sul, a qual será denominada Escola ABC. Através de visita in loco, foi possível acompanhar e vivenciar a rotina desta escola, bem como observar fatos ocorridos referentes a essa instituição pública, no tocante a depredação escolar e seus efeitos.

Usamos a observação não participante, diálogos realizados com alunos e professores e entrevista semi-estruturada com a direção da instituição. A respeito da entrevista semi estruturada, Marconi e Lakatos (2004 p. 279) afirmam que:

A entrevista semi-estruturada – também chamada de assistemática e livre – quando o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais amplamente a questão.

Foi possível detectar a referida escola em processo de depredação, bastante visível em todo o ambiente escolar e que atinge esta instituição há tempos (segundo a diretora), sendo, por sua vez, proveniente de ações por parte tanto da comunidade interna quanto externa, o que é marcado principalmente por furtos de equipamentos, apedrejamento do telhado da área de refeição da escola, rabiscos, pixações, arrombamentos de portas, janelas. A observação não participante, segundo Triviños (2006 p. 153-4):

[...] satisfaz as necessidades principais da pesquisa qualitativa, como, por exemplo, a relevância do sujeito, neste caso, da prática manifesta do mesmo e ausência total ou parcial, de estabelecimento de pré-categorias para compreender o fenômeno que se observa.

Diante desta situação, foi possível verificar como a localização geográfica da escola (bairro distante do centro da cidade, com a presença de muitos vândalos) pode influenciar para a situação vivenciada na sua rotina, no tocante à depredação e que, associado a isto, estão à questão familiar e a pobreza.

Enfim, é possível afirmar que a depredação escolar influencia na rotina desta escola e que mesmo com os trabalhos de conscientização realizados este é um prejuízo que aos poucos vem sendo reduzido, mas que ainda demorará a ser extirpado.

No presente trabalho, veremos a questão familiar, pobreza, marginalização, os métodos utilizados na pesquisa, os resultados obtidos, bem como as considerações a respeito do trabalho do que foi tratado.

2 FAMÍLIA, POBREZA: Marginalização social

Um ponto a ser destacado é a família por ser essa uma das bases da formação do ser humano, o qual ao contrário de outros seres tem por natureza a necessidade de viver em grupo. Com efeito, em todos os setores da vida temos grupos (na educação, no matrimônio, na família, nos partidos políticos, no comércio e outros).

Assim torna-se fundamental que exista entre os membros formadores de um grupo, uma ótima relação humana. Podemos citar alguns exemplos: nas escolas, se o professor não for um "líder" dos seus alunos, quer dizer, se os alunos não gostarem dele e não o seguirem como mestre terá ele perdido uma parte do seu trabalho; o partido político desunido é partido sem forças vitais; vendedores que atendem mal a freguesia, vendem menos; a família que não tem como base o respeito acaba ou passa a ter problemas.

Por volta de1930, quanto uma moça chegava à idade de casar os pais lhe procuravam um marido e, sem consultá-la, decidiam o casamento. Nos países onde as mulheres têm liberdade de expressão e escolha esta maneira de resolver o futuro conjugal de uma pessoa já desapareceu completamente. Cada qual escolhe o noivo ou a noiva que quer com toda a liberdade. Infelizmente, o homem moderno nem sempre sabe utilizar esta liberdade para tornar-se feliz, e os casais se formam sob a influência do acaso, em bailes, cinemas ou nos bares, onde numerosos são os que, mais cedo ou mais tarde, se desintegram emocionalmente, se divorciam ou, simplesmente, se separam.

Estamos a par que há relativismo no fato mencionado, pois temos casos de casais que, apesar de terem se conhecido em lugares já citados, permanecem unidos até os dias atuais.Com efeito, outro problema, além do término do casamento, é a educação dos filhos. Por sua vez, se com o pai e a mãe já é difícil dar uma boa educação para o filho, imaginemos um só (geralmente a mãe) educando. Contudo, uma péssima educação pode acontecer, e temos vários exemplos neste sentido, mesmo com a presença do pai e da mãe, pois são muitos os casais que não adotambons princípios na educação dos filhos e pensam que basta dar comida, cama para dormir e colocá-los na escola para serem bons filhos. Não é dessa forma que teremos filhos conscientes e educados. Logo, na família deve existir relações humanas entre os pais e filhos, pois o pai irritável e autoritário conseguirá na educação do filho resultados diferentes dos de um pai compreensivo, paciente e equilibrado nas suas reações. Os problemas que surgem, em sua maioria, entre pais e filhos são problemas de relações humanas, bem como pais despreparados para lidar com a situação. Neste prisma, Weil (1976, p. 163) afirma:

[...] quando há brutalidade, inquietude, relaxamento, incompreensão e impaciência por parte dos pais, estes não se devem admirar se os seus filhos são malcriados, irrequietos, coléricos, impossíveis, rebeldes, medrosos, mentirosos, quando não chegam à delinqüência. Por outro lado, o excesso de carinho e mimo demasiado conduzem a desvios da personalidade tais como: extrema passividade, indiferença e insatisfação permanente.

Então, vemos a necessidade de haver um equilíbrio na relação dos pais com os filhos, sem extremismo, contudo algo que apresente medida equilibrada, senão resultados brotarão e refletirão em outros lugares, como é caso da escola, onde já presenciamos inúmeros casos de alunos mal-comportados ou quietos demais. Dessa forma, a educação é como diz um ditado popular: "a educação é como um terno ou vestido: tem de ser feita sob medida". A educação dos pais para com os filhos também têm de ser feita sob medida; serão diferentes na primeira infância, quando a criança tiver dois anos, ou na adolescência, entre os doze e os dezoitos anos, para isso os pais devem acompanhar as crianças em cada fase de suas vidas, bem como devem ter consciência de cada fase que seu filho passará.

É importante falarmos a respeito dos reflexos da Segunda Guerra Mundial sobre a família, pois foi a partir daí que se intensificou a prática de as mulheres trabalharem fora de casa. Logo, tal prática tem ocasionado alguns prejuízos na educação dos filhos, uma vez que, tanto a mãe quanto o pai saem para trabalhar, deixando a responsabilidade da educação dos filhos a inteira responsabilidade da escola. Segundo Weil (1976, p.167):

[...] não podemos esquecer de citar que após a segunda guerra mundial criou-se o hábito de as mulheres trabalharem fora do lar. O resultado disto é que ninguém fica em casa para cuidar das crianças, que são confiadas às vizinhas, aos berçários, sem falar dos casos em que ficam sós em casa. Não se sabe até que ponto isto é a causa da diminuição do nível moral da juventude, aumento da delinqüência [...]

Somos sabedores que muitas de nossas crianças estão crescendo sem o afeto, carinho, ou até mesmo cuidado dos pais, necessário principalmente na infância, que é o momento no qual o ser humano formula seu caráter, personalidade, e isso tem refletido péssimos resultados tanto no lar como na escola.

É mera ilusão pensar que vida em grupo consiste, simplesmente, em juntar indivíduos com o fito de atingir um objetivo comum, sem obstáculos e problemas. A formação de um grupo para viver em sociedade obedece a leis naturais e sociais, que determinam regras a serem seguidas, regras que, quando contrariadas, levam em geral grupos ao fracasso total ou parcial.

Outro fator que influencia na educação dos educandos, bem como no comportamento destes é a pobreza. A linha de pobreza é definida pelas Nações Unidas (ONU) como a renda mínima para adquirir duas cestas básicas de alimentos, determinadas pelos padrões nutricionais da Organização Mundial de Saúde (OMS). A indigência, a mais extrema forma de pobreza, é definida como qualquer renda que não seja suficiente para adquirir uma cesta básica de alimentos.

[...] a pobreza pode ser definida como uma condição humana caracterizada pela privação sustentável e crônica de recursos, capacidades, escolhas, segurança e poder necessários para o aproveitamento de um padrão adequado de vida e de outros direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais (Comissão das Nações Unidas em Direitos Sociais, Econômicos e Culturais, 2001).

É evidente que a condição de pobreza pode influenciar para que alguns indivíduos, como forma desesperada de subsistência migrem para o mundo do crime, praticando assaltos, furtos, assassinatos e outras delinqüências. "[...] o desemprego sem dúvida é o maior responsável pela miséria e causa incontestável da luta de milhares de pessoas que vivem na informalidade. [...]". (BRASIL 1996, p. 9).

Sem o emprego, os indivíduos procuram outros meios para sobreviver no mundo capitalista e, às vezes, acabam se tornando marginalizados devido à prática de crimes, ou ações rejeitadas pela sociedade (prostituição/exploração de menores, vandalismo, uso de drogas ilícitas etc.)

No entanto, não se pode afirmar que um indivíduo por ser pobre ou viver à margem da sociedade não seja provido de valores morais que o faça um cidadão de bem. A pobreza não é fator determinante para fazer do cidadão bandido, violento e transgressor da ordem social.

Apesar de existir por parte da sociedade certo preconceito em relação à pobreza, associando-a com marginalização e violência, nem todos que nascem pobres permanecem nesta condição, contudo, muitos adquirem ascensão social e melhor qualidade de vida.

Certamente, a marginalização social é o resultado da falta de políticas públicas adequadas para o mercado de trabalho e acesso aos insumos necessários para a vida digna e adequada a cada pessoa. Isso é alarmante ao constatarmos a grande incoerência que é preconizada no Art. 7º, IV da Constituição da República Federativa do Brasil – 1988:

salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Somos sabedores que os reflexos da família estão presentes no âmbito social e principalmente na escola, por isso, a família precisa arcar com sua responsabilidade de educar com bons princípios, dando assim, sua contribuição para uma sociedade melhor e isso certamente promoverá melhorias na qualidade de vida de cada indivíduo.

3 METODOLOGIA

Este estudo foi realizado na área educacional, mais especificamente a respeito da depredação da instituição escolar. Assim, a metodologia adotada consiste numa abordagem de pesquisa qualitativa, pois, adotamos a preocupação em qualificar os dados coletados. Neste sentido, Chizzotti (2005. p. 79) afirma:

[...] a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito [...]

A pesquisa qualitativa, sobretudo na área da educação se presta a análise dos problemas educacionais em nível micro. Dessa forma, o presente estudo enquadra-se no âmbito de um estudo crítico-analítico, esse método defende a importância de se conhecer a realidade em sua concreticidade. Como método de procedimento utilizamos o estudo de caso, com particularidades e especificidades coletivas. Nosso estudo de caso foi caracterizado pela análise profunda dos objetivos, de maneira que nos permitiu um amplo e detalhado conhecimento.

É importante frisar que "o estudo de caso, é um estudo sobre um tema específico com suficiente valor representativo, obedecendo a uma rigorosa metodologia. Por meio dele, é possível investigar determinado assunto em seus ângulos e aspectos" (LAKATOS. 2001, p.151).

Considerando esses fatores e qualidades, pode-se dizer ser este método o ideal, visto que realmente contribuiu para atingir o objetivo desta investigação, o que se torna muito relevante para o conhecimento de como se processa a realidade no ambiente escolar, sobretudo em relação a problemas, o que é o caso da depredação.

Por meio da entrevista semi-estruturada, realizada com a diretora da instituição, ficou claro que a questão familiar, o desemprego, a marginalidade, o uso de drogas e outros males influenciam na realidade da escola. A entrevista foi elaborada e, na medida em que surgiam dúvidas sobre determinados assuntos, novos questionamentos eram feitos, claro que sempre norteados pelas questões de estudo, a fim de que o resultado fosse coerente e conciso (com as idéias dos autores) com o eixo central da pesquisa. "[...] entrevista é uma conversação efetivada face a face e que proporciona ao entrevistador as informações necessárias [...]" (LAKATOS, 2001, p.107).

Realizamos a observação não-participante, utilizada para os aspectos físicos que foram se tornando relevantes relacionados com a deteriorização da instituição de ensino, visto que às vezes uma imagem ou cena pode significar mais do que palavras, e estar presente na realidade da escola, o que deixa o resultado da pesquisa mais rico e nítido.

4 RESULTADOS

De início, para que pudéssemos constatar o que de fato ocorre no cotidiano da Escola ABC, fizemos a pesquisa in loco, a qual teve como alvo entrevista (semi-estruturada) com a diretora da instituição, e observação da estrutura física do prédio.

Por meio de entrevista, obtivemos um diálogo prolongado, porém, vantajoso haja vista as demonstrações de conhecimento escolar atinentes ao que almejávamos obter em termos de conteúdos e conhecimentos da realidade escolar, a fim de promover um bom entendimento de como ocorre a depredação na Escola ABC.

Tomamos, então, conhecimento que a referida escola foi reformada há cerca de cinco anos e que inclusive junto com a reforma houve uma ampliação na estrutura física do prédio, de maneira a torná-lo mais espaçoso e aumentar o número de vagas para a comunidade. Estas adequações, notavelmente, consumiram um considerável volume de recursos pertencentes ao erário municipal. No entanto, o valor benéfico em favor da educação da comunidade do bairro é inestimável.

Os fatores que levaram a escola à ampliação e reformas foram a necessidade de maior estrutura física bem como a restauração da pintura, reparo do telhado, colocação de lâmpadas ausentes etc. Esses problemas provenientes da depredação escolar foram amenizados com a reforma. No entanto, esse é um problema que a Escola ABC, notavelmente tem enfrentado em favor de levarem o conhecimento sistemático de forma igualitária a todas as classes. Isso deixou claro que a Escola Municipal ABC está em visível processo de depredação, mas que a gestão desta escola, juntamente com seus docentes têm trabalhado para mudar essa situação, obtendo bons resultados.

Diante dos problemas com depredação, a escola não se mostra omissa em seu papel de combater a situação de prejuízos para a instituição, o que tem sido feito por meio inclusive de palestras e reuniões com pais, assembléias com o Conselho Escolar, projetos de conservação do patrimônio e parceria com o Conselho Tutelar.

Nesse sentido, observamos que: sobre a situação da depredação escolar, Guimarães, (1988) em sua obra Vigilância, Punição e Depredação Escolar, diz que, para tentar minimizar essa situação a escola reage: "[...] a resposta da escola vem com investimentos em vigilância, construção e ampliação de muros e de serviços de segurança, inclusive através de rondas policiais".

 

A diretora da instituição asseverou que os processos de depredação não acabaram na escola. O que acaba influenciando as atividades da escola, seja em questão de insegurança, limitação de equipamentos, falta de materiais de limpeza, alimentação para merenda, ou até mesmo, por exemplo, quando uma lâmpada é roubada afeta a rotina das aulas que ocorrem no período noturno.

Os prejuízos são marcantes, visto que a escola todos os meses tem que concertar ou repor algum bem que foi deteriorado, deixando, dessa maneira, de investir em melhorias e compra de materiais necessários ao bom desempenho do trabalho dos professores e alunos. Em suma, a depredação que existe nesta escola afeta a sua rotina cotidiana. Isso se pode constatar, seja no pichamento de paredes, nos furos do teto da área de refeição dos alunos, nas carteiras riscadas, colunas do prédio corroídas. Tais práticas são costumeiras por parte de alunos, ex-alunos e até marginais do bairro onde a escola esta localizada.

No entanto, a diretora da escola pode assegurar que essas ações têm diminuído em razão de medidas já citadas que a escola coloca em prática a fim de conscientizar alunos e comunidade. Outra vertente que pode ser destacada se refere às medidas de segurança que a escola havia tomado, através de solicitação de rondas policiais durante a noite e o aumento da altura do muro dos fundos do pátio da escola. Esse detalhe do aumento do muro inclusive foi frisado pela diretora da Escola ABC como sendo um dos que mais contribuiu para a redução de invasão das dependências da escola por parte de vândalos, pois justamente o lado que fica o muro era bastante utilizado por estes para invadirem e praticarem roubos.

Muitos vândalos ainda chegam a quebrar parte do muro para abrir "passagem" na intenção de invadir a escola. Além do muro, são afetadas paredes, a pintura, o escovódromo, que tem suas torneiras quebradas ou roubadas, as lâmpadas que são quebradas e roubadas outros danos. A gestora afirmou que os marginais inclusive já utilizaram os fundos da escola como local de "boca de fumo". É importante lembrar ainda que há participações de discentes ou ex-alunos da escola que, aproveitando-se do conhecimento sobre suas dependências a invadem para praticar furtos, atos de vandalismo e outras delinquencias.

Outro ponto que nos chamou atenção foi o fato de que a localização geográfica da escola contribui para a situação de depredação vivenciada, visto que se situa em um bairro pobre, com desempregados, marginais usuários de drogas lícitas e ilícitas. E para verificar esta situação, fizemos uma analogia: ao analisar de forma particular a escola, Guimarães (1988), ao descrever a depredação de um prédio escolar, traz a narrativa da associação à pobreza e a periculosidade do bairro onde a escola está inserida; segundo ela, há uma relação tácita entre depredação-marginalidade-pobreza.

No entanto, vale ressaltar que nem todo aluno ou qualquer pessoa da comunidade, por ser pobre, depredará a escola. É notável que a pobreza não deve ser entendida como sinônimo de marginalidade ou vandalismo, pois a sociedade possui muitas pessoas pobres de boa índole que jamais foram marginais ou que tenderão a tornar-se. Ser pobre é condição na qual o indivíduo, tendo bom caráter, poderá obter ascensão social e financeira, saindo da condição de pobreza pelo mérito do esforço, trabalho e dignidade.

Mediante afirmações da diretora, detectamos que os indivíduos da comunidade externa são os principais responsáveis por tais atitudes. Fatores como estes segundo relatou, influenciam de certa forma para a depredação, pois vândalos e marginais sem ocupação adentram na instituição de ensino em busca de algum pertence de valor e, quando não encontram, depredam.

Foi possível detectar que a questão familiar influencia também para este quadro, visto que muitos dos alunos, principalmente os que têm algum comportamento agressivo ou depredador para com a escola vem de uma família onde a criança tem a presença de apenas um dos pais ou, em alguns casos, de nenhum e apresentam uma educação com poucos princípios, o que acarreta, em alguns casos, uma formação errônea, porque a família é a base da formação da criança e esta deve educá-la e prepará-la segundo bons preceitos morais e sociais. Daí abre-se espaço para afirmar que o papel de educar na formação do cidadão não é só da escola, mas principalmente da família que irá moldar seus valores e atitudes a fim de torná-lo um ser social e consciente.

 

Dessa forma, pode-se afirmar que a depredação, um dos fatores preocupantes, está presente na Escola ABC, pois, após todo um processo de averiguação faz-se possível afirmar tal fato. É importante asseverar que os processos causadores destes danos à escola provêm de meios internos e externos (comunidade e alunos), onde constatadamente os maiores responsáveis são os agentes externos à instituição. E, diante disso, a escola usa diversos mecanismos para tentar "extirpar" o problema, o que acaba dando certo em alguns casos, no entanto o processo de deteriorização escolar continua não só nesta, mas é observável em outras instituições públicas e particulares de ensino, promovendo gastos muitas vezes desnecessários e que, se não houvesse depredação, seriam investimentos mais úteis a todos. Daí é possível afirmar que a depredação existe, mas que também há o trabalho de conscientização, bem como outras maneiras de combatê-la.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A concretização dessa pesquisa levou-nos à soma de novos saberes referentes à depredação escolar, visto que constatamos diversos problemas do dia-a-dia da escola, bem como foi possível analisar alguns dos motivos que levam alunos, ex-alunos e outros indivíduos a praticarem ações que causam a deteriorização da escola pública.

Com efeito, é possível observar que muitos dos depredadores simplesmente descartam a visão de que a escola é um bem de todos na qual sua depredação causa prejuízos à comunidade. Dessa forma, pesquisas a esse respeito (depredação escolar) torna-se algo valoroso para o campo educacional, a fim de proporcionar reflexões a respeito de como mudar essa situação, pois o conhecimento dos fatores reais que tanto tem causado prejuízo a todos com a depredação das instituições de ensino leva a propor novos rumos para tentar elucidar estes problemas.

Vale frisar que a instituição de ensino não está omissa a estes problemas mencionados, visto que, segundo a diretora da instituição, esta escola tem trabalhado no sentido de conscientização, o que tem funcionado, pois é notável que a situação de violência, vandalismo e depredação têm diminuído consideravelmente. A escola tem buscado mostrar que é uma instituição que não pertence à "prefeitura", mas sim de toda a comunidade, e que sua depredação causa prejuízos para todos os cidadãos.

Assim, segundo foi possível constatar, para enfrentar a realidade da depredação é preciso que a escola esteja cada vez mais integrada a comunidade, para dessa forma desenvolver uma conscientização, mediante os desafios que este problema tem proposto para os educadores e os governos, no intuito de garantir a escola pública com uma estrutura física sustentável ao longo dos anos com o propósito de servir as futuras gerações, promovendo um ensino mais democrático e participativo, poiscom todos valorizando a escola, estarão cuidando e zelando para o seu bom estado de uso e conservação. Assim, mesmo com a existência dos problemas, que, diga-se de passagem, estão longe de serem elididos, haverá a motivação para propor a solução.

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WEIL, Pierre. Relações humanas na família e no trabalho. 46. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

ANEXOS

QUESTIONÁRIO DIRECIONADO À DIRETORA DA ESCOLA ABC:

I.A Escola ABC já foi reformada? Há quanto tempo?

II.Que fatores levaram a essa reforma?

III.A Senhora percebe a escola em processo de depredação?

IV.Que depredação a Senhora constata na escola ABC?

V.Você acredita que os discentes participam da depredação escolar? De que forma?

VI.E a comunidade externa, também participa destas ações? Quem?

VII.O que tem levado essas pessoas a agirem dessa forma?

VIII.Esse processo de depredação existente prejudica a rotina da escola? De que forma?

IX.A escola tem feito ações para extirpar esse problema? O que?

X.Você acha que essas iniciativas funcionam? Por quê?