Para aprimorar o processo eleitoral, alguns argumentam a favor da validade dos votos brancos na contagem oficial, ou no fim do voto obrigatório.

Francamente, eu não vejo a solução para a democracia de um país através dessas mudanças. Antes de tudo, e não estou falando aqui de curto prazo, é preciso que haja democracia. Este sistema parte do princípio de que um homem é igual a um voto e nos faz acreditar que a maioria é sábia. A democracia que conhecemos diz respeito a liberdades. Liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, liberdade de exercer certas escolhas. Mas, se voltarmos aos ideais da Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos Humanos da ONU, em 1948, vamos verificar que a igualdade e a fraternidade ainda não foram atingidas. Igualdade diz respeito a direitos de dignidade. Estamos muito longe de proporcionar dignidade a todo o povo brasileiro. Não há um sistema econômico justo, muito menos educação para criar oportunidades. Então, o dinheiro comanda o espetáculo, tanto pelo interesse dos ricos como pela facilidade de manipulação dos pobres.

Não vai fazer diferença ter mais ou menos votos brancos ou nulos. Também não vai fazer muita diferença o voto facultativo. Em um sistema em que o dinheiro costuma ser mais importante do que a integridade, só a expansão das consciências vai fazer diferença. E a base para essa expansão é o conhecimento. Eu gosto de repetir Pierre Lévy: "somos tanto mais humanos quanto somos mais cultos".

É preciso que haja o sentido da fraternidade para conquistarmos a igualdade. Somente depois desse processo um homem será igual a um voto com legitimidade.

Eu vejo que esse processo está em andamento. A responsabilidade socioambiental está crescendo, embora ainda seja pequena. Porém, se quisermos acelerar o processo, temos que colocar a mão na massa. Os bons precisam ir além das suas famílias, dos seus empregos e empresas. Os bons precisam entrar na política para que o sangue bom vá limpando o organismo.