A BRINQUEDOTECA E O SISTEMA PENITENCIÁRIO: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL

Ângela Conceição dos Anjos Pena[1]

Maria Augusta Lima das Neves[2]

RESUMO

As  brincadeiras são estratégias utilizadas  na aprendizagem e ensino,  é uma nova forma de  pensar a prática pedagógica a partir de atividades lúdicas tornado-se assim um fio condutor na formação do professor na qual se torna um labirinto institucional e interdisciplinar que requer que as instituições busquem criar, funcionar ambientes que atendam uma concepção global na formação do docente e que venha facilitar de forma coerente às mudanças mesmo que lentas numa evolução provocada unilateralmente pelo homem numa conjuntura da política de educação. O objetivo é investigar, através de levantamentos de dados bibliográficos, sobre a realidade da brinquedoteca no Sistema Carcerário e também com o intuito de realizar recorte histórico sobre a criação do programa de ações de brinquedoteca no Sistema Carcerário; refletir sobre a função da brinquedoteca como proposta de socialização e integração do preso;      relacionar com a concepção institucional da brinquedoteca as funções nos dias de visita;     diagnosticar a relevância do trabalho do Pedagogo no Sistema Carcerário quanto ao programa de brinquedotecas. Percebemos a responsabilidade que temos em relação ao pleno desenvolvimento do ser humano seja ele, rico ou pobre. No entanto, dentro da Instituição Penal percebemos que seus direitos, enquanto as assistências educacionais estão sendo preservados e incentivados, pois os responsáveis pela divisão de educação buscam novas alternativas de trabalhar o tempo que o preso está ocioso, para desenvolver no preso uma consciência de seu papel diante da sociedade sendo ele importante e que para isso deve adquirir uma nova visão de mundo buscando a mudança total em sua vida.

Palavras Chaves: Brinquedoteca, Sistema Penal; Trabalho Interdisciplinar

ABSTRACT

It is considered a joke a strategy in learning and teaching  is a pedagogical practice thinking from recreational activities thus become a common thread in teacher education in which becomes a labyrinth that requires institutional and interdisciplinary institutions seek to create work environments that meet a global design in teacher training that will facilitate and coherently to changes even in a slow evolution caused unilaterally by man in a context of education policy . The aim is to investigate, through surveys of bibliographic data on the reality of the toy in the Prison System and also in order to make historical overview of the creation of program actions playroom in Prison System; reflect on the function of the toy as proposed socialization and integration of the prisoner; relate to the institutional design of the toy functions on visiting days; diagnose the relevance of the work of the prison System as Educator in the program playrooms. We realize the responsibility we have in relation to the full development of the human being he is, rich or poor. However, within the Penal Institution realize their rights, while the educational assistance are being preserved and encouraged, because the education division responsible for seeking new alternatives to work as long as the prisoner is idle, to develop a consciousness trapped in their role in society and he is important and that it should to acquire a new vision of the world seeking the total change in your life.

Key Words: Toy, Penal System, Interdisciplinary

  1. BRINQUEDOTECA: espaço para quê?

Não é casual que acentuamos a pergunta Brinquedoteca: espaço para quê no Sistema Penal? O que tem haver presos com Brinquedoteca? Enveredamos por um caminho quem sabe seja curioso para alguns e tortuoso para outros, mas para nós autoras, era o principio da investigação, conviver por momentos do cotidiano de uma Casa Penal para desvendar o uso da Brinquedoteca e o porquê de sua criação e funcionamento.

Buscamos o individuo que vive em um cubículo que já não pertence a humanidade liberta, acentuamos o elemento “consciência” e a integração suprema, como forma de contar uma historia que investiga o destino dado a um espaço alegre, de lazer, de afetividade e aprendizado à um espaço de integração concreta e relações conscientes do preso (pai) e dos filhos, que para Heller (2000) “é a consciência de nós além de configurar-se também com a consciência do eu”.

Vimos que o preso contém tantas particularidades quanto um homem genérico, mas que se torna um individuo sem autonomia, que deve apenas cumprir o que lhe é imposto por lei.

1.1  CONCEITUANDO A BRINQUEDOTECA.

De acordo com Bom  Tempo (1990), a brinquedoteca como o próprio nome diz, é uma instituição que possui um conjunto organizado de brinquedos; ela é para o brinquedo como a biblioteca é para o livro.

Já Cunha (1994) diz que: a brinquedoteca é um espaço para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar.

Kishimoto (1994), concebe a brinquedoteca como espaços de animação sociocultural encarregados de transmissão da cultura infantil, assim como do desenvolvimento da socialização, integração social e construção de representações infantis.

Santos (1997A), afirma que: a brinquedoteca é o espaço para brincar não sendo necessário atribuir mais nenhum objetivo a sua definição. Contudo, é preciso valorizar a criança, jovem e adulto que brincam, pois se as relações entre os brinquedos e os sujeitos forem corretas, se tiverem a dimensão que devem ter, as transformações ocorreram espontaneamente.

Para Cely (1997), “a brinquedoteca é um espaço de educação não formal, cultura popular, resgate do brincar como atividade de lazer e direito de todos”.

Schelee (2000, p, 62), uma brinquedoteca deve ser encarada como uma espécie de laboratório, onde dois grupos de usuários diferenciados são convidados a desenvolver uma série de atividades numa relação que se poderia chamar de dialética, já que como resultado das atividades desenvolvidas, as transformações das ideias acabam por determinar as transformações da matéria e vice-versa.

Silva (2001), a brinquedoteca: é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, a desenvolver a socialização, cognição, afetividade, motricidade dentre outras habilidades. Esse espaço dá à criança acesso a uma grande variedade de brinquedos em um ambiente especialmente lúdico, além de resgatar as brincadeiras tradicionais, em função de não haver, nos grandes centros urbanos, espaço seguro e atrativo para atividades lúdicas.

A Brinquedoteca destina-se a incentivar a descoberta das potencialidades do aprendiz, constituindo-se na construção do conhecimento, integração grupal trabalhando o emocional, corporal e o intelectual do aprendiz, priorizando o ato de brincar livremente e permitir a expressão da criatividade, através da imaginação e iniciativa proporcionadas pelos diferentes espaços dentro da brinquedoteca.

1.2 OS TIPOS DE BRINQUEDOTECAS

Azevedo (2004), cita os tipos mais comuns de brinquedotecas são:

•           Brinquedotecas de Escola: geralmente fazem parte de escolas que trabalham com educação infantil, onde procuram desenvolver a aprendizagem da criança;

•           Brinquedoteca de Bairro: consiste em ser construída com apoio da comunidade e associações, visando atender as crianças da comunidade e adjacências para desenvolver o brincar com familiares e crianças diferentes do seu contexto, proporcionando a descoberta de novos jogos e brinquedos culturais;

•           Brinquedoteca de Universidade: construída por profissionais de educação, visando a pesquisa e a formação de recursos humanos, por se tratar de um laboratório onde professores e alunos do ensino superior dedicam-se a exploração do brinquedo e do jogo em busca de alternativas que viabilizem novos métodos de estudos e novas formas de intervenção na comunidade.

Diniz (2001 p, 39) In: A ludicidade, como ciência, dirige-se a brinquedoteca como espaço de arte, ciência e ludicidade, articulando um novo conceber e as interações da criança com os objetos e pessoas buscando romper com a fragmentação das varias áreas do saber e adotar uma nova compreensão quanto o modo do sujeito ao aproximar-se dos objetos de estudo.

Todavia, com a implantação de modelos educativos instalando-se no meio social exige a criação re (criação) de outros espaços lúdicos em diferentes espaços como hospital, penitenciaria, asilos de idosos ou doentes mentais, terapêuticas e outras, visto que o conhecimento é concebido a partir de pluralidade de estratégias e métodos.

1.3 BRINQUEDO, A BRINCADEIRA E O BRINCAR

O brinquedo é um veículo do crescimento e para cada faixa etária tem um significado diferente, ajudando no desenvolvimento psicomotor, por exemplo, para a criança de 0 a 03 meses o brinquedo torna-se um meio natural que possibilita a exploração do mundo, e a criança que explora e descobre o mundo de forma prazerosa torna-se preparada para receber as surpresas que este próprio mundo lhe reserva. Segundo Bueno (1983) “brinquedo significa divertimento, folguedo, objeto com que se entretêm as crianças”.

Santos (1999), brinquedo é o veículo do crescimento, meio natural que possibilita a exploração do mundo. Holanda (2001) o “brinquedo significa objeto para crianças brincarem; Jogo de criança”.

Kishimoto (2003) referencia o brinquedo envolvendo jogo de raciocínio, sendo entendido sempre como objeto, suporte de brincadeira, para criança de quatro a seis meses, que se encontra na fase oral, o seu corpo é o próprio brinquedo ( bate palma, faz bico, brinca de esconde-esconde). O brinquedo tem um objetivo de desenvolvimento para cada faixa etária.

Diante dessas conceituações entendemos que o brinquedo vem oferecer suporte importante no desenvolvimento da criança e para que isso ocorra é preciso ser usado de forma responsável e comprometido com o crescimento saudável, representativo e conotativo a faixa etária que vive.

As brincadeiras são referenciadas em literatura consultada como cita:

Holanda (2001) “brincadeira ato ou efeito de brincar. Entretenimento, passatempo, divertimento, brinquedo, gracejo e pilhéria”.

Bueno (1983) “é divertimento, sobretudo entre crianças, folgança; gracejo; zombaria; festa familiar”.

Para Santos “brincadeira é a primeira conduta inteligente do ser humano”.

Kishimoto “a brincadeira é a conduta estruturada com regras e jogos infantis para designar o objeto e as regras do jogo da criança”.

Para Leontiev (1994), a brincadeira é uma atividade objetiva, pois vai mediar sua relação à percepção do mundo ambiental e dos sujeitos.

Ressalta ainda as relações com os objetos, com os quais os adultos operam e que a criança ainda não é capaz de operar por estarem além de suas possibilidades.

Para Winicott (1975), a brincadeira é a própria saúde, ela traz a oportunidade para exercício da essência do equilíbrio humano.

Toda e qualquer brincadeira exige regras, mesmo que estas regras não sejam explícitas, como é o caso de faz-de-conta. Pelo fato de está interagindo com outras pessoas e com a realidade social como uma toda a criança observa condutas, apropriasse de valores e significados, compondo repertório de regras que tecem os diversos papéis sociais.

Santos (1999) “pela brincadeira a criança é introduzida no meio sócio cultural do adulto, constituindo-se num modo de assimilação e recriação da realidade”.

Santos (op cit): a brincadeira é considerada a primeira conduta inteligente do ser humano; ela aparece logo que a criança nasce e é de natureza sensório-motora; isso significa que o primeiro brinquedo é os dedos e seus movimentos, que observados pela criança constituem-se a origem mais remota do jogo.

O que representa a fala de um dos presos: —  aqui é o espaço melhor para rever e receber nossas crianças;: — é um lugar que a gente se sente livre e liberta a mente. 

Retornando aos autores, já mencionados anteriormente, dizem que o brincar: é divertir-se infantilmente, divertir-se, entreter-se, dizer ou fazer algo por brincadeira divertir-se participando em folguedo carnavalescos, brincar, zombar. O brincar é divertir-se, folgar, gracejar, zombar. É a necessidade básica que surge muito cedo na criança.

Para Kishimoto (2003) “brincar é o suporte simbólico do jogo divergindo do brinquedo e da brincadeira por privilegiar a imaginação”.

“O brincar é sem dúvida o meio pelo qual seres humanos e animais exploram uma variedade de expressões infinitas como comenta” MOYLES (2002).

Stones (1982, p. 10) consideram o “brincar como recreação sendo que o brincar em último degrau é colocado como sem importância, visto que os adultos não sabem nem entendem o que é o brincar, precisam de argumentos cuidadosamente concebidos”.

As palavras de El’ Kounim (1992) parecem resumir perfeitamente o brincar quando enfatiza.

no brincar, a criança opera com objetos, estes possuindo significado; ela opera com os significados das palavras que substituem o objeto; portanto, no brincar, a palavra se emancipa do objeto. (El’Kourim, 1982, pg.230)

A nossa experiência nos revela pelas falas dos autores que brincar sempre foi e sempre será uma atividade espontânea e muito prazerosa, acessível a todo ser humano de qualquer faixa etária, classe social ou condição econômica, é um meio de aprender a viver e não um mero passatempo.

Ao relacionar-se com conteúdos do passado e do presente, através de sua participação no grupo de brincadeiras, o indivíduo pode dar sentido ao seu mundo, ao seu existir neste mundo.

Logo, podemos dizer que brincar é uma necessidade interior tanto da criança quanto do adulto. Por conseguinte, a necessidade de brincar é inerente ao desenvolvimento humano. Como concebe Froebel diz que “o brincar como atividade livre e espontânea, responsável pelo desenvolvimento físico, moral e cognitivo; para ele os dons são os brinquedos como objetos que subsidiam as atividades infantis”. Já Maluf (2005), também afirma que brincar é “a Comunicação e expressão, associando pensamento em ação; Um ato instintivo voluntário; uma atividade exploratória; Ajuda as crianças no seu desenvolvimento físico, mental, emocional e social; Um meio de aprender a viver e não um mero passatempo”.

A evolução do fenômeno do brincar, brinquedo e brincadeira é transicional e evolui de uma forma compartilhada com experiências culturais, conhecimento e convivência na representação, contribuição e construção do conhecimento da consciência infantil.

1.4 O PROJETO DA BRINQUEDOTECA NO SISTEMA PENAL

Com vista às literaturas percebemos que a brinquedoteca de Sistema Penal aumentou, e passamos a nos aproximar do nosso objeto de estudo, buscando amigos e referencias bibliográfica a serem pesquisadas durante a pesquisa.

1.4.1  Do Legal ao Real

O Sistema Penal dá seus primeiros passos quando tenta através do espaço denominado brinquedoteca aproximar pais e filhos. Acreditamos que o lúdico aproxima as pessoas, a multiplicidade de jogos que são utilizados às brincadeiras, as atividades que os presos realizam em grupo com seus filhos provam o quanto podem ser estabelecidas estas novas relações, visto que o jogo, brincadeiras e brinquedos possuem significados no contexto escolar e familiar.

Até o desenvolvimento ético está ligado aos momentos lúdicos da infância, pois é competindo, solidarizando-se, aprendendo, dividindo que se aprende a participar e a viver em grupo.

1.4.1.1 O Legal

Ao consultarmos a Lei de Execução Penal encontramos a Lei n° 7.210/84 que descreve o suporte que o preso deve receber quando estiver dentro de uma Casa Penal, definindo o preso como uma pessoa, que por determinação judicial, está cerceado do seu direito de ir e vir, na prática de delitos em flagrante (ato ação) ou por Mandado de Prisão.

A Lei  nº 7.210 de 11 de julho de 1984, onde na seção V, nos artigos 17,18,19,20 e 21 relata que:

DA ASSISTÊNCIA EDUCACIONAL, ao preso compreenderá:

Art. 17 – A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado.

Art. 18 – O ensino de primeiro grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da unidade federativa.

Art. 19 – O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Art. 20 – As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

Art. 21 – Em atendimento as condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos. 

O programa em questão constitui-se numa ação sócio educativa reflexiva através do lúdico que tem a educação como o caminho de ensino e aprendizagem, fundamental para inserção do homem encarcerado ao convívio social e familiar.

Para tanto, o Sistema Penal buscou firmar e ampliar convênios e parcerias com Instituições Públicas, Privadas, sociedade Civil e Instituições Religiosas que pudessem contribuir com o trabalho sócio educativo com as famílias e que os  recuperando sejam atendidos no programa.

A dinâmica das técnicas de ação-reflexão-ação do programa, atende as Unidades Penais de Regime fechado e Semi-Aberto do Sistema Penitenciário – SUSIPE. A dotação os equipamentos, recursos humanos (técnicos das Unidades Penitenciárias: Psicólogo, Assistente Social, pedagogo e Arte Educador) e materiais pedagógicos necessários bem como curso de capacitação para subsidiar o aprimoramento das ações técnicas do compromisso ético e profissional estão imbuídos no planejamento de trabalho, com proposta sócio pedagógica são elaboradas de forma compatível com a realidade vivenciada pela clientela  atendida, estando inseridas nesse processo educacional.

Através do Programa de brinquedotecas o Sistema Penal oferece espaços adequados aos segmentos familiar, aplicando programas de integração social que prioriza trabalhar as necessidades do público alvo, com isso elevando a auto estima e a valorização do ser humano e consequentemente influenciando no baixo índice de violência familiar e na reincidência do recuperando. Neste sentido o trabalho sócio educativo também busca prevenir a não marginalização da população infanto juvenil filho dos recuperando.

O Programa apresentado resgata e dinamiza as ações sócio educativas que são desenvolvidas através do mesmo, priorizando o compromisso ético e atuação dos profissionais das áreas interdisciplinares, junto as famílias dos recuperandos que cumprem pena privativa de liberdade nas Unidades Penais do Estado do Pará. Neste sentido, as ações do programa contextualizam as necessidades e demandas do público alvo e dos resultados alcançados pela Brinquedoteca no que perpassa as relações sociais voltadas na integração do grupo familiar como processo de socialização do ser social. Assim, o trabalho da Brinquedoteca busca inovar e alcançar o ser humano de forma integral, estimulando-o a ter liberdade, iniciativa, confiança, criatividade e autonomia de modo a possibilitar a construção de seu autoconhecimento positivo.

      Outro fator de análise, observação e avaliação do Programa da Brinquedoteca dizem respeito ao índice elevado de violência e da criminalidade na sociedade, que gera a necessidade de construção de novas Unidades Penais para atender a demanda de presos, consequentemente o aumento de atendimento aos familiares dos recuperando. Este atendimento visa a prevenção da criminalidade do público Infanto Juvenil pela ausência do papel do pai na família. Esta ausência contribui para que as crianças e/ou adolescentes não tenham nos pais e/ou responsáveis referencial de autoridade, consequentemente não impondo limites em suas condutas, devido as famílias não proporcionarem sentimento de apoio e seguranças necessários aos seus desenvolvimento biopsicossocial, moral, cultural e espiritual de forma saudável.

Seguindo a mesma linha de raciocínio no que tange as ações sócias educativas do Programa da Brinquedoteca, isto nos leva a ressaltar que a Brinquedoteca é um espaço ressocializador que se propõe a desmistificar o lado punitivo da prisão. Diante do exposto a SUSIPE presta o atendimento integrado e direcionado junto as famílias manter e expandir as Brinquedotecas nas Unidades Penais de regime fechado e semi aberto, buscando condições adequadas para que os filhos de recuperando encontre-se com seus pais num ambiente favorável , que não seja deprimente, tornando o encontro menos traumatizante e humano.  

Tendo como objetivo o programa resgatar e estimular a manifestação das potencialidades lúdicas das crianças e/ou adolescentes, implementar ações sócio-pedagógicas aos recuperandos e seus familiares, que proporcionem a formação de uma consciência crítica, ética e moral que favoreça o convívio familiar e comunitário.

A proposta metodológica apresentada é constituída de diretrizes gerais dentro de uma concepção homem-mundo, como ser transformador e sujeito de sua história. O propósito das ações do programa da brinquedoteca é resgatar os vínculos familiares dentro de umas dimensões grupais atendidos enquanto determinada e determinante da integração sugerida pelos diferentes atores em suas respectivas histórias singulares.

O monitoramento e avaliação do programa são coordenados pela Superintendência do Sistema Penal do Estado do Pará, através do Departamento de Assistência Integrada, cabendo a sua execução, fiscalização, monitoramento e avaliação pela Divisão de Educação, tendo como apoio o trabalho das equipes interdisciplinares das Unidades Penais.

PALAVRAS FINAIS

Um dos objetivos de criação é oferecer ações sócio-educativas que vise atender às necessidades da clientela, como também, a integração social que possam ajudar os pais na educação de seus filhos, na relação familiar, além de ser um espaço alegre, calmo e limpo, com desenvolvimento de varias atividades lúdico, artístico, cultural, onde seu filho não irá ver seu pai algemado, e melhor essas atividades irá consequentemente melhorar a interação pai/filho.

Como resultado e relevância desse trabalho social também podemos perceber que existem homens (presos) que possuem habilidades, seja ela para as artes cênicas, plásticas ou artísticas e que podem resultar na resocialização do preso com a perspectiva de vida diferente a vida no cárcere, tendo a esperança transmitida pelos filhos durante as visitas, resultado este que é verificado na frequência assídua, quando são convidados para participarem de cursos profissionalizantes e dizem que com a aprendizagem daquele curso ajudará a ter uma vida mais digna, sendo uma fala de um preso — basta eu querer.

Infelizmente, existem dentro das celas do presídio os chamados “líderes”, onde o preso daquela cela não pode participar de nenhum curso, atividades e algumas vezes nem mesmo a receber visitas, pois recebem uma pressão psicológica muito grande e devido a isso não tem “autorização” de participar dos mesmos, pois eles dizem — quem sai da cela localizada no bloco para falar com a direção, participar de atividades, cursos poderá dedurar o que está acontecendo nas celas.

O trabalho na brinquedoteca  é mais social que pedagógico, ou seja, ajuda na resocialização do preso sendo fundamental a presença da criança e a ajuda da equipe multiprofissional Assistente Social, Pedagoga, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional, Socióloga e Professora de Educação Física.

Em pareamento com a realidade encontrada na brinquedoteca e o que diz a literatura consultada sobre o que é a brinquedoteca constatamos que há, em parte, uma contemplação, pois como cita Silva (2001), “A brinquedoteca é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, a desenvolver a socialização, cognição, afetividade, motricidade, dentre outras habilidades”.

Parece anormal imaginar que todas essas habilidades são desenvolvidas dentro de uma casa Penal, pois para algumas pessoas este lugar deve ser “horroroso”, já outras dizem — que nunca passariam nem por perto, imagine, desenvolver qualquer tipo de trabalho social /educativo neste lugar. Realmente, não é um lugar lindo, porém, durante esses quatro meses de convivência com os presos, seus familiares e filhos tivemos vontade de “ficar”, para conversar, interagir com as crianças e observamos que apesar da sua pouca idade e em algumas inocências, não sabiam onde estavam, mesmo assim estavam felizes, desenhando, pintando, brincando e ao lado da pessoa que não participa do seu dia-a-dia, compartilhando alegrias, tristezas, novas descobertas, feitas em sua casa e escola, pois esse encontro com o seu pai, só aconteceria novamente com trinta dias.  

Neste momento, percebemos a responsabilidade que temos em relação ao pleno desenvolvimento do ser humano seja ele, rico ou pobre. No entanto, dentro da Instituição Penal percebemos que seus direitos, enquanto a assistência educacional estão sendo preservados e incentivados, pois os responsáveis pela divisão de educação buscam novas alternativas de trabalhar o tempo que o preso está ocioso, para desenvolver no preso uma consciência de seu papel diante da sociedade sendo ele importante e que para isso deve adquirir uma nova visão de mundo buscando a mudança total em sua vida.  Desta forma o espaço da brinquedoteca, o teatro, coral, grupo de reflexão, encaixam-se  nesta tentativa, pois trabalham o lado emocional, o lúdico, valorização do seu eu, suas potencialidades e habilidades em muitos ainda não conhecida.    

Desta forma o papel do pedagogo neste projeto de brinquedoteca e sua participação na utilização do espaço são de profunda importância, pois ele vem provocar a conscientização das pessoas envolvidas quanto a seus valores, missão de vida e o desenvolvimento das habilidades.

Conclui-se que o Programa das ações da brinquedoteca vislumbra o desenvolvimento biopsicossocial, moral, cultural e espiritual de forma saudável, através de seu atendimento com a clientela. Concomitantemente, o recuperando, a família e especial a criança e/ou adolescente vivenciam esse momento de integração social, no qual estão ligadas as ações sócio-pedagógicas do Programa, no que tange a apreensão da realidade do universo do cárcere.

REFERÊNCIAS

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BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 11ª ed. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1983.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Mini Dicionário da Língua Portuguesa Escolar. 4ª ed, FNDE/PNLD, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. 6ª ed. São Paulo: Paz da Terra, 2002.

LISPECTOR, Clarisse. Aprendendo a Viver. Rio de Janeiro, Rocco, 2004.

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincadeiras para sala de aula. Petrópolis-RJ: Vozes, 2004.

MENDES, Raimunda Lopes Rodrigues. Educação Infantil Pré Escolar: Implicações Pedagógicas em Discussão. Belém-PA: Unama, 2002.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2000.

MOYLES, Janet R. Só Brincar ?, 1ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2002.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e Infância: um Guia para Pais e Educadores em Creche. Petrópolis-RJ, Vozes, 1999.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: a Criança, o Adulto e o Lúdico. Petrópolis-RJ, Vozes, 2000.



[1] Professora de Ensino Superior na Escola Superior Madre Celeste – Esmac, Psicopedagoga e Mestranda em Linguística Aplicada e Coordenadora Pedagógica em Escola Pública SEDUC.

[2] Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional – Coordenadora Pedagógica – SEDUC e Professora Da Escola Superior Madre Celeste – ESMAC  e UFRA