A CONTRIBUIÇÃO DA HOLÍSTICA À PSICOPEDAGOGIA: CAMINHO EMERGENTE

 

Luz Mary Padilha Dias ¹

 

RESUMO

 

Fazer um diagnóstico ou intervenção psicopedagógica pode parecer para muitos um movimento simples, porém ao se pensar no tipo de paciente que são ofertados nos tempos atuais logo se chega à conclusão que aquilo que parecia simples tornou-se extremamente obscuro. Tudo em função daquilo que não se viu e da visão simplista que os psicopedagogos muitas vezes são formados a oferecer. Em busca da mudança de paradigma, pois a antiga visão não dá conta do que chega até os psicopedagogos, é que se pode pensar na contribuição holística e no quanto ela pode ser uma forte aliada para o trabalho dos mesmos. O fenômeno que fez o travamento da aprendizagem muitas vezes pode estar pouco definido por isso a necessidade de ampliar a visão do problema em si, considerando o todo da pessoa, o ser integral. A holística nada mais é do que uma visão muito mais coletiva do que individual, que chegou fortemente para agregar a todas as áreas de estudo e assim chegar a um direcionamento mais pontual de auxilio no melhor desempenho de quem a ela buscar. A pergunta central desse artigo foi se a holística pode contribuir para melhorar a ação da psicopedagogia e percorreu ideias da psicopedagogia, da holística e sua associação.

Palavras-chave: Psicopedagogia. Holística. Contribuição.

 

 

INTRODUÇÃO

            A psicopedagogia forte aliada da escola nos tempos atuais cresce muito por ser uma mola propulsora de entendimentos sobre o fracasso escolar.

            O fato em si desdobra-se na atenuante questão do motivo que pode levar o estudante ao não atendimento dos requisitos para sua promoção e convívio harmonioso na escola.

            Trata-se de questões que vão muito além de aspectos estruturais visíveis de entendimento, levantando-se outras hipóteses para além da sala de aula, desde sua história de vida até a história da sua cultura, do seu mundo e do planeta em si.

Holisticamente falando, torna-se necessário um olhar bem mais abrangente do paciente que chega até os Espaços Psicopedagógicos, apontando-se algo muito mais globalizado e integral.

            Como perceber essa necessidade nos tempos atuais? Podemos refletir que é só ver o quanto o professor está solitário tentando resolver “de sua maneira” mais ortodoxa os problemas de aprendizagem que estão assolando os bancos escolares.

            Mundo escolar, professores, gestores, psicopedagogos, todos precisam ampliar seu entendimento do quanto tudo é muito mais do que se vê e do quanto às pessoas estão precisando ser mais bem interpretadas e entendidas.

            Para não se deixar que o mundo selvagem e materialista tome conta de tudo e de todos é que se estuda a holística como forte aliada à educação e, nesse sentido, dando ênfase a pessoa como ser integral.

            Se alguém se perdeu na trajetória do aprender motivos devem ser percebidos de maneira muito mais global do que individual, em busca de alternativas múltiplas de compreensão para que se encontre a tão almejada harmonia.

            É notória a emergência de compreensão do universo na atualidade. O paradigma mecanicista de trabalho não dá mais conta do acolhimento e do julgamento de tudo que acontece ao redor da pessoa/educando. Torna-se necessário outro tipo de sabedoria, talvez até mais “tênue” para não deixar a desejar. Esse espaço vazio que fica sem entendimento é que deve ser percebido, trabalhado, insistido e principalmente vislumbrado.

            A percepção holística só tem a contribuir com o trabalho do psicopedagogo para penetrar no mundo do educando por todos os lados trazendo pistas e caminhos para sua melhor inserção escolar.

            Neste artigo pretende-se mostrar como a holística pode ajudar nas intervenções e diagnósticos psicopedagógicos na tentativa de contribuir com a melhora das dificuldades de aprendizagens encontradas nas instituições escolares, ou quem sabe, no abrandamento dos entendimentos dos “diferentes” tão presentes na atualidade.

1. A HOLÍSTICA

            A educação holística surgiu recentemente, a partir de acordos entre educadores holísticos de diferentes países e tendências – a nível internacional. O grande marco dessa educação foi a Declaração de Chicago, apoiada na Oitava Conferência Internacional de Educadores Holísticos em Junho de 1990 - Chicago, Illions.

            Em conformidade com essa Declaração, os processos educativos do novo milênio devem ser baseados nos fundamentos da holística, enfatizando a criação de uma sociedade sustentável, justa e pacífica em perfeita harmonia com a terra e sua existência. Essa visão amplia a maneira como se vê a relação do que temos no mundo, exaltando todos os potenciais humanos que já nascem com eles. Pode-se entender que seres humanos saudáveis optam pela criação de uma sociedade bem mais saudável do que a sociedade consumista/materialista.

            Nessa declaração também consta que o paradigma holístico vem dar novo alento, esperança, reacendendo as “utopias adormecidas” nas mentes do ser humano.

            E, se tratando de espaço educativo, é notório o recebimento pelos alunos de conteúdos fragmentados sem ligação com sua vivência, distanciando sua vida de conexões e relações que poderiam favorecer seu entendimento na hora de sua aprendizagem.

            Diante disso, presencia-se um novo momento, pois a alta evolução da ciência e da tecnologia recai sobre fortes transformações também nas formas de viver e conviver, tornando-se necessárias todas as habilidades para sobrevivência e o principal que o aprendiz seja visto como pessoa e não como um robô estando ali somente para receber informações pré-determinadas politicamente.

            Essas questões permeiam a realidade atual para dar conta dos problemas mais prementes relacionados às questões tecnológicas, ambientais, ecológicas, éticas e sociais. (MORAES, 2004).

            Segundo Morin (2000) apud Moraes (2004):

Tais aspectos, associados a gravidade da problemática educacional, apontam a necessidade urgente de um melhor posicionamento diante dos problemas atuaís, em especial a urgência de uma reforma paradigmática nos processos de construção e reorganização do conhecimento, uma reforma do pensamento.

Dessa maneira, pode-se entender que devido a conceitos arraigados pelo tempo é que surge a visão holística de vida, tentando mudar o pensamento, tornando-o muito mais contemplativo e coletivo, usando de toda uma concepção do ser como integral, ou seja, nada funciona se não for integrado ao todo, relacionado sempre um mesmo ser ao universo.

            Corrobora desse pensamento Dias (2012), quando descreve: “O olhar holístico nada mais é do que perceber que está se vivendo um momento em que uma nova consciência deve ser primada e valorizada que é a consciência do coletivo, do integral”.

            Dentro desse olhar, são consideradas todas as faces da experiência humana, não somente o intelecto racional e as responsabilidades de vocação e cidadania, mas também aspectos físicos, emocionais, sociais, estéticos, criativos, intuitivos e espirituais, esses da natureza de cada um.

            Através desse entendimento, há um novo modo de relacionar-se com o ser humano, compreendendo-o como ser relacional com o mundo que o cerca, que está concebido dentro de um cosmos, da natureza, da sociedade, do outro e de si mesmo, ou seja, percebe-se uma relação muito mais complexa do macro com o micro onde tudo se funde e se completa.

            Conforme Dias (2012):

A visão holística é fundamentada em uma concepção sistêmica onde vê o mundo através de relações e de integração, considerando todos os fenômenos como interligados e que se interligam de uma maneira global, interdependente e inter-relacionado.

            À vista disso, constata-se que essa concepção demonstra o interesse em despertar e desenvolver a razão, os sentimentos e as emoções, tudo de maneira interligada.

            Logo, cada situação constitui uma oportunidade de aprender e principalmente desenvolver a cooperação possibilitando o entendimento de que é necessária uma visão completa do ser. (DIAS, 2012).

            Moraes (2003) apud Dias (2012), relata o seguinte em relação a essa compreensão: “ É necessária uma compreensão do mundo que seja mais adequada à sobrevivência humana”.

A educação holística pode ser uma forte aliada ao processo de recomposição da humanidade, pois apregoa a sensibilidade com relação ao ser e toda uma conexão para que ele consiga encontrar saídas para seus impedimentos de uma vida salutar e desenvolver suas aprendizagens buscando o seu crescimento e evolução.  

            Morin (1996) apud Dias (2012) apregoa que “reforma de pensamento significa reforma de educação”, sendo assim, quando se pensa em novas concepções de vida e entendimento, se fala em educação.

            São muitas as dificuldades encontradas no caminho da educação nos tempos atuais, em especial a esfera globalizadora que busca somente o referencial material, tornando quase que invisível sua ação, porém um novo momento precisa ser identificado que é o momento de reflexão um pouco mais audacioso, dismistificando o encanto somente pelo “ter” e colocando em evidência o “ser coletivo”.

            Conforme diz Dias (2012):

Para entendimento do público que está presente nas escolas atuais torna-se necessário terem-se novos horizontes que possam dar conta dessa caminhada e consciência, demonstrando novas possibilidades de vida futura, porque a missão da escola mudou, tornando-se necessário um enfoque mais individual no sujeito com todas suas singularidades, dotado de inteligências múltiplas e além de tudo um sujeito que precisa ser coletivo e que está inserido numa ecologia cognitiva rodeado por outro humanos também integrantes do mesmo ambiente.

2. A PSICOPEDAGOGIA

            A psicopedagogia nasceu pela necessidade de um maior entendimento do processo de aprendizagem que busca conhecimento em vários campos porém cria seu próprio objeto de estudo. Apropria-se do processo de aprendizagem humana, seus níveis de desenvolvimento e em especial a percepção (influência) do meio em que o aprendente está inserido e qual a relação entre eles.

            Essa área de estudo é conhecida por atender pessoas com dificuldades de aprendizagem, podendo ampliar de escola para qualquer instituição educativa ou individual. É certo que essas dificuldades podem aparecer em qualquer momento na vida das pessoas, vindo desde dificuldades, distúrbios e até patologias. Esse conglomerado acaba sendo objeto de estudo do psicopedagogo.

O campo de atuação do psicopedagogo não fica mais limitado ao aspecto clínico conforme era caracterizado inicialmente, já se aplicando também em instituições e outros segmentos: hospitais, empresas e gestão de pessoas.

            Unindo aspectos pedagógicos (pedagogia) com a psicologia (emoção) a psicopedagogia precisa olhar o aprendente para além do que ali está representado.

            Quando apresentado a ele uma queixa, ele utiliza um olhar abrangente sobre as causas das dificuldades que são presenciadas, indo além dos problemas biológicos, quebrando assim com a “velha” visão simplista dos problemas de aprendizagem, sempre na tentativa de compreender mais profundamente como ocorre o procedimento de aprender da pessoa.

            A meta da psicopedagogia é adquirir a mais longa compreensão sobre como está acontecendo o trajeto da aprendizagem para o paciente e qual o motivo que não o está deixando aprender.

            O psicopedagogo tem seu papel de atuar de forma preventiva e terapêutica, buscando sempre a harmonia da aprendizagem. Dessa maneira ele vai buscando respostas e significados para todas as mais diversas questões, indagando a fundo os problemas apontados.

            Através do estudo que ele vai fazendo do seu paciente ele vai decifrando o que está travando a aprendizagem e assim propicia estratégias e ferramentas que possam auxiliar no seu aprendizado. Cita Bossa (2000) sobre a função do psicopedagogo:“A função do psicopedagogo é saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento.”

                Torna-se necessário para essa função a ação atenta com a aprendizagem, como acontece o conhecimento, como é desenvolvido e quais as distorções percebidas, utilizando táticas de valorização para que o envolvido “aprendente” possa reverter o quadro ao qual está inserido.

            Ao retirar a pessoa da sua condição inadequada de aprendizagem, provendo-a de sentimentos de alta estima, percebendo suas habilidades e potencialidades, o psicopedagogo o insere novamente no ambiente que antes era desprezível.

            O diagnóstico psicopedagógico serve para investigar os distúrbios, transtornos ou patologias referente a aprendizagem humana, ou seja, seu objetivo é descobrir o que pode estar prejudicando e influenciando o desenvolvimento da pessoa (aprendente) em questão.

Ao buscar mecanismos de busca investigativa o psicopedagogo assume também uma postura de interesse humano, no qual pode permitir o desabrochar de energias que estão travadas dentro do educando, possibilitando também reações até desconhecidas pelo mesmo. Assim pode cumprir seu papel de incentivador.

           

3.UNINDO FORÇAS COM A HOLÍSTICA

            Como perceber o outro senão em sua forma integral?

            A visão holística é fundamentada em uma concepção sistêmica onde vê o mundo através de relações e de integração, considerando todos os fenômenos como interligados e que se interligam de uma maneira global, interdependente e inter-relacionado. O olhar holístico nada mais é do que perceber que está se vivendo um momento em que uma nova consciência deve ser primada e priorizada que é a consciência do coletivo, do ser integral.

            Essa nova consciência integra a pessoa ao social e ao ambiental, em todos os seus aspectos, tornando-a realmente parte do todo. Dessa maneira haverá uma transformação da lei da separatividade, tornando-a uma pessoa relacionada, um mesmo ser, o próprio universo.

            O homem necessita reconhecer essa realidade, encontrar formas, caminhos de tratamento mais integrados, sendo pertinente entender-se como sendo parte do mesmo ser, almejando outro tipo de sociedade, cultivando essa coletividade tão desconhecida nesse paradigma mecanicista que separa do meio e divide em partes, não oportunizando mudanças.     

            Dentro de um olhar holístico são consideradas todas as facetas da experiência humana, não somente o intelecto racional e as responsabilidades de vocação e cidadania, mas também os aspectos físicos, emocionais, sociais, estéticos, criativos, intuitivos e espirituais inatos da natureza do ser humano.

            Existe dentro dessa visão, um novo modo de relação com o ser humano, percebendo-o como ser relacional com o mundo, onde ele está concebido dentro de um cosmos, da natureza, da sociedade, do outro e de si mesmo, ou seja, existe uma relação bem mais complexa do macro com o micro onde tudo se funde tudo se mistura e se completa.

            Segundo Moraes (2003) “é necessário uma compreensão do mundo que seja mais adequada à sobrevivência humana”.

Diante das exigências cada vez mais complexas desse mundo em contínuo desenvolvimento é que se torna de extrema importância procurar novas saídas, possíveis transformações, tendo a educação como eixo fundamental de um forte processo de recomposição da humanidade.

            Em busca dessas soluções e especialmente em relação às pessoas que chegam até os psicopedagogos é que esse novo olhar é oportunizado, relatando que se deve ter em mente que as pessoas são um todo, isto é, possuem seu mundo mental e suas organizações sociais e culturais e além de tudo isso também tem os aspectos ambientais refletindo na vida de todos os que habitam esse planeta.

            A visão da realidade deve se basear no estado de inter-relação e de interdependência de todos os fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais, transcendendo as atuais fronteiras das disciplinas e dos conceitos, configurando uma estrutura inter-relacionada de múltiplos níveis de realidade multidisciplinar, gerando uma mudança de filosofia e uma transformação da cultura.

            O universo para o pensamento sistêmico e holístico é visto como uma teia dinâmica de fenômenos inter-relacionados. Todos esses fenômenos são fundamentais, todos decorrem de propriedades de todas as partes do todo e a coerência total de suas inter-relações determina a estrutura da teia.

            Então, olhando para as dificuldades de aprendizagem, torna-se necessário, pelo momento propício que se está vivendo, abarcar todos os aspectos que envolvem o paciente para entender e identificar o que produziu ou está produzindo as situações da não-aprendizagem do mesmo.

            Concebe-se também que o processo de ensino/aprendizagem é fruto de uma construção de interação social e que se em algum momento esse “todo” não for percebido não se terá um diagnóstico certeiro gerando um trabalho obsoleto.

CONCLUSÃO

            O trabalho da psicopedagogia busca dar assistência às pessoas que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem. Essa dificuldade de aprendizagem pode ser causada por diversos fatores e cabe ao psicopedagogo descobri-los, adentrando para além da situação mostrada e penetrando em um mundo mais amplo, que é o “todo” propriamente dito.

O ser integral chega até o consultório muitas vezes “encarapuçado” e cabe ao psicopedagogo abrir esse universo, penetrar em seu cerne, entender seu self, para assim poder ter o vínculo,  percepção e a intuição unidas para se atingir o objetivo proposto.

            A ousadia de levar em consideração o paradigma holístico levará a muitas rupturas e também a busca de valores muito mais universais, principalmente pela noção de correlação transcendental e ontológica do ser.  

            Na holística são apresentadas outras formas de entendimento e compreensão de vida, unindo ocidente e oriente, e tudo que está na natureza, até mesmo a matéria mais densa, pois tudo é vibração energética (WEIL, 1997).

            Tudo que flui no universo é advindo da mesma fonte que é a Energia Cósmica Universal, sendo que ela cria, une, cria e recria, demonstrando que se é pura energia integrativa.

            Conclui-se então que a holística pode ser uma grande aliada à psicopedagogia conglomerando todo o tipo de energia existente à descoberta dos anseios do paciente que veio procurar ajuda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas Sul, 2000. 

 

DIAS, Luz Mary Padilha Dias.Olhares holísticos na ação do supervisor escolar. Monografia de final de curso. Pós-Graduaçãoem Supervisão Escolar.Faculdades Integradas de Jacarepaguá. 2012.

 

MORAES, Maria Cândida. O paradigma emergente. Campinas: Papirus, 1997.

________. M.C. e Torre, S. de la. (2002). “Sentipensar bajo la mirada autopoiética o

como reencantar creativamente la educación”.Creatividad y sociedad. v.2, pp. 45-

56, Revista dela Asociaciónparala Creatividad. Madrid.

MORAES, M.C. (2003). Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis/RJ.: Editora Vozes.

 

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Ed. revista e modificada pelo autor. – Rio

de Janeiro: Bertrand Brasil,1996 a.

WEIL, Pierre. A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação. São Paulo: Gente, 1993.

______. A Consciência Cósmica: introdução à psicologia transpessoal. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997