Maria do Rosário Gonçalves Pereira (Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA)

RESUMO: O objetivo deste artigo é fazer uma reflexão a respeito do conceito de autonomia sobre o aprendizado de línguas no campo da Lingüística Aplicada. Para isso, dentro de um breve histórico, teço considerações sobre como esse conceito tem sido definido e pesquisado, recentemente, no Brasil. E segundo alguns autores, o conceito de autonomia é "a capacidade - uma construção das atitudes e das habilidades - que os aprendizes precisam para terem mais responsabilidade pela sua própria aprendizagem" e ser autônomo "é ser autor de sua própria história sem estar submetido ao desejo dos outros". É importante considerar que: um dos principais papéis educacionais da pesquisa sobre estratégias dos aprendizes, é um aprendiz de línguas autônomo. E que, os aprendizes de línguas precisam equipar-se com as habilidades apropriadas e estratégias de aprendizagem, para aprenderem à língua de forma auto-direcionada.

PALAVRAS-CHAVE: aprendiz; aprendizagem de línguas; autonomia.

1. Introdução

Este artigo de pesquisa investiga os efeitos e a importância da autonomia no processo de ensino-aprendizagem de Línguas Estrangeiras e de que maneira ela pode contribuir para o surgimento ou o desenvolvimento da motivação no estudante de línguas. Investiga, também, a importância do professor, como principalmente o uso de estratégias de aprendizagens na promoção da motivação atuante no comportamento dos aprendizes de línguas. Sabendo que, a motivação no processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira, tornam os aprendizes capazes de serem independentes e sujeitos transformadores da sua realidade. Pois, a motivação, fortalece o aprendiz para o exercício da sua autonomia. Discute-se a seguir como as estratégias podem ser usadas para facilitar o aprendizado e a convivência entre alunos e professores na sala de aula, com vistas a obter um envolvimento maior com os conteúdos, com os colegas e com a instituição, reforçando a capacidade de tornar os aprendizes seres críticos e reflexivos sobre a sua prática e as dos outros. No marco teórico, serão apresentadas e discutidas idéias de autores como Little, Pemberton et al, Benson & Volter, Vera Lúcia Menezes dentre outros.

2. Definindo autonomia

O conceito de autonomia no processo de ensino-aprendizagem de Línguas Estrangeiras tem sido um tema bastante discutido entre muitos estudiosos na área. Portanto, de acordo com nossas pesquisas para a elaboração do presente artigo, podemos dizer que definir autonomia não é uma tarefa fácil, principalmente, porque há poucos contextos onde os aprendizes podem, realmente, serem autônomos. Os alunos, raramente, estão totalmente livres de interferências de fatores externos, que muita das vezes, funcionam como obstáculos para o alcance da desejada autonomia.
No contexto de aprendizagem de línguas, os propiciamentos não são os mesmos para todos os aprendizes, pois há contextos que favorecem mais oportunidades para a aprendizagem de uma segunda língua do que outros. Um exemplo disso é a distinção que alguns autores fazem entre segunda língua e Língua Estrangeira. Aprender uma língua, como uma segunda língua, ou seja, em um país onde essa língua é falada implica mais propiciamentos do que aprender a língua em um contexto de Língua Estrangeira, onde, geralmente, há pouco contato com o idioma. Nesses casos, o aprendiz precisa contar com seus próprios propiciamentos: motivação, autonomia, e dentre outros. Mesmo em um contexto de língua estrangeira, alguns idiomas oferecem mais propiciamentos do que outros. De acordo, com Vera Lúcia Menezes (2009, p.3):


[...] Aprender inglês no Brasil é muito mais rico em propiciamentos do que aprender mandarim, pois o primeiro, além de utilizar o mesmo alfabeto do português está presente em inúmeras produções culturais que bombardeiam os brasileiros no cinema, na imprensa, no rádio, na televisão, e na Internet .


Portanto, como foi dito anteriormente, que para aprender uma Língua Estrangeira, é preciso que o aprendiz possa contar com seus próprios propiciamentos como, por exemplo, a autonomia e a motivação. Valendo ressaltar, que a motivação e a autonomia andam sempre juntas, pois um aprendiz de línguas motivado se torna um aprendiz autônomo. E um aprendiz autônomo é capaz de ter responsabilidade por sua própria aprendizagem. Vera Lúcia Menezes (2009, p.3), também coloca alguns exemplos de ações que podem torna o aprendiz de línguas mais autônomo, pois considera que:



O propiciamento também pode ser entendido como ação, o que o falante ou aprendiz faz com os propiciamentos desse idioma, o que ele também propicia em retorno ao ambiente. Alguns exemplos seriam a interação com o outro, o canto coletivo ou individual, as produções escritas (cartas, cartões, e-mails, relatos, artigos, etc.); a leitura de textos diversos que por sua vez propiciam outras ações, como, por exemplo, uma carta ao editor, um agradecimento pelo recebimento de um cartão, a resposta a um e-mail, etc. Quais seriam os propiciamentos para um aprendiz de inglês no Brasil? Inspirada em Gibson, eu diria que assim como o meio propicia a respiração, locomoção, ele também propicia a percepção auditiva e visual.

Essas ações, de certa forma podem promover a autonomia do aprendiz. Que, segundo Little (1991, p.4) "a autonomia é essencialmente uma capacidade para reflexão crítica, tornar decisões e agir com independência [...]". Pressupõe também que o aprendiz desenvolverá uma relação positiva em relação ao processo e conteúdo de sua aprendizagem. Outros autores: Pemberton et al (1996) Benson & Volter (1997); Hurd (1998a) e (1988b); definem autonomia como uma capacidade e também como uma habilidade do aprendiz em se responsabilizar pela sua aprendizagem. Mas Little (idem: 2-3) aponta que há três concepções falsas que são empecilhos para trabalhar a autonomia nas salas de aula:
1) O programa determina tudo o que o professor faz em sala de aula;
2) Os exames são barreiras ao desenvolvimento da autonomia do aprendiz porque predetermina o conteúdo da aprendizagem;
3) O conteúdo do que foi ensinado nunca foi capaz de por si só garantir aprendizagem numa segunda língua.
Dickinson (1987) é mais contundente ao definir o termo com "responsabilidade total pela tomada e implementação de todas as decisões a respeito da própria aprendizagem [...]". Já Crabbe (1993) apresenta três argumentos para justificar a autonomia: o ideológico, o psicológico e o econômico. O argumento ideológico se refere ao direito de ser livre para exercer suas próprias escolhas. O econômico próprio das classes privilegiadas, se refere à capacidade de financiar a própria educação, pois as sociedades, geralmente, não têm recursos suficientes para prover instrução para todos. O psicológico explica que aprendemos mais quando nos responsabilizamos pela própria aprendizagem.
Holec (1981, p.4) privilegia o viés psicológico ao definir autonomia como:

[...] A capacidade de se responsabilizar pela própria aprendizagem, que ele diz abranger os seguintes aspectos: determinar os objetivos; definir conteúdos e progressões; selecionar métodos e técnicas para serem usadas; monitorar o processo de aquisição e avaliar o que foi adquirido [...].

Baseado nessas informações, podemos perceber que assumir a responsabilidade pela própria aprendizagem, é a idéia de autonomia mais difundida em quase todos os trabalhos que falam sobre estratégias de aprendizagem. Por isso, esse conceito de autonomia está associado ao que Benson (1997, p.19) denominou de autonomia técnica, pois se refere a: "equipar os aprendizes com as habilidades técnicas que eles necessitam para gerenciar sua própria aprendizagem fora da sala de aula [...]".
Além desses conceitos sobre o termo autonomia, é importante também pensarmos no papel do professor, como agente motivador e como também responsável pela promoção da autonomia. Pois, em uma aprendizagem autônoma, o professor é aquele que age como um facilitador e conselheiro. Paiva (1998, p. 81) advoga que o professor pode contribuir para formar aprendizes mais bem-sucedidos e autônomos, incentivando-os "a se responsabilizarem por sua aprendizagem e conscientizando-os sobre os processos cognitivos [...]". Podemos pressupor, então, que o comportamento autônomo de um aprendiz pode estar diretamente relacionado ao tipo de comportamento que o professor apresenta em sala de aula. Em que, um professor motivador, torna o aprendiz motivado a ter responsabilidade pela própria aprendizagem. E que a mesma, só se torna possível com a interação e treinamento entre os professores e alunos.
É importante também não esquecer, que o aprendiz não se torna autônomo se dissemos para ele "ser autônomo" é necessário que ele se sinta motivado, para ir em busca do seu próprio conhecimento. Por isso, o professor tem o papel de agente motivador nesse processo, é importante que ele ofereça ambientes de aprendizagem propícios à autonomia, usando estratégias de aprendizagens, métodos e técnicas que possam influenciar a autonomia do aprendiz. E como foi dito nos parágrafos anteriores, um aprendiz de línguas motivado, terá a capacidade de responsabiliza-se por sua aprendizagem, ou seja, ele será um aprendiz autônomo, capaz de aprender a língua de forma proveitosa.
3. Conclusão
Finalmente, com o presente artigo foi possível perceber e compreender melhor o termo autonomia, e principalmente concluir o quanto ela é importante dentro do processo de ensino-aprendizagem de uma Língua Estrangeira. Entendemos também, que um aprendiz motivado, terá responsabilidade pela sua própria aprendizagem e que o professor exerce um grande papel, no alcance da autonomia por parte dos aprendizes. Então, esse trabalho, busca dimensionar a importância da autonomia, que é vista aqui como um conjunto de atitudes, posturas, valores e planejamento, em etapas, das tarefas com vistas a uma aprendizagem mais consistente. E, com isso, avaliar como tudo se relaciona com a motivação e as estratégias produzidas pelos aprendizes, na aprendizagem de línguas e na contextualização desses conhecimentos. É importante também levar em consideração, que alguns fatores tais como: o contexto, a política educacional, a escola, o professor, o material didático e características individuais do aprendiz, dentre outros, também terão influência sobre a autonomia.
4. Referências Bibliográficas
BENSON, P. 1997 The philosophy and politics of learner autonomy. IN: P. BENSON.& P.Voller. (Org). Autonomy & independence in language learning. Longman.

CRABBE, David. Fostering autonomy from within the classroom: the teacher's responsibility. System, vol. 21, n. 4, p. 443-452, 1993.

DICKINSON, L. Self-instruction in language learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

HOLEC, H. Autonomy and foreign language learning. Pergamon, 1981.
HURD, S.1998b). Too carefully led or too carelessly left alone? Language Learning Journal 17.
LITTLE, D.(1994). Learner Autonomy 1: definitions, issues and problems. Dublin: Authentik.
PAIVA, V.L.M.O. Estratégias individuais de aprendizagem de língua inglesa. Letras & Letras. Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 73-88, jan./jul. 1998.
PERBEMTON et al (eds.) (1996). Taking Control: autonomy in Language Learning. Hong Kong: Hong Kong University Press.