O universo ficcional da arte popular enseja um repertório de artifícios voltados a um diálogo efetivo com o público, a fim de cumprir seu papel de entretenimento, ao mesmo tempo em que  reflete o homem no homem, um espelho polissêmico em que múltiplas vozes são representativas de uma sociedade heterogênea e capaz de surpreender-se a si mesma. O teatro como eficiente meio de expressar um discurso capaz de  processar a decodificação de vários sentidos reveste-se de estratégias engendradas para cumprir seu papel de partícipe da vida social, revelando facetas subjetivas e repletas de mensagens. A feição farsesca, crítica e doutrinária de Ariano Suassuna em Auto da Compadecida com pincéis modernistas recria o mesmo discurso da Idade Média, quando o Humanismo de Gil Vicente empenhava-se em passar em revista a sociedade de seu tempo, a fim de advertir sobre pecados que a privariam da salvação eterna. Este ensaio busca indícios desse cruzamento de superfícies textuais, consideradas as distâncias cronológicas, sociais e estilísticas.

 

Palavras-chave: teatro popular, movimento armorial, catequese.