A origem do termo desenvolvimento sustentável e a sua popularização procedem da década de 80, porém os seus ideais, e a sua idéia embrionária podem ser observados no século XIX, através, principalmente das correntes conservacionistas.
Logo, "a idéia embrionária do termo advém do pensamento conservacionista de Gifford Pinchot, nos Estados Unidos em pleno século XIX". (DIEGUES, 1996 apud OLIVEIRA, 2003, p. 1). Todavia, trata-se de uma corrente que de certa forma preocupa-se com o meio ambiente ? mesmo que em uma perspectiva econômica liberal ? e que produz, posteriormente, o chamado "consumo sustentável". Essa corrente pretende transformar cada consumidor individual em um conservacionista (McFETRIDGE, 1992). Segundo este pensamento, os consumidores determinam o que é produzido, e consomem o necessário acrescido do supérfluo criando todo um contexto que tem relação com a inadequação de nossos sistemas de valores (McFETRIDGE, 1992).
Os ideais conservacionistas popularizavam-se nesse mesmo período nos Estados Unidos, e em outros países, como o Canadá, e países europeus, logo, práticas conservacionistas como a construção de parques e reservas, que tinha o discurso de conservar os recursos, em outras palavras, realizar um uso sustentável, ou conservar os recursos para uma geração futura (o que são os mandamentos do desenvolvimento sustentável), se solidificavam cada vez mais. Assim nas palavras de FOLADORI:

"Ao final do século XIX e princípios do século XX, criam-se sociedades protetoras da natureza, como a Audubon Society e a Sierra Club, nos Estados Unidos. Esse pensamento ganha corpo com a criação de parques nacionais e reservas de fauna e flora nos principais países capitalistas. O parque de Yellowstone, de reserva da vida silvestre, o primeiro no mundo, é criado em 1872, e o de Yosemite, em 1885, ambos nos Estados Unidos. Em 1893, no Canadá, estabelece-se a reserva de fauna e flora no Parque de Algonquín" (2001, p. 113)

Respaldados da gênese do ideário do desenvolvimento sustentável, enfocaremos neste momento na importância do surgimento do termo em si, e de todo o contexto geopolítico anterior a década de 80. Há alguns possíveis motivos para o surgimento e para a construção do desenvolvimento sustentável, que estão ligados intimamente aos objetivos principais dessa concepção, e serão, sobretudo, reflexos da necessidade das elites dominantes dessa época.
Compartilhamos com alguns autores que afirmam que a criação do desenvolvimento sustentável é mais discurso ideológico proliferado pela classe dominante, tendo esse discurso o papel de colocar uma cortina de fumaça no debate ambiental, atribuindo uma adjetivação ao desenvolvimento (que é insustentável, principalmente no sistema capitalista), e omitindo a crítica do mesmo. No entanto, acreditamos que a criação dessa concepção contém esses objetivos e outro, talvez mais complexo, e muito importante, referente ao momento histórico do debate ambiental e a necessidade de reduzir, ou suprimir com os pensamentos antagônicos entre os países centrais e países periféricos , através de uma pseudo-solução voltada para os interesses dos primeiros.
No entanto, uma questão não pode ser esquecida, a de que o debate em torno do ambiente e da sua relação com o desenvolvimento, não era proliferado como ocorre atualmente, logo mencionaremos os debates das décadas de 1950, 1960, e 1970, com a consciência dos seus alcances limitados, e sendo basicamente, plataforma de discursos estratégicos não muito diferentes do que se visualiza atualmente.
Então, realizaremos um breve panorama dos debates ambientais, a partir da segunda metade do século XX, que, sobretudo, foram as premissas para a emersão da concepção de desenvolvimento sustentável, com o fito de abordar e analisar a trajetória dos debates em torno da relação desenvolvimento-ambiente que elucidarão as divergentes visões acerca da idéia de desenvolvimento. Faz se mister advertir que há um retrocesso nas discussões ambientais, principalmente nesses debates em torno do desenvolvimento, e sua relação com o ambiente, que passa de uma perspectiva crítica na década de 50/60/70, com a crítica a própria idéia de desenvolvimento, contrapondo a visão dominante que promulgava o "culto" ao desenvolvimento, (que seria uma solução para vários problemas sociais e econômicos), e paulatinamente esvazia-se na concepção de desenvolvimento sustentável. Elucidando toda essa atmosfera antagônica de linha de pensamento, de diferentes visões, e de diferentes interesses C.W.P. Gonçalves aponta que:

"Os anos 1950/60 comportam essa ambigüidade com relação á idéia de desenvolvimentismo, cujos efeitos se sentirão no novo período do processo de globalização que se seguirá. É que naqueles anos se questiona o desenvolvimento lá mesmo onde ele parecia ter dado certo - isto é, na Europa e nos Estados Unidos -, no momento em que essa idéia estará sendo recuperada na América Latina, na África e na Ásia, quando ganha corpo a teoria do subdesenvolvimento (Yves Lacoste, Celso Furtado). Desse modo, o desenvolvimentismo se difunda no Terceiro Mundo ao mesmo tempo em que o desenvolvimentismo era questionado no Primeiro" (GONÇALVES, 2004, p. 25).

A afirmação de Gonçalves contempla, por exemplo, a realidade do Brasil dessa época, no caso um país de "Terceiro Mundo", que encontrava no governo J.K. toda a proposta e toda a idéia de desenvolvimentismo relatada pelo autor, e correspondente a outros países de "Terceiro Mundo".
Na década de 70 esse antagonismo acerca da problemática do desenvolvimento continua, e talvez aumente por estar mais claro os interesses das duas visões. Podemos perceber essa clareza e esse antagonismo em dois eventos importantíssimos, que ocorreram quase paralelamente, que são: O Clube de Roma com a confecção do relatório "Limites do Crescimento" (1971), e a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo (1972).Acerca do Clube de Roma e seus resultados encontramos nas palavras de L.D. Oliveira a importância desse evento:

"Um estudo muito importante por marcar este definitivo enlace entre o pensamento burguês e a ?salvação da natureza? é o ?Limites do Crescimento? (1971), onde um grupo de trinta pessoas de dez países, entre cientistas, educadores, economistas e industriais, reuniram-se em Roma para estudar os ?problemas da humanidade? e suas ?conseqüências para o futuro? " (2001 p. 15).

Esse relatório revelava um futuro pessimista, com a escassez em alguns anos de muitos recursos fundamentais para a vitalidade do capitalismo. Esse tom apocalíptico se atrelou lançamento de concepções neomalthusianas, (que está presente também na concepção de desenvolvimento sustentável), que têm por objetivo fazer uma relação entre população e degradação ambiental (como já abordado), logo, os países periféricos, tratados neste momento como países de Terceiro Mundo, seriam os mais responsáveis pela degradação ambiental (principalmente a numerosa população pobre desses países). No ventre dessa discussão também surge a idéia de "crescimento zero", proclamada pelas elites centrais com o fito de congelar o crescimento econômico dos países periféricos, tendo em vista a "saúde do planeta".
O economista Celso Furtado, que inclusive já foi mencionado como um dos críticos do desenvolvimentismo, escreve parte do livro "O mito do desenvolvimento" dentro dessa atmosfera ideológica (em 1974), e discorda, profundamente, dos interesses de "solucionar a crise ambiental" do Clube de Roma e principalmente do relatório "Limites do Crescimento", e comenta tanto nesse livro quanto no livro "Os ares do mundo", que faz um relato sobre as experiências do autor nesse período (publicado em 1991).

"Logo percebi que esse era um raciocínio falacioso, pois a dinâmica da economia mundial opera no sentido de concentrar a renda, excluindo dos benefícios do desenvolvimento a grande maioria da humanidade. Para ir ao fundo desse problema, faz-se necessário captar a natureza do subdesenvolvimento, o fenômeno da dependência tecnológica e o do mimetismo cultural que esse engendra. E não se pode escapar da conclusão de que o desenvolvimento, concebido como a reprodução das formas de vida dos atuais países ricos, tem limites evidentes, não é mais do que uma miragem" (FURTADO, 1991, p. 193).

Na Conferência de Estocolmo a ambigüidade com relação à idéia de desenvolvimento permanece, e os debates entre desenvolvimento e ambiente tornam-se acirrados. Foram propostas várias políticas com o suposto objetivo de amenizar a degradação do ambiente, foi criado também o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o PNUMA, ou seja, deu-se um caráter global, como o Clube de Roma, aos problemas ambientais. Entrementes, pouco sucesso se obteve em relação às ações efetivas, pois novamente deu-se mais importância aos interesses e aos discursos das elites capitalistas dos países centrais, que encontraram uma oposição para os seus discursos. Lemos em Evaso que:

"De modo geral, duas foram as teses discutidas durante o evento: de um lado os zeristas, representados pelos países desenvolvidos, que defendiam a contenção do crescimento econômico frente à provável esgotabilidade dos recursos naturais que o ritmo de exploração da natureza poderia causar, isto é, propunham o crescimento zero para os países dependentes, congelando-os no estágio em que se encontravam; de outro, os desenvolvimentistas, cujos adeptos eram em sua maioria países do chamado Terceiro Mundo, reivindicando o desenvolvimento, mesmo que este trouxesse consigo a poluição." (EVASO, 1992 apud OLIVEIRA, 2001, p. 23-24)

ECODESENVOLVIMENTO: A TENTATIVA DE UNIR OS PENSAMENTOS OPOSTOS ATRAVÉS DE UMA PSEUDO-SOLUÇÃO

O Ecodesenvolvimento foi uma tentativa de unir os pensamentos antagônicos dos "países centrais" e "periféricos", através de um discurso único, uma pseudo-solução, que beneficiaria apenas a classe dominante dos países centrais. Segundo Jacob Binsztok, que analisa o ecodesenvolvimento, esse pensamento, ou como o autor denomina escola ou vertente ecodesenvolvimentista, é derivada do Clube de Roma, assim:

"Em 1973, Maurice Strong, do programa ?O Homem e a Biosfera da Unesco, elaborou o conceito do ecodesenvolvimento, que recebeu tratamento cientifico de I. Sachs (1980), incorporando o esgotamento dos recursos naturais na avaliação do comportamento do consumidor". (BINSZTOK, 2006, p. 326)

Todavia, o Ecodesenvolvimento, como a própria iniciativa do termo sugere, não critica o desenvolvimento, apenas deseja dar uma via verde, logo uma via ilusória, como se o desenvolvimento pudesse ser "ecologicamente sustentável", além de socialmente, culturalmente, etc. (como propõe Sachs, um dos proponentes do termo Ecodesenvolvimento). Assim dentro da própria concepção ecodesenvolvimentista encontramos verdadeiros hiatos no que diz respeito ao conteúdo, além de muito esvaziamento teórico, que acreditamos existentes pela sua própria intenção e pelo seu caráter estratégico, de não querer mudar a ordem dominante.
Jacob Binsztok, ainda apresenta as "cinco sustentabilidades" proferidas por Sachs, que seriam: a sustentabilidade social, a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade espacial e a sustentabilidade cultural. Dentro dessas sustentabilidades algumas idéias são bases, como o objetivo de procurar um outro tipo de crescimento, e que esse crescimento atenda as necessidades materiais e não-materiais da massa da população, o que são alternativas e propostas inócuas, pois esse "outro tipo de crescimento", indefinido, e abstrato estrategicamente, tem o objetivo de omitir o padrão de desenvolvimento das elites capitalistas, e sua relação de desapreço com o ambiente, e, ainda, almejar atender as necessidades da população é algo no mínimo inviável, pois entendemos que as necessidades são subjetivas e múltiplas. E, ainda, nas palavras de Galbraith, que aborda a questão das necessidades e das escolhas do consumidor, observamos que essas escolhas individuais estão baseadas em gostos e preferências manipuladas, não inata.(GALBRAITH, 1958 apud McFETRIDGE, 1992)
Além dessas limitações, o ecodesenvolvimento fracassou no seu objetivo de ser uma pseudo-solução unânime, tanto que o próprio termo ecodesenvolvimento é praticamente esquecido dentro da concepção de desenvolvimento sustentável e as vezes criticado. Segundo Binsztok:

"O geógrafo Sahr (1988) realizando um estudo sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, mostrou-se cético em relação as possibilidades de implementação do projeto de Sachs. A crítica feita pelo pesquisador alemão aponta para a presença de determinados princípios românticos e religiosos encontrados no discursos de um dos mais importantes ideólogos do ecodesenvolvimento". (2006, p.328)

Ignacy Sachs, compreendendo que o Ecodesenvolvimento é uma espécie de matriz direta e indelével do Desenvolvimento Sustentável, "rende-se" à esta última concepção, e passa a utilizar este termo em detrimento do primeiro. No Brasil, há uma compilação que reúne breves artigos seus, e possui como título sugestivo "Caminhos para o desenvolvimento sustentável", de 2002.
Logo, percebemos que a tentativa de unir os pensamentos antagônicos de países centrais e periféricos, através do ecodesenvolvimento, não vingou, trazendo novos problemas aos países centrais que continuavam a ser contestados pelos países periféricos, alem de não terem um discurso integrador que os favorecessem.
Em 1982, no encontro da AGB (Associação de Geógrafos Brasileiros), por exemplo, WETTSTEIN exprime toda a contestação existente nos países periféricos, onde continuavam a levantar a bandeira do desenvolvimento, enquanto o discurso ideológico dos países centrais continuava nessa década, como uma fórmula hipócrita de congelamento econômico. Isto tensiona a própria idéia de crise ecológica, relembrando o Clube de Roma e a Conferência de Estocolmo:

"Principalmente nos últimos dez anos, viemos suportando um insistente bombardeio ideológico sobre a inviabilidade do planeta Terra. Asseguram-nos que os solos se esgotam de modo inexorável, que a vegetação natural desaparece, as águas correntes se poluem, as fossas marinhas se convertem em lixeiras etc.(...) Não posso aceitar o esgotamento do solo, quando a metade da superfície cultivável no planeta ainda está intacta e não cultivada; é exagerada a preocupação com riachos e vales que secam etc.(...) Para quem vive no capitalismo subdesenvolvido, a mensagem catastrófica é muito clara: o mundo está em perigo, todos somos responsáveis" (WETTSTEIN, 1982, p.126-128)

Em 1987, como já dito, populariza-se a concepção de desenvolvimento sustentável, e a partir do Relatório Brundtland e da ECO-92, os ideais do desenvolvimento sustentável ? a ideologia de que todos estamos no mesmo barco, inclusive lembrada por SOUZA (2005) ?, e outros discursos que acompanham a concepção de desenvolvimento sustentável, incorporaram-se ao dos países periféricos de uma tal forma, que praticamente aniquilou-se os antagonismos de visões vigentes desde a década de 50/60. SENE e MOREIRA, em obra de cunho didático voltado para o Ensino Médio, ainda destacam que vários ambientalistas relutaram em adotar o termo desenvolvimento sustentável, preferindo as idéias de sociedades sustentáveis, pelo fator ideológico implícito no desenvolvimento (SENE; MOREIRA, 1998). Por conseguinte, muitas das idéias de sociedades sustentáveis possuem o mesmo caráter ideológico do desenvolvimento sustentável, inclusive tendo muitos problemas semelhantes no que se refere a viabilidade prática, e a amplitude do enfoque.
É importante entender neste momento quais as causas dessa transformação no debate ambiental, com o fim ou a aparente redução dos antagonismos de visões, que culminaram no predomínio intelectual, no que se refere à análise da relação desenvolvimento-ambiente, da concepção de desenvolvimento sustentável, ou seja, as idéias dos países centrais se sobrepuseram às idéias dos países periféricos. No entanto, podemos salientar que a meta de muitos governos de países periféricos foi alterada, principalmente pelas políticas neoliberais, e inclusive muitas das elites desses países beneficiaram-se, posteriormente, na reprodução e proliferação dos ideais do desenvolvimento sustentável.
O geógrafo Marcelo Lopes de Souza ressalta essa mudança estrutural que ocorreu em muitos países periféricos, e também nos países centrais, que se misturaram no bojo da transformação provocada pelo desenvolvimento sustentável, e de certa forma, na nossa visão, essa citação explica parcialmente o não-sucesso do ecodesenvolvimento e o sucesso do desenvolvimento sustentável, tendo como reflexo o momento histórico.

"No entanto, ao contrário da conjuntura política e ideológica em que floresceu o ?ecodesenvolvimento?, nos anos 70, conjuntura essa marcada pelos ecos de revoltas estudantis de fins da década de 60, pelo clamor terceiro-mundista por uma ?nova ordem econômica mundial? e pelo prestígio acadêmico do pensamento de esquerda (?Teoria da Dependência?, ?marxismo ocidental? etc), a conjuntura vigente a partir dos anos 80 é bem outra: thatcherismo, reaganomics e seus rebentos mais moderados, ataque ao welfare state, enfraquecimento político do ?Terceiro Mundo". (SOUZA, 2005, p. 259)

Portanto, podemos concluir que para a redução ou supressão dos antagonismos vigentes foi fundamental o surgimento e a popularização do desenvolvimento sustentável, que teve como pano de fundo toda essa nova atmosfera geopolítica. No entanto, é assaz importante abordar que essa visão de desenvolvimento sustentável não surgiu para ser uma via intermediária entre o pensamento dos países centrais e periféricos, e ainda, que não ocorreu um equilíbrio entre os antagonismos, e sim, um predomínio da visão dos países centrais revertido com um falso teor ou viés ambiental. Uma grande prova da ligação do desenvolvimento sustentável com o pensamento dos países centrais é através da análise do próprio Relatório Brundtland, documento símbolo da popularização do desenvolvimento sustentável, onde as concepções neomalthusianas, então proclamadas pelos países centrais, aparecem de forma bem clara.
Outro ponto a ser destacado, é a causa da própria popularização do desenvolvimento sustentável, ou os principais motivos, pois se essa concepção se popularizou e transformou toda a relação dos antagonismos de pensamento, e mais tarde transformará o debate no livro de geografia, há, então, alguns motivos para isso. Esses motivos estão bem claro nas palavras de J.E.da Veiga e de M.L. de Souza, que mostram a ambição do desenvolvimento sustentável de ser uma concepção que pretende ser unânime e obter um consenso. Assim, encontramos primeiramente nas palavras de Veiga: "Será que alguém poderia ser contra o ?desenvolvimento sustentável?? Basta fazer esta pergunta para que se perceba que a noção já desfruta de uma unanimidade" (VEIGA, 1991, p.3).
Ninguém, supostamente seria contra aos ideais do desenvolvimento sustentável, pela grande propaganda que é produzida vendendo uma imagem, que por sinal, não pertence aos reais objetivos do desenvolvimento sustentável. Assim, poderíamos questionar da mesma forma que o autor: "quem não preservaria o meio ambiente?" "Ou quem não se preocuparia em conservar os recursos para uma geração futura?" Ou ainda, "quem não desejaria um desenvolvimento econômico para todos, com uma sustentabilidade ambiental?" O desenvolvimento sustentável ainda nasce em um contexto de crise ambiental ? ou de problemas ambientais em diversas escalas com grave intensidade ? e tem a aparência de ser uma panacéia, pois carrega consigo argumentos persuasivos e idéias sedutoras, que aumentam o apelo para a aceitação da idéia.
Seria fácil concordar com a proposta de um desenvolvimento sustentável nessa ótica, porém quem se arrisca a analisar os pormenores dessa concepção, como é o caso de Veiga, que por sinal escreve em 1991 (dentro desse apelo pela aceitação do desenvolvimento sustentável), percebe que não há uma ligação profícua entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, e que não se pode adjetivar um desenvolvimento historicamente insustentável, e ainda, que essa concepção apresenta um ideário insustentável, incapaz de atender todas as suas propostas, e ao mesmo tempo apresenta estratégias surreais, como a de atender as necessidades da geração futura sem se perguntar: "o que são necessidades?" (só relembrarmos as palavras de Galbraith), e "quais as necessidades da geração futura ?" (o que é uma tarefa da adivinhação, caso fosse possível).
O outro ponto relevado, agora por M. L. de Souza, é que essa concepção produz esse discurso vazio para atender aos diferentes "públicos", e para assim ser um consenso entre os diversos segmentos da sociedade.

"Acostumados a obterem publicidade graças à sua capacidade de fazerem lembretes éticos de alcance geral, os sustentabilistas tocam em assuntos delicados de uma maneira suficientemente vazia para que seu discurso tenha a chance de ser aceito simultaneamente por governos, ONGs e cientistas tanto do ?Norte? quanto do ?Sul?. Trata-se, assim, de um discurso que se presta magistralmente a uma espécie de hipocrisia coletiva, em que todos, com os semblantes devidamente adornados com expressões graves de admoestação a respeito das ameaças ecológicas que pairam sobre o planeta, parecem pôr-se de acordo em torno de questões fundamentais, mas sem que, por falta de operacionalidade, avanços práticos verdadeiramente dignos de nota sejam empreendidos, e sem que a maioria dos participantes, por falta de clareza (o que é parte da lógica do ambiente que gera o discurso), consiga mobilizar mais que lamentos estereotipados ...."(SOUZA 2005 p.262 e 263)

Destarte, para reforçar todo esse papel do desenvolvimento sustentável encontramos, novamente em Veiga, uma posição semelhante a Marcelo Lopes de Souza, insinuando que:

"Acontece que estão justamente nas fraquezas, imprecisões e ambivalências da noção de sustentabilidade as razões de sua força de aceitação quase total. Essa noção só conseguiu se tornar quase universalmente aceita porque reuniu sob si posições teóricas e políticas contraditórias e até mesmo opostas" (VEIGA, 2006, p. 86)

A partir de todo o consenso, a ideologia da sustentabilidade proliferou por todo mundo, sendo reproduzida por diversos setores da sociedade surgindo assim os inúmeros ecologistas (ou os falsos ecologistas) que apropriam-se do discurso ecológico para interesses individuais (muitas vezes econômicos e políticos), sendo assim verificado nas palavras de Kurt KLOETZEL. Este, por sinal, aponta que os movimentos ecológicos devem se livrar da multidão de caronas que gravitam à sua volta: empresários buscando promoção para seus produtos ecocompatíveis , políticos em busca de um discurso ecossimpático etc. (KLOETZEL, 1994).


Bibliografia:
RAMAO, F. de S. A GEOPOLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS TRANSFORMAÇÕES NO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA. Ferlagos, RJ, 2008.