A crônica insegurança paulista

Edson Silva

Dia 30 de maio, a companheira de profissão, repórter Cristiani Azanha, deste Jornal Todo Dia, apresentou entrevista com o investigador Antonio Lázaro Constâncio, o "Lazinho". Trata-se de personagem conhecido em Campinas, famoso no estado e até fora dele, seja por mais de três mil prisões efetuadas em quase cinqüenta de Polícia ou por polêmicas, como acusações de tortura e até prisão, por 30 dias, após acusações (que não seriam comprovadas) de envolvimento com o narcotráfico, levantadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico, que teve como palco Campinas, no fim de 99 e início de 2000.

Perto de completar 70 anos e dizendo ter convite de emissora de TV para apresentar, como não podia ser diferente, Programa de Reportagem Policial, "Lazinho" usou frases de efeito, tais como " ter nascido Polícia e depois feito concurso para ingressar na corporação" ou justificar que usa o revólver calibre 38 porque, segundo ele, "arma automática seria igual miss, se não passar a mão nela sempre, ela te trai. Pistola tem que fazer manutenção todo dia, senão falha." Ele ainda falou de participação na repressão política, alegando que cumpria ordens legais e era uma guerra, que agora acabou. Quanto a CPI que acusou ele e mais de 50 pessoas, ele resumiu numa frase: "foi palhaçada".

Nos vários anos que atuei em rádios e jornal de Campinas, entrevistei "Lazinho" muitas vezes, normalmente ele apresentava casos de repercussão que virariam notícia. Conheci a casa onde ele mora há anos, realmente perto de uma favela e alguns de seus filhos, que soube pela reportagem da Cris Azanha que eles têm nomes de agentes do FBI. Também é verdade quando o policial diz que é destemido. Quantas vezes eu o vi andar pelo centro ou em favelas sem colete a prova de balas e com a camiseta preta escrita Polícia Civil, mesmo nestes tempos em que policiais evitam dizer que são da Polícia, pois temem represálias de criminosos.

Quanto a CPI do Narcotráfico, pelo "auê" que foi, com direito a deputado fazer propaganda ao vivo na transmissão de TV do fornecedor de lanches, mas que terminou em "pizza", ao que parece foi só trampolim para alguns deputados. Fui o primeiro repórter a levantar o nome de um dos principais envolvidos no suposto esquema, mas estranhamente eu seria demitido do jornal em que trabalhava, após ser intimado pela Justiça para falar de uma matéria de desvio de carga de cigarros, da qual o juiz disse que nem sabia porque foi solicitado meu depoimento, já que a reportagem era precisa. Também não soube, ao chegar na redação eu e outros colegas estávamos na rua.

Caso pessoal à parte, a CPI não falou na época e "Lazinho" não falou agora que há cerca de 10 anos queriam culpar só policiais, como se não existisse um governo do estado como responsável pela degradação da instituição Polícia. Não é preciso ir longe, basta rápida pesquisa na internet para ver que há 15 anos São Paulo é governado? pelo PSBD, que na época perdeu o controle sobre a Polícia e depois perderia o controle sobre presídios e até negaria existência de crime organizado, hoje, infelizmente triste e inconteste realidade para todos paulistas e paulistanos. É investigador "Lazinho", você tem razão: "estão sobrando marmelada e goiabada!"

Edson Silva, 48 anos, jornalista, Campinas

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