Resumo

O tema central deste trabalho é a ausência de comunicação entre as pessoas, mulheres desocupadas de meia idade no ambiente urbano de casas pequenas, dificuldades económicas, solidão e rotina. Através da análise da estrutura, linguagem e outros motivos relacionados, salienta-se o afastamento a incapacidade de comunicar com o Outro.

Palavras-chave: solidão, ausência de comunicação, rotina, contos. Teolinda Gersão 

A AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO NO CONTO A CONVERSA DE TEOLINDA GERSÃO 

Introdução

         Ao longo deste trabalho serão analisados alguns aspectos da obra de Teolinda Gersão em geral, para a partir dai ser abordado um ponto em particular- a ausência de comunicação no conto “A Conversa”, que pertence à colectânea A mulher que Prendeu a Chuva e Outros Conto. Este conto foi escolhido porque, apesar do título, o conteúdo revela um fenómeno cada vez mais presente nas sociedades modernas e sobretudo no meio urbano, a alienação e a ausência de comunicação ente as pessoas, que se deve ao excesso de trabalho, a velocidade da vida contemporânea, ao desinteresse pelo Outro enquanto próximo, à superficialidade dos relacionamentos e a inúmeros outros factores.

O motivo da solidão humana será, em primeiro lugar, visto dentro do contexto dos temas e motivos que predominam na narrativa da autora e depois serão observados os pormenores do conto, que sem dúvida alguma confirma a existência de uma realidade banal, pobre em emoções verdadeiras e afectos sinceros, em que as personagens sabem tudo sobre a vida dos vizinhos sem saírem das suas respectivas casas, procurando, desta forma satisfazer a profunda necessidade que os seres humanos têm de conversar e partilhar as palavras uns com os outros. Como fontes usadas para a elaboração deste pequeno ensaio serão citadas também outras colectâneas de contos tal como alguns dos romances da autora, para se verificar até que ponto os mesmos temas predominam nos seus livros, e também, para se observarem as diversas formas em que eles são tratados.

            Ver-se-ão, também, outros aspectos do conto, nomeadamente o estilo, a forma de narrar, alguns motivos, que, embora possam parecer secundários, não deixam de ter importância para a totalidade do conto e para a sua compreensão.

 

 

Características específicas da obra de Teolinda Gersão: temas e motivos  problematizados

 

A obra desta escritora portuguesa é interessante para os leitores porque lhes oferece uma série de motivos trabalhados também nos outros autores portugueses e internacionais, mas abordados de forma muito especial e da perspectiva intimista e feminina, como se pode verificar em Gersão, (1997).

Deste modo, falando do afastamento entre os seres humanos, tenta aproximar-nos do profundo sofrimento que as pessoas sentem e permite-nos observar as profundidades das suas próprio vazio e rotina da vida quotidiana.  Ao longo dos seus livros, a autora aborda as questões do lugar do homem no mundo, da sua relação com outras pessoas, a procura do sentido da vida, a incomunicabilidade o amor, a morte a identidade, segundo salienta Prado Coelho (2003 p.377).

A autora deseja levar o leitor a descoberta do íntimo e humano. Problematiza também a relação entre os homens e mulheres e a ligação com a natureza, como o salienta Machado, (1996). No meio urbano que a autora descreve ver-se-á que a relação do homem com a natureza pode interpretar-se como um afastamento absoluto ou ainda como uma mera visão consumista do mundo. Mergulhando o leitor dentro da realidade das suas personagens, a escritora não se detém apenas na descrição da superfície, também pretende dar-lhe uma perspectiva contrastada entre o exterior e o interior, um paralelismo entre o mundo real e a utopia, como se pode verificar em Gersão, (2003.)

O mundo em que as personagens existem é um mundo de silêncio, da solidão, do isolamento, da rotina. Por vezes trata-se de uma realidade fragmentada pelas memórias e sonhos, ou ainda de uma realidade que está longe do presente e que já não existe, como se nota em Gersão, (1995).

 Os protagonistas são homens e mulheres comuns, com os seus problemas diários, com a dificuldade de exprimir os seus sentimentos, de se relacionar com os outros e de viver plenos e felizes, o que nos faz pensar que aqueles podem ser os problemas de cada um de nós, facilitando, deste modo, a leitura e a interpretação das obras de Teolinda  Gersão. A escrita da romancista também é reflexo da sua estadia em vários lugares, nomeadamente Brasil e África. Quando descreve Portugal, o seu espaço preferido é Lisboa com os seus ambientes urbanos.

 

 

A linguagem como elemento importante na obra de Teolinda Gersão

         Um dos traços mais originais na obra da autora é a sua linguagem simples e profunda ao mesmo tempo, para ela, como se afirma na Biblos Enciclopédia, (1997 p. 820). “... as palavras têm textura, densidade, um pulsar próprio, ganham autonomia, uma espécie de “vida” própria.”

            Emprega frases de muitos verbos seguidos, o que dinamiza os seus contos e dá a impressão da naturalidade e espontaneidade da acção. Os períodos oracionais nos contos de Teolinda Gersão muitas vezes abundam de frases intercaladas, que remetem para os elementos anteriores, que, no entanto, não dificultam a leitura. Pelo contrário, servem para esclarecer o discurso e dar mais vida ao texto escrito. A escritora (Gersão , 2002, 2003, ,2007) de vez em quando utiliza as expressões da linguagem popular “não é que isso me aquente, nem arrefente” “com a corda na garganta”, “ainda lhe dizia umas poucas”, “escanzelada que nem um pau de virar tripas”, “ tanto nos dava passar ou não.

 Para dar mais ilustratividade e para aproximar a língua quotidiana dos protagonistas da linguagem do leitor e das situações do dia-a-dia em que este tipo de linguagem é frequente, a escritora intercala com uma grande destreza estes termos com os literários e mais elaboraos.

 Mesmo quando descreve as situações banais e triviais, a linguagem que é usada tem a sua própria vibração, dinamismo, humor e vitalidade, o que, de certa forma ajuda a tornar mais alegre a realidade cinzenta em que as suas personagens vivem. Através das palavras que usam, as personagens de Teolinda Gersão procuram encontrar-se a si próprias e também encontrar-se com o Outro e desta forma tentar quebrar o silêncio e a falta de comunicação que as rodeia. Algumas das personagens no mundo dos seus livros (Gersão, 2007:61) recorrem a outras formas de linguagem, uma linguagem não verbal, para tentarem comunicar: “acenava com a cabeça afirmativamente”, “ia fazendo sons de aprovação, a meia voz” , “suspirava”

 A verdadeira comunicação, porém, como se vê na colectânea que estamos a analisar, continua a faltar, devido à carência de afectos e proximidade entre os seres humanos, cada vez mais afastados uns dos outros no meio dum ambiente frio, indiferente e alheio, que hoje em dia representam as cidades. Muitas vezes, as protagonistas colocam questões que permanecem sem resposta “ Não é verdade? “, “A prima não acha?” “que haviam de saber?”

Estas perguntas, embora pareçam retóricas, na verdade esperam uma resposta, um acto de concordar ou discordar, uma partilha de opiniões ou uma palavra qualquer, que seria capaz de anunciar a presença de mais uma pessoa na conversa e no tempo e espaço da outra pessoa. Por isso, é notável a falta de diálogos, o uso da terceira pessoa do singular a ausência do “eu” e, sobretudo do “tu” porque a comunicação implica sempre mais de um participante e envolve vários graus de intimidade e proximidade. É precisamente isto que a escritora deseja destacar e polemizar através das suas obras. A necessidade humana de partilhar palavras, informações, afectos e emoções fortes e profundas.

Motivos, temas, personagens e estrutura da narrativa “Conversa”

 

Depois de uma primeira leitura não tão aprofundada do conto poder-se-ia pensar que é possível reduzir o tema do conto à bisbilhotice feminina num prédio de vários andares, onde as mulheres desocupadas perdem o seu tempo com os pormenores banais das vidas pessoais das vizinhas. Por outro lado, debaixo desta primeira camada de significados, os leitores mais atentos conseguem identificar vários planos e níveis de interpretação. Começando pelo título, nota-se logo a multiplicidade de sentidos que a palavra contém. Quando nos referimos a uma conversa, esperamos encontrar pelo menos duas pessoas a partilharem a mesma língua e a comunicarem através dela. Continuando a analisar, podemos aperceber-nos que o temas duma conversa podem variar desde os mais sérios até aos mais triviais. Descrevendo porém, uma situação que abunda em detalhes muito particulares e íntimos da vida das pessoas (o divórcio, o amante, a roupa interior sexy, a operação plástica e a lipo-aspiração o marido que esbanja dinheiro em jogos, os problemas da filha) e, por outro lado, assuntos sem importância nenhuma (a loiça deixada e escorrer em vez de ser enxugada com um pano, as colecções de selos e de moedas do vizinho, as marcas de roupa, as compras a prestações etc.)

Esta duplicidade de temas da conversa revela uma série de motivos e elementos subjacentes, que completam e preenchem a estrutura e o conteúdo do conto: a solidão humana sublinhada várias vezes ao longo da história Gersão, 2007: 64) na seguinte frase.:“Estou na minha casa e as coisas dos outros não me interessam”.

Estando, assim, todas as protagonistas fechadas nas respectivas casas pequenas e apertadas, isoladas e afastadas umas das outras, aparentemente têm a única solução para os seus problemas: a de saber que nas outras casas (idem, 62) “anda o Diabo à solta.”

Além deste motivo, o da natural curiosidade feminina está muito presente no conto revela-se aos leitores através das mulheres que olham pelo buraco da porta ou estão paradas detrás da cortina e que desejam saber tudo sobre todos e que o conseguem, porque não é apenas a narradora a que gosta de interferir nas vidas dos outros, também o é a Aldina e a dona Libânia. O orgulho e o desejo de culpar o outro pelas próprias falhas são supostas desculpas para não comunicar com o outro, o que se vê melhor nas relações cortadas entre a dona Libânia e a narradora, que deixaram de comunicar por um problema com a empregada (idem, 70). “ Se ela não vem cá cima, também não quero descer lá abaixo ao rés-do-chão”

Por razões sem grande sentido e valor a comunicação interrompe-se  e não se estabelece de novo. Aqui  o facto de se ter de descer alguns andares torna-se um obstáculo insuperável, e podemos perceber que por trás da semelhante actitude existe uma razão muito mais profunda e essencial que o orgulho e  a dignidade. Esta razão é a incapacidade de dirigir uma palavra afectuosa e carinhosa ao Outro, a dificuldade de perdoar, a de comunicar sinceramente e sem reserva.

O próximo elemento que pode parecer interessante no tecido completo do conto é o motivo da religiosidade. Muitas das personagens têm nomes que de uma ou outra forma podem estar relacionados com a religião católica (Conceição, Patrocínio, Tecla), o que também é um indicador da sua idade porque as gerações mais velhas davam mais importância à religião. Num Portugal muito ligado às tradições do cristianismo ocidental era lógico que, na época do Estado Novo predominassem os nomes derivados dos conceitos importantes cristãos ou aos nomes de santos,. No nome de Tecla é evidenta uma duplicidade de sentidos porque,além da referênci óbvia a uma das santas dos primeiros séculos do cristianismo, contém um outro significado, que faz lembra a expressão popular “bater na mesma tecla“ que significa fazer sempre o mesmo ou „ insistir na rpetição de um acto rotineiro e monótono. A imagem usada na expressão remete para as teclas do teclado da máquina de ecrever ou do computador, que são invenções do século XX, em que o desenvolvimento das tecnologias em grande medida condicionou o aborrecimento, e a dureza da vida quotidiana e a oncomunicação entre as pessoas. Pela forma em que se chamam também se pode deduzir o eu estatuto social, uma vez que esses nomes são mais apropriados para as camadas sociais baixas ou para a classe média.

Esta religiosidade claramente sublinhada pelos nomes das protagonistas reduz-se, no mundo das protagonistas, a um aspecto formal: a «ser muito da igreja», a ascender  de vez em quando «uma vela ao Santíssimo», a receber visitas do padre Aurélio e a utilizar expressões populares como  «Deus do céu», enquanto o aspecto profundo de amor pelo próximo e compaixão parece ser perdido ou pelo menos escondido.

Nunca no conto se faz referência ao ambiente da igreja que a narradora frequenta, não se sabe se é um meio acolhedor e agradável, não se menciona nada que nos poderia ajudar a perceber que dentro daquela igreja as pessoas encontram paz, sossego e boas relações interpessoais. Claro está que agora os leitores poderiam acusar a narradora e a prima de hipocresia e de falsidade em relação à religião porque obviamente infringem algumas regras que a lei de Deus e da Igreja propõem, e algumas delas são: não guardar rancor ao próximo, respeitar e amar o outro a pesar dos defeitos que tem, não falar mal de ninguém, não invejar, não desejar nada do que não nos pertence.

Por outro lado, no fim do conto (idem 71) aperecem traços de compaixao pela vizinha «infeliz que vive numa casa tão pequena e  tão apertada e que não tem ninguém com quem falar» Aqui o momento de piedade e comiseração também tem duplo significado: a pena que a protagonista sente pela vizinha também o compadecimento de si própria e da solidão, do vazio e da rotina em que vive.

Pela linguagem que se utiliza, podemos chegar à conclusão de que as personagens não têm um nível muito elevado de escolarização, mas, visto que têm empregadas, pode-se pensar que pertencem à classe média empobrecida.

A situação económica da protagonista ota-se claramente pelo facto que a narradora muitas vezes menciona de várias formas: na casa dela tudo tem medida e peso, não se deve comer tanto para se engordar e gastar dinheiro nas cirurgias plásticas etc. A dona Libânia também há doze anos que não faz férias e gostava de as fazer se ganhasse a lotaria. Todos estes factores contribuiram para no prédio e na vida de cada uma destas mulheres se criar um grande vazio, impossível de se priencher de modo algum, dado que elas sacrificaram o tempo livre e tudo por causa da casa e das famílias  e por isso, a narradora, tal e como a dona Libânia e muitas outras personagens mencionadas e anónimas, passam o tempo interferindo na vida dos vizinhos. Como se refere no próprio conto, (idem 68) «A dona Libânia fala da vida de todos, mas não gosta que ninguém fale da dela» .

O desejo de preservar a própria intimidade e privacidade é natural nos seres humanos,  o que não impede a existência da comunicação normal e saudável ali onde há coisas para serem ditas e partilhadas. Mas, a questão que se coloca a este nível é o desejo de esconder os detralhes desagradáveis e menos aceitáveis da própria vida, e que tem mais força que o respeito da privacidade. Do que não se deve falar é a vida da narradora, porque então será visível  o enorme vazio, a alienação, a solidão e o isolamento dela. Ao longo do conto tenta estabelecer a comunicação com a prima Tecla, que nem a ouve, nem mostra alguma compreensão, nem interesse nos detalhes da conversa. Quando responde, as suas frases soam tão mecânicas, tão indiferentes e são pronunciadas pura e simplesmente para a conversa não acabar., como se verifica no corpo do texto (idem,61) «ora, mas que haviam de saber, era tudo uma gente tão normal, a prima não acha?»

  Se a conversa acabar, vai-se ouvir só a respiração da tia Patrocínio que está a dormir e elas as duas vão ficar cada uma no seu silêncio. Por isso, a resposta duma prima termina com outra pergunta, que também permanece aberta e não respondida. O que as une é a solidão, mas duas solidões isoladas não são capazes de fazer companhia, de dar afecto e carinho.

Nem sequer antes de as relações entre Conceição e a dona Libânia se terem cortado, entre elas havia uma comunicação boa, construtiva e forte, pelo contrário, o que as mantinha unidas era a rotina e o hábito de viver uma ao lado da outra. Para ilustrarmos esta idea citaremos algumas partes do texto do conto: (idem.61) «Sempre era vizinha, não é verdade? Porta com, porta por assim dizer, há trinta anos.»

Aqui, como se vê, não há amizade, não há verdadeira proximidade, não existem relações de verdadeiro interesse pelo outro. A pesar de tudo, a protagonista recebia a vizinha (idem, 62)  «malcriada como poucas, metediça até dizer chega» em casa porque não se podia livrar dela e também para não ficar na sua própria solidão.

A estrutura do conto, embora pareça bastante linear, abunda sempre de elementos intercalados que remetem para algum acontecimento anterior, e de tal forma se imita a naturalidade e esponteneidade duma conversa da vida quotidiana. Alguns dos exemplos (idem) que o ilustram são os seguintes: «esqueci-me de lhe dizer que na altura a dona Libânia estava a verrer a soleira da casa» , «divorciada, sim, do primeiro divorciou-se» , «como a prima sabe, «não é que este agora não goste de jogar»

Mais ainda temos de nos concentrar nas formas de tratamento: a dominante é a terceira pessoa de singular, que indica respeito e ao mesmo tempo distanciamento do interlocutor. Mesmo entre primas, Tecla e Conceição, quando existe uma relação de parentesco, não  há lugar para o tratamento por tu, o que sublinha ainda mais a falta de uma relação próxima, de carinho e confiança. Pode também interpretar-se como um resto da educação antiga, de acordo com a  o emprego da terceira pessoa de singular era muito frequente entre os membros da família de determinadas classes sociais.

A conversa começa logo pelos detalhes sobre o comportamento da criada, as primas, no início do conto não se cumprimentam, não se dão beijos, não se perguntam pela saúde, mesmo que estas sejam apenas  manifestações básicas de cortesia. Começa-se logo por falar da vida dos outros num ambiente onde o outro interessa só aparentemente. Fazem-se sinais de aprovação para não acordar a tia Patrocínio e no entanto, revelam-se os detalhes mais íntimos e até mais escandalosos sobre os outros sem ter um mínimo de proridos. (a dor do vizinho Lopes por causa do abandono da mulher, o amante dez anos mais novo que a vizinha, as dívidas e a pobreza do marido da dona Libânia são apenas alguns dos assuntos principais desta conversa).

Estas mulhere são irrealizadas, com dificuldades económicas, não se preocupam nem consigo próprias e com o seu aspecto físico, (idem, ,67)  («são coisas caras, permanentes e pinturas, afinal, passa-se bem sem elas» e muito menos têm em conta os problemas dos outros. A única palavra de compaixão que conseguem dirigir às vizinhas é «coitada», que oferece uma dupla possibilidade de interpretação: de pessoa digna de pena ou até é possível pensar no sentido irónico que se atribui a este termo.

Consideramos importante salientar a cena da discussão entre a Aldina e a dona Libânia para podermos analisar as consequências desta situação e o comportamento dos outros vizinhos. A Aldina  chamou a dona Libânia de  l“inguareira“ e “metediça“, o que provocou  uma série de gritos, insultos, empurrões e até um golpe com a vassoura na cabeça da Aldina, e uma sequência importante do conto (idem,69) é que «começaram a falar todos ao mesmo tempo acima dos gritos da Aldina.»

Mesmo que os pormenores desagradáveis tentassem esconder-se a qualquer preço, acabaram por ser revelados e contados por todos ao mesmo tempo, e ninguém dos vizinhos tomou uma atitude firme para defender a Aldina, nem de separar as duas vizinhas, nem de tentar reconciliá-las, o que demostra mais uma vez o profundo desinteresse, indiferência e falta de comunicação entre os próximos.

            O conto termina com uma pergunta (idem, 71) «a prima não acha?» que, como muitas outras anteriores vai ficar no espaço vazio entre duas primas, apenas como um veículo de a conversa banal, fútil e inútil continuar e não acabar. A resposta não aparece, nem é esperada, podemos supor que vão continuar a falar sobre o mesmo assunto durante horas e horas a seguir, porque para as protagonistas tudo é melhor que o silêncio, um silêncio que perturba, que dói e revela a alienação e um vazio tremendo nas almas das passoas e uma profunda infelicidade por causa das vidas esbanjadas em vão, entre uma e outra história sobre as vizinhas de cada andar.

 

Conclusões

 

Nas páginas deste pequeno trabalho tentámos analisar um motivo importante na obra de Teolinda Gersão, e sobretudo no conto «Conversa»- a falta de comunicação na vida quotidiana entre as pessoas que vivem no meio urbano. As razões para o fenómeno do afastamento entre os seres humanos nas cidades são inúmeras: excesso do trabalho, a rapidez do ritmo em que nos movimentamos etc. No entanto, não eram estes aspectos que interessaram a autora neste caso: optou por se concentrar na vida das mulheres desocupadas, de meia ou terceira idade, que não mencionam e existência de filhos ou netos, e que, a pesar de serem primas,  têm uma relação emocionalmente indiferente, e por medo da solidão e abandono, conversam sobre os detalhes da vida íntima dos vizinhos. Este conto tenta obrigar o leitor a pensar sobre o sentido da vida, a velhice, as formas de preencher o tempo livre para não se converter num ser digno de pena e até de desprezo, e sobretudo, tem a intenção de nos lembrar e re-lembrar sobre a importância das pessoas que passam pelas nossas vidas e da relação afectiva que constroimos e devemos manter com elas para o nosso próprio bem, e para o bem do nosso próximo.

Bibliografia:

a) obras da autora

GERSÃO, Teolinda (1995) O Silêncio, Publicações Dom Quixote, Lisboa

____________ (1997) Os Guarda-chuvas Cintilantes, Publicações Dom Quixote, Lisboa

______________ (2002) Histórias de Ver e de Andar, Publicações Dom Quixote, Lisboa

­________________ (2003) O Mensageiro e Outras Histórias com Anjos, Publicações Dom Quixote, Lisboa

_________________(2007) A mulher que Prendeu a Chuva e Outros Contos, Sudoeste Editora, Lisboa, pp.60-71

b) enciclopédia e dicionários:

BIBLOS ENCICLOPÉDIA VERBO DAS LITERATURAS DA LÍNGUA PORTUHUESA,  (1997), vol. II, Verbo Editora, Lisboa, pp.627-629

INSTITUTO PORTUGUÊS DE LIVRO E BIBLIOTECAS (org)  (2001)Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Publicações Europa-América, Lisboa, pp. 627-629

MACHADO, Álvaro Manuel (1996) Dicionário de u Portuguesa, Editorial Presença. Lisboa, pp.220-222

PRADO COELHO, Jacinto (dir.) (2003) dicionário da Literatura Portuguesa Brasileira Galega Africana,  Estilística literária, vol. 2, Livraria Figueirinhas, Lisboa, pp 377-379

c) página web:

http://www.teolinda-gersao.com