Como os Mongóis Abriram o Caminho Para o Conhecimento Sobre o Oriente? Quais as Dificuldades Europeias Para Navegar ao Oriente? Como os Mercadores Venezianos Prosperavam Vendendo Mercadorias Já Que Nunca Tinham Visto a Índia ou a China?

 Os pioneiros da viagem terrestre da descoberta da Europa que seguiram para Oriente precisavam de recursos bem diferentes dos das viagens marítimas. Colombo teve de reunir uma grande quantia em dinheiro, arranjar navios, engajar uma tripulação, obter provisões, manter tripulantes satisfeitos e navegar em oceanos desconhecidos.

 

Outros talentos totalmente diversos foram exigidos aos primeiros viajantes por terra, os quais podiam seguir – com um ou dois companheiros – por estradas já conhecidas e, além disso, eles podiam viver da terra e encontrar o que comer e beber no caminho. Não precisavam recolher fundos ou serem mestres em organização, mas tinham de ser adaptáveis e afáveis.

 

Enquanto os viajantes marítimos percorriam longas distâncias de vazio cultural – e no mar, as notícias geralmente significavam complicações – os viajantes por terra (mercadores ou missionários) podiam praticar sua vocação pelo caminho e ir aprendendo à medida que avançavam. E, se um solitário viajante terrestre embarcasse em um barco para algumas fases da sua viagem, ele se tornava um passageiro.

 

Os perigos do mar eram exatamente os mesmos em toda parte – ventos, ondas, tempestades – mas os perigos da terra eram variados como a paisagem e ajudavam a tornar a viagem interessante e cheia de suspense. Haveria ladrões na estrada? O viajante conseguiria digerir a comida local? Ele deveria usar seu próprio traje ou um nativo? Ele seria autorizado a transpor a porta da cidade?

 

Em verdade, a viagem por terra jamais foi um passeio comum, mas sim uma laboriosa jornada individual. Data dessa época a palavra inglesa “travel” – com o significado de “labor” de natureza penosa – descrição bem adequada do que significava percorrer longas distâncias por terra.

 

Embora os Europeus ainda estivessem mergulhados nas trevas da geografia dogmática, a muito tempo ouviam contar lendas do misterioso Oriente. Alguns homens desfrutavam até dos exóticos luxos do outro lado da Terra como banquetes – em salas forradas com tapetes persas – com pratos condimentados com as especiarias do Ceilão, além de passarem longos períodos jogando xadrez com peças de ébano do Sião.

 

 No entanto, os mercadores de Veneza (ou Gênova) que prosperavam vendendo essas mercadorias orientais nunca tinham visto a Índia ou a China. O seu contato com o Oriente fazia-se nos portos do Mediterrâneo oriental e os seus estoques tinham sido trazidos por um de dois caminhos:

 

 

  • A famosa rota da seda era um caminho feito por terra que partia da China, atravessava a Ásia central e chegava às cidades costeiras do Mar Negro no Mediterrâneo oriental.
  • O outro caminho vinha pelo mar da China, Oceano Índico e pelo Mar Arábico e, para chegarem ao mercado europeu, essas mercadorias ainda teriam de viajar por terra através da Pérsia e da Síria.

 

 

Em qualquer dessas rotas, os mercadores encontravam o caminho bloqueado assim que tentavam avançar dos portos mediterrâneos para o Oriente. Os Muçulmanos negociavam com eles em Alexandria e em Damasco, mas os turcos muçulmanos não permitiriam que os Europeus avançassem nem mais um passo. Era a “cortina de ferro” do fim da Idade Média.

 

Entre 1260 e 1350, essa cortina foi levantada e houve contato direto entre a Europa e a China e, durante esse intervalo, os mercadores italianos deixaram de ter de esperar que as mercadorias exóticas chegassem a Damasco ou Alexandria. Agora eles próprios conduziam caravanas pela rota da seda para as cidades da Índia e da China, onde podiam ouvir frades cristãos rezarem missas. Mas, o que poderia ter sido o início de um enriquecimento mútuo e um estímulo da visão do Oriente e do Ocidente, na verdade revelou-se apenas um levantar de cortinas, um episódio aventuroso após o qual a cortina caiu de novo.

 

Seria outra espécie de interregno, um intervalo de luz na escuridão que durante a maior parte da história moderna obscureceu a visão do Oriente e do Ocidente. Na verdade, passariam décadas antes de a descoberta do oceano tornar possível de novo aos europeus entrar na Índia e, decorreriam séculos, antes de ser permitido que eles visitassem novamente a China.

 

Não foi a marcha de soldados cristãos, ou sequer as manobras dos estadistas europeus que levantou essa “cortina” e, se há de dar crédito a alguém, devemos dá-lo a um povo que durante tanto tempo bloquearam o caminho aos Europeus, a um povo mongol da Ásia Central: _ os Tártaros.

 

Por constituírem uma ameaça para a Europa eles foram muito difamados e, muitas vezes, representados como destruidores e sanguinários. O nome Tártaro se tornou sinônimo de “bárbaro” e a palavra “horda”, que significava apenas “acampamento” acabou se confundindo com as tropas tártaras. A sua reputação foi estabelecida por escritores europeus que tinham ouvido falar dos horrores das investidas tártaras contra o Ocidente, mas poucos tinham visto um tártaro e não sabiam nada das notáveis realizações desse povo.

 

Os impérios mogóis tinham o dobro do tamanho do Império Romano e Gengis Khan desceu da Mongólia com suas hordas para Pequim, em 1214. No meio século que se seguiu ocupou toda a Ásia e depois se voltou para a Rússia, entrando pela Polônia e Hungria. Quando seu descendente subiu ao trono (1259), seu império ia do rio Amarelo na China às margens do Danúbio (na Europa) e da Sibéria até o Golfo Pérsico.

 

Os mongóis de Khan formaram uma dinastia tão competente como qualquer outra que alguma vez tenha governado um grande império. Os mongóis possuíam uma combinação de talento militar, coragem pessoal, versatilidade administrativa e uma tolerância cultural inigualada por qualquer linhagem europeia de soberanos e, por esse motivo, merecem um lugar mais alto e diferente do que lhes tem sido atribuído pelos historiadores.

 

Em 1241, um bando de tártaros devastou a Polônia e a Hungria, derrotando um exército de polacos e alemães enquanto outro exército seu derrotava os húngaros. O terror se abateu sobre a Europa e, no Mar do Norte, os corajosos pescadores da Frísia tiveram tanto medo que se mantiveram afastados das zonas de pesca. E, até o imperador do Império Romano Frederico II, que acabara de conquistar Jerusalém e fizera uma trégua de 10 anos com o sultão do Egito, temeu que a enxurrada tártara submergisse a cristandade.

 

O Papa Gregório IX conclamou nova cruzada, desta vez contra os Tártaros. Mas, em virtude do antagonismo entre o Papa e Frederico II, que já fora excomungado duas vezes, o pedido de socorro do rei da Hungria não foi atendido. No fim, a Europa foi salva por uma mercê de Deus, quando no apogeu dos seus êxitos, os tártaros receberam a notícia da morte de seu líder e, por isso, eles deveriam retornar imediatamente.

 

Apesar do susto dos cristãos e das chacinas tártaras a polacos e húngaros, os Tártaros se revelaram aliados poderosos contra os muçulmanos e os turcos que bloqueavam o caminho para o Oriente. Pois, após terem tido sucesso na sua campanha contra os “assassinos” nas praias do Mar Cáspio, eles prosseguiram para derrubar o califa da Síria.

 

Os Tártaros que não se importavam com nenhum dogma para perseguirem em seu nome, abriram caminho a partir do Ocidente cristão. A conquista tártara da Pérsia pôs a funcionar a política mongol de direitos alfandegários baixos, estradas bem policiadas e passagem livre para todos, abrindo assim o caminho para a Índia. A conquista Tártara da Rússia abriu caminho para Catai e, a rota da seda, só foi frequentada pelos europeus nos anos da conquista tártara.

 

As estradas egípcias, ainda nas mãos dos muçulmanos, continuaram interditadas aos europeus e as mercadorias que por lá passavam eram sujeitas a tarifas tão pesadas – impostas pelos mamelucos – que os preços dos produtos indianos tinham triplicado quando chegavam às mãos dos mercadores italianos.

 

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