A BUSCA DA VISIBILIDADE SOCIAL

FABIANE REGINA DA SILVA SOUZA

Resumo:  Humilhação Social nos leva a discussão em torno da idéia de possibilidades nas interfaces do ser social, sustentados por diálogos, transdisciplinares que auxiliam na desmontagem de discursos, mitos, mascarações sociais, construindo um conceito operador que emerge na interface com as políticas publicas e a psicologia.

Palavras-chaves (exclusão social, visibilidade social, transformação, comunidade, sujeito constituído, favela)

 

INTRODUÇÃO

Na sociedade atual as relações sociais são formadas pela tensão entre inclusão e exclusão.

“O sabor, a alegria, mistura-se com o fel da desigualdade, os sentimentos de que a cidade é fechada para os pobres”

(frases retirada do texto humilhação social)

Estar excluído nem sempre que dizer estar fora da sociedade, é um assunto mais delicado, significa fazer parte da sociedade, mas não usufruir o bem estar social.

Sem acesso a riqueza e a proteção isso é comum entre os cidadãos, implicando em uma perversão social, sendo resultado de um modelo cujo objetivo é a concentração de riqueza, a fragmentação dos problemas humanos e a estigmatização dos males sociais, como males inerentes aos indivíduos, desta maneira incapacitando os para a cidadania. Criando do assim a banalização da vida, tornando tudo objeto de consumo.

“Nossa humanidade é o que somos e o que possuímos é o que somos através do que possuímos”

(frases retirada do texto humilhação social)

                                                        

Através deste trecho logo entendemos que se em nossa sociedade somos o que possuímos o sujeito que não tem condições de adquirir ou manter o básico para sua sobrevivência, torna-se um ser isolado, invisível, destituído de sua existência humana.

Podemos ver o descaso pela vida  e pela igualdade, a sociedade é completamente desigual, uns tem demais e outro nem o que comer, como fazer com que este individuo que não possui nem o que comer se sentir parte desta sociedade?

“O humilhado atravessa uma situação de impedimento para sua humanidade uma situação, uma situação reconhecível nele mesmo”

(frases retirada do texto humilhação social)

Como lutar, articular ou transformar a si e ao seu meio, quando o próprio sujeito não se reconhece como um ser social?

“É preciso que a posse de bens não represente um apego, para que possamos existir no meio deles, libertando-nos, libertando-nos da coincidência com coisas”.

(frases retirada do texto humilhação social)

Nosso corpo mente e ações nos pertence têm que tomar consciência disso e lutar pelos nossos direitos, direitos de igualdade e melhoria de vida.

“Não somos operários intercambiais tampouco empregados que se limitam ao raio de sua função, agindo segundos as situações do cargo”

                                                         (frases retirada do texto humilhação social)

É Justamente um chamado para romper a alienação, para recuperar para si o lugar primordial da existência humana, o lugar onde o eu se aloja.

A existência ganha sentido na relação com o outro, mas para isso é necessário uma apropriação do si.

Somos todos cidadãos, não somos funcionários”

 (frases retirada do texto humilhação social)

 

Desfaze o lugar de ser humilhado incapaz, inexistente, desconstrói a mascaração heteronomia de quem estiveram classificados a classe social desfavorecida, pobre, marginalizada, mergulhados a sujeitos que não se reconhecem como indivíduos em que suas ações são fundamentos de uma prova em desconstrução, concepção renovada da cidadania.

Assim o Sujeito constrói uma arena de conflitos, na qual se disputa o poder de dizer como devem ser as coisas. Não é, portanto uma arena que passivamente ou tranquilamente se utiliza os bens adquiridos. É uma arena na qual tem que se redefinir sempre os direitos. Para redefini-los é necessário disputar os espaços de poder, o que torna necessário a existência do sujeito.

 “Autoridade e obediência deixam de circular: O Governo do trabalho não é mais o Governo de todos, mas  a situação comunitária impele não segundo o cargo, mas segundo o que é urgente fazer pelas crianças e a partir de nossas idéias e talentos variados. (frases retirada do texto humilhação social)

Compreendemos que a política publica, contribuem para o bem estar social dos sujeitos, por ser algo relativo ao povo, de bem comum de todos, por ter um caráter universalista do ser humano, porem não leva em conta a subjetividade as diferenças culturais, apesar de ser criada para a população excluída a mesma não enxerga esses sujeito invisível.

Desse modo a psicologia entra com a contribuição de ferramentas que potencialmente podem enfrentar o processo de exclusão social vividos por sujeitos invisíveis através de  vínculo, escuta, cuidado, intervenções coletivas, aproximação com o território e com as redes/conexões estabelecidas pelos sujeitos enquanto suas estratégias de existência.

 

A  BUSCA DA VISIBILIDADE

 

Foi com a contribuição política e psicológica que os sujeitos invisíveis da comunidade de HELIÓPOLIS ganharam visibilidade tornando seres ativos, participativos e transformadores, deslocando-se de um lugar “assistido” para um lugar protagonista e de direitos.

Nasceu da década de 70, com o deslocamento, por parte do poder publico, de 153 famílias da favela da vila prudente, o Heliópolis.

Famílias abrigadas em alojamentos provisórios num terreno de propriedade do IAPAS- Instituto de Administração e Previdência e Assistência Social, hoje pertencente a COHAB- Companhia Metropolitana de Habilitação de São Paulo, dando assim inicio uma das maiores favela da America Latina.

Dentro do quadro estatístico de maior favela de São Paulo, já chegou ao topo com o maior índice de criminalidade, mas esse quadro modificou-se e a CIDADE DO SOL, origem do nome, começou a ter seus dias de brilho e calor.

“É claro que está longe de ser uma cidade ideal, mas dentro do tecido urbano Heliópolis altera toda paisagem urbana, destoa, destaca-se e ao mesmo tempo se impõe. Se torna Visível”.

Por ser formada através de ocupação e de longas disputas com grileiros, outros barracos são erguidos configurando um novo bairro dentro do monopólio social burguês, em meio as vielas e becos sinuosos que escondem suas pluralidade.

 Diante da humilhação social esses sujeitos ficaram impedido de direitos, de participações, vivendo em guerra com sua própria comunidade. Muitos por falta de conhecimentos, ou até de comida, e quando tinha a comida faltava a panela para cozinhar tornando-os  inseguros diante da sociedade.

Esses sujeitos que lutavam para manter seus barracos, que eram o único registro de si, perceberam que borracha das da policias, corpos nos becos e vielas não eram a solução.

Tendo como frente de batalha a posse de terras e contando somente com o apoio da Pastoral da Igreja, os primeiros passos para o posicionamento dentro do contexto político e social foi à conscientização e mobilização da comunidade local.

 

“Os sujeitos começam a se constituir-se como seres humanizados”

 

Começa a formar Associação de Moradores, que é o marco definitivo para essa conscientização acontece em 1986 com a criação da UNAS (União de Núcleo Associações e Sociedade de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco), regulamenta seu estatuto em 1989 e transforma-se em pólo aglutinador de ações e projetos sociais.

 “A mola Propulsora que projetaria Heliópolis dentro do cenário nacional e mundial”

Uma das grandes conquista da comunidade é a urbanização da favela, que contava com situação degradante sem saneamento básico e sem infra estrutura.

Já nos anos 90 as ações começaram a enfocar não só a legalidade e posse de terra, mas também a inclusão social, com o olhar voltado para crianças, jovem e adolescente.

Nessas linhas percorridas acima, percebe que a insegurança foi quebrada pelos próprios moradores que estimularam as organizações voltadas ao atendimento dos direitos das crianças e adolescentes, clareando os sentidos e criando vários projetos voltados para a comunidade, os conflitos foram superados, desenvolvendo um sentimento de responsabilidade para com os problemas comunitários, passaram a se comunicar mais eficazmente e todos se reuniram para um único propósito onde cada  um tem um papel que antes era inexistente, reparam-se os danos e os próprios envolvidos participam para buscar a dimensão cultural e estrutural, nas quais não tinham acesso.

Atualmente desenvolvem-se ações nas áreas de habitação onde as casas ganharam cores, estruturas, Educação- CEIS, CCAS, LA, NSE e outros, Cultura Pólo Culturas desenvolve atividades de cursos profissionalizantes, Saúde, Esportes, Assistência Social e Comunicação Social, ressaltando o trabalho com criança e adolescentes, Radio Comunitária, Informática, e a influencia de políticas publicas.

 Na comunidade do Heliópolis, atualmente existe a participação ativa de órgãos governamentais e não governamentais que cooperam e respeitam os moradores que lá vivem, todos passaram a ter respeito e valores em comum, foi restaurado o valor simbólico e real que havia sido perdido diante de tantos conflitos e exclusão da sociedade.

Resultados bastante positivos a comunidade do Heliópolis vêm adquirindo com essa união entre seus moradores, o crime, a violência diminuíram, crianças e adolescentes têm acessos a cursos, internet, projetos voltados a eles e oportunidades, e antes a falta de informação deixava-os excluídos do mundo e agora passaram a respeitar uns aos outros e criou-se uma sensação de redução de medo e de aumento de bem-estar. Unidos para brigar por moradia, os moradores perceberam que podiam ir além, que podiam transformar a comunidade, e essa comunidade jamais parou de lutar pelo crescimento e melhoria de seus moradores.

 

CONSIDERAÇÃO FINAL

Na dura realidade do caminho de luta e organização sente-se a necessidade de políticas publicas que compensem e emancipem uma população que recebeu de herança problemas sociais resultantes de estrutura econômica e social calcada sobre o trabalho escravo.

Sob diferentes pontos de vista o esforço para este “ajuste de contas” com o passado, deve ter resultados positivos diante a humilhação social igual à de Heliópolis, que foi atropelado pela dinâmica do crescimento da população.

Através das políticas publicas e psicológicas podemos criar movimentos, que levem à efetivação da inclusão social e dentro dessas forças e magnitude a valorização e reconhecimento do sujeito com SER HUMANIZADO E TRANFORMADOS.

Tornado permanente suas ações, promovendo a visibilidade do cotidiano da pobreza e miséria, não aceitando sua banalização.

Esse artigo nos permite analisar e refletir que uma “favela” se transforma em  “Comunidade”, quando  pessoas  se ajuntam e através de sua singularidade e diferenças se unem pra ter voz e vez, para lutar pelos seus direitos e deveres enquanto cidadãos.

Assim o trabalho comunitário retira a invisibilidade do sujeito excluído socialmente transformando-o em um sujeito de saberes que articula conjuntos de idéias políticas e filosóficas causando transformações políticas e culturais mantendo uma construção solida e diária em seu processo de cidadania.

O trabalho Comunitário da UNAS, abordado nessa analise só pode ser reconhecido e contemplado pela comunidade, porque se estruturou em praticas conflituosas e transformadoras que partiram da própria comunidade.

As comunidades nasce da opressão social, e se torna visível, autônomo, transformando o processo da construção de sua realidade. Desse modo deixamos uma reflexão sobre artigo, utilizando a fala de Paulo Freire  quem era oprimido não deve de maneira alguma se torna opressor para tal, deve haver o conhecimento e, mais do que isso, o reconhecimento dessa novas situações, e a partir disso incidir ações transformadoras pelas quais se possa buscar o ser mais. Freire ainda diz que a opressão é fruto da contradição opressor oprimido, da consciência opressora e da consciência oprimida. É resultado da própria distorção histórica, da desumanização na qual aos oprimidos são negados seus direitos a educação, saúde, alimentação, moradia, lazer, respeito e reconhecimento à sua origem etnocultural, seja qual for.