SODRÉ, Rylton Marcus Alves. Prof.Esp. de História. Nova Olímpia/MT.

Escreve Sérgio Buarque de Holanda (apud ALMEIDA, 2009, p.47) que "o fim da escravidão no Brasil teria representado o término de uma longa etapa de nossa história (...) mas para os africanos e seus descendentes, a luta por reconhecimento e igualdade, só estaria começando." Na comunidade Vila Picada, município de Porto Esperidião/MT., percebemos a possibilidade de tal comentário possuir teor de verdade, apoiado nas falas de dois atores sociais afro-brasileiros, durante uma entrevista para artigo científico. A priori, D.O. registrou suas experiências afirmando que o racismo ainda é uma prática presente na região do Porto Esperidião, mais precisamente na comunidade Vila Picada e Bocaiúval. Nessa última, declarou que participou de um curso para o batismo numa igreja; quando estava na fila para ser batizada, tal instituição convocou uma pessoa de cor branca que estava logo atrás, "pulando" sua vez. Declarou que na educação também já sofreu discriminação por parte de alguns docentes ao ser voluntária como cozinheira num evento escolar. Outro aspecto levantado por D.O. se refere à forma como tenta superar o preconceito: relata que "não liga", "faz de conta que não ouviu", "vira as costas e vai embora", e outras estratégias "mascaradas". Reforça que o preconceito racial não deixará de existir. A mesma consideração é afirmada por outro entrevistado, E.R.S, que ao ser discriminado, prefere ficar quieto, faz alguma gracinha e comenta que para superar as gozações, assinala que ser negro tem algumas vantagens, pois existem muitas garotas que preferem os morenos, os "pretos". Tais depoimentos revelam que, para os entrevistados, a maneira mais comum de lidar com o preconceito é através do silêncio, e essa "visão conserva o problema, pois este deixa de ser enfrentado em função da ideia de ele não existir." (Ferreira, 2002, p.72). Este aspecto também é comentado por Ferreira (1999ª, 2000, apud Ferreira, 2002, p.70). Mantém que "o preconceito contra a população negra, em função de um mito que o nega, torna-se difícil de ser compreendido e combatido (...) Sabe-se da discriminação, mas não se quer falar a respeito." Devido à discriminação identificada, construída e efetivada sobre a população negra, nota-se que a luta por melhores condições de vida e reconhecimento cultural e social é desigual. Como nos lembra Santos (2002), a concepção que temos do "ser negro" se deve a construção desse imaginário como seres estranhos, demoníacos e assustadores. Reforça que "se o branco representa a razão, o belo, o bom, a humanidade, ou seja, simboliza os valores desejáveis, o negro, por sua vez, pode representar a desrazão, a loucura, o feio, o injusto, a animalidade." Conclue que o negro pode simbolizar o estranho. No Brasil, apesar de ter sido considerado o país da "democracia racial", a realidade brasileira tem outra vertente: as desigualdades sociais são visíveis e gravíssimas, pois privilegia um grupo social em detrimento ao outro. Buscando uma forma de minimizar o racismo, atendendo a demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos nas suas infinitas e persistentes lutas, D.O. afirma que o afro-brasileiro deve aparecer e destacar mais. Reforça que deveria ter mais afros nos meios de comunicação, mas tal princípio deve orientar para o rompimento das imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação contra os negros.