UMA ANÁLISE FEITA A PARTIR DOS ENCONTROS DE FORMAÇÃO PARA PROFESSORES DO PROJETO DESCENTRALIZANDO O ACESSO

Amanda Carolina Pinto Moreira e

Simara de Oliveira Araújo

Palavras chave: Experimentação, processo e mediação

Resumo

A profissão de professor atualmente encontra inúmeras dificuldades principalmente no que diz respeito a trabalhos que vão além dos muros da escola. O intuito deste texto é apresentar as potencialidades existentes em locais que promovem a educação não formal e o docente neste contexto citando a instituição museológica como um exemplo pertinente, sistematizando uma prática aplicada no Instituto Inhotim através do projeto Descentralizando o Acesso. Este visa qualificar a visita dos alunos oferecendo um programa de formação que se baseia na vivência do professor que leciona na rede estadual e municipal de ensino de Brumadinho e treze municípios vizinhos, firmando com ele uma parceria e tendo-o como um propositor capaz de "apropriar-se" do acervo de Arte Contemporânea desdobrando-a como lhe convir seus trabalhos em sala de aula.

Introdução

Atualmente à busca por subsídios externos para apoiar o trabalho de um professor vem se mostrando freqüente no Brasil. Tal questão se dá como um desafio, tendo em vista que o ensino encontra inúmeras barreiras para ser aplicado principalmente fora do espaço físico da escola.

Muitos professores que tem o interesse em aprofundar em questões que necessitam de subsídios externos se queixam da falta de estrutura e materiais de apoio pedagógico e alegam que inúmeras vezes são barrados por dificuldades existentes no sistema para dar continuidade aos trabalhos que acontecem fora do âmbito escolar e por isso muitas vezes a visita a museus e outros locais procurados para "extensões" acabam simplesmente em mais um dia agitado onde as crianças ou adolescentes extravasam suas energias conhecendo um outro ambiente e ficando por isso mesmo. Alguns docentes se intimidam por não saberem como aproveitar o espaço visitado ou por bloqueios da escola ou por experiências frustradas em outros locais. "Visitei um museu com meus alunos e não entendi nada" ou " os meus alunos não têm nem o que comer em casa, como os levo em um lugar destes" e ainda "se eu não entendo, imagina meus alunos". Essas observações caracterizam situações presenciadas em ações educativas que tem como alvo levar o conhecimento aos alunos de diversas realidades através de incentivos como oficinas, visitas a museus e outras atividades. Fazer um trabalho paralelo com os professores antes mesmo da visitação destes alunos tem gerado ótimos resultados, pois a preocupação atual é entender, ou melhor, intensificar a relação com lugares de educação não formal e escola sendo o professor um agente multiplicador da potencialidade existente neles.

Atualmente, assim como em demais ambientes educacionais, a instituição museológica vem se tornando um elemento capaz de instrumentalizar e instigar quem o explora como local de pesquisa, enriquecimento pessoal e coletivo sendo um excelente mecanismo, por exemplo, para esses professores que pretendem ir além de uma excursão com seus alunos. Em pesquisas, a Martha Marandino  analisou o interesse de docentes à procurar museus de ciências provando mais uma vez a potencialidade destas instituições:

[...] ao analisar os objetivos dos professores ao buscar os museus, verificou-se que esta procura está relacionada, primeiramente, com uma alternativa à prática pedagógica, já que entendem esta instituição como um local alternativo de aprendizagem. Em segundo lugar, os professores consideram a dimensão do conteúdo científico, chamando atenção para o fato de que os temas apresentados no museu podem ser abordados de uma forma interdisciplinar ou enfatizando a relação com o cotidiano dos estudantes. Alguns professores, em menor quantidade, se preocupam com a ampliação da cultura como objetivo da visita.[...] (MARANDINO, 2001, p. 89)

A experiência e seu contexto 

A partir de experiências vivenciadas no programa de formação para professores do projeto Descentralizando o Acesso – Visitas Escolares à Inhotim constatamos o quanto é importante iniciativas que preparem os professores para incentivá-lo no trabalho com os alunos antes da visitação a museus e instituições que tem como intuito a promoção da educação não formal. O trabalho realizado com esses professores é feito através de uma metodologia experimental onde acontecem encontros que são fragmentados em dois dias sendo que o primeiro é realizado no próprio museu e o segundo na cidade ou município participante tendo a carga horária de 16 horas. Para a realização desses dá-se um intervalo de sete dias entre um e outro, pois a idéia é exatamente que eles se completem finalizando em possíveis propostas de desdobramentos a serem executadas antes, durante e após a visita dos alunos. Os temas abordados neste programa são especialmente voltados para o conteúdo de arte contemporânea onde esses professores de certa forma experimentam e ampliam seus conhecimentos através de características e conceitos da produção atual de forma dinâmica e não agressiva. É pertinente ressaltar que a grande maioria desse público nunca teve contato com arte contemporânea assim como os alunos e foi a partir desta indagação que se consolidou uma afirmação: esse professor só se permite à esta experimentação porque o conhecimento prévio que ele traz é respeitado e usado nestas formações como elemento fundamental para o projeto. 

[...] Após uma conversa não muito longa no período da manhã, fomos para a visita mediada. No decorrer da caminhada pedimos que os professores fizessem conexões das obras de arte e do meio ambiente com as matérias lecionadas. As conversas estabelecidas durante a mediação foram extremamente interessantes. Falamos sobre a obra de arte e o contexto social e político mundial, as aproximações que a Arte Contemporânea permite devido aos materiais que muitas vezes são corriqueiros do nosso dia a dia, dentre outros. Os lugares visitados foram BoxRead, galeria Mata e galeria Dóris Salcedo[...] (Relatório - encontro de formação com professores de Rio Manso e Piedade) [1]

A mediação em ação

O exercício da mediação dentro deste projeto se faz do conjunto de elementos capazes de gerar discussões acerca do acervo de Arte Contemporânea que pode culminar em atividades boladas pelos próprios participantes, com a necessidade de gerar conhecimento cabível para além da profissão de professor, para o dia-a-dia desse indivíduo. O programa de formação se baseia em três diretrizes que é conhecer Inhotim, ler imagem e propor arte. O que também implica em conhecer melhor a realidade deste professor e suas angústias quanto ao ensino. Baseando-se nos encontros acreditamos que é de suma importância que aconteça o programa de formação, pois é justamente quando temos o primeiro contato com esse professor e eles com arte contemporânea. Para tanto seria impróprio mediar o acervo sem entender o que este indivíduo pensa, associa, quer. Contudo, acreditamos na mediação como um processo de construção de conhecimentos onde a troca de informações acerca do objeto de arte e do espaço museológico se torna essencial para as proposições. A prática da mediação é construída através da bagagem do publico sendo de fundamental importância ter os conhecimentos e vivencias desse professor como um fator para a somatória do processo. Durante o programa de formação procuramos fazer ligações entre a realidade da escola e a do professor compartilhando também as nossas, com isso temos a oportunidade de saber um pouco mais das particularidades e interesse deste publico que recebemos.

A educação não-formal funciona em mão dupla: o educador tanto aprende quanto ensina – o mesmo vale para os participantes das atividades. É fundamental, assim, que o educador tenha a sensibilidade para entender e captar a cultura local, a cultura do outro, as características exclusivas do grupo e de cada um dos participantes. (SIMSON; GOHN; FERNANDES, 2007, p. 16)

Pensamos no professor como nosso parceiro. É incentivado a todo o momento que eles pensem em proposições para os alunos sendo essas extensões das matérias lecionadas ou temas transversais. Contudo essa escolha demonstra a capacidade de absorção e a potencialidade existente no museu e o que ele significou para a vida deste professor e conseqüentemente para o aluno.

[...] será apresentada a mensagem Atitude para promover uma discussão sobre comportamento, amor ao próximo, auto-cuidado e cuidado dos patrimônios: público e privado. Na sequência da palestra, a professora Ivone trabalhou os conceitos de museu e arte fazendo uma localização sócio-temporal da arte contemporânea.  No sentido de instigar a curiosidade dos alunos foram mostradas recortes de algumas obras do Instituto Inhotim. Para concluir a palestra as professoras Izabel e Regina trabalharam os conceitos de patrimônio: público, privado, material e imaterial. No dia dezoito de junho de dois mil e nove 18/06/09 os mesmos alunos participarão da excursão ao Instituto Inhotim para apreciação das obras de arte contemporânea. No dia 19/06/09 será lançado o concurso de redação. O tema será valores e os alunos deverão usar toda a criatividade para relacioná-lo com a visita ao museu. [...] Projeto Valores - Escola Estadual Nunes Leal – Betim - MG[2]  

    A continuidade e desdobramento do projeto depende exclusivamente do interesse deste professor que ao se enxergar no lugar de propositor aposta o seus dias vivenciados em Inhotim em projetos para que a visitação dos alunos não acabe em mais uma. Se ele se sente à vontade com essa parceria volta ao museu com objetivos para esta visita e para além dela com atividades chamadas de pós-visita quando ele após ter preparado os alunos para o dia no museu faz a visitação e posteriormente aprofunda todas essas questões em um novo retorno para a escola.

[...] Durante a saída de campo, a prática pedagógica será priorizada por meio de vivências e descobertas: Caminhadas, observação do ambiente externo, das galerias de arte contemporânea e contato com os elementos da natureza. A interferência do professor/equipe de apoio será fundamental para direcionar e estimular a observação e discussão entre os estudantes, levando-os a tirar suas próprias conclusões.Pós-visita: Os estudantes aprofundarão seus conhecimentos sobre Inhotim, realizando pesquisas que focalizem a diversidade cultural, os aspectos históricos, a localização geográfica, as características climáticas, a fauna e a flora. Os estudantes montarão um painel com as informações coletadas, maquetes e reeleituras de obras, para que o restante da escola participe do processo.[...] Projeto Educação Ambiental e Diversidade Cultural e Inhotim – Escola Estadual Juscelino Kubtschek - Ibirité[3]   

Conclusão

A percepção do espaço e o que ele pode proporcionar é sentida a cada encontro de formação como uma vivência única. Muitos professores vêem nos encontros uma oportunidade de expandir as fronteiras da escola, do dia-a-dia cansativo de ensino formal, outros como uma alternativa, ou ainda como conseqüência, enfim, a verdade é que quando eles compreendem a liberdade de propor e a dimensão de que a bagagem que ele traz é fator decisivo para o projeto expressam uma vontade enorme de trabalhar em prol dos alunos, encontrando na Arte Contemporânea um subsídio a mais para superar as muitas limitações da educação em nosso país.

Referências:

MARANDINO, Martha. Interfaces da relação museu escola. [online] Disponível na internet via HTTP://www.geenf.fe.usp.br/conteudo/arquivo/Interfaces na relação museu escola, abril 2001. Arquivo capturado em setembro de 2009.

Não fronteiras: universos da educação não-formal. São Paulo: Itaú Cultural, 2007.


[1] Documento encontrado nos arquivos do setor de Arte-Educação no Centro Educativo Roberto Burle Marx localizado no Instituto Cultural Inhotim, Rua B, 20 - Brumadinho/MG.

[2] Documento encontrado nos arquivos do setor de Arte-Educação no Centro Educativo Roberto Burle Marx localizado no Instituto Cultural Inhotim, Rua B, 20 - Brumadinho/MG.

[3] Documento encontrado nos arquivos do setor de Arte-Educação no Centro Educativo Roberto Burle Marx localizado no Instituto Cultural Inhotim, Rua B, 20 - Brumadinho/MG.