Autora: Kelly Porto Ribeiro, Radialista graduada em Comunicação Social com ênfase em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo.

 

 

 

 

 

A COMPOSIÇÃO DA RETÓRICA IMAGÉTICA

 

 

 

 

 

 

Introdução

 

 

 

Em A Retórica da Imagem, parte integrante do livro O óbvio e o Obtuso: Ensaios Críticos III, Roland Barthes explica a relação interdependente entre denotação e conotação. Esta análise é feita para que possamos assim decifrar a retórica imagética, isto é, a arte de expressar uma imagem de forma eficaz, transmitindo ao espectador seu verdadeiro sentido. Este estudo tem como base, portanto, o texto de Barthes e suas definições.

 

 

 

 

 

Desenvolvimento

 

 

 

A origem da palavra imagem está ligada a imitari, segundo uma etimologia. Assim, a dúvida presente na semiologia das imagens é se a representação é capaz de produzir sistemas de signos verdadeiros ou não. Há quem diga que a imagem é algo precário, se comparado à língua; outros acreditam que a os diversos significados nunca esgotarão sua riqueza indizível.

 

Nas propagandas a significação da imagem é sempre intencional. Logo de início é revelada uma mensagem linguística e outra icônica. São apresentados signos descontínuos, carregados de valores referindo-se a significados globais que geralmente exigem um conhecimento cultural específico para serem interpretados.

 

A fotografia nos expõe a três tipos de mensagem: a linguística, a icônica não codificada e a icônica codificada. Analisando-se estes três tipos distintos construímos uma descrição estrutural da imagem, que pode promover um esclarecimento de seu papel na sociedade. É fundamental para este estudo que haja, portanto, a separação e a descrição de cada categoria de imagem.

 

A imagem icônica não codificada é literal, livre de conotação e considerada como imagem denotada. É orgânica, mecânica, sendo que para fazer sua leitura é necessário apenas a percepção natural e o conhecimento de elementos antropológicos.

 

A imagem icônica codificada é a simbólica, impregnada de códigos culturais e ideológicos, ou seja, a imagem conotada. Para uma análise completa, devemos atentar para todos os elementos que a compõe, como estética, contexto histórico e cultural; enfim, para a composição, como um todo.

 

Naturalmente, percebemos a imagem icônica codificada concomitantemente com a não codificada, o que não possibilita uma distinção momentânea. Podemos dizer que a imagem literal e denotada serve como suporte à simbólica e conotada.

 

Para definirmos a mensagem linguística basta conhecermos a língua. Hoje, praticamente todas as imagens possuem uma mensagem linguística, pois a interação entre texto e imagem é muito comum. Este tipo de mensagem, em relação à icônica, tem a função de fixar os diversos significados, orientando na interpretação de mensagens simbólicas e influenciando o indivíduo que vê a assimilar determinados significados e se afastar de outros. Logo, o texto pode controlar a imagem através dessa fixação, que se encontra frequentemente na publicidade e na fotografia jornalística.

 

Outra função da mensagem linguística é a de relais, muito presente em charges e histórias em quadrinhos, em que a imagem e a palavra complementam-se: As palavras e imagens são parte de um sintagma mais geral e o significado da mensagem é produzido em uma direção mais avançada, da diegese. Sendo assim, com a união de ambas as partes forma-se a unidade de sentido.

 

No cinema, essa relação entre linguística e imagem é importante, pois o diálogo não só explica, como também dá sequência à ação e apresenta os sentidos não explícitos na imagem.

 

Já a fotografia, em seu estado literal, parece não possuir nenhum tipo de código, porém, consegue transmitir a informação fiel sem ajuda de signos. Não tem o poder de interferir no objeto, tendo um caráter de registro. Possui desta forma, uma denotação maior que o desenho, cuja representação possui traços e características próprias de seu criador.

 

A fotografia também nos permite ter acesso a uma nova categoria na noção de espaço-tempo, em que há uma junção entre o aqui e o antigamente, sugerindo a ideia de irrealidade real. No cinema a relação muda de ter estado aqui (da fotografia) para estar aqui, por isso a imersão é muito maior quando a imagem está em movimento.

 

Uma imagem pode ser lida e interpretada de vários modos diferentes, dependendo do conhecimento do indivíduo. Entretanto, essa variedade de interpretações não pode ameaçar a essência da imagem. Analisando-se a conotação, percebemos que nenhuma linguagem analítica particular corresponde à particularidade de seus significados, estes têm natureza semântica própria.

 

Os conotadores correspondem a uma ideologia geral e esta possui como face significante a retórica. O mais importante na retórica da imagem é entender que os conotadores constituem os traços descontínuos na imagem total, sendo que sua leitura não esgota a lexia, e nem todos desta lexia podem se transformar em conotadores. Isto nos leva à imagem denotada e nos permite distingui-la da imagem simbólica.

 

Concluímos então que há uma síntese paradigmática ao nível da conotação e uma moldagem sintagmática ao nível da denotação. No mundo do sentido então, ocorre uma categorização entre sistema como cultura e sintagma como natureza.