Francisco Alambert e Roberto Ventura

Isac Ferreira

Resumo

O presente artigo analisará em termos metodológicos e teóricos a relação entre os textos "Olhares sobre o Brasil do Século XIX", Lisboa, "O Brasil no Espelho do Paraguai", Alambert, e "Um Brasil Mestiço: Raça e Cultura na Passagem da Monarquia à República", Ventura. Tratará também da relação entre o contexto histórico que possibilitou a formação do conceito de nação brasileira.

Palavras-chaves: cultura, espelho, raça e escravidão.

Não foi mera coincidência, mas Carlos Guilherme Motta ao mostrar cautela de organizar a obra "A Viagem Incompleta 1500-2000: A Experiência Brasileira", teve o cuidado de colocar textos que desse uma sequencia compreensível para seus leitores, onde o segundo texto daria continuidade ao assunto trabalhado no primeiro. E apresenta uma nova perspectiva inovadora em sua obra, preferindo muitas vezes, trabalhar com algo mais cultural. E trabalhará com alguns temas, dentro eles, o império, que formula a ideia de nação, pois a monarquia representa a ligação com a Europa.
Karen Lisboa pensará o ano de 1808 como um momento fundador para o sentido de nação no Brasil. Reconhecerá os vários olhares estrangeiros, tanto europeus, americanos como periféricos, para construção de uma perspectiva que o Brasil iniciará a partir dessas novas visões.
Karen faz referência à escravidão, contudo, alguns viajantes não aprofundam no assunto, afirmando que sempre outros já o teriam feito e quando falam reconhecem que o "escravo" impediu o desenvolvimento do país para que se chegasse ao auge do processo civilizador desejado no Brasil, e dizem também que embora atrasassem o "nosso" processo civilizador para estes "negros", a escravidão seria uma forma de refiná-los, contribuindo para o processo civilizador dos negros, referem à forma de tratamento para com os negros aqui no Brasil com brandura e docilidade. "O mito da brandura, do potencial civilizador da escravidão e da possível ascensão social do liberto não era suficiente para sustentar a instituição", PP. 291, parágrafo 1°. Contudo, do ponto de vista econômico, a escravidão era um mal necessário.
A autora Karen faz citações de outros autores, como por exemplo, Armitage e Stewart. Para o primeiro a monarquia constitucional era o melhor instrumento para introduzir a "civilização", bem como propiciar os "aperfeiçoamentos sociais". De acordo com o segundo, "o traço monarquista do governo é a única razão pela qual se justifica que o Brasil seja uma exceção na América do Sul, dominada pela anarquia e derramamento de sangue, o que tem sido tão destrutivo para o avanço da liberdade e da civilização", PP. 276, parágrafo 2°.
Karen focalizará o processo de miscigenação, ou seja, o branqueamento do Brasil. "Na medida em que ocorresse o branqueamento da população, ocorreria também à homogeneização social, e ela é interpretada positivamente como fator civilizatório e de formação nacional", PP. 288. Todavia não foram todos os viajantes que concordavam com esta afirmação. Para Ribeyrolles, por exemplo, "Os brancos do Brasil eram "débeis", devido ao calor e à ociosidade, por tanto, ao contrário de que Martius advoga, não poderiam ser irradiadores da civilização", PP. 278, parágrafo 1°.
Lisboa verá à escravidão como sendo uma doença social e, portanto, não cabia ao imperador preocupar-se com ela, e "associada à brandura em comparação ao trabalho livre europeu", PP. 284, parágrafo 1°. "Em suma, a notória insistência para a vinda de colonos europeus não somente solucionaria o caso da mão de obra, educando e disciplinando o trabalhador. Mas em última instância também seriam eles úteis para acelerar o branqueamento da sociedade", PP. 294, parágrafo 1°.
Francisco Alambert parte de uma perspectiva cultural para representar o Brasil. É através da literatura que o Brasil cria uma visão contrária do Paraguai, criando uma representação de um sentido de nação.
Segundo Machado de Assis, "A guerra era desejo, necessidade, exercício de honra, defesa da civilização contra a barbárie", PP. 305, parágrafo 2°. E Monteiro Lobato dá vida ao "velho soldado". Este seria a última esperança de negar a Guerra do Paraguai como algo redentor para o Brasil. O seu destino nos mostrava que a barbárie, escravidão e monarquia, estavam mesmo entre nós.
Alambert afirmará que é na guerra que o Brasil coloca em plano o projeto civilizador, livrando da escravidão e da monarquia o Paraguai, mais deixando o povo brasileiro preso em ambos os fatores citados. Foi uma tentativa bem sucedida de "transferir ao outro as mazelas que nossa realidade nos impunha, o mal-estar de nossa civilização", PP. 304, parágrafo 1°.
Durante a fase de conflito com o Paraguai, o Brasil utilizou o negro como tropa de dianteira na batalha, usando-o como escudo as tropas brasileiras. Percebe-se neste ponto, que o Brasil objetivava o branqueamento de raça, e em uma oportunidade única como a guerra, nada melhor para se livrar de alguns negros.
Roberto Ventura irá argumentar sobre o processo de mestiçagem durante o fim da monarquia e o início da república.
Para Alencar, a escravidão "era um fato social necessário que só poderia ser abolido com a evolução da sociedade brasileira, pois a emancipação prematura traria ameaças à agricultura e a estabilidade da monarquia, PP. 335, parágrafo 4°.
De acordo com Joaquim Nabuco "o atraso brasileiro devia a manutenção do cativeiro, pregava a abolição imediata, sem indenização aos senhores de escravos, como forma de dar início a uma revolução social e econômica, PP. 336, parágrafo 3°.
Dirá que os letrados encaravam a "mestiçagem como uma desvantagem evolutiva e uma ameaça à civilização, por trazer riscos de degeneração ou esterilidade devido à fusão de raças díspares", PP. 332, parágrafo 1°.
Um dos pontos em comuns entre os três textos é a monarquia. Para Lisboa o Brasil foi à única monarquia num continente formado por numerosas repúblicas independentes e conseguiu manter o escravismo em um período em que predominava o trabalho livre. E salientará que a "monarquia constitucional era vista, para a grande maioria, como uma força motriz para o progresso civilizador", PP, 227, parágrafo 2°. No texto de Alembert o Brasil lutará contra o Paraguai justamente, na visão do autor, para evitar que esta nação se torne uma monarquia escravista, inviabilizando assim, a barbárie neste país. Porém o Brasil permanecia uma nação monarquista e escravista.
Outro aspecto diz respeito à escravidão e ao branqueamento. Segundo Aventura "o projeto de abolição dos escravos se ligava a um programa de apoio a emigração europeia, que recebeu subvenção dos governos imperial e provincial no final da década de 1880", PP, 334, parágrafo 1°. Alambert acrescentará que o Brasil se envergonhava de ser um país escravocrata. E para Lisboa a monarquia de D. Pedro II representava para povo brasileiro a civilidade e o progresso de o Brasil necessitava. E complementará que os "escravos não eram tidos como cidadãos e não tinham liberdade. E D. Pedro gozava de certos privilégios, e dizia que a escravidão não era problema do imperador, era uma doença social", PP. 280, parágrafo 1º.
Centralizando a ideia de nação, em todos os textos analisados, os autores tecem comentários de elementos que fortaleceram a construção desta ideia nacional. Alambert dirá que a literatura é um projeto que consolida a ideia de nação, uma vez que, busca representar um estereótipo de brasileiro, atribuindo-lhe um fator unificador. O próprio D. Pedro II cria o IHGB para dar sentido à nação que se iniciara. Alambert citará o exército brasileiro e os voluntários da pátria na guerra contra o Paraguai como o despertar de um sentimento nacional nos brasileiros. E, por último, a modernização. O Brasil não se tornava moderno devido ao fantasma da guerra com o Paraguai, que a todo momento rondava a ideologia do brasileiro.
E é através desses argumentos sobre a monarquia, escravidão, branqueamento, literatura, modernização, miscigenação, projeto civilizador e etc. que estes autores focalizaram estes aspectos, favorecendo uma nova visão mais culturalista para a história do Brasil do século XIX.

Referências Bibliográficas

LISBOA, Karen Macknow. Olhares sobre o Brasil do Século XIX. São Paulo: Ática, 2003.

ALAMBERT, Francisco. O Brasil no Espelho do Paraguai. São Paulo: Ática, 2004.

VENTURA, Roberto.Um Brasil Mestiço: Raça e Cultura na Passagem da Monarquia à República. São Paulo: Fronteira, 2001.