A DEMOCRACIA BRASILEIRA FALIU

texto orignalmente escrito em setembro de 2013

A democracia brasileira é provavelmente uma das conquistas mais frágeis dos brasileiros, construída sobre os ideais das elites, foi assaltada duas vezes através de golpes de estado e a última versão, desencadeada no movimento das Diretas Já, parece totalmente exaurida.

O conceito de democracia origina-se na antiguidade, principalmente na Grécia Antiga, e nos dias de hoje significa a participação popular nas decisões do governo, seja ele federal, estadual ou municipal. Sendo assim, a democracia é um poderoso instrumento para que os diversos grupos sociais se organizem e participem do funcionamento do "governo", através da criação de leis, regras dentre outras inúmeras formas.

O Brasil é uma república, que significa "coisa pública", desde o final do século XIX e se é público deve ser gerido por todos, portanto temos a democracia. Parace que o Brasil sempre foi, é e sempre será de alguns, pois a democracia, quando existe é profundamente deturpada do seu papel inicial, de promover o bem estar da população e atingir o seu desenvolvimento, com inclusão política, cultural e das minorias.

Desta forma, com a saída dos golpistas militares e o fim do governo transitório de José Sarney nos anos oitenta do século XX, o Brasil levou oficialmente cem anos para iniciar um democracia verdadeira desde a Proclamação da República. Elegeu e depôs o presidente Fernando Collor, substituido pelo vice-presidente de forma legítima, e sucederam-os de forma democraticamente exemplar, com vitórias nas eleições, Fernado Henrique Cardoso, Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef.

Analise-se de forma um pouco mais profunda e é possível concluir que o modelo faliu. Por qual motivo? Se existem eleições democráticas reconhecidas, existe a democracia. No Brasil, a democracia não acontece desta forma.

O Brasil possui uma elite regional retrógrada, atrasada ao extremo, onde existe um amplo vazio intelectual e um desejo ardente por poder. Geralmente o conceito de elite é genérico, mas no Brasil ela possui a sua sede : a Região Nordeste. Trata-se de um grupo tradicional, que remonta ao período do Brasil Colônia, cuja a base é formada por ricos fazendeiros, geralmente de famílias antigas, que se fossilizaram no tempo.

Diversos livros trazem o conceito de "industria da seca", onde é valido o caro leitor  se interar do assunto através destas leituras, contudo pode ser definida com um grupo que detém o poder econômico (representado pela terra), e que comanda também a política nordestina, amplos desvios de verbas, tráfico de influência e não permite o desenvolvimento da região, mantendo-a atrasada, assim como era nos tempos da colônia.

Tal comportamento se justifica ? Sim e muito, pois os antigos coronéis e descendentes, que determinavam para quem seriam os votos, não são adeptos da democracia além do que, caso exista um amplo desenvolvimento econômico no Nordeste, através da industrialização e do desenvolvimento intelectual, a massa ignorante (no sentido de falta de instrução acadêmica) se desfaz e o poder se esvai.

O caro leitor pode se perguntar se somente pelo nordeste podemos concluir que a democracia do país todo faliu. O cenário traçado nos anos oitenta, mostra que a elite nordestina controla a segunda região mais populosa do país e também o poder legislativo, prepresentado pelo Congresso Nacional ( e suas duas casas : a Câmara dos Deputados e o Senado).

Desta forma, sempre observamos o presidente do Senado (que é o presidente do poder Legislativo, ou seja que elabora as leis) um membro da elite nordestina, como por exemplo o atual Renan Calheiros, envolvidos em inúmeros escândalos e que é mantido por esta elite numa demonstração de força. Outro membro  que sempre está em evidencia no Congresso é o ex- presidente José Sarney, faz parte do governo do Brasil a exatos cinquenta anos. Onde está a democracia ?

Longe do povo. Nenhum Presidente da República, governa sem uma aliaça com a elite nordestina, pois ela controla o Congresso. Para construir esta aliança, os presidentes endossam a " industria da seca". Todos os eleitos de forma democrática fizem isso. No  governo Fernando Henrique, era vexatória a forma com que o então Antônio Carlos Magalhães, senador presidente do Congresso se intrometida e deixava claro que nada aconteceria sem seu consentimento.

Hoje, a "indútria da seca" governa um país. Não existe democracia. Existe um grupo instalado em Brasilia, que manipula uma grande região atrasada economicamente e endossa ou não os presidentes. O PSDB e o PT fazem uma cena bonita, discutem lançam ofenças, mas sem o PMDB ( expoente máximo da referida elite), nenhum dos dois governa. É um governo  indireto.

Acontecem eleições a cada dois anos no Brasil, uma federal - estadual e a outra municipal. É um absurdo sem precedentes. Os políticos ficam o tempo todo construíndo alianças e pensando em eleições.

Além deste poder nordestino, existe um grupo poderoso que comanda a mídia no Brasil, que cria e difunde cultura, que constroi ícones e monstros, que faz rir e chorar e quem ocupa a Presidência e se opoe a este grupo, não governa. Desta forma, o país parou. Parou no passado.

O presidente Lula aliou-se a elite nordestina, mas bateu de frente com a elite da mídia. Pobre Lula ! Enquanto o Brasil e o mundo aclamavam o modelo econômico do ex- presidente, a midia o "esfaqueava". Saiu da presidência com uma aprovação altíssima, elegeu a sua sucessora e nem com câncer sua imagem parou de ser arranhada diariamente, seja através de um assessor, do amigos, da sogra, da vizinha dentre outras.

A cobertura Hollywwodiana do caso Mensalão, merce um Oscar. Eu desafio a mídia do Brasil a cobrir a " indústria da seca" e fazer o mesmo trabalho realizado no esquema do PT. Não existe coragem para tanto. Se fizer, a mídia do Brasil some. Então, continua perpetuando a ignorância. O que é mais interessante é que a presidenta Dilma Roussef não possui um atrito com a elite da mídia e então, tudo que é horrível é sempre vincilado ao Lula e não a sua sucessora. Só no Brasil !

Diante dos fatos o leitor deve refletir, pois junto com a inversão de valores,  espetacularização da corrupção no Brasil, a eterna barganha pública no Congresso a democracia faliu e a explosão da violência pública sinaliza que vivemos uma bagunça no país. Deste jeito, nós brasileiros no futuro sentiremos saudades do tempo que o Brasil não avançava, pois parece que neste ponto, começamos a regredir.

 

Ivan Santiago Silva é geografo, professor, autor e articulista.