Resumo

A ênfase desta investigação exploratória foi realizada com o objetivo de mostrar aos profissionais de enfermagem a necessidade de utilizar a sistematização da assistência, visto que a mesma faz com que o fazer técnico se torne um fazer científico. Esta pesquisa proporcionou oportunidades de refletir sobre e desvendar uma atividade de interesse, porém, pouco usada e ainda nebulosa, na enfermagem brasileira, no sentido de levar os atores – enfermeiros – a uma nova perspectiva de compreensão e ação sobre a metodologia assistencial, enfatizando todos os benefícios para o mesmo e para a profissão em geral.
PALAVRAS CHAVE: Processo de Enfermagem, ciência, profissional, conhecimento.

Introdução

A enfermagem possui diversos instrumentos que podem ser utilizados para o seu exercício profissional, dentre os quais está o Processo de Enfermagem que é o método preconizado para implementação da assistência prestada.

No Brasil, a primeira referência ao processo de enfermagem como trabalho científico deve-se a Zaíra Cintra Vidal. Em 1934, ela publicou artigo a respeito nos Annaes de Enfermagem, em que, além de apresentar as características e de discutir sua utilidade, fez recomendações sobre o modo organizar o "caso de estudo", afirmando que, "dessa organização depende toda a vantagem do método" (VIDAL, 1934).

A história da enfermagem nos possibilita conhecer a posição ocupada pela mesma e vista pela própria categoria e por outras que a forma como sendo submissos à medicina, muito provavelmente pelo fato de a medicina ser sempre embasada em ciência e a enfermagem durante anos se teve ao agir tecnicamente orientado.

Nos dias atuais o profissional de enfermagem obriga-se a contribuir para que a sua área cresça e renove seus conhecimentos, forçando o profissional a observar e criticar a eficiência dos métodos e técnicas que o mesmo utiliza. Para que se possa aplicar com sucesso a assistência de enfermagem tomando por base o conhecimento cientifico e não somente originada da prescrição feita pelo profissional médico, temos hoje a sistematização da assistência de enfermagem que possibilitou que a nossa profissão fosse embasada em ciência. (ANDRADE 2007 apud SOUZA 1988).

Acreditando que a decisão de adotar ou não o Processo de Enfermagem não situa-se apenas no enfrentamento de fatores externos organizacionais ou administrativos que facilitem ou dificultem a sua implantação, mas sim no significado que o processo tem para o enfermeiro, nos sentimos inquietos e sobretudo motivados a realização desse estudo onde mostramos a autonomia do enfermeiro frente à aplicabilização do processo de enfermagem que faz com que a profissão antes tecnicamente orientada passe a ser embasada em ciência, onde os enfermeiros devem ver esse processo como sendo uma alternativa para que os mesmos alcancem um status profissional mediante a realização de uma prática, agora com bases cientificas.

Metodologia

O estudo é de caráter exploratório bibliográfico, com abordagem qualitativa. Para o estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em artigos, livros e periódicos, mediante leitura e registrando ao lado do texto, as idéias que emergiram a partir da análise dos registros disponíveis.

Desenvolvimento

Para Andrade (2007) apud Andrade e Vieira (2005) o processo de enfermagem é considerado a metodologia de trabalho mais conhecida e aceita no mundo, facilitando a troca de informações entre enfermeiros de várias instituições. A aplicação do processo de enfermagem proporciona ao enfermeiro a possibilidade da prestação de cuidados individualizados, centrada nas necessidades humanas básicas. Este é definido como "a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano", podendo ser denominada ainda, como Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE).

Rossi e Casagrande (2001) apud Kenney (1990) entendem o processo de enfermagem como sendo uma atividade deliberada, lógica e racional, onde a pratica da profissão é desempenhada sistematicamente que se compõe de cinco componentes inter – relacionados: coleta de dados, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação.

Ao fazer uma revisão da literatura da área em busca de elementos para esse estudo, observamos que o processo de enfermagem é usualmente descrito como sendo o ponto focal, o cerne ou a essência da prática de enfermagem (SMELTZER; BARE, 1998).

Tannure e Gonçalves descrevem que:

"O impacto do movimento de sistematizar o cuidar tem motivado os enfermeiros em todo o mundo, a vencerem esse desafio na assistência, no ensino e na pesquisa. Muitos são os benefícios descritos pela aplicação da metodologia assistencial".

Tal metodologia segundo o mesmo autor traz implicações positivas para a profissão de enfermagem, para o cliente e para o enfermeiro em particular. Porém, observa-se que apenas alguns serviços aplicam uma metodologia mais elaborada na organização da assistência de enfermagem. Visto que a maioria das instituições tem sua prática cotidiana guiada por normas e rotinas pré-estabelecidas.

Os serviços que buscam a implantação do Processo de Enfermagem, por sua vez, localizam-se, em grandes centros urbanos ou estão ligados a serviços de formação acadêmica. Na tentativa de facilitar a operacionalização do método, muitas vezes o serviço de enfermagem, inicialmente faz a opção de trabalhar algumas etapas da metodologia. Mas esse trabalho sistematizado ainda não está incorporado à prática assistencial, estando mais presente no discurso dos profissionais do que no fazer cotidiano (IBIDEM).

Ao aplicar uma assistência de enfermagem sistematizada o enfermeiro além de constituir a essência de sua pratica, possibilita atingir a sua autonomia profissional. Desde 1986 esse planejamento de assistência se tornou uma imposição legal com a lei do Exercício Profissional nº7.498, art. 11, como mostra o Conselho Federal de Enfermagem COFEN:

"O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe privativamente: ...c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem".

Reforçando a importância e necessidade de se planejar a assistência de enfermagem, a Resolução COFEN nº. 272/2002, art. 2º afirma que:

"A implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem SAE deve ocorrer em toda instituição da saúde, pública e privada".

O processo de enfermagem é considerado a metodologia de trabalho mais conhecida e aceita no mundo, facilitando a troca de informações entre enfermeiros de várias instituições. A aplicação do processo de enfermagem proporciona ao enfermeiro a possibilidade da prestação de cuidados individualizados, centrada nas necessidades humanas básicas. Este é definido como "a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano", podendo ser denominada ainda, como SAE - Sistematização da Assistência de Enfermagem. (ANDRADE 2007 apud ANDRADE; VIEIRA, 2005).

O processo de trabalho em administrar ou gerenciar em enfermagem tem como objeto os agentes do cuidado e os recursos empregados no assistirem enfermagem. Por causa disso, muitos profissionais de enfermagem consideram que este fazer deve ter sua importância diminuída, pois se acostumaram a ouvir e a repetir que a enfermagem deve se ocupar a apenas do cuidar. No entanto, não há cuidados possíveis se não houver a coordenação do processo de trabalho assistir em enfermagem, finalidade do processo de enfermagem (SANNA 2007 apud HAUSMANN 2006).

A mesma autora mostra que aoutra razão pela qual há tanto mal estar quando se aborda o processo de enfermagem é por que ele tem como agente o enfermeiro, o único profissional que domina os métodos empregados nesse processo. Que são segundo Mendes e Bastos (2003) apud Castilho (2000): o planejamento, a tomada de decisão, a supervisão e a auditoria. Mesmo o técnico de enfermagem pode auxiliar o enfermeiro nesse fazer por que recebeu informação para isso, não é formado para administrar e sim para prática do gerenciamento dos recursos empregados para assisti-lo em enfermagem, instrumentos desse processo. Assim, o enfermeiro se torna capaz de prover condições para o cuidado se efetivar com eficiência e eficácia, que é o produto do processo de trabalho administrar em enfermagem. Essas são as razões pelas quais cabe exclusivamente ao enfermeiro ser agente desse processo.

O contexto hospitalar, em que os enfermeiros têm tentado desenvolver o processo de enfermagem, tem se caracterizado pela ideologia de dominação da medicina e pelas estruturas de poder da instituição que reforçam o poder do médico, e mais recentemente, dos administradores. O médico tem como seus aliados todos os ingredientes do poder: a ideologia e a tecnologia. A enfermagem tem se caracterizado por ocupar uma posição de subordinação na instituição que, na maioria das vezes, adota uma forma de organização burocrática, valorizando a especialização e o controle, e favorecendo a manutenção do foco de atenção da enfermagem na execução de tarefas, e não no atendimento da pessoa (ROSSI; CASAGRANDE 2001 apud FORD; WALSH 1995).

Teixeira; Fernandes (2003) apud Nort American Nursing Diagnosis Association - NANDA (2002) atribui ao enfermeiro não somente a responsabilidade na identificação correta dos diagnósticos de enfermagem, mas, sobretudo no resultado das intervenções eleitas por ele na resolução dos diagnósticos identificados.

Quando os enfermeiros compreendem que processo de enfermagem ou a SAE é incontestavelmente uma boa proposta para a qualidade da assistência, não retardarão em incorporá-la no seu fazer profissional, renegando a forma rotineira, pouco crítica e menos cientifica com que vêm assistindo aos seus pacientes. (TEIXEIRA; FERNANDES, 2003).

Considerações Finais

Para tanto, expõe-se ao longo deste estudo, que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é acima de tudo a oportunidade dos enfermeiros em tornar o fazer-técnico em fazer - científico, visto que a aplicabilidade desse processo além de ser ação única e exclusiva do enfermeiro, proporcionando sua autonomia, onde os registros implicam em respaldo legal seguro, promove uma maior aproximação do enfermeiro ao paciente, visando uma assistência humanizada. Visto que o interesse parte apenas de profissionais que buscam a valorização da profissão.

Portanto, cabe aos profissionais de enfermagem analisar a sua posição frente à necessidade e benefício na aplicação do processo, visto que são os principais beneficiados, contribuindo assim, para que a sua profissão se embase em ciência e não técnica.

Ao finalizar, partilho do pensamento de Mendes e Bastos (2003) apud CECÍLIO (1997):

"... é o momento da criação de possibilidades, de pensar o novo, o não pensado antes. Ou seja, quebrar as amarras da mesmice cotidiana que nos embrutece e vislumbrar, como numa epifania, o não vislumbrado antes...".

Referencial Bibliográfico

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SMELTZER, S. C.; BARE, B.G. Brunner e Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgica. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

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