A CONTRIBUIÇÃO DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS


RESUMO:
O presente artigo aborda a relevância dos laços afetivos nas relações estabelecidas em salas de aula frequentadas por jovens e adultos, bem como os aspectos que relacionados ao afeto contribuem para que estes alunos permaneçam na escola. O intuito é descrever a observação feita no colégio Municipal Getúlio Vargas, em Valença ? BA, de uma turma da modalidade de ensino EJA (Educação de Jovens e Adultos), que recebeu estagiários duas vezes por semana durante um período de dois meses e meio. Após este trabalho de observação e revisão bibliográfica acerca da temática, ficou claro que fatores como confiança nos novos professores (estagiários), afinidade e empatia, respeito às individualidades e vivências, o saber ouvir por parte do professor, contribuem para a criação de vínculos afetivos na Educação de Jovens e Adultos, os quais facilitam no processo de aprendizagem, pois esta turma traz consigo muitas dificuldades pessoais que tornam difícil a permanência na escola, refletindo então na grande evasão, que pode ser evitada ou amenizada quando no ambiente escolar são desenvolvidas relações em que a atenção e o carinho são elementos sempre presentes.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Afetividade. Aprendizagem.

Introdução
Vivemos num mundo assolado de objetividade, racionalidade, individualismo, competitividade, enfim, as pessoas costumam agir com indiferença aos problemas do outro, demonstram pouco seus sentimentos, suas emoções e vivem como se fossem incapazes de querer bem ao outro. É inaceitável continuarmos nos comportando com tamanha insensibilidade frente a situações que estão embaixo dos nossos olhos, nos afetando direta ou indiretamente. Nesse contexto está a Educação de Jovens e Adultos, que clama por professores que envolvam os alunos, que executem suas tarefas com boa vontade, e mostrem aos educandos a grande capacidade que tem de aprender.
A discussão do presente artigo surge de algumas indagações sobre uma prática pedagógica voltada para Jovens e Adultos que esteja alicerçada na afetividade. O texto teve como base a observação feita numa turma da modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos, no Colégio Estadual Getúlio Vargas, localizado no município de Valença. Além disso, as ideias de Paulo Freire, Moacyr Gaddoti, Wanderley Codo e outros autores que tratam da EJA e da importância da afetividade na relação entre professor e aluno foram os principais subsídios para a elaboração deste artigo.


1. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A Educação de Jovens e Adultos nasce da educação popular, a qual se alimenta de lutas e movimentos de libertação visando sempre a participação e a emancipação, o que reflete na capacidade de mobilizar os indivíduos na busca de objetivos próprios.
A educação de adultos é um tema presente na vasta obra de Paulo Freire, que se tornou um dos mais reconhecidos educadores nesta área e construiu uma pedagogia que nasce da luta pela vida. Certa vez o teórico foi questionado quanto "para que alfabetizar?", e, de forma simples e objetiva redigiu uma carta respondendo a indagação de uma alfabetizadora e entre suas palavras, ressalta:
Ninguém é analfabeto porque quer, mas como conseqüência das condições de onde vive. Há casos, onde "o analfabeto é o homem ou a mulher que não necessita ler e escrever", em outros é a mulher ou o homem a quem foi negado o direito de ler e escrever. (FREIRE, 1986)

Para FREIRE (2010) a Educação de Adultos é melhor percebida quando a situamos hoje como Educação Popular, já que esta enquanto uma concepção pedagógica que alimenta diversos tipos de experiências educativas, e que lidando com o processo de conhecer, torna a prática interessada em proporcionar tanto o ensino de conteúdos, quanto a conscientização, tornando a EJA mais abrangente.
Dessa forma, são tão importantes para a formação dos grupos populares certos conteúdos que o educador lhes deve ensinar, quanto a análise que eles façam de sua realidade concreta. E, ao fazê-lo, devem ir, com a indispensável ajuda do educador, superando o seu saber anterior, de pura experiência feito, por um saber mais crítico, menos ingênuo. (FREIRE, p. 16, 2001,)

Segundo ROMÃO (2010) não podemos perder a oportunidade de definir de uma vez por todas a educação de jovens e adultos como parte constitutiva do sistema regular de ensino que propicia a educação básica, no sentido da prioridade que ele deve ser alvo, com todos os seus componentes estruturais, por parte das autoridades e da população. Assim, é perceptível que a EJA deve ser vista como uma modalidade de ensino voltada para uma clientela específica, e não como muitos acreditam que é: paralela ao sistema e muito menos como forma compensatória ou complementar.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é destinada a indivíduos, geralmente vindos de famílias pobres que não tiveram acesso a escola ou não continuaram seus estudos na idade considerada apropriada. Muitos desistiram por necessidade de trabalhar para ajudar nas despesas da casa, outros por inexistência de escolas, por paternidade ou maternidade precoce, por falta de transporte, comida e oportunidade, por incompatibilidade do horário das aulas com as responsabilidades que precisam assumir, outros por vontade própria, advinda do desestímulo de aprender.
Independente dos motivos que afastaram esses indivíduos da escola, a modalidade EJA propõe a defesa de direitos e a busca pela superação das injustiças sociais que assolam nosso país, já que, segundo Ribeiro (2001) a Educação de Jovens e Adultos está relacionada à luta contra a exclusão social e educativa, à superação da perspectiva assistencialista da educação compensatória e a articulação de sistemas de ensino inclusivos, que viabilizem múltiplas trajetórias de formação.
Nesse sentido, entende-se que a EJA oportuniza a formação integral dos sujeitos, bem como a prática consciente a cidadania, sendo que o aluno é levado a reconquistar sua identidade cultural, elevando sua auto-estima e, sobretudo, tornando-se sujeito de suas próprias ações.


2. PROFESSOR, ALUNO DA EJA E AFETO: ALIADOS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Na maioria dos contextos, a relação entre professor e aluno é percebida apenas no que se refere à transmissão de conhecimentos, isto é, ao aspecto cognitivo, mas este quadro está mudando, pois é perceptível que alguns estudos passaram a atribuir relevância a questão da afetividade na aprendizagem.
Quando pensamos no professor enquanto mediador da modalidade de ensino abordada neste trabalho, é importante ressaltar que algumas das suas atribuições são: ouvir o aluno, entendê-lo, incentivá-lo a não desistir dos estudos, orientá-lo, dizer-lhe o quanto é peça fundamental no processo de aprendizagem, tirar suas dúvidas, entre outras.
A influência que o professor tem na sala de aula é enorme, pois ele tem a capacidade de cativar ou não o aluno, sendo que é a partir daí que ele vai estabelecer um clima que pode favorecer ou não a aprendizagem, já que esta se dá também, a partir da construção de um bom relacionamento em sala de aula.
Nesse sentido, fica claro que além das metodologias desenvolvidas nas aulas e dos recursos utilizados, uma boa relação entre professor e aluno é essencial, pois muitas vezes este tem a escola como um "abrigo" para as dificuldades que enfrenta no dia-a-dia. Então, encontrar um professor aberto para conversar, que lhe transmita confiança e que, sobretudo, não tenha uma posição autoritária o incentiva a se sentir parte do processo, desenvolvendo as atividades com alegria, bom humor e segurança.
O aluno adulto já tem suas opiniões formadas e viveu inúmeras experiências na vida, as quais muitas vezes o desestimulou de continuar os estudos. Assim, apesar de não estar mais na condição de criança, ele necessita de muita atenção e carinho, pois esta relação afetuosa serve como incentivo para não desistirem de voltar a escola, conservando sua auto-estima elevada e percebendo o quanto são capazes, independente da diferença de idade que há entre o professor e ele, ou até mesmo entre ele e seus colegas de classe.
Segundo Rêgo (1995) Vygotsky concebe o homem como um ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também como alguém que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. Então, é perceptível que não há como desunir o afetivo do intelectual, uma vez que o ser humano precisa ser entendido como um todo, e não de forma dualista, isto é, separando a razão da emoção. Caso essa separação aconteça, é provável percebermos a presença de lacunas no processo de aprendizagem
Atores de histórias de vida diferenciadas, os alunos da modalidade de ensino aqui abordada possuem trajetórias escolares marcadas pela exclusão, e em muitos casos sentem-se envergonhados por esta condição vivenciada - de ter parado de estudar ou de estar na escola num momento considerado por eles "tarde" -, além disso, se preocupam muito com o novo, com as descobertas, sentem receio de falar em público, de errar, e até mesmo de não ter a atenção esperada. Neste contexto é válido ressaltar a importância de uma atuação por parte do professor que valorize não apenas o aspecto cognitivo, mas também o afetivo, para que mostre ao aluno que ele é aceito independente de suas condições de vida e deve, portanto, confiar no seu potencial de aprender e conduzir seu aprendizado.

"O aluno adulto tem muito a contribuir para o processo de ensino-aprendizagem, não só por ser um trabalhador, mas pelo conjunto de ações que exerce na família e na sociedade. De sua parte, o educando, especialmente o adulto, ao perceber que está sendo tratado como um agente ativo, participante do processo de aprendizagem, vai se sentir mais interessado e mais responsável. A responsabilidade é tão superior nessa concepção que o aluno compreende que está mudando sua sociedade, sua realidade e a essência de seu país pelo fato de estar mudando a si mesmo e que a educação que recebe não é favor ou caridade e sim um direito instituído conforme parecer 11/2000 que trata das Diretrizes curriculares para Educação de Jovens e Adultos". (LOPES, Silvia Paraguassu; SOUZA, Luzia Silva. p. 15)

Não se pode perder de vista que o educando da EJA é um ser dotado de ideias, tem sentimentos e capacidade de aprender como qualquer outro aluno. Esses atributos ficam claros numa simples conversa que envolve assuntos do dia-a-dia, uma vez que, quando estão a vontade, eles dão asas aos pensamentos, soltam as ideias, falam sem medo, se alegram, se emocionam e expressam muito sinceramente o que sabem e o que desejam saber.
Então, é importante que o professor não se comporte perante a turma de forma arrogante, fazendo imposições, repreendendo o aluno que fala errado e rotulando-o como aquele que não sabe das coisas, enfim, demonstrar que é o único responsável pela aprendizagem, pois dessa forma o aluno pode se sentir muito inferiorizado e até mesmo discriminado.
A união entre professor e aluno acontece quando o diálogo estabelecido entre eles é saudável e de qualidade, assim, eles criam um laço de "amizade", que beneficia todo o processo de aquisição do saber, visto que, é óbvia a capacidade que o professor tem de conquistar a atenção do aluno e despertar seu interesse para as discussões que serão feitas na sala de aula.
Nesse sentido, é importante que o educador tenha a habilidade de "diminuir a distância" entre seu mundo e o mundo do aluno adulto, pois este necessita de um tratamento acolhedor e humanizado para que se sinta motivado e realize as atividades com boa vontade, assim, cumprir os deveres propostos deixa de ser uma "obrigação" e ele passa a perceber e, sobretudo, a acreditar que certos conhecimentos terão utilidade na sua vida, ou simplesmente, em situações do seu dia-a-dia.
Para ratificar tal afirmação, FREIRE (2002) diz que fundamental é que o professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada enquanto fala e enquanto ouve.
Assim, se o professor não estabelecer uma relação afetiva com os alunos, pode até ser que fixe os conteúdos, no entanto, é ilusório achar que o ensino foi proveitoso, pois o não envolvimento do aluno impossibilita a efetivação da aprendizagem de sucesso, daí a importância de ter a afetividade enquanto peça fundamental da prática pedagógica.
CODO & GAZZOTTI (1999) nos diz que
Todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do trabalhador, quer seja na relação estabelecida com outros, quer mesmo na relação estabelecida com o produto do trabalho. Mas, o caso do professor é diferente, a relação afetiva é obrigatória para o próprio exercício do trabalho, é um pré-requisito. Para que o trabalho seja efetivo, ou seja, que atinja seus objetivos, a relação afetiva necessariamente tem que ser estabelecida. (CODO & GAZZOTTI, p.50, 1999)

Sabemos que as funções atribuídas ao professor geralmente tem caráter objetivo, ele tem prazos para cumprir e precisa seguir uma estrutura curricular, tendo que operacionalizar seu trabalho independente do investimento afetivo, no entanto, no momento que ele se propõe a ensinar e o aluno a aprender haverá, sem dúvidas, a criação de elos afetivos, propiciando então, uma troca entre os dois, o que favorece a conquista da atenção e interesse do aluno para o conhecimento proposto para ser abordado.

3. "MAS É CLARO QUE O SOL VAI VOLTAR AMANHÃ, MAIS UMA VEZ, EU SEI..."


A turma do 1º Ano noturno do Colégio Municipal Getúlio Vargas tinha vinte e cinco alunos matriculados, entretanto, apenas dez, em média, eram frequentadores assíduos. Com idades entre vinte e um e sessenta e cinco anos, eles nos surpreendiam a cada encontro.
Antes de iniciarmos a aula sempre conversávamos sobre temas diversificados, sendo que os mais discutidos eram política, religião e meio ambiente. Nestes momentos era possível perceber a necessidade dos alunos de expressar seus anseios, dividir suas preocupações, amarguras ou esperanças. Preocupados com a criação dos filhos, com os preços dos produtos e até mesmo com as contas que tinham para pagar, essas conversas se tornavam muito significativas, pois os alunos percebiam o nosso interesse em conhecer mais sobre suas vidas, e, aos poucos iam relatando várias histórias. Assim, é perceptível a relevância de o professor - que neste momento torna-se um "amigo" do seu aluno jovem/adulto - ser receptivo para conversar, mostrando que além de se preocupar com o processo de aprendizagem - enquanto transmissão de conteúdos -, se importa também com os problemas pessoais e profissionais do estudante.
Para Gadotti (2010, p. 31):

Os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas condições precárias de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego, etc.) que estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de alfabetização dos jovens e dos adultos. (GADOTTI, P.31, 2010)

Então, ouvir de forma fraterna e generosa, bem como dialogar com a turma, mostrando o quanto aprender a ler e a escrever é importante, são fatores imprescindíveis para construir um ambiente amigável e harmonioso, favorecendo a troca de conhecimentos a partir das próprias histórias de vida. O trabalho realizado no Estágio Supervisionado em Espaços Formais de Educação teve como norte um projeto com foco no desenvolvimento da capacidade lingüística dos alunos utilizando a música como principal suporte, a fim de tornar a aprendizagem mais prazerosa e atrativa. A turma ouvia a música, conhecia sua história, bem como a história de vida do autor, a leitura era feita de forma coletiva e em seguida realizavam a atividade proposta.
Ficou evidente o interesse de grande parte dos alunos em participar cantando e comentando sobre a música trabalhada, opinando quanto ao ritmo, tema abordado, relevância, etc. e até mesmo escolhendo qual canção gostaria de trabalhar no encontro seguinte. Assim, eles se envolviam nas produções e aumentava o interesse de continuar assistindo as aulas apesar do grande cansaço do dia-a-dia relatado pelos educandos.
Um dos alunos citou sua admiração pelo cantor Renato Russo e a música "Mais uma Vez", a qual se tornou recurso de uma das aulas. O momento foi muito significativo, alguns relataram alguns problemas vividos, outros a falta de esperança em algumas situações e outros a importância de acreditar que as coisas darão certo. Por meio da atividade desenvolvida com a música escolhida pelo aluno acabamos conhecendo um pouco mais os alunos daquela classe, o receio de muitos deles estarem estudando nas turmas da EJA - já que ainda é comum a idéia de que é tarde para estudar a partir de determinada idade - e os laços de amizade foram se estreitando ainda mais.
Abordamos a questão da esperança, da importância de não se conformar com o estado atual das coisas, de acreditar num futuro melhor, pois somos capazes de tornar realidade tudo aquilo que muitas vezes é apenas um sonho. SOUZA (2010) reforça essa idéia afirmando que

Ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de negar ao outro o direito de sonhar, de ter a utopia de um mundo melhor, mas justo e mais fraterno. É irresponsabilidade negar ao aluno e à aluna, em qualquer idade, seu direito de ser mais. (SOUZA, p. 232, 2010)

A cada novo encontro, ficava óbvio que estar na escola para esses jovens e adultos observados ganhava sentido e valor no momento em que percebiam a paciência, carinho e disposição do professor em contribuir com sua aprendizagem. O afeto, a alegria, a amizade, o respeito, são sentimentos que deixam os alunos a vontade para interagir, expor suas dúvidas e até mesmo perder alguns medos. Além disso, o diálogo como forma de troca de saberes é um grande agente da aprendizagem, pois desperta no educando a vontade de aprender:

"A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje." (FREIRE, p.161,2002).

As histórias de vida que os alunos contavam eram cheias de capítulos de sofrimento, dor, algumas alegrias e esperanças, a cada relato, nos sentíamos mais comprometidos e ansiosos para ajudá-los a ler e a escrever. Interessante e curioso é que muitos apenas gostariam de aprender a assinar o nome, outros para ver os preços dos produtos no mercado, outros queriam apenas aprender a ler para fazer a leitura da Bíblia em suas casas junto com suas famílias, outros acham os cartazes e outdoors nas ruas muito bonitos, mas diziam não entender nada do que estava escrito, por isso gostariam de lê-los.
Nenhum dos alunos da turma tinha a pretensão de ir até o terceiro ano do ensino médio, todos se contentavam em aprender o básico, pois diziam não ter mais idade para continuar os estudos, a vontade que tinham mesmo era de melhorar de vida e dar boas condições de estudos aos filhos (a educação que não tiveram no tempo considerado por eles "certo") .
A sociedade contemporânea vive um momento de grande individualismo, em que a competitividade invade as relações e faz os indivíduos esquecerem da importância de agir de forma coletiva, se preocupando com as necessidades e problemas do outro. No entanto, é até desumana a atitude de fingirmos não estar percebendo e sentindo tudo o que está acontecendo ao nosso redor: a violência que assola o mundo, a desunião de famílias, o descaso com os menos favorecidos social e economicamente, a falta de perspectiva de muitos que não tiveram acesso a escola, etc. No contexto observado percebemos o quando é necessário - e urgente - que o educador se coloque no lugar do seu aluno e saia da condição de indiferente aos problemas dele, pois é esta própria indiferença que afasta a afetividade do ambiente de educação.
Para CODO & GAZZOTTI (1999)
As atividades que exigem maior investimento de energia afetiva são aquelas relacionadas ao cuidado: estabelecer um vínculo afetivo é fundamental para promover o bem estar do outro. Para que o professor desempenhe seu trabalho de forma a atingir seus objetivos, o estabelecimento do vínculo afetivo é praticamente obrigatório. (CODO & GAZZOTI, 1999 p 55)

É justamente a capacidade de sentir, de ser sensível que torna o educador um ser privilegiado, capaz de transformar qualquer contexto, levando em conta, principalmente que o aluno é um ser dotado de sonhos, desejos e muitas vezes cheio de vontade de modificar sua própria história.

4. METODOLOGIA

O presente trabalho utilizou como base de investigação o método indutivo, pois segundo Diehl e Tatim (2004): os dados obtidos são originados de observações de casos da realidade concreta de forma generalizada.
A abordagem estabelecida na pesquisa é qualitativa, com características expressas com clareza pelos mesmos autores; os estudos qualitativos descrevem a complexidade do problema, há uma interação de certos elementos, compreendem e classificam os processos dinâmicos vividos por grupos sociais, os dados são coletados preferencialmente nos contextos em que os fenômenos são construídos e a teoria é construída por meio da análise dos dados empíricos. O trabalho foi feito com observações, descrições, comparações e interpretações.
As técnicas de coleta de dados escolhidas e aplicadas no referencial teórico da pesquisa foram a pesquisa bibliográfica a cerca temática EJA e seu vínculo com a afetividade e observação do contexto escolhido (Turma de 1º Ano da Educação de Jovens e Adultos), a qual foi feita levando em consideração questões como: confiança nos novos professores (estagiários), afinidade e empatia, respeito às individualidades e vivências de cada um, o saber ouvir por parte do professor, relação de aprendizagem mútua, laços estabelecidos de forma espontânea, entre outros.
Vale ressaltar que esta observação foi realizada durante o período de Estágio Supervisionado do componente curricular Pesquisa e Estágio em Espaços Formais de Educação no VII Semestre do curso de Pedagogia.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A Educação de Jovens e Adultos é destinada àqueles que não tiveram acesso ou possibilidade de continuar os estudos na idade convencional, e, por mais que para alguns seja um devaneio acreditar na possibilidade da efetivação de propostas pedagógicas que levem em conta as características dos alunos, seus interesses e condições de vida e trabalho, faz-se necessário continuar acreditando e buscando maneiras de adequar a escola e, consequentemente, o trabalho do professor às necessidades do público atendido.
É indispensável ainda valorizá-los como sujeitos, e, sobretudo abandonar a visão de que esses jovens e adultos são meros receptores passivos que estão sendo amparados, notando-os como indivíduos capazes de superar as dificuldades da vida, de aprender e de sentir motivação para voltar à escola todos os dias.
Essa clientela de jovens e adultos configura tipos humanos diversificados e busca a escola para satisfazer necessidades particulares, para se entregar a sociedade letrada da qual fazem parte por direito, mas da qual não pode participar plenamente quando não domina a leitura e a escrita. Vale ressaltar que grande parte dos alunos jovens e adultos que buscam a escola espera dela um espaço que atenda suas necessidades como pessoas e não apenas como alunos que ignoram o conhecimento escolar.
As relações afetivas e cognitivas são indissociáveis no tocante ao processo de desenvolvimento do ser humano, sendo que ambos se inter-relacionam e se influenciam de forma mútua, ideia que torna os aspectos afeto e inteligência uma abordagem abrangente, já que possibilita entender o sujeito como uma totalidade.
É preciso ter um olhar atento à questão da afetividade como elemento que constitui de forma essencial o processo de aprendizagem, levando em conta que ela esta não se restringe apenas a apropriação de conhecimentos.

REFERÊNCIAS

CODO, Wanderley (Coordenador). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: 3ª Edição. Ed. Vozes. Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.

DONADON, Daniela Gobbo; LEITE, Sergio Antonio da Silva. Educação de Jovens e Adultos: as dimensões afetivas na mediação pedagógica. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem02/COLE_984.pdf. Acesso em 19 ago 2010.

FREIRE, Paulo. 1986. Carta a uma alfabetizadora ? Fascículo ? Vereda ? São Paulo.

___________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002


___________. Política e Educação: ensaios. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001 (Coleção Questões de nossa época; v. 23)

GADOTTI, Moacir ; ROMÃO, José E. (Orgs). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 11.ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2010. (Guia da escola cidadã; v.5)

LOPES, Selva Paraguassu; SOUZA, Luza Souza. EJA: Uma educação possível ou mera utopia? Disponível em: http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/Revista_SelvaPLopes.pdf. Acesso em: 21 ago 2010.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

RIBEIRO, V. M. M. Educação para jovens e adultos: proposta curricular - 1º
segmento. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001.