A CONSTRUÇÃO DO INIMIGO MUÇULMANO

1. INTRODUÇÃO
No mês de setembro de 2001, especificamente no dia 11, pessoas do mundo inteiro são surpreendidas por algumas imagens chocantes transmitidas ao vivo por inúmeros canais de televisão onde a retórica sensacionalista da mídia apresentou o evento da seguinte forma:
8h48 ? Um Boeing 767 da United Airlines (vôo 175) que saiu de Boston às 7h59 para San Francisco, levando 65 passageiros e nove tripulantes, foi desviado e bateu numa das torres do World Trade Center entre o 80º e 86º andar.
9h03 ? Um segundo avião um Boeing 767 da American Airlines (vôo 11) que saiu de Boston com destino a Los Angeles levando 92 pessoas, bate na torre sul do WTC. Desesperadas pessoas se atiram das torres.
10h02 ? O Mundo assiste ao desabamento da torre sul do WTC. As autoridades portuárias de Nova York fecham todas as pontes e túneis da cidade. Nenhum tipo de transporte público, inclusive o metrô está funcionando e o caos é geral na área sul de Manhatan.
10h29 ? A segunda torre do Worl Trade Center, atingida pelo outro Boeing vai ao chão, provocando uma enorme cortina de fumaça, espalhando destroços e causando pânico(...) (Veja Edição Especial 11set. 2001)
Durante e após estes atentados contra os Estados Unidos, os meios de comunicação de massa, noticiaram exaustivamente o evento 11 de setembro. Diariamente eram editadas volumosas páginas de revistas e jornais. As revistas produziram edições especiais somente com notícias sobre esses atentados e a televisão com os chamados "programas com reportagens especiais" também encontraram nos ataques do dia 11 um "tema digno de virar notícia" de forma a bombardear a mente do telespectador com aquelas imagens deste dia fatídico do mês de setembro.
Tomando como referencial de análise os atentados às torres gêmeas em Nova York e ao Pentágono em Washington, minha atenção neste trabalho estará voltada para um estudo do discurso da revista Veja e das notícias publicadas pela Folha de São Paulo na internet durante o dia 11 de setembro na ocasião dos atentados, analisando como estes meios de comunicação aliaram-se em apoio ao poder norte americano tentando construir no imaginário coletivo das pessoas o mito do "inimigo muçulmano" ou do "vilão terrorista" referindo-se a figura do milionário saudita Osama Bin Laden.
O presente trabalho estará dividido em dois capítulos, sendo que o primeiro tratará sobre os antecedentes históricos referentes à infiltração norte americana no Afeganistão em fins da décadas de 70 e início dos anos 80, onde a CIA (Central Intelligence Agency) treinou, liderou e financiou grupos de gerrilheiros, surgindo deste episódio a figura de Osama Bin Laden. As justificativas para explicar essa empreendida era a expulsão dos então soviéticos do território afegão, mas os americanos também pretendiam derrubar o governo do PDPA (Partido Democrático Popular do Afeganistão) qual constituía um governo de cunho socialista e incomodava os americanos na empreendida do anti-comunismo justificada pela lógica da guerra fria.
Esses guerrilheiros, como eram chamados na época, como o apoio norte americano promoveram o caos e a desordem no país, colocando o Afeganistão em uma situação de pânico. As pessoas desconfiavam uma das outras, sentiam medo de sair de casa e serem alvos de granadas e bombas que constantemente tiravam a vida das pessoas ou deixavam seqüelas. Até mesmo dentro das mesquitas a população não se sentia segura, pois muitos incêndios criminosos destruíram várias delas em Cabul.
O primeiro capítulo fará um esboço levando o leitor a conhecer alguns fatos pouco divulgados sobre esses antecedentes norte americanos no Afeganistão.
É sempre mais fácil personalizar o inimigo, identificar um símbolo do grande mal, do que buscar compreender o que está por trás das atrocidades cometidas. (CHOMSKY, 2001)
Os atentados de 11 de setembro em Nova York e Washington foram intitulados por alguns meios de comunicação como "atentados terroristas" nos quais como acontece em encenações cinematográficas de Hollywood, ficou determinado quem eram os "vilões" e quem eram os "mocinhos".
A "face do mal" ou seja, os vilões ficaram representados por homens barbudos devotos de Alá, fundamentalistas, radicais e "terroristas" como foram intitulados pelos meios de comunicação. Já o "bem" era representado por uma nação atingida, violada, traumatizada ou seja a vítima. É o que propõe o segundo capítulo desta pesquisa. Neste capítulo será feita uma análise de fragmentos de reportagens da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo, conduzindo o leitor a uma reflexão a cerca da tentativa destas mídias em "marginalizar a cultura muçulmana" de forma a apresentar para o público o "inimigo muçulmano".
Mais sociedades democráticas, incluindo aí os Estados Unidos instituíram medidas para impor disciplina, as suas próprias populações e para instituir medidas impopulares sob o disfarce de "combater o terror" explorando sempre a atmosfera de medo e apelo ao "patriotismo", o que na prática significa: "Você cale a boca, enquanto eu toco as coisas do meu jeito impiedosamente". A administração de Bush se valeu da oportunidade para fazer avançar seu ataque, contra a maioria da população e contra as gerações futuras a serviço de escusos interesses corporativos que dominam a administração superando qualquer parâmetro anterior. (CHOMSKY, 2001)
O segundo capítulo desse trabalho recebeu como título:
3. A estratégia é: Manipular o público, o qual foi dividido em quatro sub itens intitulados de:
3.1 "Veja e Folha" aliadas ao poder ? Uma guerra contra o "terror". Neste item, usando trechos de algumas reportagens da revista Veja e outras da Folha de São Paulo publicadas na internet no dia dos atentados, serão analisadas as estratégias discursivas destas mídias na tentativa de:
a) Eleger um suspeito (Osama Bin Laden);
b) Divulgar "provas" que confirmem sua culpabilidade, intitulando-os terroristas ou demônios muçulmanos;
c) Marginalização do mundo muçulmano.
3.2 Bush o "herói americano". Neste item pretende-se discutir sobre como as mídias analisadas trabalharam de forma intensa na construção de uma personalidade heróica para o presidente dos Estados Unidos George W. Bush. Aqui Bush é transformado em um mito para a Veja e a Folha de São Paulo e a sua figura de herói parece sempre lutar em prol da "causa do bem" no combate ao "mal" ou seja o "inimigo muçulmano" segundo a ideologia destas mídias.
3.3 A Notícia que interessa. Analisa-se neste ponto como a revista Veja abordou os fatos do passado apresentados no capítulo 1 deste trabalho o qual refere-se a infiltração norte americana no Afeganistão nos anos 70 e 80 e o treinamento daqueles que hoje recebem o título de terroristas, como a revista os noticiou ou o que omitiu em favor dos interesses americanos.
3.4 As mulheres muçulmanas e a revista Veja. Onde como aspectos da cultura muçulmana foram utilizados para marginalizar a figura feminina, ressaltando apenas os aspectos negativos desta cultura com relação ao tratamento dado a mulher muçulmana.


2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

2.1 Guerra Fria
Entretanto o 11 de setembro provou que vivemos em um mundo no qual um único hiper poder global finalmente resolvera que, a partir do fim da União Soviética, não há limites de curto prazo para o seu poderio nem para sua disposição de utilizá-lo, embora os objetivos do seu uso não sejam nada claros ? exceto a manifestação de sua supremacia. O século XX terminou. O século XXI começa com o crepúsculo e obscuridade. (HOBSBAWM, 2002)
O ataque de 11 de setembro contra as torres gêmeas do World Trade Center em New York e ao Pentágono em Washington ficará no imaginário coletivo de milhares de seres humanos. Provavelmente nenhum outro acontecimento histórico tenha sido assistido por um número tão grande de pessoas, que atentas à retórica americana, tiveram a oportunidade de acompanhar pelos canais de televisão as transmissões ao vivo da queda das torres, bem como os detalhes do empreendimento do governo Bush na chamada "guerra ao terror".
A mídia coordenou suas ações como forma de apoio ao poderio norte americano, tentando induzir a população a enxergar favoravelmente sua política e seus ideais. Chomski, 1999, sobre a mídia afirma que:
Esses setores do sistema doutrinário servem para distrair a grande massa e reforçar os valores sociais básicos: a passividade; a submissão; as autoridades; as predominantes virtudes de avareza e da ganância pessoal; a falta de consideração com outros; o medo de inimigos reais e imaginários.
Durante as discussões sobre o 11 de setembro, foram excluídos pela mídia os antecedentes históricos referentes à infiltração norte americana no Afeganistão ocorridos em um passado não muito remoto, pois caso esses antecedentes tivessem chegado ao conhecimento de todos, seria observado que os Estados Unidos da América são um Estado líder do terrorismo, pois de acordo com os critérios legais para a designação de terrorismo, definidos pela "Imigrations and Nacionality Act" descritos por Chomsky em seu livro intitulado "11 de setembro" são os seguintes:
I ? Seqüestro ou sabotagem de qualquer meio de transporte (incluindo aviões, navios e outros veículos); pg 146
II ? Captura ou detenção, ameaça de morte, de injúrias físicas, ou de prolongamento da detenção de qualquer indivíduo com o objetivo de obrigar um terceiro (incluindo aí entidades governamentais) a praticar ou deixar de praticar determinado ato, como condição implícita ou explícita para a libertação do indivíduo capturado ou detido; pg 146
III ? Ataque violento sobre um indivíduo sob proteção internacional (...) ou contra a liberdade da pessoa; pg 146
IV ? Assassinato
a) uso de qualquer agente biológico, químico ou de equipamento nuclear;
b) explosivos ou armas de fogo (visando outro propósito que não o ganho monetário) com a intenção de por em perigo, direta ou indiretamente, a segurança de um ou mais indivíduos ou causar danos substancial à propriedade. pg 146 e 147
O terrorismo não é novidade na política norte americana, mas foi no Afeganistão que ele adquiriu uma dimensão sem precedentes, ganhando novos métodos que vão desde o treinamento e financiamento de tropas mercenárias até o método da desinformação da população sobre os objetivos reais da guerra no Afeganistão.
Ao pesquisar os traços referentes à face histórica do Afeganistão com a intenção de coletar dados relativos aos antecedentes que fazem alusão à infiltração e política norte americana neste país, não noticiados pela revista Veja e pelo jornal Folha de São Paulo durante e após os atentados ocorridos no dia 11 de setembro em Nova Iorque e Washington os quais foram intitulados por estas mídias de "atentados terroristas", verifica-se a existência de inúmeras situações conflituosas, não noticiadas pelos referidos meios, constituindo peças importantes para a compreensão do quebra cabeças que envolve a queda das torres gêmeas neste dia fatídico do mês de setembro, situações estas que ameaçaram durante muito tempo e de certa forma ainda ameaçam a permanência de uma paz efetiva em territórios afegãos.
A ocorrência de combates, os quais constituem uma resultante da situação política do Afeganistão, iniciam-se após a unificação do país no ano de 1747, quando são travadas diversas lutas em busca da liberdade roubada na empreendida imperialista adotada pelo governo inglês, onde no dia 27 de fevereiro de 1919, o Afeganistão consegue libertar-se da situação de protetorado britânico com a ajuda que solicitou da então União Soviética (MONTE, 1986), país este que o reconhece como nação independente, havendo dessa forma, a partir desse período o início de uma forte infiltração soviética no país, mas certamente foi durante a Guerra Fria que iniciou-se um grande foco de tensões no Afeganistão.
No Afeganistão, os Estados Unidos distribuíram à rodo mísseis anti-aéreos portáteis Stinger com lançadores à guerrilheiros tribais, anti-comunistas, calculando corretamente que eles contra balançariam o domínio aéreo soviético. (HOBSBAWM, 1991)
O século XX teve como característica a marca de uma situação de pânico decorrente da possibilidade de um grande conflito armado entre Estados Unidos da América e a então União Soviética. A crença era que a qualquer momento estes dois países fariam uso de armas de destruição em massa capazes de devastar a humanidade. Assim se procedeu durante a Guerra Fria. A União Soviética controlava uma parte do globo utilizando-se das forças do exército vermelho na tentativa de ampliar as forças comunistas no término da guerra, valendo-se do argumento de ter adquirido armas nucleares quatro anos após o bombardeio de Hiroshima. Stalin era fiel na crença em que o sistema capitalista seria inevitavelmente substituído pelo comunismo, desta forma a União Soviética clara em sua ideologia utópica pretendia alcançar a conquista do mundo. Os Estados Unidos da América controlavam outra parte do mundo e tendo o monopólio de armas nucleares proferiam constantemente preces de anti-comunismo. O anti-comunismo era popular num país construído sobre o individualismo e o americanismo, qual se definiam como pólos opostos ao comunismo servindo como argumento para sua infiltração no Afeganistão.
Embora, durante o período da Guerra fria tivesse havido como característica a disparada na corrida armamentista, onde ambas as nações acumulavam demasiadamente armas, essas armas teoricamente nunca foram usadas. Mas a história não se procede desta forma no Afeganistão, onde o tráfico e o comércio de armas atingiu seu apogeu. Aqui durante esse período os acontecimentos tiveram um desenrolar diferente do que contam os livros de história ou a grande imprensa da época.
Neste momento vários países exportavam armas, até mesmo economias socialistas ou países em crise, fato este que contribuiu largamente para um acúmulo no setor de armamentos. Esse tráfico da morte era processado de uma maneira natural onde nomes conhecidos como a metralhadora Uzi de Israel, o fuzil Kalachinov russo e o explosivo Sintex tcheco transitavam livremente. (HOBSBAWM, 1991)
Ao recuperar os traços da situação econômica afegã, em fins dos anos setenta e início dos anos oitenta, visualiza-se o caos econômico em que o país estava mergulhado. As classes dominantes ou seja uma minoria privilegiada, explorava as classes de menor poder aquisitivo, gozando de amplas liberdades democráticas. O quadro social exigia reformas urgentes:
Dois milhões e meio de pessoas levavam uma vida nômade ou semi sedentária. Super explorados os camponeses pareciam escravos. entregavam ao senhor feudal, dono absoluto da terra e da água de 50% a 90% das colheitas. Das melhores terras 40% pertenciam aos senhores feudais que constituíam 4% da população (...). Em algumas províncias onde predominava a vida nômade os chefes tribais detinham um poder absoluto. Aí o povo simplesmente desconhecia a existência de autoridades e instituições governamentais. Noventa por cento dos homens e noventa e cinco por cento das mulheres não sabiam ler nem escrever. Apenas 29% dos meninos e 9% das meninas freqüentavam a escola (...) não havia legislação trabalhistas (...). Destituída dos direitos civis e políticos elementares, parte considerável da população era ainda massacrada pela discriminação racial e étnica (...) (MONTE, 1986)
A população descontente, porém esperançosa enxergava a concretização de uma mudança neste quadro nos projetos do Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) no qual estavam engajados além dos trabalhadores e profissionais liberais que faziam parte dele, também contava com intelectuais e a pequena e média burguesia, os quais eram possuidores de uma consciência politizada e manifestavam interesse em mudar a face do país.

2.2 Infiltração americana no Afeganistão
A realidade social do Afeganistão passa por algumas transformações quando o PDPA, no ano de 1979 sobe ao poder provocando polêmicas ao instituir alguns planos de desenvolvimento como:
- Reforma agrária;
- Democratização e distribuição de água;
- Criação de um setor estatal na agricultura;
- Campanhas de anti-analfabetismo;
- Investimentos na saúde pública
Estas reformas implantadas pelo novo governo, começaram a provocar mudanças no cenário econômico e social do Afeganistão. A população de 17 milhões contava com mais 1 milhão de pessoas que haviam passado pelo processo de alfabetização em seis anos. A questão da terra que submetia o camponês afegão a ficar preso a um sistema quase escravista controlado pelo senhor feudal começava a processar novos rumos com a implantação da legislação trabalhista. (MONTE, 1986)
Os Estados Unidos da América temiam o fortalecimento do PDPA, o qual segundo estes constituía um governo comunista apoiado pela então União Soviética, e usando como argumento a infiltração soviética no país; o perigo que ela representava para o povo afegão e a implantação de um governo de cunho socialista naquele país, os Estados Unidos da América propôs-se a "salvá-los" ou melhor a "combatê-los" a fim de zelar pelo "bem comum" da população afegã.
Aqui estão lançados os argumentos para o nascimento do terrorismo, no entanto, os senhores feudais e os muçulmanos conservadores não enxergavam essas medidas com bons olhos. Aqueles, porque se sentiram prejudicados por não mais poderem explorar os camponeses e estes por considerar que o novo governo ao promover a modernização do país também estaria promovendo a disseminação do ateísmo tão condenado pelo livro sagrado dos muçulmanos o Corão.
O ato de "heroísmo" americano, inicia-se no ano de 1979, assim que o PDPA sobe ao poder. Os Estados Unidos da América e seus aliados preparam nos campos de treinamento do Paquistão mais de 30 mil guerrilheiros (MONTE, 1986) aqui são utilizados a ignorância e o fanatismo religioso dos chefes tribais e dos humildes camponeses ao serem treinados, armados e terem suas mentes impregnadas com ideologias de oposição ao governo.
Os grupos mercenários apoiados pelos Estados Unidos da América, Paquistão, Egito, China Popular, Inglaterra, Malásia e outros países dizem agir em nome da preservação da fé muçulmana, transformando o conflito em uma "Guerra Santa" onde pretende-se combater o regime do PDPA apoiado pelos russos, que segundo o ponto de vista desses guerrilheiros, vieram espalhar o ateísmo no Afeganistão.
Os religiosos muçulmanos dividiram-se em progressistas e conservadores. Os progressistas tinham consciência de que o povo precisa sair do feudalismo e que o país precisava entrar numa era de progresso social e econômico, sabiam que o governo investia grandes somas em dinheiro na construção de novas mesquitas em Cabul a fim de zelar pela preservação da fé muçulmana. Já os conservadores se deixavam levar pelo obscurantismo que só conduzia ao sofrimento, afirmando que os russos vieram impor o ateísmo ao povo afegão. No entanto se esses grupos dizem agir em nome da fé, como explicar o fato de matarem Mulás (sacerdotes muçulmanos) ou terem provocado o incêndio de várias mesquitas em Cabul, entre elas a de Koenmiar Asfshar e a de Tchendavol, completamente destruídas pelo fogo. (MONTE, 1986) Esses grupos diziam estar agindo em nome da fé, no entanto não se deram conta que foram transformados em fantoches dos americanos roubando, destruindo e matando, ou seja, praticando atos altamente condenados pelo Corão.
Usando esses homens para promover o caos e a desordem no país, a CIA lutava ´para que o governo revolucionário ali instalado fosse derrubado e houvesse uma instabilidade geral no país. O presidente Ronald Reagan dos Estados Unidos ao deixar claro o seu apoio a esses guerrilheiros, os saudava como "lutadores pela liberdade e independência do Afeganistão contra a invasão soviética". (MONTE, 1986)
Destes guerrilheiros surge o "vilão terrorista" assim intitulado pela mídia na ocasião dos atentados de 11 de setembro, Osama Bin Laden o qual destacou-se como herói de guerra contribuindo para a derrota da então União Soviética.
Os Estados Unidos, juntamente com seus aliados, reuniram um enorme exército mercenário, composto talvez por mais de 100 mil homens arregimentados nos setores mais radicais que puderam encontrar, que eram justamente os islâmicos radicais, também chamados islâmicos fundamentalistas, e isso trazendo homens de todas as partes principalmente de fora do Afeganistão. (CHOMSKY, 2002)
A situação se agravou com a queda do regime militar do Xá do Irã o qual era um forte aliado estratégico dos Estados Unidos na região. Dessa forma para compensar esta perda, o Pentágono decidiu que o Afeganistão seria substituto do Irã como local para a instalação de bases norte americanas e centros de observação eletrônica contra a União Soviética.
Um dos medos norte americanos era que decorrente do ingresso das tropas soviéticas no Afeganistão fosse constituído de ponto de partida para que os russos logo chegassem ao Oceano Índico e ao Golfo Pérsico, fato este que colocaria os norte americanos em desvantagem no jogo da Guerra Fria. (HOBSBAWM, 1991)

2.3 O treinamento terrorista
No ano de 1985, a imprensa americana iniciou uma verdadeira guerra ideológica sobre a situação do Afeganistão. Esse país era objeto de notícia ao estampar diariamente volumes de páginas de jornais referindo-se à invasão russa, rotulando o país como comunista ou socialista. (MONTE, 1986) No entanto esses jornais não publicaram ou melhor esconderam das pessoas que os Estados Unidos da América treinou, liderou e financiou grupos de guerrilheiros assassinos que promoveram o caos a morte e a desordem no Afeganistão.
Em MONTE, 1986 transcreve-se uma entrevista de Babrak Karmal, secretário geral do PDPA sobre o envolvimento americano em seu país:
Hoje a CIA também viola as normas mais elementares das relações internacionais, exportando abertamente a contra revolução: arma, financia e treina tropas mercenárias em nome da "liberdade" e da "defesa dos direitos humanos" e de outros pretextos sem fundamento. Utilizando-se de elementos reacionários, a CIA interfere descaradamente na vida interna dos países que se libertaram do colonialismo. Ela aciona uma gigantesca engrenagem de mentiras e intrigas, numa guerra psicológica, contra os povos e países que não aceitam viver subjugados.
Resultante do acúmulo de armas durante o episódio da guerra fria, os norte americanos tiveram a oportunidade de utilizá-las no Afeganistão. Aqui os guerrilheiros alimentados por dólares americanos e as situações conflituosas dos quais eram atores viraram rotina nos territórios afegãos. O terrorismo agora faz parte do cotidiano das pessoas.
Durante a era Reagan (1981-1988) houve um esforço concentrado para tornar a União Soviética o próprio demônio com o intuito de divulgar a idéia de que o comunismo era um mal supremo, já que tinha sempre sido o espectro que aterrorizava os proprietários de imóveis, pois ameaçava a raiz de sua posição de classe e seu status superior. Essa ideologia ajudava a mobilizar a população contra o inimigo comum, e como o conceito é obscuro, podia ser utilizado contra qualquer um que defendesse políticas que ameaçassem os interesses de proprietários ou apoiassem a acomodação com países comunistas e com o radicalismo. Aqui a União Soviética era descrita como "o império do mal" e acusada, pelos jornais da época de patrocinar o terrorismo internacional. (CHOMSKY, 2003)
A imprensa ocidental divulgava notas referentes a ocupação soviética no país, como o Financial Times, que em 1985 sugeriu "que a Guerra Santa contra o ocupação soviética avança e alcança vitórias expressivas e que a união soviética encontra-se em um beco sem saída" (MONTE, 1986)
A imprensa norte americana ocultava o fato de ter seu país criado grupos terroristas cujo objetivo era a derrubada do governo socialista instalado no Afeganistão. A impressão passada pelos grandes jornais ocidentais era que o governo norte americano solidário ao povo afegão o estava ajudando a expulsar as tropas soviéticas ali instaladas e junto com elas estariam expulsando também todo o "mal" que o comunismo representava. Outro aspecto justificado por esta imprensa era o fato de que a ajuda financeira e militar dada pelos americanos ao Afeganistão não deveria cessar, pois caso contrário seria decretado a derrota dos guerrilheiros afegãos dispostos a lutar pela liberdade de seu país.
Quem aterroriza, subjuga e reprime o povo afegão são os grupos de mercenários e terroristas que se dedicam a destruir escolas, hospitais, cooperativas agrícolas, cinemas, lojas, mesquitas (...). Os prejuízos já ultrapassam 800 milhões de dólares. (MONTE, 1986)
A campanha terrorista promovida pelos americanos no Afeganistão é ainda hoje ignorada por pessoas do mundo inteiro, pois aquele país trabalhou de forma muito intensa para que os fatos não chegassem ao conhecimento de todos. O terrorismo de que estou falando consiste em "pequenos" atos mas com grandes efeitos destrutivos, atos esses que causaram pânico e terror no país inteiro e tinham a pretensão de fazer com que as pessoas pensassem que o governo "marxista" era o responsável pela desordem ali imposta. Vejamos alguns desses atos descritos por MONTE, 1986:
Em setembro de 1984, eles colocaram uma mala cheia de explosivos bem na frente do aeroporto de Cabul. Centenas de pessoas preparavam-se para viajar. A explosão deixou mais de cem vítimas. Treze pessoas perderam a vida. Muitas ficaram aleijadas.
Depois o cinema Ariana sofreu um atentado a dinamite quando exibia um filme para crianças. E uma bomba foi colocada dissimuladamente dentro de um ônibus lotado de gente simples do povo. Dois crimes hediondos.

Em 1985 os "guerrilheiros" deixaram em frente de uma loja uma bicicleta com uma caixa de papelão amarrada na garupa. Ela explodiu na hora de maior movimento comercial, fazendo dezenas de mortos e feridos.
Em junho de 1985, eles jogaram uma potente granada numa mesquita na cidade de Harat no exato momento em que um grande número de jovens realizavam a tradicional leitura do Corão. Foi uma carnificina (...).
Uma das primeiras operações terroristas dirigidas contra a população foi o envenenamento da água de uma escola secundária de Cabul. Centenas de estudantes foram hospitalizados (...). Armas do crime: granadas químicas de fabricação norte americana.
A fim de manter o clima de terror ali instaurado, estes terroristas utilizavam pequenas armas, como se fossem verdadeiras iscas, por exemplo, brinquedos com bombas escondidas em seu interior, relógios, canetas, isqueiros, deixados estrategicamente nas ruas para parecerem objetos perdidos causando enormes danos à população. Monte 1986 descreve tais fatos desta forma:
Uma criança por exemplo encontra na rua uma caneta. Ao tentar abri-la para escrever uma explosão decepa sua mão. Um homem acha bonito um isqueiro. Quando vai acender um cigarro uma explosão o cega. Outra pessoa recolhe um relógio aparentemente perdido numa praça. Ao dar-lhe corda aciona sem saber uma espoleta e acaba perdendo os dedos numa explosão.
As armas utilizadas por estes terroristas, procediam dos Estados Unidos e seus aliados como por exemplo do Paquistão, esse país enviou a Cabul mísseis modernos e de grande potência procedentes dos Estados Unidos, destinados ao bombardeio desta cidade. O número de vítimas foi alarmante. As vítimas foram torturadas após um longo período de cativeiro onde o método consistia em retalhar o corpo do prisioneiro lentamente até a chegada de sua morte. Geralmente as vítimas eram os militantes do PDPA, funcionários do governo, ou soldados soviéticos, tidos como inimigos da fé.
O ano de 1985 foi também marcado pela explosão desenfreada de mísseis, estima-se que desde 1980 Reagan enviou mais de 450 milhões de dólares a esses grupos mercenários. (MONTE, 1986)
Enquanto isso, em território americano, Reagan dizia com orgulho que seu país era o maior inimigo do terrorismo. Sua campanha de "anti terrorismo" tinha o propósito de ocultar do mundo o vandalismo e a carnificina imposta por ele no Afeganistão a fim de "derrubar o governo ali instalado".
Todas as situações conflituosas das quais o Afeganistão neste período foi palco, remete-nos hoje a uma reflexão sobre o verdadeiro conceito e aplicabilidade da palavra "terrorista". Será que pode ser intitulado como tal, somente aqueles homens barbudos, fundamentalistas, que seqüestram aviões e os jogam contra prédios? Ou, será que, aqueles que ensinaram esses "terroristas" a serem terroristas não são tão terroristas quanto esses "terroristas"? Certamente se Ronald Reagan, estivesse vivo, poucas pessoas fariam esta pergunta a ele, já que na ocasião e após os atentados de 11 de setembro contra os Estados Unidos foram feitas poucas discussões sobre o relacionamento entre os americanos e afegãos no passado, fato este evidente nos periódicos Veja e Folha de São Paulo, transcritos durante e após esses atentados.
No segundo capítulo deste trabalho, farei uma análise ilustrada nestes periódicos, tentando refletir sobre os modos utilizados para estes se aliarem em apoio ao poderio norte americano durante os atentados, tentando mobilizar a população para que houvesse uma construção mental coletiva do "vilão terrorista" e a dimensão das maldades que este poderia praticar. Estas mídias, como veremos no capítulo que segue, agiram à partir de mecanismos de praxe, como "mandar interpretar" as situações discursivamente construídas sobre a realidade.

3. A ESTRATÉGIA É: MANIPULAR O PÚBLICO

3.1 Veja e Folha aliadas ao poder ? Uma guerra contra o "terror"

(...) Há décadas ocorre na mídia um processo de satanização do mundo muçulmano. Num mundo em que o demônio está a espreita, nos atormentando por sermos tão bondosos, querem que acreditemos que Bin Laden é uma manifestação do mal puro e simples, de modo que temos que detonar todos os diabos que lhe deram abrigo. (VIDAL, 2001)
Os atentados de 11 de setembro de 2001, constituiram-se em um evento grandioso, também pelo fato de terem se tornado alvo de notícias do mundo inteiro, durante um longo período qual correspondeu, desde os ataque as torres e ao pentágono até o desencadeamento da chamada "guerra ao terror".
A revista Veja e o jornal Folha de São Paulo, periódicos analisados nesse trabalho, como tantos outras revistas e jornais do mundo inteiro, deram uma dimensão grandiosa ao evento 11 de setembro ao produzirem em larga escala uma enorme quantidade de reportagens sobre o ocorrido. Com suas estratégias discursivas estas mídias, aliaram-se ao poder norte americano reproduzindo conceitos tendenciosos sobre este dia fatídico do mês de setembro, elegeram um vilão (Osama Bin Laden) e trabalharam intensamente para que houvesse uma construção mental coletiva de que Laden era a manifestação do demônio em território americano.
O jornal Folha de São Paulo na ocasião do dia 11, lançou na internet uma seqüência de notícias publicadas em intervalos menores de 20 minutos, referindo-se aos atentados, transmitindo pontos de vista pré determinado por seus produtores. Milhões de brasileiros ao lerem essas matérias adotaram como lei os pressupostos e as posições defendidas por esses periódicos. Poucas foram as pessoas que os refutaram ou que dispunham de embasamento teórico para isso.
As imagens e a retórica publicadas, por estes periódicos fascinava milhões de leitores que agora pensam de maneira uniforme, pois no Brasil a revista Veja é o periódico semanal de informações com o maior número de leitores. No ranking mundial, ela ocupa o 4º lugar, ficando atrás somente das revistas americanas: Time, News Week, US News e World Report. Veja possui a tiragem de 1,242 milhão de exemplares, aferida pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), lidos por mais de 5 milhões de pessoas, conforme afirma a pesquisa realizada pelo Instituto Marplan, onde visualiza-se que deste total de leitores 48% são homens e 52 % de mulheres e 65% estão fazendo ou completaram curso superior. (apud c
É certo que Veja e a Folha de São Paulo não operam de modo absolutamente autônomo, e apenas por regras próprias. Os referidos periódicos partem de referências de que podem momentaneamente imprimir credibilidade àquilo que se diz e pretende "convencer" o leitor / consumidor ou usuário do produto jornalístico veiculado, promovendo a universalização dos pensamentos, fatos estes evidenciados durante a transmissão dos atentados de 11 de setembro.
Neste item do segundo capítulo serão analisados vários trechos de reportagens da Veja e da Folha de São Paulo publicados na ocasião dos atentados, afim de tornar explícita a tentativa destas mídias para a construção do mito do "fundamentalista do mal", referindo-se ao milionário saudita Osama Bin Laden. Esses dois periódicos constroem um vilão demoníaco reproduzindo a retórica norte americana da seguinte maneira:
1a ? A milícia fundamentalista Taleban, que controla a maior parte do Afeganistão e aparecia como a maior suspeita de ordenar os atentados terrorista contra os Estados Unidos, repudiou os ataques e negou que tenha alguma relação com eles.
1b ? O Taleban supostamente protege o terrorista saudita Osama Bin Laden, que de acordo com um jornalista Árabe, teria alertado os Estados Unidos há 3 semanas quanto ao ataque. Bin Laden é o homem mais procurado da lista de foragidos do FBI. Ele seria o mentor dos atentados as embaixadas dos Estados Unidos no Qüênia e na Tanzânia em 1998. (FOLHA DE SÃO PAULO 11/09/2001 ? 13h13)
O ´titulo desta matéria divulgada na internet pela Folha de São Paulo é, "Taleban condena o ataque". Nela percebe-se claramente no parágrafo 1a que o jornal analisado lança as bases para eleição de um culpado pelos atentados em Nova York e Washington. O jornal ao afirmar que a milícia fundamentalista Taleban apareceria como a maior suspeita de ordenar os ataques aos Estados Unidos, está induzindo o leitor a supor que existe a liderança de alguém para planejar e realizar os atentados. Esse alguém ainda não tem um nome, mas logo o terá e deixará de ser um ponto obscuro em nossas mentes.
O parágrafo 1b da mesma reportagem já nos dá um nome. É ele, Osama Bin Laden, este homem é eleito o terrorista mentor dos atentados do dia 11 de setembro. ele é o autor das atrocidades contra as torres gêmeas e ao pentágono, afinal ele é um homem procurado pelo FB! (Federal Boureau of Inteligency) e também seria o responsável pelos atentados as embaixadas americanas do Qüênia e na Tanzânia em anos anteriores, existindo assim motivos de sobra para acusá-lo pela responsabilidade do 11 de setembro. Aqui percebe-se claramente a criação de um vilão capaz de cometer crimes horrendos.
2a ? O terrorista Osama Bin Laden alertou há 3 semanas que ele es seus partidários fariam um ataque sem precedentes aos Estados Unidos, devido ao apoio que o governo americano dá a Israel.
2b ? É muito provável que seja trabalho de fundamentalistas islâmicos. Osama Bin Laden Alertou que atacaria atrações norte americanas (...) (FOLHA DE SÃO PAULO 11/09/2001 ? 13h20)
A segunda matéria analisada foi divulgada sete minutos após a primeira matéria que analisei, recebeu o título: "Terrorista Bin Laden prometeu: Ataque sem precedentes aos Estados Unidos". Nela percebe-se uma reafirmação da culpabilidade de Osama Bin Laden. O jornal afirma explicitamente que é muito provável que os crimes de 11 de setembro sejam obra de fundamentalistas islâmicos, enfatizando que Laden avisou que atacaria os Estados Unidos.
3 ? O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush disse em pronunciamento na TV que milhares de vidas foram perdidas em "ataques demoníacos" que destriram o WTC. (FOLHA DE SÃO PAULO 11/09/2001 ? 22h53)
Este trecho da reportagem intitulada pela Folha de São Paulo de: "Bush diz que milhares morreram em ataques demoníacos", traduz o sentimento de revolta do presidente americano, mas também deixa evidente que existiu uma construção discursiva por parte do jornal em relação ao 11 de setembro. Na primeira reportagem que analisei foram lançados os argumentos para a eleição de um culpado para os atentados. Na segunda já tínhamos um nome e a certeza de sua culpa e agora ele aparece como a manifestação do mal, ou seja um demônio capaz de perpetrar "ataques demoníacos".
4a ? (...) Na quinta feira, o secretário de estado Colin Powell confirmou que o principal suspeito é o milionário saudita Osama Bin Laden (...) ele declarou guerra aos Estados Unidos em nome de Alá.
4b ? O ataque da semana passada tem a assinatura de um tipo particularmente terrível de terrorismo, cuja motivação é o fanatismo religioso (...). Seus soldados surgem das sombras, dispostos a morrer junto com suas vítimas, o que torna mais difícil prevenir os ataques "covardes que não mostram a cara", nas palavras do presidente Bush.
4c ? (...) em sua visão, atacar o demônio garante ao fiel um lugar de honra no paraíso. Como se pode lidar com terroristas cujo objetivo é retornar ao século VIII? Eles não fazem exigências, não pedem dinheiro para libertar reféns. Só querem ver sangue (...) só nos anos 90, houve os primeiros atentados (...). Os mais sérios foi perpetrado exatamente contra o WTC em 1993 (...).
4d ? O governo americano já tem provas suficientes para responsabilizar os fundamentalistas islâmicos. Dezenove dos seqüestradores que morreram nos ataques já tinham sido identificados na sexta feira passada, assim como duas dúzias de terroristas que participaram da logística (...).
4e ? O Universo dos fundamentalistas é aquele em que se queimam livros, proíbem filmes e música. As mulheres são cobertas de véus e devem submissão ao poder masculino. Os fundamentalistas usam Deus para todas as coisas, inclusive as mais terríveis atrocidades como as cometidas em Nova York e Washington. (Veja 19/09/2001, pgs. 53,55,57 e 58).
E edição especial do dia 19 de setembro de 2001, a revista Veja publicou uma série de reportagens cujo tema remetem aos atentados do dia 11, das quais a citada acima com o título: "A descoberta da vulnerabilidade". O item 4a da referida matéria mostra que a revista Veja e o jornal Folha de São Paulo compartilhas da mesma opinião. Ambos referem-se a Osama Bin Laden como o principal suspeito dos atentados de 11 de setembro reforçando este ponto de vista com o argumento de que ele teria declarado guerra aos Estados Unidos em nome de Alá.
No item 4b a revista descreve os terroristas como fanáticos religiosos e se juntarmos esse aspecto com a análise feita no primeiro item desta reportagem, percebe-se que a revista induz o leitor a pensar que todos os muçulmanos são fundamentalistas e que estes fiéis em seu fanatismo religioso são capazes de praticar crimes horrendos em nome de sua crença. Aqui fica evidente que há por parte desse revista a tentativa da construção de um processo de satanização do mundo muçulmano, Fato este também evidente no item 4c, quando descreve-se que na visão fanática dos fundamentalistas, atacar o demônio, que seriam os Estados Unidos. Outro ponto descrito pela revista que comprova a tentativa de marginalização do mundo muçulmano opor parte desse meio de comunicação é a pergunta que ela faz aos leitores: "Como se pode lidar com terroristas cujo objetivo é retornar ao século VIII?"
Veja esqueceu que em fins dos anos 70 início dos anos 80, o governo do PDPA, tentou implantar a modernidade no país, mas foi barrado pelos americanos que treinaram lideraram e financiaram grupos de fundamentalistas islâmicos a fim de derrubar o governo que segundo a ideologia americana era comunista e por isso deveria ser banido do país junto com os russos. Hoje se analisarmos essa história, veremos que na época os Estados Unidos sabiam "lidar" muito bem com esses terroristas cujo objetivo é retornar ao século VIII, pois estes também são frutos da ideologia americana.
"Eles não fazem exigências, não pedem dinheiro para libertar reféns. Só querem ver sangue(...)" Essa frase também foi usada pela revista para transmitir ao leitor que os muçulmanos são vilões, piores que os vilões que comumente encontramos em filmes ou noticiários da TV, pois aqueles ao contrário destes só querem ver sangue, nas palavras da Veja, "Não pedem dinheiro para libertar reféns".
O item 4d da mesma reportagem reforça a ideologia do jornal Folha de São Paulo, analisada na primeira reportagem anteriormente transcrita neste trabalho, ao falar sobre as provas existentes para a eleição dos fundamentalistas islâmicos como responsáveis pelos atentados, ficando evidente uma construção dos vilões por parte de ambos os periódicos.
No último parágrafo transcrito da reportagem acima comprova-se a tentativa da Veja em satanizar o universo muçulmano. Quando a revista diz que o universo fundamentalista é aquele em que se queimam livros e são proibidos filmes e músicas, está lançando argumentos para o leitor pensar na religião muçulmana com um instrumento repressor e fanático que atrasa a vida das pessoas.
A revista também utiliza-se do fato de que a maioria de seus leitores correspondem a população feminina (52%) para dizer que as mulheres muçulmanas são submissas ao poder masculino, tentando dessa forma atingir com sua ideologia de marginalização do mundo muçulmano também a população feminina.
5a ? Terrorista notório Laden teve sua cidadania cassada pelo governo saudita e foi renegado pela família (...) ele orquestrou duas ações contra os soldados dos Estados Unidos, uma em novembro de 96 que mataram 26 pessoas (...). Os governos dos Estados Unidos e da Arábia Saudita pressionaram o Sudão para extraditar Laden. O terrorista teve que se refugiar no Afeganistão do Taleban, onde escreveu em agosto de 96 seu primeiro manifesto, uma declaração de Jihad (guerra santa em árabe) contra os americanos(...). O texto exortava os muçulmanos a um combate sem tréguas contra os infiéis(...).
5b ? Em 1998 vem um segundo manifesto, mais radical em que ele decretou uma sentença de morte contra todos os cidadãos americanos, civis ou militares,dentro ou fora de territórios islâmicos: "Nós convocamos cada muçulmano que confie em seu Deus e deseje ser recompensado por suas bênçãos a matar americanos e saquear seu dinheiro em qualquer lugar onde eles se encontrem" (...).
5c ? (...) o general Colin Powell, secretário de estado americano disse que mesmo que as provas de participação do terrorista nos atentados não fossem conclusivas os americanos teriam direito a cassá-lo pelo seu passado de crimes contra os Estados Unidos e contra a civilização. Que a cassada seja bem sucedida e que não se esmague a cabeça do monstro mas também seus tentáculos.
A reportagem 5 analisada nesse trabalho tem como título: "Os tentáculos de Bin Laden". No item 5a desta, é reforçada a tese defendida anteriormente de que tanto a revista Veja quanto o jornal Folha de São Paulo aliaram-se em apoio ao poder norte americano tentando construir o mito do vilão terrorista a Osama Bin Laden. Neste primeiro item que analiso Veja afirma e reafirma o estigma de terrorista quando refere-se a Laden dizendo que este é vilão pois foi até mesmo renegado pela família. A revista também apresenta argumentos para reforçar a culpabilidade do personagem pelos atentados de 11 de setembro: "Ele orquestrou duas ações contra os soldados dos Estados Unidos, uma em novembro de 96..." diz a revista. No decorrer deste parágrafo quando afirma "(...) o texto exortava muçulmanos a um combate sem tréguas contra infiéis (...)", a revista refere-se a um texto escrito por Laden mas ela também está semeando a ideologia de que todos os muçulmanos são radicais e de que os atentados de 11 de setembro são frutos de uma peripécia exclusivamente muçulmana, aja vista que os americanos são comprovadamente preconceituosos em relação aos muçulmanos. Em 1995, na cidade Oklahoma, houve um ataque também intitulado de terrorista com 168 mortos. Os americanos foram rápidos em acusar fanáticos muçulmanos, mas logo descobriram que o culpado era o fanático doméstico, o qual era réu confesso e foi executado em território americano. Este fato serve como mais uma comprovação que existe na cultura norte americana a mania de associar crimes de larga escala com a comunidade muçulmana, é como se houvesse na mente do povo americano a seguinte lógica: Muçulmanos = Crime ou Muçulmanos + Fé = Terrorismo.
No item 5c da reportagem a ideologia fica ainda mais clara, pois afirma-se que mesmo que as provas existentes contra Laden para responsabilizá-lo contra os crimes de 11 de setembro não fossem suficientes para provar sua culpa, mesmo assim os americanos deveriam cassá-lo, julgá-lo e culpá-lo pelos crimes de 11 de setembro, afinal ele já cometera outros crimes e não custaria nada responsabilizá-lo por mais um.
6a ? Depois de Khomeini, Kadafi e Saddan Hussein, o mundo islâmico produz outro pesadelo para os Estados Unidos, o terrorista Osama Bin Laden.
6b ? Ao longo da história o mal exibiu várias feições. Ele já teve traços de Átila o Huno, do mongol Gêngis Khan, do austríaco Adolf Hitler, do soviético Pol Pot e do ugandense Idi Amin Dada. Hoje o mal não comanda um exército, não mora em um palácio, não discursa a multidões. Seu rosto é o do saudita Osama Bin Laden (...).
6c ? (...) Osama Bin Laden é um câncer que, agora mais do que nunca precisa ser extirpado. (Veja 19 set. 2001, p.68)
A reportagem número 6, da Edição Especial de Veja, recebeu o título de "O Inimigo número 1da América". Nela a revista também intitula outros personagens como "terroristas" ou "celebridades do mal" como evidenciam os parágrafos 6a e 6b. Aqui também transmite-se a idéia de que o mundo islâmico constitui-se em uma fábrica de "terroristas" e que Osama Bin Laden é apenas mais um deles.
No item 6b, desta reportagem transcreve-se uma lista de "seres do mal" ao longo da história; onde verifica-se uma predisposição da revista em transmitir ao leitor a sua verdade como única e correta, pois o mal é apenas uma questão de ponto de vista. Hitler por exemplo, durante a segunda guerra pode ter sido considerado mal para muitos, no entanto para outros era venerado como herói.
A frase do item 6c, da reportagem que analiso reforça tudo o que foi dito anteriormente sobre caráter de vilão doado pela mídia à Osama Bin Laden. Ao compará-lo com um câncer a ser extirpado antes que se transforme em uma metástase, a revista sugere que este homem precisa ser eliminado rapidamente pois sua figura representa um perigo para o resto do mundo conforme sugere a leitura das entrelinhas da frase utilizada pela revista Veja.
7a ? Com o surgimento dos primeiros indícios de que a onda de terror nos Estados Unidos foi obra dos radicais islâmicos, uma questão tornou-se inevitável: quem é essa gente que se suicida jogando aviões contra edifícios? (...) Quem é enfim essa gente que se mata em nome de Ala? Atualmente, calcula-se que exista em torno de 1,3 bilhão de muçulmanos no mundo(...).
7b ? (...) Em geral, os regimes dos países muçulmanos são ditaduras teocráticas e a riqueza não é distribuída deixando a maior parte da população relegada à miséria. (Veja, 19 set. 2001, p. 81, p.82)
A sétima reportagem foi intitulada "Assassinato em nome de Ala". Ela reforça a teoria definida aqui, de que a revista Veja é portadora de uma tendência em marginalizar o mundo muçulmano. A reportagem, ao questionar: - "Quem é enfim essas gente que mata em nome de Ala?" está induzindo o leitor a pensar que todos os muçulmanos se matariam em nome de seus Deus, portanto todos são propensos ao terrorismo e que o mundo corre perigo haja vista que o total da população muçulmana conta com 1,3 milhões de adeptos no planeta.

3.2 Bush "O herói americano"

A administração de Bush apresentou a todos a seguinte escolha: unam-se a nós ou enfrentem a destruição. (CHOMSKY, 2001)
Neste item do segundo capítulo pretendo discutir sobre as estratégias discursivas da revista Veja e do jornal. Folha de São Paulo para construir no imaginário coletivo dos leitores o mito do super-herói americano evidenciado na figura do presidente George W. Bush na ocasião dos atentados de 11 de setembro em Nova York e em Washington.
8a ? Tenham certeza de que haverá resposta a este ataque covarde", afirmou em pronunciamento, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sobre os ataques terroristas no país, nesta terça-feira, os piores de sua história.
8b ? "A liberdade será defendida" declarou o presidente americano que afirmou ainda ter tomado todas as providências necessárias para proteger o povo e os líderes políticos do país (...). (Folha de São Paulo 11/09/2001)
Esta reportagem intitula-se "George W. Bush faz pronunciamento e diz que EUA responderão à ataques covardes", nela o jornal constrói uma personalidade de herói, para o presidente americano, sendo ele conforme a retórica jornalística da Folha, um herói disposto a defender com todas as forças a liberdade roubada de sua nação. O referido jornal vê no presidente dos Estados Unidos um herói disposto a lutar contra os "vilões terroristas" e toda sua "causa do mal". Neste momento ao dar essa configuração heróica à George W. Bush, o jornal justifica às futuras atitudes cometidas pelo presidente na empreendida de caça aos "terroristas", pois um herói sempre busca a defesa da "causa do bem" e se inevitavelmente alguns inocentes forem mortos numa possível guerra, isso é plenamente justificável, pois seguindo a Folha de São Paulo, as intenções do nosso herói Bush, é apenas livrar o mundo dos terroristas malvados.
9a ? Ouçamos o comandante, chefe, Bush, no discurso de quinta-feira : (...) "Americanos não devem esperar uma batalha mas sim uma campanha longa, diferente de qualquer outra que já vimos (...) Vamos perseguir nações que ofereçam ajuda ou abrigo seguro ao terrorismo. Cada país tem uma decisão a tomar, ou está do nosso lado ou do lado dos terroristas". Os americanos lançaram-se numa guerra de aniquilação do terrorismo com uma força moral, que eles só tiveram ao seu lado no "Guerra Mundial (...) Agora se luta contra o terror algo tão desumano e atroz que o apoio universal está assegurado (...). (Veja 26 de set. 2001, p. 43)
Esta reportagem recebeu como título "Guerra do terror". Nela transcreve-se trechos do discurso do presidente dos Estados Unidos George W. Bush.
Ao pronunciar a célebre frase: "Ou estão do nosso lado ou do lado dos terroristas" o presidente norte-americano deixou claro que aqueles que não estão do lado americano, simpatizam com a causa terrorista; e assim serão perseguidos e caçados. Aqui percebe-se que foi construído valores como "bem X mal", "vilão X mocinhos".
Os Estados Unidos obviamente representam o lado do "bem" e os terroristas o "mal" e ao lançarem-se numa guerra contra o terrorismo os norte americanos estariam cometendo um grande ato de heroísmo ao livrarem todos dos horrores do terrorismo.
10a ? Os acontecimentos empurram o presidente dos Estados Unidos para um teste de liderança que raros de seus antecessores enfrentam (...).
10b ? (...) Desapareceu como por mágica do seu discurso o relativismo cultural (...) O relativismo cultural, teoria formulada na década de 30 pelo antropólogo americano Melvelle Jean Herskovitz, preconiza que nenhuma cultura é superior à outra. Que cada uma deve ser entendida dentro do seu próprio contexto (...) Herskovitz apresenta à Organização das Nações Unidas uma "recomendação", para que fossem respeitadas as culturas de diferentes povos do mundo. É dessa perspectiva que alguns estudiosos acham possível justificar, por exemplo, a prática de muçulmanos africanos de extirpar o clitóris das adolescentes (...) Com os atentados o relativismo sofreu um abalo (...) o mundo passou a ser dividido entre países civilizados e nações bárbaros. (Veja 19 de set 2001, p.52/53)
Essa matéria faz parte da Edição Especial da revista Veja e tem como título "A descoberta da vulnerabilidade".
Nos trechos selecionados acima nota-se um inquestionável apoio do presidente norte-americano George Bush, é o que evidencia-se no primeiro item da reportagem, onde nas palavras de Veja ele terá a difícil missão de liderar uma batalha contra o terror. No segundo item é justificado o desaparecimento do relativismo cultural no tom do discurso do presidente George W. Bush. A revista justifica esse desaparecimento dizendo que baseado no relativismo cultural algumas pessoas acham correto extrair o clitóris de meninas muçulmanas africanas. A revista Veja adota os preceitos norte-americanos de marginalizar a cultura muçulmana e também justifica o desaparecimento do relativismo cultural por parte de George W. Bush mostrando-se defensora da divisão entre países bárbaros e civilizados. Os bárbaros é claro, são aqueles que adotaram o credo muçulmano como religião oficial. Assim Bush é "herói" mais uma vez por tentar livrar o mundo dos bárbaros muçulmanos.
11a ? (...) Agora chegou a hora de entrar com cardumes de helicópteros que descem para bombardear bem perto as fortalezas covas e artilharia anti-aérea. Os helicópteros também podem levar soldados para o avanço mais dramático: a luta no chão entre comandos e milicianos afegãos (...).
11b ? Os aviões americanos voam alto demais para serem atingidos por canhões convencionais e têm recursos eletrônicos para despistar os mais sofisticados mísseis terra-ar. Só nos dois primeiros dias, os navios ancorados no Oceano Índico, enviaram GSA Tomahawk, com efeitos devastadores para posições afegãos. Esses mísseis computadorizados, com 5,5 metros de comprimento, 1600 quilos e custo de quase 1 milhão de dólares a peça, atingem seus objetivos em Cabul, a mais de 1000 quilômetros de distância com margem de erro de 10 metros (...).
11c ? Mesmo em terra, numa batalha com armas pessoais, o soldado americano leva vantagem, contra um inimigo do Terceiro Mundo. Não apenas por causa do maior poder de fogo de seu armamento. Mas porque contra com o melhor transporte e inigualável capacidade de comunicação. Pela primeira vez os Estados Unidos pretendem fornecer a seus soldados no campo de batalha informações instantâneas sobre a movimentação do inimigo, que será monitorado por satélites e aviões. (Veja 17 de out 2001, p.52/53/54)

A reportagem acima transcrita tem o título: "O míssil e o barbudo". Aqui fica também evidente o apoio da revista na chamada "Guerra do Terror".
A revista Veja mostra todo o heroísmo americano ao perpetrar o território afegão ao falar da superioridade bélica norte-americana e o uso da tecnologia para combater o inimigo muçulmano, tudo isso foi usado pela revista, para transmitir a idéia de que os Estados Unidos embora tenham sido violados com os atentados de 11 de setembro, vão responder a eles, pois constituem uma nação superior ao pobre e desgraçado Afeganistão o qual não terá nenhuma chance frente ao superior poder de fogo aliado à tecnologia norte-americana. Aqui fica claro que a revista utilizou este trecho analisado para mostrar aos leitores que os americanos são fortes, e superiores, características estas conduzidas por um estadista chamado George Bush, que conforme citei anteriormente, adquire a dimensão de herói, tanto para a revista Veja quanto para a Folha de São Paulo. Esses periódico também o ocultaram de suas páginas quem em 1986 os EUA foram condenados pela corte mundial por uso ilegal da força (terrorismo internacional) e então vetou uma resolução da ONU que instava todos os países (referindo-se aos EUA) a aderir leis internacionais (CHOMSKY, 2001) assim fica explicita a grande dimensão heróica dos EUA e o apoio ao presidente americano, conforme revelam as palavras de Veja na citação abaixo:
12a ? (...) George W. Bush reagiu rápido e reagiu bem por ocasião dos atentados terroristas de 11 de setembro. E, além de tudo isto, ele revestiu sua ira i]com o tom dramático correto. Estava chocado, revoltado e queria vingança e nisso os americanos e boa parte da opinião pública mundial o seguiram. (Veja 19 set, p 40)
Neste item fica bastante explícito o incondicional apoio da revista Veja à causa norte-americana e a tentativa da citada revista em transformar este apoio em lei universal a ser seguida por todos.
Percebe-se também que a revista aplaudiu todas as atitudes adotadas por George W. Bush ou melhor ao "nosso herói americano" George Bush no combate ao "inimigo muçulmano".

3.3 A notícia que interessa

Na ocasião e após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos foram realizadas inúmeras discussões acerca do assunto. A polêmica reside no fato de que os meios de comunicação de massa nunca ou pouco se referiram sobre os antecedentes norte-americanos no Afeganistão e o treinamento de "terroristas" em fins dos anos 70 e início dos anos 80. Chomsky 2001 sobre esse assunto, nos diz o seguinte:
Hoje em dia está em curso, pelo que se pode presumir, um esforço para apagar registros e fazer crer que os EUA foram menos inocentes e espectadores.
A revista Veja falou muito pouco sobre o assunto em questão e o pouco que falou foram idéias filtradas pautadas nos estereótipos de "os terroristas são os vilões" ou "Os Estados Unidos são inocentes", aliando-se dessa forma ao poder norte-americano tentando mobilizar a população para a sua causa como será percebido a seguir na análise dos trechos de algumas reportagens produzidas pela revista Veja.
13a ? (...) Osama Bin Laden é um câncer que agora mais do que nunca precisa ser extirpado. O terrorista não tem patrocínio oficial de nenhum país muçulmano, mas é admirado como herói em vários deles e vive na condição de hóspede especial do Afeganistão no qual mantém esconderijos (...) Formado em engenharia civil e agronomia, ele começou sua vida de militante islâmico em 1979. quando o Afeganistão se viu invadido por tropas soviéticas (...) como não poderia deixar de ser, dentro da lógica maniqueísta da Guerra Fria, o enfrentamento com a União Soviética recebeu o apoio dos Estados Unidos. (Veja 19 set 2001, p.70)
A décima terceira reportagem em análise intitula-se "O Inimigo número 1 da América", cujo título transmite a idéia de que o "terrorista" Osama Bin Laden é o inimigo de todo o continente americano, logo todos os países que constituem esse continente estão em perigo, pois também constituem alvos da ira de Laden.
No item transcrito a revista Veja, tenta fazer um paralelo entre os antecedentes norte americanos no Afeganistão nos anos 70 e os ataques de 11 de setembro, mas este paralelo é filtrado pois a revista fala da atividade militante de Osama Bin Laden em 1979 no Afeganistão, mas não dá nenhum embasamento histórico para esta reflexão limita-se apenas a reforçar traços que revelam que Laden é um ser malígno e retrata a ex- União Soviética como uma invasora que precisava ser banida do país com a "boa ajuda" de sempre proveniente dos Estados Unidos.
No final do trecho acima transcrito Veja reproduz o discurso norte-americano ao justificar o apoio dos Estados Unidos dos guerrilheiros que lutaram contra a invasão russa no Afeganistão. A revista refere-se vagamente a este apoio, ocultando todas as atrocidades cometidas e financiadas pela CIA em territórios afegãos e reforçando a ideologia de que os Estados Unidos estão do"lado do bem" e os "terroristas" do "lado do mal".
14a ? Os afegãos gostam de lembrar a derrota que infligiram do Exército Vermelho nos anos 80. Um repelido expedições do processo Império Britânico (...). (Veja 26 de out 2001, p.48)
Este trecho da reportagem da revista Veja, chamado: "A guerra será longa e suja". Nestas pequenas linhas do parágrafo selecionado da referida reportagem percebe-se que a revista fala vagamente do conflito entre afegãos e os então soviéticos na década de 80.
A revista refere-se aos soviéticos como inimigos dos afegãos e oculta o fato de que nesta história toda também teve uma forte participação norte-americana.
Segundo as fontes levantadas para a pesquisa neste trabalho a União Soviética não era enxergada como vilã ou invasora para o grosso da população afegã, haja vista que os soviéticos mantinham tratados de bom relacionamento e com membros do PDPA que faziam parte do governo do Afeganistão, qual nesta época dava os primeiros e últimos passos rumos à modernização.
Os primeiros porque o novo governo estava promovendo reformas no país com ajuda financeira da então União Soviética e os últimos porque de olho neste fato, os Estados Unidos nutridos por um sentimento de anti-comunismo com o propósito de derrubar o governo do PDPA, qual era enxergado pelos americanos como um governo comunista e também visando a expulsão dos soviéticos dos territórios afegãos, os norte americanos, como "bons os mocinhos de sempre" treinam, financiam e lideram tropas de mercenários os quais promoveram o caos, a morte e a desordem no país e, surgindo daqui a figura de Osama Bin Laden, o qual recebeu treinamento da CIA e era um forte aliado dos Estado Unidos.
A revista Veja ocultou toda essa história de suas páginas filtrando trechos a serem publicados de modo a reproduzir em muitas de suas matérias que os Estados são e sempre foram os bons mocinhos.
15a ? Uma história de violência:
15b ? 1842 ? unificado um século antes, o Afeganistão é arrastado para a era moderna através de ataques do Exército Britânico (...)
15c ? 1919 ? termina a terceira guerra com a Inglaterra e o Afeganistão conquista a independência (...)
15d ? 1978 ? (...) O último golpe põe Babrak Karmal no poder (...)
15e ? 1989 ? depois de uma década de ocupação com enormes perdas de vidas, dinheiro e prestígio, os últimos soldados soviéticos deixaram o Afeganistão (...) (Veja 26 de setembro, p.50)
A reportagem acima recebeu o título de : "O cerco do Afeganistão"; nela pretendia-se fazer uma espécie de linha do tempo retratando a história de violência da qual o Afeganistão foi o cenário.
Em nenhum dos trechos transcritos a revista referiu-se à infiltração norte-americana no Afeganistão, especialmente entre os anos de 1978 e 1989, quando ocorreu o auge das atrocidades norte-americanas neste país. A revista Veja excluiu de suas páginas o envolvimento americano no país de forma a reforçar que os Estados Unidos hoje são apenas uma vítima sem nenhum passado que possa condená-los.

3.4 As mulheres muçulmanas e a revista Veja

Um dos temas favoritos da revista Veja é discutir assuntos referentes às mulheres. Esse grande favoritismo ao tema deve-se ao fato de a maioria dos leitores de Veja corresponderem a população feminina.
Os atentados de 11 de setembro e, Nova York e Washington abriram espaço para a revista fazer uma ponte entre esses ataques e às mulheres, cujo tema foi discutido em algumas das muitas reportagens da revista.
16a ? a lista de horrores já soa, a esta altura familiar. Meninas proibidas de ir à escola e condenadas ao analfabetismo. Mulheres impedidas de trabalhar e andar pelas ruas sozinhas. Milhares de viúvas sem poder ganhar seu sustento dependem de esmolas ou simplesmente passam fome. Mulheres com os dedos decepados por pintar as unhas. Casadas, solteiras, velhas ou moças que sejam suspeitas de transgressões e tudo que compõem a vida normal é visto como transgressão - são espancadas ou executadas. E por toda parte aquelas imagens que já se tornaram um símbolo: grupos de figuras idênticas, sem forma e sem rosto, cobertas da cabeça aos pés nas suas túnicas ou burcas. Quando o Afeganistão entrou no noticiário por aninhar os terroristas que bombardearam o World Trade Center e o Pentágono, essas cenas de mulheres tratadas com animais voltaram a espantar o Ocidente (...) (Veja 10 de outubro 2001, p.68)
Esta reportagem recebeu como título: "Tortura cotidiano". Nela a revista dedica uma parte de suas páginas a discutir sobre a mulher muçulmana. Esse tema foi bastante explorado pela revista Veja, mas toda essa dedicação e interesse pelo assunto não ocorreu por acaso. Tudo faz parte de uma estratégia, pois cerca de 52% dos leitores da revista correspondem à população feminina, assim trazer o tema das mulheres muçulmanas à tona tem como objetivo despertar a atenção das leitoras da revista fazendo com que essas pensem que o inimigo muçulmano está a espreita, atormentando os americanos por serem tão bondosos. Toda essa forma de discutir o modo de vida das mulheres muçulmanas faz parte de uma grande estratégia de marginalização da cultura muçulmana bem como a tentativa da construção mental coletiva sobre a existência do Inimigo muçulmano.
A revista trata o tema mulher muçulmana como ser submisso ao poder masculino de forma com que as leitoras ocidentais "visualizem" mentalmente estas mulheres cobertas pelo véu da opressão e assim sejam nutridas por um grande sentimento de revolta e preconceito contra a cultura muçulmana.
No entanto Veja em nenhuma das edições que analisei para esta pesquisa, relatou em suas páginas que os heróis de hoje, os norte-americanos no passado contribuíram para o agravamento da submissão feminina ao poder masculino, ou seja, foram os americanos que contribuíram para que a mulher fosse vista como ser inferior perante os homens.
Tudo começou no ano de 1979, quando o PDPA sobe ao poder no Afeganistão e tenta implantar algumas medidas para modernizar a face do país; entre essas medidas estava a abolição do uso obrigatório do véu e o acesso livre de mulheres em escolas. Acontece que os Estados Unidos, de olho no novo governo que apoiado pela então União Soviética, implanta algumas reformas de cunho socialista no Afeganistão, procura os muçulmanos mais fundamentalistas que existem na região, estes também não concordam com os novos planos do governo para as mulheres pois acreditam que a amplitude da liberdade das mulheres muçulmanas significa o distanciamento das práticas tradicionais islâmicas e a aproximação com os valores ocidentais.
Daqui surge a contribuição norte-americana para a opressão atual da população feminina, pois a CIA, treina, financia e lidera esses grupos de fundamentalistas muçulmanos com o propósito de derrubar o novo governo instalado no Afeganistão e com a queda do PDPA caem também os planos para a libertação da mulher muçulmana frente a ditadura do fundamentalismo.
Extremistas radicais islâmicos, freqüentemente chamados fundamentalistas eram os preferidos dos Estados Unidos, nos anos 1980 por se tratar dos melhores assassinos que se poderiam encontrar a disposição. (CHOMSKY 2001)






















4. CONCLUSÃO

As análises feitas em torno dos atentados dos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, estimularem o historiador a fazer uma investigação sobre os antecedentes históricos da política norte-americana no Afeganistão durante a Guerra Fria, os quais apresenta-se como pontos obscuros para a maioria das pessoas, da as poucas discussões feitas pelos meios de comunicação de massa sobre o assunto e a quase que inexistente variedade de obras que se dispõe a relatar sobre estes fatos.
O jornal Folha de São Paulo e a revista Veja, são tidos como dois dos maiores meios de comunicação no Brasil, esta considerada a principal revista semanal de informações do Brasil e a quarta maior revista do mundo, atingindo um grande número de leitores desde o momento de sua criação em setembro de 1968, e a Folha de São Paulo, o qual a partir dos anos 70, tem crescido visivelmente, atingindo principalmente o leitor jovem. Estes periódicos analisados aqui como documentos para investigação geralmente apresentam-se como fontes vinculadoras ou formadoras de opinião, atuando de forma as fabricar consensos, produzindo realidades parciais apresentadas como se fossem a totalidade do mundo, ocultando ou distorcendo os fatos e na ocasião dos atentados de 11 de setembro não foi diferente.
A divulgação desses atentados pela Veja e pela Folha reforçam a análise de que estes meios de comunicação ao alinharem-se em apoio ao poderio norte-americano num momento de fragilidade causado pelos ataques às torres gêmeas e construíram estereótipos que reforçam as idéias de "superioridade" americana frente a cultura muçulmana e "inocência dos Estados Unidos" frente aos "terroristas" que hoje são tidos como vilões, assassinos e cruéis. No entanto estes meios de comunicação esqueceram-se propositalmente que num passado não muito distante estes que na ocasião do 11 de setembro foram os agredidos, no passado foram os agressores ou estes que hoje são descritos como "face do mal" ou "vilões terroristas" neste passado eram vistos como heróis por serem companheiros de causa dos norte-americanos na tentativa de "varrer do mapa" tudo que apresentasse características ou ligeira semelhança com o comunismo.
É claro que nesta ocasião houve muitas mortes, destruição e tudo que acompanha uma guerra. Crimes estes custeados por dólares, usados sem limite de quantidade para matar pessoas, sem nenhuma distinção de sexo ou idade. Estes atos de terrorismo tão cruéis quanto os atentados de 11 de setembro de 2001, eram praticados de forma a atingir a população no geral, pois a tática era o envenenamento da água de escolas, o lançamento de bombas em cinemas,lojas e mesquitas ou o incêndio de patrimônios públicos. Mas, estes atos de terrorismo americano, hoje são excluídos ou justificados pelos meios de comunicação, pois segundo estes se estava em jogo a "causa do bem", o anti-comunismo, e é em nome deste mesmo ideário (o bem sempre vence) que a luta contra os "terroristas" de hoje é realizada e ainda que "acidentalmente" um grande número de inocentes mortos ou sejam vítimas de torturas físicas ou psicológicas e o que ainda há para se destruir num país devastado, tudo bem, pois é por uma "boa causa". Vale tudo quando se está em jogo não aos "heróis de ontem", mas aos terroristas ingratos e traidores de hoje que só "acidentalmente" são as mesmas pessoas.
O apoio à "Guerra ao Terror" de George W. Bush, descrito de forma tão explícita nas páginas da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo não levou em consideração que um ataque contra o Afeganistão hoje mataria um imenso número de pessoas inocentes e que uma matança desenfreada de inocentes é terrorismo e não uma guerra contra o terrorismo.
As bombardear Cabul e vitimar várias pessoas inocentes o governo dos Estados Unidos tomou uma decisão semelhante àqueles "terroristas" que seqüestravam aviões repletos de pessoas inocentes e os jogaram contra os torres em Nova York e Washington.
É bastante conveniente para os meios de comunicação ao tentarem explicar os atentados, falarem em "causas mais profundas", tais como o ódio contra valores ocidentais e progresso. Essa é a maneira usual de evitar questões sobre a origem do próprio Bin Laden e de sua rede de terroristas, assim como sobre as práticas e atos que levam a disseminação do ódio, do medo e do desespero por toda aquela região, gerando um reservatório de sentimentos contrários aos Estados Unidos , do qual as células islâmicas podem se abastecer.
Mas, tudo bem, a imprensa analisada (Veja e Folha de São Paulo) quer que aplaudamos à "Guerra do Terror" e que concordemos com o plano da administração não só de George W. Bush, como também dos presidentes anteriores dos Estados Unidos, que ao longo da história com peculiar sensibilidade, o plano das administrações foi prosseguir com os atos de praticar um silencioso genocídio, combinado com gestos humanitários os quais tiveram e sempre terão como objetivo levantar aplausos dos habituais coros dos contentes, que sempre serão líderes tão dedicados a "princípios e valores".






















5. REFERÊNCIAS

5.1 Livros:

ABRAMO, P. Padrões de manipulação da grande imprensa, Ed. Fundação Perseu Abramo, São Paulo 2003.

BARBOSA, J. de S. Os meios de comunicação de massa, Ed. Scipione, São Paulo 1996.

CHOMSKY, N. 11 de setembro, Ed Bertrand Brasil, Rio de Janeiro 2001.

CHOMSKY, N. O que tio San realmente quer, 2ª edição, Ed. UNB ? Brasília 1999.

CHOMSKY, N.; HERMAN, E. A manipulação do público, Ed. Futura, São Paulo 2003.

HOBSBAWN, E. Era dos Extremos, Ed. Companhia das letras, São Paulo 1991.

HOBSBAWN, E. Tempos Interessantes, Ed. Companhia das letras, São Paulo 2002.

MONTE, J. Afeganistão quem é o agressor?, Ed Revan, São Paulo 1986.

MÜLLER, M. K. Os construtores da Informação, 2ª ed., Ed. Vozes, Petrópolis 2003.


5.2 Artigos:

AGOSTI, A. Reflexões sobre o 11 de setembro, Revista de História, v. 21, editora Unesp 2002.

ECO, H. Simplificação gera guerras santas, Folha de São Paulo, São Paulo 07/10/2001.

OJIDA, J. La Transformacion de Bush, Revista Política Exterior, vol 15, n° 84, nov/dez 2001.

TOURAINE, A. O Recuo do Islamismo Político, Folha de São Paulo, São Paulo 07/10/2001.

VALCÁRCEL, D. Veinte dias de septiembre, Revista Política Exterior, vol 15, n° 84, nov/dez 2001.

VIDAL G. Para a mídia o diabo nos ataca por sermos bons, Folha de São Paulo, São Paulo, 18/09/2001, página especial 9 do caderno especial.

WALLERSTEIN, I. Os Estados Unidos e o mundo: as torres gêmeas como metáfora, Revista de estudos avançados n° 46, vol 6, set/dez 2002.

WILCOX, P. Luchar contra el terror, vol 15, n° 84, nov/dez 2001.


5.3 Revistas:

Como eles se preparam para matar e para morrer ? Veja, edição 1721 ano 34 n° 40 ? 10 de outubro de 2001.

Fundamentalistas ? Veja ed. 1721 ano 34 n° 40 ? 10 de outubro de 2001.

Os tentáculos de Bin Laden ? Veja edição 1721 ano 34 n° 40 ? 10 de outubro de 2001.

Tortura Cotidiana ? Veja ed. 1721 ano 34 n° 40 ? 10 de outubro de 2001.

O míssil e o Barbudo ? Veja ed. 1722 ? n° 41 ? 17 de outubro de 2001.

Os pobres de Alá ? Veja ano 34, n° 41, 17 de outubro 2001.

Vivendo como animais ? Veja ed. 1722 ? n° 41 ? 17 de outubro de 2001.

A descoberta da Vulnerabilidade ? Veja ? Edição Especial ano 34 n° 37 ? 19 de setembro 2001.

A morte no fogo, num salto ou no desabamento ? Veja ? Edição Especial ano 34 n° 37 ? 19 de setembro de 2001.

Assassinato em nome de Alá ? Veja ? Edição Especial ano 34 n° 37 ? 19 de setembro 2001.

Escolas de Terror ? Veja ? Edição Especial ano 34 n° 37 ? 19 de setembro de 2001.

O dono do mundo ? Veja - Edição Especial ano 34 n° 37 ? 19 de setembro de 2001.

O inimigo número 1 da América ? Veja ? edição Especial ano 34 n° 37 ? 19 de setembro 2001.

Ou estão do nosso lado ou do lado dos terroristas ? Veja ed. 1719 ano 34 n° 38-26 de setembro de 2001.

A guerra será longa e suja ? Veja, ed 1719, ano 34 n° 38 ? 26 de setembro de 2001.

O cerco do Afeganistão ? Veja ed. 1719 ano 34, n° 38, 26 de setembro de 2001.

5.4 Jornais:

Americanos nunca viram algo tão perto de uma guerra ? Folha de São Paulo, 11/09/2001.

Bin Laden advertiu sobre os ataques há 3 semanas ? Folha de São Paulo, 11/09/2001 .

Bush diz que milhares morreram em ataques demoníacos ? Folha de são Paulo 11/09/2001.

Bush não fará distinção entre terroristas e os que protegem ? Folha de São Paulo ? 11/09/2001.

Cerca de 40 argentinos estão desaparecidos em Nova York após atentados ? Folha de São Paulo 11/09/2001.

"Eles falharam" diz George Bush ? Folha de São Paulo, 11/09/2001.

Especialistas dizem que ataques camicases são inéditos ? Folha de São Paulo, 11/09/2001.

Explosões atingem Cabul, capital do Afeganistão, Liga do norte assume ataque ? Folha de São Paulo 11/09/2001.

George W. Bush faz pronunciamento e diz que EUA responderão a ataques "covardes" ? Folha de São Paulo ? 11/09/2001.

Líderes reagem com revolta a ataques nos EUA, Folha de São Paulo 11/09/2001.

ONU condena terrorismo deliberado e pede calma ? Folha de São Paulo, 11/09/2001.

Sentimos dor junto ao povo americano diz Fidel Castro ? Folha de São Paulo 11/09/2001.

Taleban condena ataque ? Folha de São Paulo 11/09/2001.

Taleban diz aos EUA que Osama Bin Laden é inocente ? Folha de São Paulo, 11/09/2001.

Terror para EUA, destrói WTC e mata milhares. Folha de São Paulo 11/09/2001.

Terrorista Bin Laden prometeu: "ataques sem precedentes aos EUA" ? Folha de São Paulo 11/09/2001.

Veja a íntegra da carta de FHC a Bush ? Folha de São Paulo 11/09/2001.