A BIBLIOTECA – LUGAR ONDE BATE O CORAÇÃO DA ESCOLA!

 Maria Eunice Gennari Silva

A informática na educação vem ao encontro do anseio de todo educador comprometido com as exigências das novas tecnologias. Ao longo da sua vida profissional este educador está atento à necessidade de investir em conhecimentos que permita, na sua prática pedagógica, o processo de desenvolvimento das TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação.

Nesta perspectiva, é preciso ressaltar a educação inserida em um tempo que caminha para novas maneiras de se formar leitores. Maneiras que exigem, do professor e do aluno, um ensino/aprendizagem, por meio dos recursos disponibilizados nos laboratórios de informática das escolas. E, ligados à internet, eles encontram, cada vez mais, uma variedade de livros digitais, oferecendo a leitura no ambiente virtual.

A contribuição da informática, como ferramenta auxiliar na construção do conhecimento em uma escola, seja ela pública ou particular, foi pensada, desde o início, na certeza que se tratava de um caminho sem volta. Presente neste espaço e sem mais perda de tempo, compreendeu-se que para navegar nesta ideia seria preciso ter atitudes novas em relação à rapidez das informações e, também, do que fazer com elas.

Entretanto, é preciso continuar respeitando a aprendizagem nos espaços anteriores a este novo tempo, ou seja, a presença da Biblioteca Escolar que, indiscutivelmente, perpetua o seu objetivo de fornecer os caminhos para a leitura de mundo.

Observe, por exemplo, o que diz Maria Helena Martins, no livro “O que é leitura”, quando destaca três níveis da leitura. O primeiro, a leitura sensorial, que manifesta o tato, a visão, o olfato, a audição e o gosto. O segundo, a leitura emocional, é a que mexe com os sentimentos, fala à emoção, quando o leitor se identifica com a obra. E o terceiro, a leitura racional, voltada para o intelectualismo, para a análise do texto de forma isolada.

 Com certeza, estes três níveis estão muito mais relacionados à leitura que acontece na biblioteca, onde o aluno, em contato com o livro, demonstra claramente a sensação, a emoção e o desejo de compreender o texto e o seu contexto.

Mais do que isso, a Biblioteca Escolar aperfeiçoa, continuamente, as diversas formas de atuar no processo de ensino/aprendizagem. Daí, a possibilidade de um trabalho integrado entre biblioteca e laboratório de informática mediado por educadores capacitados.

Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa, a escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, a compreendê-las de forma cada vez mais abrangente e profunda e a torná-las parte do nosso referencial.

Aprendemos mais quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços, entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido.

Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois, quando interiorizamos, quando nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria síntese, nosso reencontro do mundo exterior com a nossa reelaboração pessoal. (MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2000, p. 23).

A proposta parte do princípio de que educadores - pedagogos e laboratoristas - tornem-se animadores da inteligência coletiva, substituindo o papel de meros fornecedores do conhecimento. É a possibilidade de ir além dos recursos disponíveis numa escola pública, utilizando o computador, através da criatividade e da imaginação.

E para que este sonho se concretize, realizando o desejo de unir o sempre novo e o novíssimo, inicia-se o compromisso com uma qualidade de ensino inserida na realidade e no tempo presente, através do livro/papel (o sempre novo) e do livro/digital (o novíssimo).

Nesta visão, o texto presente, conclui que se faz necessário, primeiramente, compreender a realidade da maioria das Bibliotecas Escolares, principalmente das escolas públicas brasileiras. Aquelas que ainda utilizam o seu espaço valioso, apenas como depósitos de livros, onde eles dormem empoeirados, sem permitir que o aluno tenha a liberdade de retirá-los da estante estática e sem vida.

Infelizmente, se a biblioteca fosse condição obrigatória, para que as escolas públicas brasileiras existissem, certamente, a maioria delas teria que ser fechada.

Por isso, é preciso compreender que a Biblioteca Escolar não é um espaço para atender só as necessidades pedagógicas, ela vai muito além disso. Ela concretiza a construção do conhecimento contínuo, oferecendo ricas experiências que podem contribuir no exercício de cidadania. E com projetos estimulados, coordenados e organizados, leituras significativas passam a fazer parte da vida escolar do aluno.

É preciso enxergar a Biblioteca como o espaço mais importante da escola. É nela que acontece a provocação para a aprendizagem. Ela é o caminho mais inteligente para que alunos e professores iniciem o processo de aprender, direcionados à pesquisa, desorganizando sua arrumação tão, criteriosamente, organizada. É a arte de procurar e encontrar, e de descobrir o prazer pelo hábito da leitura.

A prática de ensino, por meio da biblioteca, possibilita o envolvimento de toda equipe de profissionais da escola e, também, da comunidade. Afinal, a biblioteca é o local perfeito para que os seus frequentadores façam amizade com o projeto político pedagógico da escola. Ela fornece saberes indispensáveis para o conhecimento, a competência e a capacidade de compreender o real significado da escola, e do que ela pretende como espaço colaborativo na educação de um povo.

Quando se permite o uso da biblioteca de forma criativa e por meio da livre interação com os livros, os leitores misturados às diversidades de linguagens, naturalmente desenvolvem valores essenciais que fortalecem habilidades da escrita, da argumentação e da capacidade crítica.

A leitura que vai além do livro, como fotos, reproduções, ilustrações, músicas, cinema, teatro, poesia e tantos outros recursos, faz com que o leitor/aluno - seja ele criança, adolescente ou adulto – dialogue com as palavras e as imagens, provocando impacto no rendimento escolar.

Sem dúvida, a biblioteca é o coração da escola. Se não é, deveria ser.

Mas como?

Lembrando que não se obriga ninguém a ler e, muito menos, a curtir uma biblioteca sem oferecer, pedagógica e afetuosamente, a sedução, o encanto, a magia do tempo e do espaço desfrutados com sabor de quero mais. Esta é a raiz do prazer pela leitura que se planta na mente e no coração do aluno. Sem ela, não vale a pena colocar bibliotecas nas escolas, apenas para cumprir a Lei nº 12.244 de 24 de maio de 2010.

Quando a escola não faz da sua biblioteca o espaço de contato com todos os tipos de leitura que ela oferece, com certeza, esta escola está longe do ensinar a ler. É preciso que o compromisso da equipe de profissionais da escola esteja consciente de que a biblioteca é o lugar perfeito, para que o índice de aprendizagem cresça contínuo e significativamente.

Na medida em que a leitura passa a ser vista como oportunidade de fortalecer o ensino, o aluno se aproxima mais e mais do convívio com a diversidade de ideias que a biblioteca oferece. O professor se liberta das receitas prontas e proporciona ao aluno a capacidade de se tornar um leitor crítico e livre para expor suas opiniões.

Alguns ranços que dificultam a existência de uma Biblioteca Escolar como espaço educativo, precisam, urgentemente, de modificações que ajudem a informar e formar alunos leitores. É preciso promover leituras com análises, debates e encontros entre livros e alunos, utilizando formas criativas durante estas apresentações. São estratégias metodológicas que marcam para sempre, no aluno, o tempo e o espaço da sua aprendizagem.

A Biblioteca Escolar não pode e não deve ser espaço de punição. Lugar onde o aluno é levado para não atrapalhar a aula de um professor, ou até mesmo para o “reforço” do aluno que, certamente, não foi estimulado ao hábito da leitura.

Sem repensar o verdadeiro papel da biblioteca e sua real significação, dentro escola, corre-se o risco de não valorizar e nem preparar recursos indispensáveis, como: espaço físico sem atrativo e com layout inadequado (sinalização – lembrando que na biblioteca também vai quem ainda não sabe ler - mobiliário, iluminação, temperatura, acústica, cores etc.); acervo desatualizado e em condições precárias, entulhos doados, catalogação confusa e desorganizada atrapalhando novas descobertas; as dificuldades de implantar o sistema de empréstimo, impedindo as relações sociais literárias com alunos, funcionários e divulgação para a comunidade.

São muitos os desafios que fazem da Biblioteca Escolar um espaço estagnado. Até o horário de funcionamento, na maioria das vezes, fica a critério de quem toma conta da biblioteca e, não, da necessidade do professor e alunos. Isto sem falar do profissional em fim de carreira, com problemas de saúde ou em desvio de função que acabam encarregados de uma função bem distante da sua formação específica e afetiva. Um problema que provoca atendimento frio, técnico, monossilábico, demonstrando, assim, a falta desse profissional com o hábito da leitura, com o incentivo, com a paixão pelos livros.

A Biblioteca Escolar exige um educador que, acima de tudo, curte o contato com o público, que se atualiza, que conhece novos lançamentos literários, que visita bibliotecas, que frequenta livrarias e sebos, que está pronto para orientar uma prática pedagógica inovadora, que trabalha em conjunto com professores de todas as turmas.

Certamente, alunos que vivenciam esta experiência dinâmica, nas Bibliotecas Escolares, estarão prontos para complementar e implementar sua aprendizagem nos Laboratórios de Informática das escolas. Mas com melhor qualidade na leitura, na escrita e na rapidez que esta tecnologia exige.

É o sempre novo fundamentando o novíssimo.