É impressionante como a verdade vive "explodindo" à nossa frente e não a enxergamos, não a ouvimos, não a sentimos. A comprovação fática disso pode ser constatada, apenas observando-se letras de músicas, por exemplo.

Há uma delas, sucesso contemporâneo, que é pródiga nas mensagens da verdade: "boa sorte" na interpretação de Vanessa da Mata e Ben Harper. Diz ela: "tudo o que quer me dar, é demais, é pesado, não há paz".

E realmente, poucas coisas podem ser tão perversas como as cobranças emocionais grosseiramente subliminares como "eu não posso viver sem você". Isto soa mais como uma chantagem do que como uma declaração de engrandecimento do outro.  Ninguém merece esse tipo de "amor" doentio, cheio de cobranças absurdas e constantes (você me ama?), a corroer os relacionamentos dia após dia, até ouvir do outro, algo como diz a canção de Vanessa e Harper.

O passional e o apego exagerado, já causaram mais crimes do que muitas guerras. Aliás, é uma espécie de "guerra particular", como a cretinice – elevada à enésima potência - denominada "guerra dos sexos".

Graças a isso, a TV tem material constante para seu sensacionalismo barato. Aquele asqueroso hábito de ficar repisando notícias tristes, causando náuseas  infinitas a quem tiver um mínimo de dignidade humana.  Ser solidário, condoer-se com tragédias que poderiam ser evitadas, é uma coisa. Já, ficar reprisando cenas "exclusivas" (esta exclusividade, aliás, deveria ser esclarecida), até o surgimento de outro crime, é o fim.

Mas voltemos à cegueira, nossa cegueira de cada dia, que faz com que a vida passe por nós, sem que tomemos conhecimento dela. Estamos demasiadamente presos ao passado e ao futuro, alternadamente, enquanto nosso agora se esvai.

Vivemos enterrados no mundinho de nossos interesses, inventando fórmulas de chantagens, para nossas vantagens pessoais. Nosso amor não é cego, pela simples razão de que ele não existe, não naqueles que querem prender, ao invés de libertar.  Pois o verdadeiro amor não sobrevive sem liberdade.

A maioria carrega apenas um enorme estoque de egoísmo, travestido de amor por conta de frases ardilosas. Elogios como moeda da enganação.  Mas como sabiamente diz a música, para quem escapou da cegueira, ela é perfeita: "tudo o que quer me dar, é demais, é pesado, não há paz. Tudo o que quer de mim, irreais expectativas, desleais".

Por isso a afirmação aqui, de que o amor não existe naqueles que desejam prender, castrar, reduzir a vida do outro apenas à sua exclusividade, ser, enfim, desleal.  Proprietários do outro, por isso cegos. Pois ninguém é – ou poderá vir a ser – de alguém. Cada um é unicamente de si mesmo e, assim sendo, pode dar-se luxo de amar e doar tempo e atenção ao outro, sem cobranças.

Quem amar alguém, deve sempre deixar claro a esse alguém, que ele pode ir embora quando quiser. E ele(a) dificilmente irá, posto que intimamente  saberá que muito raramente encontrará outra pessoa com tal grau de desprendimento. Outra pessoa que entenda que amar é desejar a felicidade do outro, mesmo que à custa da sua.

 Finalmente, a cegueira é o simples fato de que, por conta de nossas constantes viagens do passado ao futuro e vice-versa, raramente permanecemos no presente para cuidar daquilo que realmente nos importa. Por isso, é sempre no tarde demais que descobrimos o real valor e importância do que perdemos.