Se fôssemos eleger a frase mais dita nos dias atuais, acredito que a campeã seria: - "não tenho tempo"!

Dentro de uma correria desenfreada, que impulsionada por estímulos externos, distraidamente vai sendo incorporada como natural, acabamos muitas vezes passando por caminhos que necessariamente não precisaríamos percorrer; o que sempre gera muita confusão e desgaste.

Não creio em vida fácil e muito menos em receitas mirabolantes, capazes de facilmente eliminar os percalços a que somos submetidos diariamente. Acredito sim, que para se minimizar as agruras do cotidiano, reduzindo-as a seus tamanhos reais, é de fundamental importância que cada pessoa se disponha a dar uma freada no próprio ritmo de corrida, se permitindo analisar e compreender as características do momento que está vivenciando, pois sem compreensão acabamos correndo a esmo.

Assim como as corridas longas exigem que os atletas se organizem estrategicamente, poupando energia para momentos mais agudos de cada prova, precisamos nos ater ao fato de que não temos fôlego para vinte e quatro horas de tensão e soluções mágicas. O tal do "tirar o coelho da cartola" só é possível quando o coelho está lá.

Repare quantas pessoas se arrependem de viver insistentemente buscando um objetivo que já previam não ser possível, pois não existem na condição exata em que é desejado.

Administrar o tempo pode parecer impossível nas condições atuais, em que nossa vida parece sempre estar nas mãos de outras pessoas, grupos ou instituições, mas é justamente nesse ponto que reside o desafio discutido por tantos escritores, conferencistas e especialistas de plantão ao fazerem coro nas questões pertinentes à necessidade da retomada da "qualidade de vida" e/ou busca de uma "vida simples".

Observe que simplificar não é buscar uma casinha no campo em tempos de férias ou feriado prolongado, pois isso muitas vezes acaba sendo uma obrigação de lazer, e não creio que obrigação rime com descanso. O conceito de "simples" consiste no desatar de nós, se despindo de "obrigações sociais" que geralmente estão ligadas à expressão "o que os outros irão pensar", e na atitude contínua de "filtrar" os estímulos externos que, via mídia ou amigos, tende a nos colocar como reféns de desejos coletivos que muitas vezes não refletem nossa personalidade.

Em outras palavras: festa não pode ser obrigação e a compra de um bem não pode me aprisionar na obrigação de exibi-lo.

A boa vida não se resume a usufruir de tudo, como uma criança perdida em um parque de diversões ou gulosos desesperados diante das dezenas de opções de um restaurante self-service. É preciso brincar, comer, beber e alcançar vitórias, sem a obrigação descarada de ser um vencedor.

A vida boa consiste em viver o presente com os olhos em um futuro capaz de aprender e redimir os infortúnios do passado.

Em nenhum momento tento "tapar o sol com a peneira". Problemas existem e precisam ser resolvidos, só que cada um em seu tempo e grau de dificuldade, dentro de um planejamento que pondere em os limites físicos e cognitivos do ser humano, que apesar de aparentemente mais exigido nos dias de hoje, mantém as mesmas fragilidades de seus antepassados.

A começar por mim, sinceramente desejo que todas as pessoas se esmerem mais na busca de uma "vida boa", que precisa ser estabelecida fora das esperadas oportunidades de descanso regulamentado.

Não se pode esquecer que cada novo amanhecer já trás consigo a carga de dificuldades que precisamos superar; buscar mais é tolice e, já que o tema é vida, então devemos fazê-la acontecer todo dia e não em retalhos pré-programados dentro desse ou daquele ano, exercitando um novo olhar para nossa casa, nossos objetos e as pessoas com quem convivemos.

Um olhar que busque perceber oportunidades "lapidáveis", visando o viver mais e dignamente melhor.