A educação e o trabalho estão indissociavelmente ligados por uma relação de necessidade recíproca. Diante desta realidade inegável, surge um campo de atuação especifico para os profissionais da educação que tem na sua graduação habilidade e competência, para potencializar os saberes natos de cada indivíduo, levando-os a compreensão da importância do seu papel dentro das organizações. Ao contrário do que se acreditava anteriormente, o espaço do pedagogo empresarial não se restringe apenas aos departamentos de recursos humanos das empresas ou mesmo ao setor de treinamento e capacitação. O pedagogo dentro da empresa deve atuar com mediador da relação trabalho e educação, pesquisando diagnosticando e propondo soluções para aperfeiçoar a realização das funções de cada individuo. O capitalismo moderno responsável pelos progressos tecnológicos e pela perpetuação da disputa por uma vaga no mercado de trabalho, trouxe também a necessidade da formação continuada e dos aperfeiçoamentos técnicos. As organizações formais de trabalho exigem cada vez mais um profissional versátil, capaz de exercer com excelência mais de uma função. A gestão de conhecimento, a mediação do saber e principalmente a sincronia entre trabalho e educação são tarefas que favorecem o surgimento deste profissional com tantas habilidades, por tanto, é papel de um pedagogo inserir estas práticas dentro das empresas.

O presente artigo propõe-se a discutir e a desvelar as contribuições e a importância do pedagogo com motivador da descoberta de habilidades e competências dos trabalhadores dentro e fora do seu setor de trabalho, além disso, o mesmo traz algumas ilustrações práticas de um grupo especifico de funcionários de uma determinada empresa de transporte coletivo da cidade de Eunápolis - Bahia. Além disso, o mesmo pretende apresentar sugestões práticas de intervenção pedagógicas capazes de modificarem atitudes errôneas em decorrência da falta de informação e conhecimento.

Na atualidade é sabido que a aprendizagem não acontece apenas nos locais formais de ensino, e ainda, que trabalho e educação estão interligado por uma via de necessidade em sentido duplo. Esta inter-relação vem desde os princípios da vida em sociedade, pois desde o surgimento da vida social, o homem precisou aprender a produzir cada vez mais e melhor, isso pode ser observada a partir da confecção dos primeiros utensílios domésticos e de trabalho, até os dias atuais, onde as máquinas necessiam de pequenos comandos para exercerem várias funções ao mesmo tempo e com grande eficácia.

Hoje é a relação educação/trabalho que move o motor de partido do mundo moderno, afinal, é uma prática comum nas escolas de nível médio do nosso país, a educação para o trabalho, assim como é rotina vermos também, empresas investindo em trabalhos com fins educativos, como é o caso das organizações especializadas em segurança do trabalho, motivação pessoal, treinamento e aperfeiçoamento de colaboradores entre outras. ARAÚJO (1998) explica a importância destas instituições para o desenvolvimento pleno do indivíduo:

A análise que faço é que essa concepção permite incorporar em seu interior a influência resultante das coordenações entre a cognição e os conteúdos afetivos, sociais e biológicos, para explicar tanto as deficiências reais quanto as circunstanciais. (ARAÚJO, 1998 p. 39).

Diante deste contexto, o Pedagogo Empresarial está inserido auxiliando no desenvolvimento das competências e habilidades de cada indivíduo, para que cada profissional saiba lidar com várias demandas, com incertezas, com várias culturas ao mesmo tempo, direcionando o resultado positivo num mercado onde a competição gera mais competição, pois segundo Chiavenatto (1999), a globalização tomou tamanha proporção em função de a humanidade ter ingressado na era da informação. Conectando e desconectando em redes as organizações se tornam mais abrangentes, envolvendo todo o tipo serviços prestados e as pessoas que nela operam e ainda segundo MOSCOVICI (2000):

Vale enfatizar, reiteradamente, que as relações interpessoais no grupo são tão ou mais importantes do que a qualificação individual para as tarefas. "Se os membros relacionam-se de maneira harmoniosa, com simpatia e afeto, as probabilidades de colaboração aumentam muito, a sinergia pode ser atingida e resultados produtivos surgem de modo consistente".( MOSCOVICI, 2000)

Diante desta relação de interdependência do trabalho e educação, o que venho observando durante o período em que passei a fazer parte do quadro de funcionários de uma empresa de transporte coletivo rodoviário e urbano na cidade de Eunápolis-Bahia, foi que uma velha carapuça vem sendo usada pelo grupo de trabalhadores do setor mecânico, também chamado de setor de manutenção. A tal carapuça é a de que mecânico é "bicho macho", tem muita força, anda com o uniforme sujo, fala palavrões, e não tem medo do serviço pesado e não precisa estudar para saber como montar e desmontar um dos componentes do veículo, no entanto, basta uma pequena reflexão acerca do currículo escolar de cada um para que se possa compreender melhor essa necessidade de exposição do lado másculo destes profissionais.

Depois de superada essa primeira vista, ou melhor, esse preconceito estereotipado de que "homem é homem", percebe-se que a falta de escolarização, compensada por uma imposição de força, desta forma, é inadmissível que tal indivíduo preocupe-se com a conservação de hábitos de higiene, segurança, educação e até mesmo humanidade e respeito.A carência do saber elaborado, ou melhor, da educação formal, faz com que se crie uma barreira de resistência a inserção de práticas que visem oferecer melhores condições de trabalho ou pelo menos, a inserção novos de modos fazer, carregados de mais eficiência e menos fadiga.

A analise in loco de como acontece às relações de trabalho e processo de aprendizagem dentro do setor de manutenção, demonstra e reforça a necessidade de si ter um pedagogo para mediar às relações e os processos de ensino e aprendizados dentro de todos os seguimentos empresariais, principalmente nos que tem maior número de recursos humanos com déficit de escolarização alfabética. O que tem impedido que esta necessidade seja suprida, tem sido o alto grau de rejeição ao novo, e falta de profissionais com atitudes inovadoras e com coragem para propor um projeto de cunho pedagógico, passível de oferecer sucesso às empresas e aos funcionários, sem gerar altos custos de investimentos, sem mexer muito a disposição da instituição, movendo apenas o necessário para pontencilazar os recursos já existentes.Tal atitude não é fácil de ser concebida e muito menos de ser aceita, pois segundo FREIRE (2002):

É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assimcomo o critério de recusa ao velho não é apenas cronológico. (FREIRE, 2002 p. 39).

As contribuições que o pedagogo tem a oferecer as instituições em que ele encontra-se inserido são indizíveis, porém carece de uma organização maior tanto por parte dos profissionais, quanto por parte das empresas para que está parceria seja duradoura e frutífera, afinal, o campo existe, pode e deve ser explorado, mas tudo carece de um bom planejamento, de proposta aplicáveis e práticas, dinâmica, e com benefícios para ambas as partes. No caso do setor de manutenção aqui referido, as intervenções deverão partir da conscientização dos gestores sobre a importância da valorização dos profissionais que preenchem o seu quadro de colaboradores. Os colaboradores precisam assumir o desejo de mudança e colocar-se a disposição da aquisição de novas práticas que venham trazer mais eficiência e eficácia ao seu trabalho, sempre dispostos a adquirir novas habilidades e competências.

Referências:

CHALITA, Gabriel. Pedagogia do amor: a contribuição das histórias universais para formação de valores das novas gerações – São Paulo: Editora Gente, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GANDIN, Danilo. Escola e Transformação social – Petrópolis-RJ : Editora Vozes, 2001.

MOSCOVICI, Serge.Social Representations: Explorations in Social Psychology, Polity Press, 2000.