INTRODUÇÃO

Pode-se considerar que o sistema familiar como um todo se compõe de uma série de subsistemas que interagem entra si. Howells (1972) considera a família com um organismo completo, que possui uma unidade própria; assim como o indivíduo, a família é um sistema organizado, com uma estrutura peculiar, canais de comunicação e elementos característicos. Portanto, qualquer evento que ocorre com uma das partes desse sistema atinge o sistema inteiro; logo, a gravidez é uma experiência que pertence à família como um todo.

Mesmo numa família composta de pai, mãe e um filho os subsistemas nunca representam uma tríade verdadeira, uma vez que desde o conhecimento da gravidez até as primeiras semanas após o parto quando a interação entre mãe e bebê é extremamente próxima o marido-pai participa ativamente formando de fato a tríade familiar( Maldonato, 2000).

Este modelo de tríade citada a acima, onde o marido-pai auxilia sua companheira e enfrentar os desafios de cuidar do bebê, não é único com o qual nos deparamos atualmente. Com o passar dos anos e as mudanças trazidas com estes, houve uma radicalização dos modelos da família. Foram constituídas novas constelações familiares, onde apesar de algumas serem bem diversificadas, a sua maioria não tira da mulher ou a emoção ou a frustração de gerar um filho.

Para uma mulher, tornar-se mãe pode vir a ser uma tarefa fácil ou não. São meses de preparação, de vivência, de aprendizado que vão desde o descobrimento da gravidez até o momento do parto. Durante esse período a mulher passa por transformações tanto no aspecto físico quanto psíquico, as quais são capazes de aflorar nessa mulher ou o sentimento de plenitude em relação a esse momento ou despertar nessa mulher uma tristeza que a depender da sua gravidade, torna-se uma questão de segurança para as vidas dessa mãe e desse filho, assim como será apresentado a seguir.

Este trabalho tem como objetivo compreender a rede de relacionamento e de suporte que pertencem ao universo subjetivo e físico das mulheres que de alguma forma ou por um ou mais motivos não conseguiram se adaptar a alguns processos que pertencem a transição da maternidade e sofreram da chamada depressão pós-parto.

Tenho a intenção de descrever a depressão pós-parto, especialmente relacionando com os aspectos do cotidiano da mulher moderna, já que acredito ser um fator que agreguem muitas das origens e causas dessa síndrome, na medida em que há uma cobrança ainda maior por parte dessa mulher e da sociedade em geral para desempenhar suas tarefas sem margem de erros.

Pretendo também fazer desse trabalho uma fonte de informações sobre essa síndrome que não distingue mulheres. Seja qual for a raça, idade, classe social, religião, entre outras, todas estão sujeitas a passar por isso. E ainda associar a este a compreensão de a mulher moderna ter de conciliar todas as suas tarefas com a modernidade, o que pode ser um agravante a precipitação da depressão pós parto, como sendo um desajuste entre os diferentes papéis que desempenha e as novas exigências que o cuidado com o bebe pode gerar.




METODOLOGIA


Este projeto de pesquisa tem a intenção descrever a relação existente entre a depressão pós-parto a diversidade de tarefas assumidas por essa mãe que sofre com essa síndrome em meio à sociedade vigente. Pretendo utilizar a revisão bibliográfica, em destaque Maldonato(2000), Rocha (1999), Parker,1997, Kapaln,1999 entre outros dotados de conhecimento do assunto como instrumento para sua construção. Como parte da construção metodológica desse projeto darei mais ênfase em descrever os aspectos psicológicos relacionados a mulher gestante, a puérperia e ao recém-nascido, não me atendo apenas aos aspectos físicos, já que estes servirão apenas como forma de complemento para descrever a depressão pós-parto e suas variações.

A busca das informações necessárias para a elaboração da revisão bibliográfica consistirá na leitura de artigos científicos, bem como livros , teses de pós - graduação, mestrado e doutorado incluindo pesquisa em sites oficiais e especializados em psicologia com a intenção de aprofundar a visão dos aspectos psicológicos da mãe o do bebê, dessa síndrome e usa variações. Sobre os dados retirados em psiquiatria, pretendo utilizá-los a fim de conhecer do ponto de vista médico e os aspectos físicos da síndrome e suas nivelações e para saber as possíveis conseqüências físicas que poderá sofrer ou um bebê cuja mãe sofreu da depressão pós-parto.

Aprofundar a questão depressão pós-parto trazendo seus principais aspectos físicos e psíquicos e fatores sociais e pessoais que influenciam no seu desencadeamento e as conseqüências na construção do papel de mãe. Além de um recorte teórico mais amplo e interdisciplinar que incluirá a origem dos fatores de risco, a amplitude dos fatores de proteção e as situações e fatos que elevem a vulnerabilidade dessa mulher a sofrer da depressão pós ? parto.

MULHER MODERNA E A DEPRESSÃO PÓS - PARTO
Não é recente que a mulher - isso ocorria especialmente com as mulheres de classe social menos favorecidas -assume o papel de mãe e zeladora do lar concomitantemente com as tarefas não domésticas, auxiliando a sustentar financeiramente a sua família.

Segundo Kitzinger (1978):
As classes dominantes que reinventam a maternidade como vocação feminina exclusiva estão em contradição absoluta com a realidade concreta: muitas mulheres trabalham no século XIX. e devem assumir sua maternidade nas condições mais difícies. A distância é imensa entre o ideal e descrito sonho de mãe educadora, consagrada em tempo integral e as suas crianças, e a vida cotidiana das mães do origem modesta (p.210).
Para a forma como as mulheres passaram do modelo essencial e exclusivamente de mãe para um modelo moderno de maternidade, deu-se com a consolidação de uma sociedade instaurada pós-revolução industrial. As incoerências próprias ao processo de industrialização e a maneira como as mulheres ingressaram no mercado de trabalho, revelam os impactos desse acontecimento na mudança dos padrões de maternidade, a partir do principio em que as mulheres que pertenciam às famílias operárias, no séc XIX, começaram a associar gradativamente a maternidade e o trabalho fora do lar. (SOFIER 1990).

Como conseqüência dessa associação de deveres, Sofier,(1990) afirma que nesse contexto começou a se fundir a lógica da dupla responsabilidade, que se consolidou no séc XX, com a expansão da urbanização e da industrialização, definindo-se assim com a "dupla jornada de trabalho". Com a maior aproximação e a disponibilidade das mulheres a educação formal e a formação profissional, estas vão, no decorrer do séc. XX. de forma crescente ocupar o espaço público - antes destinado exclusivamente para os homens ? ao mesmo instante em que assumem a responsabilidade da criação dos seus filhos.

Essa inserção da mulher no mercado de trabalho ainda tem trazido muitas transformações, nas relações existentes entre seu parceiro que dependendo de quantidade de filhos podem tornar-se rigorosas. Essa primeira tríade familiar continua a se manter saudável na medida em que só existe um filho; porém como relata Kintzinger (1991), com vinda de cada filho, muda-se toda a composição da rede de intercomunicação da família, com a acréscimo de novos subsistemas que atuam dinamicamente entre si.

Ao mesmo tempo em que este autor, Kintzinger(1991) fala sobre a quantidade de filhos na relação do casal, este ressalta que o trabalho fora do lar e o fruto do trabalho como sustento próprio para essa mulher, contribuíram para o declínio do sistema patriarcal e da hegemonia masculina. Isso pode ser observado, por exemplo, em um significativo aumento do envolvimento masculino na execução das tarefas domésticas. Entretanto o crescimento acelerado desse modelo de mulher mostra um descompasso em relação a participação masculina nos trabalhos domésticos, já que esta vem crescendo lenta e gradualmente.
Portanto, na família moderna ainda que o pai esteja mais presente em casa, a mãe continua sendo a maior referencia para os filhos pequenos. É ela quem continua com a maior parte das responsabilidades junto a casa e aos filhos assumindo a responsabilidade de trabalhar, criar seus filhos, e dar conta da realização das tarefas domésticas (MALDONATO,2002).

Assim, é possível entender que mesmo o fato dessa mulher ter alcançado seu lugar na sociedade como trabalhadora e competente para a realização de tarefas que vão além das domésticas, esta ainda encontra-se cercada das velhas representações, pois continuamos cobrando delas o velho modelo de mãe idealizada.
O problema, porém, é que as mulheres de hoje, estão construindo outro modelo de maternidade diferente do de suas mães. Enquanto sua geração familiar feminina, era ensinada exclusivamente, desde os seus primeiros anos de vida a se submeter aos caprichos dos seus maridos, e mesmo assim ser uma excelente mãe, esposa e dona de casa, estas têm outros interesses, desejos, informações, expectativas e, sobretudo alternativas para se realizarem como mulher, que não estão mais restritas à maternidade.

Parker (1997) reforça a idéia de que novamente, observa-se um conflito na vivência do papel moderno de mãe, que acarreta mais dúvidas, angústias e, sobretudo em culpa, que se revelam através da (des)conhecida ambivalência materna. Culpa por - sua própria educação ? pensarem que não serão boas mães, que o tempo disponível para seus filhos será compartilhado com as suas obrigações do trabalho fora de casa e que possivelmente caso a educação dos seus filhos não seja de boa qualidade esta será responsabilizada pela situação.
Parker (1997) nos diz que a ambivalência materna é a experiência compartilhada de forma geral por todas as mães, na qual coexistem lado a lado, em relação ao filho, sentimentos de amor e de ódio. Para esta autora, a dificuldade em enfrentar tais sentimentos tão complexos e contraditórios próprios da ambivalência materna pode redundar em uma eterna culpa, que implica em muito sofrimento, mas com a qual as mães se habituam a viver.

As considerações citadas a cima em conciliação com diversos outros fatores, fazem acreditar que a maternidade vem sendo concebida até nossos dias como um peso a mais para as mulheres que invariavelmente exercem a maternidade, na medida em que estas sofrem pressões culturais que muitas vezes não comportam no seu ritmo de vida. Tais conceitos culturais podem gerar nessa mãe um sentimento de angústia e ansiedade e incapacidade de adequar-se a visão romanceada desse estado, suscitando conflitos internos e externos que por vezes são passados despercebidos pela própria primípara e pelas pessoas que compõem o seu meio social.
Esses conflitos por vezes são explicitados através de sintomas característicos. A primípara passa a sentir emoções que ela mesma muitas vezes sabe descrever, mas não explicar. Essas manifestações não identificadas indicam que algo em seu funcionamento psíquico não vai bem, suscitando em uma depressão pós-parto, na medida em que estas não são tratadas a tempo.





ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO PUÉRPERIO E OS PRIMÓDIOS DO RELACIONAMNETO PAIS-BEBÊ

O puerpério ou pós-parto, assim como a gravidez classifica-se como um período onde há uma grande vulnerabilidade a ocorrência de crises, devido às profundas mudanças intra e interpessoais desencadeadas pelo parto.
Kitzinger (2000) considera o puerpério como o quarto trimestre da gravidez, considerando-o um período de transição que dura por volta de três meses após o parto, acentuando em particular no primeiro filho. Nesse período, a mulher torna-se especialmente sensível, muitas vezes confusa, até mesmo desesperada; a ansiedade normal e a depressão reativa são comuns.

O período de dias pós-parto é sobrecarregado de sentimentos intensos e variados. As primeiras vinte e quatro horas em especial, a mulher tende a recuperação da fadiga causada pelo parto. A puérpera sente desconforto, náuseas, dores e sangramento devido ao parto. Tudo isso, além é claro do trauma do parto, ainda mais se foi realizado sob narcose sensibilizam essa mulher que geralmente está debilitada e confusa, mas ao mesmo tempo excitada pelo nascimento do seu filho. A labilidade emocional é o tipo mais característico da primeira semana após o parto.

Baker, 1987; Kaij e Nilson, 1982, acreditam que esses sintomas são devidos as mudanças bioquímicas que se processam logo após o parto, tais como o aumento da sensação de corticoesteróides e a súbita queda dos níveis hormonais.

Um outro ponto a ser ressaltado é o fato de que para a mãe, a realidade do feto in útero não compate com a realidade do bebê recém-nascido e para algumas mulheres é uma tarefa muito dolorosa fazer essa transição. Em especial no caso de mulheres que carregam consigo uma dependência muito forte com sua mãe ou seu marido, estas facilmente gostam do seu bebê enquanto dentro delas e amam a imagem idealizada desse feto, mas não suportam a realidade do recém-nascido.

Isso ocorre sobretudo nas mulheres que tendem a acreditar que seu bebê será "diferente" ? tranqüilo, chorando pouco, dormindo a noite desde o inicio etc.,-, negando antecipadamente a realidade de um bebe nas primeiras semanas de vida, diante do qual
com freqüência sentem-se assustadas e confusas com a responsabilidade dos cuidados maternos. (Maldonado,2000). Determinar a linha divisória entre a depressão pós-parto e a normalidade as vezes é difícil. Em todo caso, quando se percebe a intensificação e permanência dos sintomas depressivos após algumas semanas pós-parto, estes merecem ser vistos com maior cuidado.

A depressão pós parto tende ser mais grave quando há uma quebra muito intensa em relação à expectativa desse bebe, a si própria como mão e ao tipo de vida que irá levar com presença do filho. Com o desaparecimento da imagem "idílica", por vezes aparece à decepção, desanimo e a impressão de não ser capaz de enfrentar a situação. Pode pensar que a prostração e a incapacidade de não conseguir assumir a função materna tem aspectos regressivos de identificação com o próprio bebe ? nesse caso a mãe espera e solicita para si cuidados e atenção como forma de mobilizar também a preocupação nos familiares.

É fundamental que nós não confundamos, em níveis diagnóstico, os episódios psicóticos (que ocorrem em casos mais graves da depressão pós parto) com o estado mental presente nas primeiras semanas após o parto, onde a mulher manifesta-se muitas vezes retraída e confusa. Winnicott (1975) deu nome a esse estado mental de "preocupação materna primária". Nesse estado é possível que a mãe ligue-se de forma mais sensível ao bebe, adaptando-se delicadamente ao atendimento das necessidades do recém-nascido. Winnicott ainda afirma que as recordações sobre esse período tendem, depois a ser reprimidas.

Normalmente a primeira reação da mãe diante do seu bebe é positiva. A manifestação de um intenso "sentimento materno" nem sempre ocorre na primeira vez em que essa mãe tem contato visual com seu filho e isso pode gerar em alguns casos culpa e apreensão. Aliado a isso os sintomas da depressão diante da responsabilidade de cuidar de um bebê são bastantes presentes em graus variados, na grande maioria das mulheres e isso independe dos seus traços de personalidade. O fato de nas primeiras semanas mãe e filho estabelecerem uma relação escassa em termos de conhecimento entre si, desencadeia nessa mãe um sentimento de insatisfação, pois não sabe distinguir quais as necessidades do bebe. Com o passar do tempo aprende a diferenciar o chora de fome, de
sono, os que sinalizam cólicas sede ou apenas necessidade de contato. Essa relação tem um pano de fundo pouco verbal, mas intensamente emocional.

Essas características dão margem a possibilidades de interpretação e projeção por parte da mãe em seu bebe. O choro do filho pode evocar sentimentos de pena e estimular necessidade de cuidar dele; de raiva de si mesma por se sentir incapaz de realizar os desejos do bebe; de raiva do bebe por senti-lo como um "ingrato" que não reconhece sua dedicação e esforços, ou por este bebe está lhe roubando seus momentos de descanso e sono.

A relativa falta de estruturação do relacionamento também dá muitas oportunidades de fazer projeções de expectativas em relação ao bebe e a si própria como mãe. Há mulheres cujo sentimento materno é extremamente mobilizado pela situação de desamparo do recém-nascido, que lhes estimula a vontade de cuidar, nutrir, proteger, identificando-se com o bebê; sentem-se satisfeitas por serem capazes de satisfazer o filho e não sentem a frustração da impossibilidade de o bebe lhes agradecer (Maldonado,2000).
Em contradição com outro grupo de mulheres Maldonado(2000), afirma que algumas assustam-se diante do recém nascido, que simboliza uma instintividade primitiva e sem controle; sobretudo quando tem conflitos em relação a capacidade de controlar os próprios impulsos, o contato com o bebe visto dessa maneira pode evocar ansiedades profundas e só mais tarde ? no desenvolvimento da criança, que vai se tornando mais organizada e controlada ? conseguem relacionar-se melhor com o filho.
Se tratando de expectativa que essa mulher desenvolve em relação ao seu bebe, é importante tem em mente que cada bebe apresenta uma bagagem cognitiva singular; pode ser predominantemente tranqüilo, irrequieto, voraz, sonolento, saudável ou doente e que muitas vezes essas características não correspondem ao esperado. Nesse caso, cabe a mãe controlar suas expectativas, para que desde as primeiras semanas, seu relacionamento com o bebe tenha como base uma estruturação básica materno-filial confortável e saudável.
É preciso entender que o bebe, ao nascer, se constitui um enigma: representa esperança de auto-realização para os pais e, ao mesmo tempo ameaça expor as dificuldades dos pais, implicando, portanto ema promessa de aumentar a auto-estima dos seus cuidadores assim como denunciá-los em suas funções de serem pais.



Diferenças entre tristeza materna, depressão pós ? parto, e psicose puerperal

A gravidez pode ser caracterizada como uma fase de transição durante o desenvolvimento emocional da mulher que causas mudanças não só nas aparências externas, mas também internas de envolvimento sócio emocional. É marcada por vulnerabilidade emocional e por sentimentos ambivalentes que não devem ser desconsiderados e ou mesmo ignorados pela primípara e pelo meio social em que vive.
Sabemos que todo ciclo gravídico-puerperal é considerado período de risco para o psiquismo devido à intensidade da experiência vivida pela mulher. Mesmo mulheres com boa organização psíquica podem se ver frente a situações em que a rede social falha.

O nascimento de um bebê inaugura uma série de transformações na vida familiar, sendo considerado um evento propício ao surgimento de problemas emocionais nos pais (Klaus, Kennell & Klaus, 2000). A literatura aponta que fatores biológicos, obstétricos, psicológicos e sociais que se inter--relacionam podem contribuir para a precipitação ou agravamento da depressão materna (Schwengber & Piccinini, 2003). Dentre esses fatores, a própria experiência da maternidade pode representar risco para a depressão materna em virtude do seu caráter muitas vezes conflituoso. Alguns autores sugerem que o nascimento de um filho está relacionado a complexas transformações na identidade feminina (Soifer, 1991; Maldonado, 1990). Corroborando essa concepção, Stern (1997) postulou que, diante da chegada do bebê, a nova mãe necessita reelaborar esquemas a respeito de si mesma, os quais englobam todos os aspectos do seu ser. De acordo com o autor, a reavaliação de sua identidade, sob essa ótica, pode ser acompanhada de um sentimento de perda subja-cente ao sentimento de ganhos com a maternidade, o qual pode estar relacionado à presença de sintomas depressivos.

Após o parto a mulher pode vir a passar por estados de humor muito variados. A gravidez inicia uma nova fase em sua vida, em que tentará cuidar, criar e dar o máximo de amor e conforto possível ao seu bebê, ou então pode ser que não venha a sentir nenhum tipo de emoção relacionada a esse novo ser. Pior. Não internalize nenhum sentimento benéfico ao gerar essa criança e por conta disso se manifeste com sintomas que caracterizem uma tristeza que parece não ter começo e nem fim exatos.

A necessidade do pronto tratamento psiquiátrico e psicológico em mulheres grávidas com problemas emocionais, decorre da noção sobre os efeitos do estresse, da ansiedade e da depressão sobre a evolução da gravidez, do parto, da futura função materna e, principalmente, da qualidade psíquica da criança que vai nascer. Trata-se, sobretudo, de uma atitude psicológica predominantemente preventiva (Monk, 2001).
Ao contrário do que pensa muita gente, a incidência de depressão na gravidez mostra taxas mais elevadas até a 32a. semana de gestação do que até 8 semanas depois do parto. Evans (2001) é enfático ao dizer, textualmente, que os sintomas da depressão não são mais comuns ou severos após o parto do que durante a gravidez. O que acontece, provavelmente, é que a maioria dos obstetras e pediatras evita esse diagnóstico, devido ao receio ou pouco conhecimento com relação ao tratamento disso durante a gravidez.
Kaplan (et al, 1999) define os transtornos psíquicos puerperais como doenças mentais com início no primeiro ano após o parto e que se manifestam por desequilíbrios de humor psicóticos e não psicóticos. A etiologia das síndromes psíquicas pós-parto envolve fatores orgânicos ou hormonais, psicossociais e predisposição feminina, deste modo, associação destes elementos possibilita o desenvolvimento do processo patológico.

Os transtornos de humor que acometem as puerpéreas foram classificados de maneiras diversas na literatura. Na Décima Revisão Internacional das Doenças (CID-10), eles não são considerados distúrbios mentais específicos do puerpério, mas sim associados a ele, ou seja, o parto atua como um fator desencadeante devido à fragilidade psicológica qual a mulher se expõe. Deste modo, os transtornos se classificam da seguinte maneira: Síndrome da Tristeza Pós-Parto; Depressão Puerperal ou Pós-Parto e Psicose Puerperal (CHENIAUX JR apud ZANOTTI et al, 2003).
A Síndrome da Tristeza Pós-Parto ou mesmo denominada "baby blues" (Souza, Burtet & Busnello, 1997), é a que mais atinge as primíparas e é mais comum entre elas. O "baby blues" é caracterizado por um curto período de emoções voláteis, que comumente ocorre entre o segundo e o quinto dia após o parto, tendo geralmente remissão espontânea (Souza e col., 1997). Seu estado também pode variar de algumas horas até uma ou duas semanas depois do parto.
Existe uma gama de variações relacionada aos seus sintomas. Dentre estes estão as mudanças súbitas de humor, que acontecem sem explicação. Ela não sabe por que sente vontade de chorar, de se isolar e ao mesmo tempo não tem como explicar sua alegria e satisfação. É como sentir-se inicialmente feliz e posteriormente triste só que com a diferença de não ter motivos concretos para esse estados de humor ou mesmo não querer admitir que prioritariamente a causa fosse o nascimento do seu filho. Essa mãe pode sentir-se impaciente, irritada, não só com seu parceiro ou familiares mas também com seu bebê, transparecendo agonia, ansiedade, fadiga com lapsos de solidão e curtos de memória (Kaplan et al, 1999).

A puérpera evita o contato muitas vezes com quem a rodeia e até mesmo com seu bebê. Às vezes evita olhar em seus olhos, trocar a fralda, amamentar, sentir-se em seu colo entre outros gestos de recusa. Sua diferença com Depressão Pós-parto, apesar de não ser bem esclarecida pelos autores, parece ater-se ao grau de severidade e à evolução, bem menor e mais breve (Santos, 1988).

A Síndrome da Tristeza Pós-Parto nem sempre requer tratamento médico. O recurso mais utilizado como forma de tratamento é participar de grupos de ajuda. Um grupo de mulheres que já tenham passado pela mesma situação, que estejam dispostas a conversar e expor seus problemas com a intenção de ajudar as mães que naquele momento estão sofrendo pela mesma causa. Contudo nada disso é válido se a própria mãe não esteja preparada para compartilhar sua tristeza ou caso no seu momento de vida não queira admitir que esta sofra da tristeza materna, e que ainda se sabe tem tratamento e uma possível cura. ( Maldonato, 1990).
Vale salientar que a tristeza materna não é um caso grave ou que venha trazer danos físicos à mulher ou ao bebê. O apoio e participação da família são fundamentais nessa hora, para que esse estado depressivo, normal para o período, não se transforme em algo mais severo.
Como conseqüência da graduação da Síndrome da Tristeza pós-parto está a Depressão pós-parto.

O desencadeamento da Depressão pós-parto pode ser ocasionado por inúmeros fatores associados ou isolados. Schwengber (2003) em seu estudo para a elaboração do seu artigo referente a DPP traz uma série de aspectos que envolvem a puérpera e que merecem destaque além dos fatores supracitados, pois os mesmos foram percebidos na realidade vivenciada pela mulher.Este autor dá destaque aos fatores que envolvem o estado civil, pois se percebeu que estes tem sido associados principalmente em se tratando de mães solteiras sem o apoio social.
Alguns autores defendem que o encontro entre mãe-filho após o nascimento pode induzir a uma patologia específica, ou seja, o primeiro contato remete a mulher as preocupações e anseios em relação a maternidade, aumentando assim os riscos de adoecimento uma vez que vivencia uma série de emoções conjuntas em tempo real. Assim, pode-se dizer que os transtornos depressivos puerperais determinam-se mais pela interação do que propriamente por uma patologia pré-existente da mulher. (Maldonato,1990).

Em se tratando de fatores biológicos, existem hipóteses de que as alterações hormonais relacionam-se com o surgimento da depressão puerperal, Kaplan (1999) afirmou que 4% das puérperas apresentam alteração de humor leve associada a disfunção da tireóide nos primeiros oito meses do puerpério; e apenas 1% apresentaram transtorno depressivo maior.

A depressão pós-parto, apresenta as mesmas características de uma depressão normal, ou seja, a pessoa sente uma tristeza muito grande de caráter prolongado, com perda de auto estima, perda de motivação para a vida, podendo até mesmo tentar o suicídio. Em casos mais graves da depressão pós-parto, algumas mulheres apresentam tendência ao abandono do recém nascido ou mesmo ao seu extermínio.

Fisicamente, sintomas como alterações gastroinstestinais, com ressecamento de boca, de intestino, dores de cabeça, insônias podem ser indícios de uma depressão ( Souza, 1998). Com relação ao período estabelecido da depressão pós-parto, esta só pode ser validada com tal caso esta ocorra até o sexto mês após o parto. Quando se fala em tratamento este baseia-se na farmacologia e na psicoterapia. Estes métodos são semelhantes aos empregados no tratamento de transtornos depressivos em outros períodos da vida, comprovando assim sua eficácia (Rocha, 1999). O uso de psicofármacos no puerpério apresenta determinadas contra-indicações devido ao aleitamento materno que pode ser comprometido com a excreção e concentração destes medicamentos no leite. Sabe-se que para a mulher que vivencia um transtorno depressivo puerperal, é fundamental promover de maneira criteriosa o contato entre mãe-filho, considerando o seu estado de raciocínio e percepção da realidade, destacando assim formas passíveis e apropriadas de se fazer esse contato.
Uma abordagem psicoterapêutica é essencial no tratamento da depressão puerperal, uma vez que o terapeuta juntamente com a puérpera e familiares, construirão novas estruturas a partir da realidade vivenciada; sendo assim, torna-se possível o entendimento, o planejamento de ações intervencionistas adequadas acerca desta nova realidade (Rocha, 1999).

Saber se a mãe terá ou não depressão após o parto, antes do nascimento do bebê é muito difícil. As mulheres com tendência depressivas anterior à gravidez requerem mais atenção dos familiares. A situação da gestação também é um fator a ser avaliado. Uma gravidez rejeitada, ou uma gestação em que houve problemas mais sérios a nível pessoal pode provocar uma associação do problema com o bebê. Tais fatores também podem desencadear um quadro depressivo caso a mãe acredite que a gravidez foi um mal. Depois do nascimento o que tem de ser observado é a intensidade dos sintomas.

Não existe um trabalho específico para prevenção de depressão pós-parto, mas o pré-natal, além de orientar a mãe e prevenir uma série de doenças e problemas com a mamãe e o bebê, também serve como prevenção de uma depressão pós-parto. Durante o pré-natal os médicos procuram dar segurança à mãe tanto em termos orgânicos como psicológicos. Fazendo com que a gravidez da paciente seja tranqüila e com um grau de informação significativo, considera-se que o pré-natal é um fator de prevenção contra a depressão pós-parto.
Sendo assim, pode-se dizer que a etiologia da depressão puerperal não se determina por fatores isolados, mas sim por uma série de aspectos que devem ser abordados no diagnóstico e terapêutica da depressão pós-parto, formando então, uma combinação de fatores psicológicos, sociais, obstétricos e biológicos.

Em casos mais graves pode ocorrer a psicose puerperal. Esta caracteriza-se por ser uma doença mental de caráter grave e sua incidência mais rara do que a depressão pós-parto. Segundo Rocha (1999), no caso da Psicose Puerperal encontramos perda do senso de realidade, delírios, alucinações (por volta 0,2 % de casos). Para a mulher em surto o bebê não existe enquanto tal. Ele passa a ser espaço vazio preenchido por elementos do psiquismo da mãe, cindidos do real. Por vezes, as fantasias são ocultadas pela paciente, pois ela se encontra em delírio paranóide que inclui todo staff que dela se ocupa.
Nesse caso em especial não é recomendável o aleitamento materno, na medida em que essa mãe passa por momentos de intenso descontrole da situação, podendo até utilizar o momento do aleitamento para cometer um infanticídio. No caso da psicose a angústia é da ordem do insuportável, podendo aparecer rituais obsessivos e pensamento desconexo (Kaplan,1999).
Alguns sintomas se manifestam de forma intensa e aguda. Estes variam de confusão mental, alteração do humor, alterações do comportamento e pode inclusivamente, delírios paranóides e até mesmo originar alucinações. Dada a gravidade dos sintomas deve-se afastar o recém-nascido da mãe como medida de prevenção a uma eventual atitude menos refletida da mãe em relação ao bebê.

A terapêutica utilizada para psicose puerperal baseia-se no uso de psicofármicos, psicoterapia e ás vezes internação. O uso de psicofármicos tende a amanizar os sintomas físicos que eventualmente aparecem e incomodam a puerperea, trazendo consigo um desconforto. Quanto ao uso da psicoterapia, é de ordem fundamental. Porém essa terapêutica não deve ser exclusivo com puerpérea. Maldonato,(1990) afirma que é extremamente importante a participação da família no tratamento, já que esta irá suprir o papel de mãe que na verdade era desempenhado pela primipara. É de caráter essencial que a família saiba dos reais riscos que tanto a mãe quanto o bebê podem sofrer.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O puerperio, como outras fases do ciclo de vida de uma mulher, é um período predisposto a crises, em virtude das mudanças físicas e psicológicas que o acompanham. A depressão pós-parto, objeto desse estado, acomete uma parcela significativa da puerperas, podendo ocorrer nas primeiras semanas ou até meses após o parto. Sua etiologia parece ser multideterminada, podendo haver influencias genéticas, psicológicas, sócio-culturais e fisiológicas no seu desenvolvimento e grande severidade.

É inevitável não notarmos a presença da depressão pos ´parto na sociedade vigente. É de grande importância que as mulheres grávidas sejam acompanhadas psicologicamente, juntamente com o pré natal, na medida que estes juntos vão da um suporte maior em relação a prevenção dessa síndrome e evitar tantos sofrimentos que esta traz consigo.





















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