A CADEIRA DE LÍNGUA PORTUGUESA


INTRODUÇÃO
Observamos que o horário escolar referente à disciplina Língua Portuguesa das turmas do segundo segmento do Ensino Fundamental e do Ensino Médio compreende quatro horas por semana. A justificativa da extensa carga horária se deve a importância que tais conhecimentos representam para a cultura e a vida dos alunos e também por possuir uma imensa gama de conteúdos. O estudo da Língua Portuguesa envolve muitas habilidades: leitura, interpretação, escrita, etc.
O aluno é preparado para escrever bem a partir dos conhecimentos ortográficos, para conhecer novos termos a partir da leitura de textos e livros, se aproximar dos gêneros textuais, seguir as normas gramaticais que regem a construção adequada de frases e textos, compreender os gêneros e movimentos literários assim como a associação destes a realidade através das produções midiáticas desenvolvidas pela televisão, pelas revistas, pelos filmes, pela internet e pelos livros.
Diante da responsabilidade concentrada na promoção da aprendizagem e na garantia de recepção de todo esse conjunto de saberes como prevê o calendário escolar ao aluno, o professor tenta cumprir tais objetivos e recorre a recursos capazes de tornar as aulas mais interessantes como músicas e filmes para combater a resistência e a indisciplina dos alunos. Reconheço que o professor de Língua Portuguesa precisa dar conta da quantidade de conteúdos que deverá trabalhar em suas turmas até o final do ano letivo. Tais saberes são constituídos por elementos gramaticais e literários.
Felizmente, há escolas que possuem a disciplina redação separada da Língua Portuguesa, diminuindo um pouco o peso das costas do professor desta. Assim, o professor de redação pode se encarregar de acompanhar as produções textuais dos alunos, sugerir e orientar a leitura de materiais literários, enquanto o de Língua Portuguesa se preocupa com a aprendizagem de seus alunos sobre os aspectos gramaticais e a literatura.



REFLEXÕES SOBRE A APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA

As aulas de Língua Portuguesa representam extrema importância para o desenvolvimento profissional do aluno, pois impulsiona sua carreira a partir do momento em que ele se submete aos exames seletivos voltados a sua admissão em determinado cargo vinculado à organização pública ou privada. É normal verificarmos, nos conteúdos exigidos por estes, a presença unânime da Língua Portuguesa e isso requer uma boa formação do aluno na disciplina.
Para conseguir sua aprovação, o candidato deve estudar muito. As instituições responsáveis pela organização de tais processos seletivos possuem muita razão em exigir tais requisitos dos candidatos, pois é inadmissível empregar um funcionário incapaz de dominar as habilidades da leitura e da escrita. Mesmo porque o cotidiano oferece situações diferenciadas as pessoas que não dominam tais habilidades, ficando marginalizadas e perdidas frente ao grande número de informações que são apresentadas.Para Magda Becker Soares, "leitura não é ato solitário; é interação verbal entre indivíduos e indivíduos socialmente determinados".A autora diz também que a leitura:
Do ponto de vista da dimensão individual de letramento (a leitura como uma ?tecnologia?), é um conjunto de habilidades lingüísticas e psicológicas, que se estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de compreender textos escritos. Refletir sobre o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. (SOARES, 2002, pp. 68-69)

No início, o aluno realiza a decodificação dos símbolos da escrita, desenvolvendo assim uma leitura superficial, porém é importante fazer a releitura desta situada no mesmo texto. O momento é oportuno para o aluno destacar as palavras desconhecidas com a finalidade de encontrar sinônimos, etapa fundamental para alcançar a compreensão do que foi lido. Para Angela Kleiman (1993 apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002, p. 82), "as práticas de leitura como decodificação não modificam em nada a visão de mundo do leitor, pois se trata apenas de automatismos de identificação e pareamento das palavras do texto com as palavras idênticas em uma pergunta ou comentário".
Na decodificação, há a ligação entre o reconhecimento do material lingüístico com o significado que ele fornece. No entanto, ?muitas vezes a decodificação não ultrapassa um nível primário de simples identificação visual?, pois se relaciona a uma decodificação fonológica, mas não atinge o nível do significado pretendido(MENEGASSI,1995, p.87).

Depois da etapa da decodificação, o aluno deve encontrar o sentido do texto lido. Deve conhecer o tema, o gênero em que se encontra classificado, a abordagem do autor e ter a capacidade de sintetizar o foco principal do texto em poucas frases. Para efetuar tal tarefa, o aluno pode reproduzir as frases como estas se apresentam no texto ou interpretá-las conforme o contexto que ele as percebe. Leffa (apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002, p. 85) destaca que "ler é interagir com o texto, considerando-se o papel do leitor, o papel do texto e a interação entre leitor e texto". Nesse sentido, Menegassi; Calciolari (2002) acrescenta que "nesse caso, a compreensão só ocorre se houver afinidade entre o leitor e o texto; se houver uma intenção de ler, a fim de atingir um determinado objetivo."
Na próxima etapa da leitura, o aluno deve desenvolver um processo interpretativo de uma ordem de argumentos ou situações configuradas de maneira oculta no texto. Somente a compreensão significativa permite ao aluno efetuar a interpretação dos sentidos que se encontram subentendidos no texto. Portanto, se o aluno não entende o que lê, jamais chegará a obter uma compreensão adequada de sua leitura. Ao questionar sobre determinada posição do autor no texto, o professor acaba incentivando a habilidade de interpretação de seus alunos.
No entanto, estes precisam ter um primeiro contato com a produção textual a fim de conseguir o seu conhecimento e o seu entendimento que favorecerão a construção de um processo interpretativo apropriado. O aluno deve desenvolver a capacidade voltada a assimilação dos saberes estudados nas etapas passadas e utiliza-las a partir da realização de comparações, verificando a essência integrada nas linguagens figuradas ou implícitas e empregar em diferentes contextos refletindo acerca da importância de tal leitura fazendo uma conexão desta a sua realidade, exercitando, dessa forma, a sua habilidade na construção de analises críticas.
A última etapa no processo de leitura (...) é a retenção, que diz respeito ao armazenamento das informações mais importantes na memória de longo prazo. Essa etapa pode concretizar-se em dois níveis: após a compreensão do texto, com o armazenamento da sua temática e de seus tópicos principais; ou após a interpretação, em um nível mais elaborado. (MENEGASSI, apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002 p. 83)

No espaço escolar, as habilidades vinculadas a leitura precisam se tornar uma aprendizagem, não uma técnica proveniente de algum processo mecânico ou de uma orientação a ser obedecida. Deve promover a reflexão ao aluno em que este pode levantar hipóteses e interagir com o objeto de conhecimento. Há necessidade de abolir da sala de aula a presença de alguns tipos de censuras estabelecidas pelo sistema dominante por definir as leituras como convenientes ou inconvenientes. Para tanto, é preciso que:
um primeiro princípio para a construção de uma nova pedagogia da leitura diz respeito ao conhecimento, pelo professor, das circunstâncias de vida dos alunos e à recuperação, como ponto de partida, das suas experiências vividas. (SILVA, 1998, p. 26)

O professor deve valorizar as preferências e as posturas de seus alunos, assim como conhecer a realidade de sua turma e seus elementos como as culturas, os modos de vida e as ideologias e partir das vivências dos alunos, a qual constitui suporte para uma formação baseada na aprendizagem de leitura. O objetivo da leitura na escola não enfatiza a sua aprendizagem, mas a de outros aspectos, como a pronuncia da linguagem materna e o ensino dos componentes gramaticais, configurando-se como uma tarefa secundária que requer apenas pouco tempo de dedicação.
Tem como objetivo sanar os problemas de escrita, considerados mais importantes, possuindo a concepção de que "a melhor coisa que a escola poderia oferecer aos alunos é a leitura (...) se um aluno não se sair bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, a escola já cumpriu grande parte de sua tarefa". (CAGLIARI, 1996)

Os alunos e os professores possuem o hábito de usar a leitura para diversos objetivos, exceto para a sua real serventia. Os estudantes fazem à leitura para em seguida efetuar a cópia da fala de um personagem ou do autor, para buscar erros ortográficos ou para responder a uma chamada oral do professor, atestando que leu o que lhe foi solicitado. A meta dos livros está distante disso, pois o papel da leitura centraliza a formação de leitores capazes de expressar o pensar e o criticar, de solucionar problemas repentinos e inesperados. Não se resume ao ato de copiar o argumento do autor porque é necessário elaborar suas próprias idéias para defender ou criticar a postura do autor, ou inserir o novo saber a sua realidade.
A condição para a aquisição das habilidades de leitura pelo aluno se limita ao hábito de ler deste. Poucas crianças se interessam pela leitura sem a necessidade de intervenção do professor e ficou comprovado que a influencia dos pais interfere bastante na aquisição deste hábito. O professor tem a função principal e fundamental para o desenvolvimento de hábitos e habilidades de leitura dos alunos, porém, não pode usar sua autoridade para selecionar o material que seus alunos devem ou não fazer a leitura. Ele também deve considerar os contrastes existentes na sala de aula e enaltecer os interesses e pontos de vista produzidos pelos alunos.
Esse é um ponto em que se deve insistir muito hoje, a tendência é julgar que cabe ao professor de Português ensinar a desenvolver habilidades de leitura e de escrita. Freqüentemente, professores das outras disciplinas se queixam com o professor de Português de que os seus alunos não estão sabendo compreender o problema de Matemática, o texto de História, o texto de Ciências. Na verdade, essa competência, essa responsabilidade não é só do professor de Português, nem o professor de Português é inteiramente competente para desenvolver habilidades de leitura de um problema de Matemática, por exemplo. Porque tem uma terminologia específica, tem uma forma específica de se apresentar, como o livro de Ciências, como o livro de Geografia. Não é o professor de Português quem vai ensinar um aluno a ler um mapa, nem quem vai ensinar a ler um gráfico. Isso são atribuições específicas dos professores que trabalham com essas formas de escrita. Então, cabe a eles desenvolver essas habilidades de leitura e de escrita também. Escrever um texto de História, ou de Ciências, não é a mesma coisa que escrever uma crônica, se o professor de Português pede uma crônica. São gêneros diferentes, cada área de conteúdo tem um tipo específico de texto que cabe ao professor dessa área ensinar o aluno a escrever ou a ler. Mas, essa é uma questão que tem sido difícil, porque os professores de outras áreas que não Português não têm recebido formação na área de leitura, isso seria necessário, introduzir na formação desses professores alguma disciplina, enfim, alguma formação na área de leitura e produção de texto para que eles pudessem trabalhar com isso. (SOARES, 2002).

CONCLUSÃO
O interesse pela leitura pode ser despertado se os alunos tiverem autonomia para fazer opções sobre suas leituras, o que quase sempre são livros de literatura infanto-juvenis. A responsabilidade associada ao incentivo da leitura não deve ficar limitada ao professor, pois os pais têm papel essencial em tal processo. Eles devem estimular o interesse pela leitura nos filhos antes que estes iniciem a vida escolar, separando algum momento do dia para ler livros infantis para as crianças. Após a alfabetização, esse momento deve continuar, mas, são os filhos que farão a leitura a fim de obter a comparação do que foi ouvido com o que foi lido. Os pais nunca devem evidenciar os erros de leitura cometidos pelos filhos de modo repreensivo, mas reforçar com expressões motivadoras, destacando os termos de acordo a leitura. A criança precisa ter sua auto-estima elevada a partir de elogios pelos seus avanços, mesmos que estes sejam poucos.
A variação dos gêneros é importante, assim como a proposta de leituras de livros infanto-juvenis, publicações jornalísticas, periódicos infantis, receitas, artigos informativos, manuais, etc. Oferecer uma prévia referente ao livro indicado para a leitura consiste numa tarefa interessante por reforçar a curiosidade da criança na descoberta do final da estória. Após o término da leitura torna-se indispensável desenvolver uma discussão sobre o que foi lido, sugerindo que a criança relacione com algum exemplo da realidade. Atividades como visitas freqüentes a bibliotecas possibilitam a diversão já que a criança aprende a optar e localizar o livro de sua preferência, pode ter acesso a sessões infantis com vídeos e brinquedos e também pesquisar sobre determinado tema para a produção de trabalhos escolares. Entretanto, esse processo não deve ser obrigatório, pois a criança precisa estar interessada, o que torna o momento prazeroso.
Para que o aluno conquiste a habilidade da crítica sem atravessar muitas dificuldades, ele deve primeiro ter contato às habilidades de leitura, pois, para obter uma compreensão adequada, precisa da etapa da decodificação. Isso permitirá ao aluno fazer a interpretação do texto com facilidade salvo adquirido seu entendimento. Porém, ele só poderá lançar alguma crítica sobre o sentido do texto se contextualizar com sua realidade e, usando sua postura como uma análise crítica sobre o tema, se entendeu e fez a interpretação da produção textual. Todo esse processo a ser percorrido numa leitura é o que diferencia o ensino de leitura em sala de aula. É a partir deste momento que o aluno começa a adquirir um bom hábito de leitura e uma adequada produção textual. A definição de leitura ultrapassa a mera decodificação e a compreensão: trata-se de saber ler, compreender a leitura realizada, fazer a interpretação do sentido que foi lido e criticar esses dados de modo a contextualizá-la, analisando criticamente e oferecendo argumentos pessoais delineando comparações entre a aprendizagem da leitura e a sua vida.

REFERÊNCIAS:
CAGLIARI, Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Ed. Scipione, 1996.
MENEGASSI, Renilson José; CALCIOLARI, Angela Cristina. A leitura no vestibular: a primazia da compreensão legitimada na prova de Língua Portuguesa. Maringá: UEM ? Acta Scientiarum, v. 24, n. 1, pp. 81-90, 2002.
________________________. Compreensão e interpretação no processo de leitura: noções básicas ao professor. Maringá: Revista UNIMAR, v.17, n. 1, pp. 85-94, 1995.
SILVA, Ezequiel Theodoro. Elementos de Pedagogia da Leitura. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.
SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed., 5. reimpressão, Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2002.