A curiosa mesa dos portugueses quinhentistas

Por Meire Nunes

Historiadores quinhentistas atestam que quando os portugueses aqui chegaram ficaram
extasiados com tamanha fartura e abundância de alimentos.
Mas, o que comiam os portugueses quando nos descobriram?A iconografia histórica relata que quando os navios saíram de Portugal, vieram apinhados de homens pobres, desgraçados, filhos de uma Europa castigada pela fome e miséria. Vieram atrás das especiarias e riquezas, de um caminho para as índias que nunca chegava e encontraram a Terra Brasilis dos silvícolas, que sequer tapavam suas vergonhas, como bem disse Caminha.
Com tantos portugueses à solta, era preciso casá-los nem que para isso servissem as
mulheres erradas vindas de Portugal: os jesuítas não achavam muito certos os portugueses se divertirem com as nativas sem nenhum compromisso em formar família, como ditava os costumes cristãos.
Muitas prostitutas, as perdidas, já desembarcavam aqui na qualidade de donas-de-casa e boas quituteiras. Cozinhavam com muito gosto a galinha com farinha de mandioca e milho, iguaria muito apreciada pelos habitantes locais. Faziam ovos moles, fritos, mexidos e cozidos e os índios ficavam horrorizados em achar que os portugueses não tinham a paciência
de esperar as aves nascerem para depois comê-las: comiam uma galinha
inteira dentro de um ovo!
Com as frutas, os portugueses se regalavam: doces e abundantes
chegavam a matar a fome e sede de qualquer cristão vindo de uma Europa gélida e necessitada.
Cronistas quinhentistas citam em suas obras que o almoço desses famintos
portugueses compunham de um pedaço de pão de farinha mofada, acompanhado de soro de leite. Comiam muitas hortaliças cozidas e uma escudela de sopa rala com caça, que poderia ser javali, cervo ou até macaco. Para beber, vinho com água que era, inclusive,
muito aguado.
Mas por favor, não tenha a impressão de que a mesa portuguesa era pobre, pois nada se comparava com a comida que os índios apreciavam muito
além das farinhas - é claro - e faziam com certa freqüência até: churrasco humano.
Hans Staden, em sua observação com os índios, notara que estes sugavam
com fervor o sangue e o tutano humano; comiam vivas as viúvas, órfãos e qualquer miserável que lhes caíssem às mãos: serviam quente acompanhado de farinha de mandioca ou de milho. Aliás, a mandioca é uma raiz abençoada para os índios que os portugueses adotaram fartamente em seus pirões, mingaus e pães. Conhecida até hoje como aipim ou macaxeira, a raiz santa foi também muito apreciada pelo africano que aqui chegou. Os portugueses, ao contrário dos franceses, enchiam a barriga e matavam a fome sem ter uma sensação
prazerosa de apreciar um belo prato e estar com o devido requinte de uma bela mesa posta.


Fontes Bibliográficas:

Figueiredo, Guilherme. Comidas, meu santo. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro.1964.
Mesgravis, Laima. O Brasil nos primeiros tempos.Editora Contexto. São Paulo. 1989.

Mello,Vieira. Egbert Hansen,Carl. O Rio de Janeiro no Brasil Quinhentista. Editora Giordano.São Paulo. 1996.

Staden, Hans ( séc.XVI ).Duas viagens ao Brasil. Tradução Guiomar de Carvalho Franco.Belo Horizonte/ São Paulo/ Itatiaia/ USp.1974.

Biblioteca do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Biblioteca ANTT. Tombo. Portugal