Eu, Carla Gomes Pereira iniciei os meus estudos em 1998, na comunidade do Crepurizinho, a escola era simples e de madeira, eu morava na roça o fato pelo qual teria que sair ao meio dia, para chegar 01:30 à escola, minha professora se chamava Kátia, lembro-me que o fato de eu escrever com a mão esquerda a intrigava, o que me obrigava a refazer todas as atividades com a mão direita. Foi um ano de adaptação para mim, pois eu não ficava na escola sem alguém da família por perto, do contrário chorava e voltava para casa.
    Quem sofria mais era minha mãe, que se desdobrava para fazer comida antes do meio dia para os trabalhadores que plantavam na roça, juntamente com o meu pai. Para ela era trabalhoso e satisfatório, pois estava me dando uma oportunidade que não teve quando criança, nem ela nem o meu pai. E fazíamos nossa longa caminhada rumo á escola, às vezes cantando trechos de musicas que eu decorava rápido, ouvindo o rádio do meu pai.
Já adaptada à escola e na 2ª série, eu estudava uma matéria chamada ciências, onde a professora nos ensinava a importância da natureza para todos nós, estávamos no ano 1999, onde regia a lei n° 9.795, de 27 de abril, que enfatiza a educação ambiental, para mim era fascinante, pois tinha uma proximidade com a natureza.
Estudei quase todo o meu Ensino Fundamental naquela escola, meu pai teve que comprar casa na comunidade, com o intuito de me aproximar mais dos estudos, recordo-me que na 5ª série mudaram a turma de horário, eu com 11 anos agora estudaria a noite juntamente com a turma da 6ª série, o professor dividia o quadro, e ajudávamos uns aos outros nas atividades escolares.
Iniciei a 6ª série ali, mas em julho de 2003 fui morar com minha irmã em Itaituba, e fui matriculada na escola Chapeuzinho Vermelho. Naquela época a escola recebeu vários livros, havia sido criado o Programa do Livro Didático e os alunos do ensino Médio estavam sendo incentivados á leitura, assim como os alunos do fundamental também. Ali comecei a estudar novas matérias como Artes, Educação Física, Religião, que não eram ministradas no município do Crepurizinho, a preocupação dos meus pais era que eu viesse a reprovar, desta forma em conversa com a diretora, resolveram pagar aulas de reforço para mim no período da tarde.
Aprovada para a 7ª série fui matriculada no Centro Educacional Anchieta, agora a menina da roça precisava usar sapato social, o que me intrigava porque os sapatos me faziam calos, mas dali eu admirava uma professora em especial chamada Rosilda, ela nos mandava ler livros e apresentar na frente a história, e isso eu gostava e muito! Terminei o meu ensino fundamental em 2005.
Ao ingressar no ensino médio na mesma instituição, lembro que os professores nos preparavam para primeira avaliação do Programa de Ingresso Seriado e Processo Seletivo Simplificado, que nos possibilitaria a inserção em faculdades federais e estaduais, eram três etapas, a primeira avaliação corresponderia ao que aprendemos no decorrer do primeiro ano, a segunda avaliação com o assunto do segundo ano, e por fim a terceira avaliação, no terceiro ano do ensino médio, passei em duas fases do PSS, mas na terceira zerei uma matéria, o que me impossibilitou de entrar. Mas eu tive uma nova oportunidade que foi o ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, tirei 9.0 na redação, e com minha média me inscrevi no Pro - uni, numa faculdade de Anápolis no curso de Administração.
Consegui bolsa naquela cidade, mas a condição financeira da minha família me impossibilitou de ir para lá. Meu pai argumentava que me manter em outra cidade seria inviável, eu poderia cursar Administração em Itaituba. Eu já estava esmorecida, porque já tinha perdido o vestibular da Faculdade de Itaituba, mas em conversas com amigos descobri que aquela instituição aceitava a inserção com a nota do ENEM. Esperançosa, fui à tentativa de não deixar morrer um sonho de cursar Administração.
Como haviam me informado, a Faculdade aceitava sim, e eu comecei a estudar, era em 2009 e a Faculdade de Itaituba era uma menina de seis anos que se mostrava, seduzia e encantava alunos em busca de lhes proporcionar conhecimento á nível superior, menina corajosa que mesmo inserida em uma pequena cidade de cultura garimpeira, os convidava á navegar pelo conhecimento. E eu era uma integrante, que me sentia parte importante daquela viagem.
Ali reencontrei alunos que no ensino médio estudaram comigo, e me senti em casa, estudei durante um ano, e a crise financeira veio nos visitar, precisei trancar o curso. Cansada, chateada e teimosa, não desisti e regressei á instituição em 2011, com uma ideia no coração: Daqui não saio daqui ninguém me tira! E foi com essa mesma coragem que defendi meu TCC dia 23 de março de 2014 com média 10.0. A outorga foi dia 28 daquele mesmo mês, e caminhar naquele tapete vermelho, acompanhada pelo meu pai, que me segurava com aquelas mãos calejadas de trabalhar na roça, foi inenarrável, simplesmente uma satisfação gigantesca, estávamos caminhando para nossa vitória.
Hoje, 21.07.2014 estou na minha segunda semana de aula na Pós-graduação em Docência para o Magistério Superior, sim a menina da roça que antes chorava com medo de ficar na escola, hoje busca mais e mais conhecimento, com o intuito de compartilhar com mais pessoas.