Resumo

O tema principal desse artigo é "A comunicação e as marcas da sociabilidade contemporânea", pretende-se discutir como e de que modo os meios de comunicação interferem na sociedade moderna. Tendo como ênfase principal a mídia televisiva.

No decorrer do artigo mostraremos que a sociedade atual se constituiu à medida em que houve o desenvolvimento dos meios de comunicação, visto que para alguns autores esse desenvolvimento criou novas formas de interação e ação e novos tipos de relacionamentos sociais diferentemente do que prevalecia até o momento, com isso se estabelece uma conectividade entre eles desde o principio. A análise desse processo será feita com base em alguns teóricos como Manuel Castells, Thompson, Dênis de Moraes, entre outros.

A COMUNICAÇÃO E AS MARCAS DA SOCIABILIDADE CONTEMPORÂNEA

A sociedade contemporânea desde o principio tem suas raízes ligadas aos meios de comunicação, visto que, como afirma Thompson (1995, p.12), "o desenvolvimento dos meios de comunicação - desde as mais remotas formas de impressão até os mais recentes tipos de comunicação eletrônica - foi parte integral do surgimento das sociedades modernas".

Destaca-se nesse artigo principalmente a influência da televisão, "mídia de massa ou grande mídia" como afirma Castells (2003, p.356),que é símbolo de diversão, prazer e entretenimento da massa, e que por ser de fácil comunicabilidade atinge os diversos públicos de uma maneira global.

Essa conectividade inicial proporcionou o surgimento do capitalismo informacional hoje vigente. Para Castells (1998, p.459):

"As novas tecnologias de informação desempenharam um papel decisivo ao facilitar o aparecimento desse capitalismo flexível e rejuvenescido, proporcionando ferramentas para a formação de redes, a comunicação à distancia, o armazenamento/ processamento de informação, a individualização coordenada do trabalho e o concentrar e descentralizar simultâneos dos processos decisórios."

Essas tecnologias possibilitaram a ligação entre redes de capital, redes de informação e mercados à pessoas e locais em todo o mundo, onde ao mesmo tempo em que atribuíam a esses valor, alienavam as populações e territórios que não tinham interesses próprios para aderirem ao capitalismo global. Dessa forma possibilitou-se reunir todo o globo em uma base econômica comum estabelecida pela produtividade, na inovação e pela competitividade.

A sociedade moderna passou, a partir disso, a ter a instalação de uma ordem global que permitiu se ter acesso a todo tipo de informação de e em qualquer parte do planeta. O desenvolvimento conjunto dessas tecnologias e da mídia possibilitou a circulação dos produtos em uma arena internacional, onde um material produzido em um país é distribuído no mercado global (Thompson, 1995, p.146).

Com isso nessa sociedade não só é valorizado o instante na medida em que a velocidade dos meios de transporte e de comunicação nos dá a sensação de que o planeta encolhe, de que estamos "inseridos na idade do imediatismo e do instantâneo"(AUGÉ, apud MORAES, 2006, p.105).

Como também se valoriza o lucro pelo consumo desmedido da novidade enfatizado constantemente pela mídia, que segundo Dênis de Moraes (2006), regula "a relação entre desejo, necessidade e satisfação, removendo-se aquilo que retarde o ímpeto de consumir ou protele a extinção dos impulsos". (p.36)

Esse novo capitalismo utiliza-se da mídia para expandir seus ideais de lucro e consumo exacerbado. Essa nesse processo carrega, então, uma dupla função a de ser empresa, ou seja, gerar capital e de ser preposto ideológico desse capitalismo, que seria manipular idéias difundidas por ela, criando uma realidade manipulada.

O desenvolvimento dessa mídia fez também com que os indivíduos pudessem experimentar novos eventos, observar e em geral conhecer o mundo além de sua própria vivencia diária. (Thompson, 1995, p.159) Sendo de real importância para a sociedade, que não tem acesso a todo tipo de tecnologia.

Sodré (apud MORAES, 2006) acrescenta, a isso também, que essa midiatização pode ser caracterizada como um "novo bios", ou seja, um novo modelo de vida onde a mídia é estruturadora de percepções e cognições e funciona como uma agenda coletiva que organiza os assuntos levados aos receptores ela, portanto não estabelece somente regras, mas influência principalmente o emocional e sensorial da sociedade. (p. 22) Esse novo bios seria a própria influência que a mídia exerce sobre a população, ela pauta os assuntos de uma maneira a ser fixado na sociedade.

Através dessas premissas pode-se afirmar que a mídia em seus discursos define como se deve agir, vestir e se portar para estar inserido nessa sociedade. Ela então atualiza gostos, vontades e desejos, com isso produz, especula e comercializa o desejo do consumidor, ou seja, ela produz o que o consumidor quer consumir para isso ela primeiro afirma esse desejo nele e depois comercializa o que o mesmo deseja, dessa forma gera o lucro necessário para mover o capitalismo global. É um meio, então, de fácil acesso aos consumidores, esses que muitas vezes se tornam passivo a ela.

Vale acrescentar também que os meios de comunicação produzem os espetáculos esses que, como afirma Kellner (apud MORAES,2006, p. 122),"envolve os meios e instrumentos que incorporam os valores básicos da sociedade contemporânea e servem para doutrinar o estilo de vida dos indivíduos".

Dessa forma, os espetáculos midiáticos celebram valores da sociedade como competição e sucesso em megaeventos, como Olimpíadas e Copas do mundo, esses que servem para entreter a massa, e que são necessariamente carregados de publicidade e investimentos que reafirmam a vontade do consumo da população, novamente fixado através da mídia.

Pode-se então afirmar que a sociedade é regida por uma lógica da informação, transmitida e difundida através dos meios de comunicação, essa que se concentra cada vez mais em algumas mãos que controlam um numero maciços de pessoa, impondo um modo de vida e constituindo consumidores passivos (Galeano, apud MORAES, 2006, p.120). Com isso reafirma-se a posição da mídia que é controlada por interesse da elite, um número pequeno se comparado à sociedade de espectadores da mesma.

Destaca-se então a influência da mídia televisiva, essa que por sua vez foi tão disseminada a ponto de ser conhecida de toda a humanidade.

Sua interação, como afirma Manuel Castells (2003)se dá a todo o momento "combinada com o desempenho de tarefas domesticas, refeições familiares e interação social" (p. 358), tornando-se assim um ambiente que se interage constantemente e automaticamente.

A TV possui, então, o poder de comunicar tudo o que se quer à população, possui caráter monológico, ou seja, seu fluxo de informação tem sentido único. Dessa forma, a sociedade tem a visão de que tudo o que está contido na tela passa a ser verdade, para aqueles que não possuem outros referenciais informativos ou repulsórios que lhes permitam fazer uma leitura critica do meio. Com isso, a visão para eles passa a ser legitimadora dos acontecimentos por ela mostrados, sem ter questionamentos ou verificações. (Gómez, apud MORAES, 2006, p.96) Tudo que está na TV para eles é verdade, então quem está inserido nela é tido como bom e é reconhecido, por isso inúmeros políticos utilizam-se dela para seus discursos nem sempre verdadeiros fazendo com que a massa acredite em suas promessas.

Para a maioria da sociedade então a televisão é o meio pelo qual se tem acesso às informações em geral. Como forma de entretenimento, ela preenche um vazio social e é então utilizada como fuga para as dificuldades cotidianas, esses vêem na TV uma forma de diversão e prazer, que praticamente não existe em sua realidade.

Com isso pode-se afirmar também que a televisão molda os costumes de uma sociedade. É por meio dela que são levados à sociedade os espetáculos políticos como eleições, entretenimentos como Oscar e reality shows, abriga também programas de noticiários exclusivos ou eventos especiais, é por meio dela que a maioria tem acesso às informações necessárias para estar atualizado no dia-a-dia.

Com isso, a visibilidade tornou-se um ponto de extrema importância para aqueles que estão inseridos na mídia, como já foi dito acima. Thompson (1995), afirma que os lideres políticos, antes do desenvolvimento da televisão, eram "invisíveis para a maioria das pessoas que eles governavam", (p. 109), essas só tinham acesso à esses por meio de debates em praça publica ou meios escritos. A partir desse desenvolvimento, ele acrescenta, "a aparência visual dos lideres político – modo de se vestir, de se apresentar, de se portar, etc. - torna-se um aspecto importante de sua auto-apresentação diante das audiências". Acrescenta que com isso, que "a administração da visibilidade através da mídia é um aspecto inevitável da política moderna". (p. 123-124) Acredita-se que a TV também é o principal meio para conquistar votos.

Com isso na sociedade atual a mídia é um meio pelo qual a sociedade tem acesso aos acontecimentos políticos, é através dela que há a liberdade de saber sobre golpes, eleições, instituições de leis, sobre os próprios políticos onde se tem acesso aos seus feitos. Pode-se destacar também que as pessoas sentem certo grau de familiaridade com as pessoas que estão na mídia, na televisão, por isso é imprescindível estar sempre inserido e bem visível nela.

É por meio dela, para muitos, que se tem acesso às informações, calamidades, escândalos, etc., ou seja, tudo que acontece na modernidade. É a mídia, como acrescenta Thompson (1995), que ajuda "os indivíduos a tomarem distancia, a imaginar alternativas, a questionar suas praticas tradicionais" (p.157). Ou seja, ajuda a ter bases para construir opiniões, mesmo que sejam manipuladas por elas.

Assim a vivência com a TV torna-se cenário de varias vivencias e experiências, embora vicárias e virtuais, mas que se tornam lições para a vida. (Gómez, apud MORAES, 2006, p.96).

Kellner (apud MORAES, 2006) completa "que desde sua estréia em 1940, a TV tem promovido os espetáculos do consumo, vendendo carros, modas, utensílios para o lar e outras mercadorias acompanhados de valores e estilos de vida". (p. 130) É a partir do que se tem acesso nela que se constituem ações, pensamentos, modos de se vestir, pois para estar inserido na sociedade é preciso sempre estar atualizado, uma coisa também "imposta" por ela.

A partir disso, Arlindo machado (2000), acrescenta que "a mais baixa audiência da televisão é, ainda assim, uma audiência de várias centenas de milhares de telespectadores, e, portanto, muito superior à mais massiva audiência de qualquer outro meio, equivalente à performance comercial de um best seller na área da literatura". (p.30)

Portanto pode-se dizer a partir dessa afirmação que a TV é a mídia de maior abrangência, e que por isso pode se afirmar também que ela é o meio que mais informa a população ela, portanto molda opiniões, é palco de espetáculos, induz o consumo, etc. É por meio dela que a maioria tem acesso às informações do cotidiano, como política, moda, entretenimento, produtos, entre outros.

Com a instalação da TV digital no Brasil, (primeiras transmissões foram em 2007 nas metrópoles de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro), pode contrapor em certo aspecto essa afirmativa acima, visto que essa nova modelagem da TV possibilitará que a informação não seja mais imposta pelas redes e sim será escolhida pelos usuários. Com isso o telespectador, não seria mais passivo, em certo aspecto, ele poderia escolher o que quer assistir sendo uma forma talvez não ideal de controle dessa manipulação sofrida pela televisão. Mas outra hipótese pode ser discutida é que essa TV também continuará a ser um meio de diversão e entretenimento da população visto que ela possibilitará interagir com o televisor, fazer compras, votar em pesquisas, ou seja, participar mais integralmente, mas isso é assunto para uma próxima discussão.

Conclusão

A partir de tudo isso que foi apresentado e discutido por todos esses autores conclui-se que a televisão por ser meio de comunicação mais popular do país, de uma maneira geral acaba por influenciar e interferir no modo de viver da sociedade, mesmo que seja apenas no seu modo de vestir.

É por meio dela que se tem de uma maneira mais fácil e geral o acesso às novidades, à informação, entretenimento, política, entre outros. Quem não tem acesso a outro tipo de mídia ela se torna o meio pelo qual a sociedade se atualiza e tem referencias.

A mídia dita regras e costumes da sociedade, essa como afirma Dênis de Moraes (2006, p. 33), "dá indícios de não sobreviver sem as máquinas que atualizam a existência em frações de segundos".

Bibliografia

THOMPSON, John B. A Mídia e a Modernidade. 5° edição. Petrópolis: Vozes, 1995.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e terra S/A, 2003.

CASTELLS, Manuel. O fim do milênio. Lisboa: fundação calouste gulbenkian, 1998.

KELLNER, Douglas. Cultura da mídia e triunfo do espetáculo. In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

SODRÉ, Muniz. Eticidade, campo comunicacional e midiatização. In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

AUGÉ, Marc. Sobremodernidade: do mundo tecnológico de hoje ao desafio essencial do amanhã. In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

GALEANO, Eduardo. A caminho de uma sociedade da incomunicação? In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

GÓMEZ, Guillermo Orozco. Comunicação social e mudança tecnológica: um cenário de múltiplos desordenamentos. In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. 3° edição. São Paulo: Senac São Paulo,2000.

MORAES, Dênis de. (org) A tirania fugaz: mercantilização cultural e saturação midiática. In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006