DAIANE PEREIRA DA SILVA SOUZA

A coesão e a coerência são elementos fundamentais para que um texto fique bem articulado entre as partes e tenha um sentido amplo. Um falante possui a competência textual de identificar a coerência de um texto e de escrever outro texto utilizando os meios gramaticais. O texto produzido pode ser falado ou escrito constituído de significado contextual, caracterizado por contexto, intencionalidade, informatividade, intertextualidade, aceitabilidade, situalidade, coesão e coerência. Diferenciar enunciado e texto tornou-se relevante para os estudiosos da época, visto que ambos se diferem qualitativamente. Fez-se necessário conceituar e distinguir o conceito de texto, principalmente identificar elementos coesivos, importantes para sua coerência.

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A coerência presente no texto não se constrói apenas com a relação linguística e semântica, mas também de conhecimento cultura e social. A coerência textual contribui para a estruturação do texto, dando-lhe sentido. Conforme Koch e Travaglia (1993), a coerência é global e pode ocorre por meio da comunicação. Quando essa comunicação não ocorre, o texto parece estar incoerente, impossibilitando o sentido e tornando o texto difícil de ser interpretado. Em alguns casos, o próprio autor deixa o texto incoerente propositalmente, pois visa causar certo espanto no leitor. A coerência estabelece um sentido de continuidade, para que se possa compreender o conteúdo do texto.

A Coesão textual presentes nas frases e nas orações é constituída por preposições, conjunções e pronomes que tem a função de criar um sistema de referências retomadas no interior do texto. Portanto, a coesão textual faz a ligação entres os elementos presentes no texto, produzindo sentido e coerência. Para os autores Halliday e Hasan (1976), a coesão textual necessita de cinco categorias de procedimentos para realizar sua função: referência, substituição, elipse, conjunção e o léxico. Por meios linguísticos, a coesão facilita a organização e possibilita a continuidade, a interação, a progressão e a unidade semântica com outras propriedades do texto. Os conectivos ou elementos coesivos têm a função de realizar as várias relações de sentido entre os enunciados, quando um conectivo  é usado incorretamente, podem ocorrer muitos prejuízos ao sentido do texto.

Trata-se de uma temática de grande relevância, pois se utilizou como ferramenta de produção textual a rede social Facebook para analisar a escrita dos alunos. Partiu-se da seguinte indagação: existem diferenças na coerência e coesão de textos dos alunos quando eles escrevem em sala de aula e quando eles postam comentários nas redes sociais? Para se responder a este questionamento, foi pedido para que os alunos escrevessem textos a partir de leituras de charges dentro da sala de aula e comentários que interpretassem charges postadas no Facebook.

Mas por que utilizar charges para interpretação e produção textual? As charges são um importante material que pode ser utilizado em sala de aula e uma ferramenta interessante para se trabalhar o conceito de coesão e coerência, além de provocarem interpretações humorísticas e acionar, por meio de seu contexto semântico, o conhecimento de mundo necessário à interpretação. Sendo assim, buscou-se proporcionar aos alunos o aprendizado de como a coesão e a coerência contribuem para a construção e compreensão do texto chargístico. Para tanto, baseou-se em autores como Hailiday e Hasan (1976), Koch (2000), Platão e Fiorin (2007), Fávero e Marcuschi (2002), que estudaram a importância dos elementos de coesão e coerência na estrutura textual, permitindo a produção do sentido no texto.

O Facebook tem se tornado um dos principais meios de comunicação entre as pessoas, possibilitando a circulação rápida de informações e conhecimentos. Conforme Orlandi (1996), o discurso acontece por meio do ouvinte e do falante. Nessa perspectiva, em termos gerais, este trabalho visou analisar como as teorias sobre coesão e coerência textuais estão presentes em textos produzidos por alunos da 8º ano. Em termos específicos, a presente pesquisa objetivou: a) contribuir para a implementação de uma didática mais atrativa ao se produzir e interpretar textos que apresentam elementos de coesão e coerência; b) observar as semelhanças e diferenças entre os textos produzidos por alunos em ambientes formais de aprendizagem; c) apontar como o gênero textual charge pode ser utilizado em sala de aula com a finalidade de entreter e ensinar. 

Tendo em vista que a coesão e a coerência são as bases para a interpretação e compreensão dos sentidos, a escolha do tema deste trabalho se justifica pela necessidade de desenvolver nos alunos a habilidade de escrita que reflete na comunicação e no meio social em que estão inseridos. Legitima-se, ainda, devido à relevância de mostrar como os elementos textuais devem ser trabalhados em sala de aula, partindo-se de textos chargísticos e possibilitando que os alunos produzam novos textos.

A coleta do corpus de análise foi executada no dia 24 de setembro 2012 no Centro Educacional “Silvio Paternez”, durante o estágio de Língua Portuguesa e Literatura para a turma do 8º ano C. Primeiramente, foram trabalhados os gêneros textuais com os alunos e somente no 3º dia que se iniciou a matéria referente à “Coesão e Coerência”.  Realizamos a explicação dos conteúdos e distribuímos uma tabela com alguns tipos de coesão textual e os alunos fizeram algumas perguntas a respeito do tema. Eles já haviam escritos algumas redações nas quais foi observado um desempenho deficiente de leitura e de escrita. Alguns textos apresentaram vários problemas de incoerências, dificultando a leitura e a correção dos mesmos.

Realizamos a leitura com os alunos referente ao significado do conceito de charges, as suas respectivas características e entregamos aos alunos uma Charge[1], sendo solicitado aos alunos que escrevessem um texto sobre o que eles haviam compreendido da charge, utilizando-se dos conceitos estudados referente à coesão e à coerência. Os alunos, na medida em que iam escrevendo o texto, nos solicitavam ajuda. A classe permaneceu em ordem e não tivemos dificuldades com o comportamento dos estudantes nesta aula, pois todos estavam empenhados na realização dos textos.

Foram necessários muita disposição e tempo, pois eles utilizaram quase três aulas para elaboração do texto, o que valeu a pena, pois os textos ficaram bem elaborados e coerentes atingindo nossas expectativas. Pode-se dizer que o resultado foi satisfatório, porque no início, as redações elaboradas por eles em sala de aula apresentavam muitas repetições e na maioria das vezes as palavras eram empregadas de forma desordenada no texto causando a falta de sentido.

Dessa forma, este trabalho se divide em três capítulos: no primeiro, foram apresentados conceitos e reflexões sobre o ensino de Língua Portuguesa e o papel do professor, no segundo capítulo abordou-se o conceito de coerência e coesão e pontuaram-se a origens e a importância das charges. No terceiro capítulo, a prática em sala de aula,  demonstrando-se a metodologia utilizada em sala de aula que deu subsídio para a produção textual dos alunos. E por fim, ainda no quarto capítulo, foi feita a análise do corpus da pesquisa, apontando os resultados e as observações presentes nos textos interpretativos que foram produzidos.

1.PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

1.1 Conceitos e reflexões sobre o ensino da Língua Portuguesa

O ensino da Língua Portuguesa, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), deve estar voltado para a função social da língua. Este é o processo básico para que qualquer pessoa inicie o processo de letramento, interagindo com a sociedade de forma ativa e autônoma. É importante para o aluno dominar habilidades que o capacitem a viver em sociedade, adequando-se, às diversas situações sociais e de comunicação. Para isso, faz-se necessário que o aluno obtenha a capacidade de compreender e de dialogar de forma adequada, sendo assim, é necessário que ele seja capacitado para escrever bons textos e compreender os diversos gêneros textuais em diversas formas de comunicação.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental, Língua Portuguesa, os alunos precisam ser capazes de compreender a cidadania como participação social e políticas, por meio de atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças inseridas no meio da sociedade, respeitando o outro como se fosse ele mesmo. Ter uma postura crítica e responsável para enfrentar as situações sociais por meio do diálogo para resolver os conflitos e tomar decisões coletivas. Os mesmos devem conhecer a realidade social e cultural do Brasil, na qual construam uma noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país. Valorizando a pluralidade do patrimônio sociocultural do Brasil e de outros povos, mantendo-se contra a discriminação social, cultural, religiosa e outras características individuais ou sociais. Necessita identificar seus elementos e as interações entre eles, contribuir ativamente para a melhoria do meio ambiente. Conhecer o próprio corpo e cuidar dele, possuir hábitos saudáveis, agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva, utilizando a linguagem como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir as produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo às diferentes intenções e situações de comunicação. Utilizar as informações e os recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos e resolver os problemas por meio de pensamentos lógicos selecionando procedimentos e os adequando.

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