INTRODUÇÃO

O leite humano é um alimento nutricionalmente adequado para o recém-nato, adaptado ao metabolismo deste, desempenhando importante papel no desenvolvimento da criança e proporcionando proteção imunológica contra doenças infecciosas, particularmente a diarréia; além disso, estimula a relação afetiva do bebê com a mãe. 4

O aleitamento materno é tão importante para o desenvolvimento e crescimento da criança, que com base em evidências científicas, a OMS recomenda a prática da amamentação exclusiva por seis meses e a manutenção do aleitamento materno acrescido de alimentos complementares até os dois anos de vida ou mais. 7

Tendo em vista o impacto social que o aleitamento pode proporcionar, sua prática dentro de um percurso histórico e em meio a muitos empecilhos, desde mitos até a propagação do leite me pó, faz-se necessário uma reflexão crítica sobre tais aspectos, dando ênfase aos benefícios do leite humano tanto para a mãe e o filho quanto para sociedade.

Vale ressaltar que tais reflexões também incluem o papel do enfermeiro na prática do aleitamento materno, desde suas ações como profissional de saúde até mesmo no cuidar no que se diz respeito às mães que não podem amamentar devido a hospitalização e a existência do banco de leite humano.

Assim, tais questionamentos são discutidos aqui, com o intuito de proporcionar maior esclarecimento e mostrar o enfermeiro como peça fundamental na promoção da prática de amamentar.

ASPECTOS SOCIAIS DO ALEITAMENTO MATERNO

As questões relacionadas à prática da amamentação têm-se configurado objeto de interesse para diferentes atores e grupos sociais ao longo da história. Em todas as épocas, o ser humano foi levado a construir rotas alternativas para responder à demanda das mulheres que, por opção ou imposição, trilharam o caminho do desmame precoce.1

A prática de amamentar é uma experiência que implica no envolvimento de uma série de fatores maternos e outros relacionados ao recém-nascido, a qual não está na dependência exclusiva de uma decisão prévia de amamentar ou não. Também não depende de seus conhecimentos sobre técnicas de manejo da amamentação.6

Desde a década de 80, as evidências favoráveis à prática da amamentação exclusiva aumentaram consideravelmente. Atualmente sabe-se que a administração de outros líquidos além do leite materno nos primeiros quatro meses de vida da criança pode interferir negativamente na absorção de nutrientes e em sua biodisponibilidade, podendo diminuir a quantidade de leite materno ingerido e levar a menor ganho ponderal e a aumento do risco para diarréia, infecções respiratórias e alergias.7

Apesar da amamentação, além de ser biologicamente determinada e socioculturalmente condicionada, tratando-se, portanto, de um ato impregnado de ideologias e determinantes que resultam das condições concretas de vida. 1 a descoberta de vantagens da amamentação, sob a égide da ciência, redesenhou o ao compatibilizar as peculiaridades fisiológicas do metabolismo do lactente com as descobertas acerca das propriedades biológicas ímpares do leite humano1, contribuindo para dar ênfase a essa prática, que mais que conhecidas, devem ser reconhecidas como fundamental para o desenvolvimento da criança, em todos os aspectos.

No entanto, a indústria construiu elementos culturais de valorização do leite em pó, projetados na sociedade brasileira através de estratégias voltadas prioritariamente para os que detinham o poder de prescrever o regime alimentar do lactente: os pediatras. 1 e até hoje constitui um empecilho na promoção ao aleitamento materno.

Contudo, superioridade do aleitamento materno se transformou em unanimidade no meio científico e foi amplamente divulgada para o público em geral por intermédio de campanhas nos meios de comunicação de massa. 1 sendo um ponto positivo, que vem encontro aos benefícios notados na amamentação.

BENEFÍCIOS PARA A MÃE, O FILHO E A SOCIEDADE

O que determina a ação de amamentar, sua qualidade e duração é o significado que a mulher atribui a essa experiência. Significado este, determinado pela relação percebida pela mulher, do ato de amamentar com os símbolos representados nos elementos de interação vivenciados por ela em seu contexto.6 Assim, é o reconhecimento dos benefícios do aleitamento materno tem levado à busca das causas de seu insucesso freqüente e interrupção precoce.1

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a introdução de outros alimentos (sólidos e/ou líquidos) tenha início somente entre os 4 e os 6 meses, idade em que a criança já necessita de suplementação e está fisiologicamente preparada. Na medida do possível, a amamentação complementada deve ser mantida até os 2 anos de vida ou mais.3

A prática da amamentação estabelece uma interação básica entre mãe e filho, em que é a mãe, que identifica, analisa e faz julgamento sobre as manifestações de comportamento do filho estabelecendo, a partir daí as ações relativas ao ato de amamentar.6

Portanto atualmente, inúmeras evidências epidemiológicas têm reafirmado a importância do leite humano para a saúde infantil. Diversos pesquisadores têm apontado para o efeito protetor conferido ao aleitamento materno, principalmente o exclusivo, contra doenças diarréicas, do aparelho respiratório e desordens do sistema imune.3 além de conferir proteção contra a desnutrição, enterocolite necrotizante e septicemia (em prematuros),diminuindo assim a mortalidade infantil 8 , evitando assim internações hospitalares, gastos com medicamentos e até mesmo evita o gasto com leite em pó, uma vez que o leite materno é direto do produtor para o consumidor.

Por todos estes benefícios, recomenda-se que as crianças sejam amamentadas exclusivamente até os 4 a 6 meses de vida, e que o aleitamento materno continue pelo menos até dois anos de idade, complementado por outros alimentos.8

 

 

 

INTERVENÇÕES DO ENFERMEIRO NA PRÁTICA DO ALEITAMENTO MATERNO

Desde o nascimento do filho, a mãe passa por processo de aprendizado em relação a conhecer e compreender a linguagem do recém-nascido e o método básico que utiliza é a observação de comportamento da criança, principalmente choro, período de sono e vigília, a freqüência com que ela é aceita e solicita a alimentação, o tempo gasto nas mamadas, além de avaliação do crescimento e desenvolvimento.6

A ciência da enfermagem está baseada em ampla estrutura teórica e o processo de enfermagem é o método através do qual essa é aplicada à prática. O seu propósito é de oferecer estrutura na qual as necessidades individuais do cliente, seja ele indivíduo, família ou comunidade, possam ser satisfeitas.2 E no que diz respeito à amamentação, é iminente atentar às necessidades individuais de cada mulher, de forma a personalizar o atendimento. 2

Em casos em que existe a dificuldade da amamentação como em unidades neonatais, as enfermeiras dessas unidades e do banco de leite humano, orientam e estimulam as mães para a ordenha do leite materno que será processado e armazenado no banco de leite do hospital e depois oferecido ao bebê, visando, assim, a manutenção da amamentação materna. A amamentação é uma contribuição para o bem- estar do filho de alto risco e dá à mãe um caminho para se sentir como parte do "time" 5

No entanto a promoção do aleitamento materno não é restrito aos enfermeiro, muito pelo contrário, a participação de todos os profissionais da área de saúde é fundamental, bem como do governo e da sociedade.

Portanto a atitude coerente do governo, dos profissionais e serviços de saúde, dos empregadores, das famílias, das organizações não-governamentais, enfim, da sociedade como um todo e a construção de novos atores sociais que atuem no palco de uma nova "cultura da amamentação", poderão recriar o ato de amamentar como uma prática que beneficiará a maioria das mulheres e crianças brasileiras.8

Sabe-se que esse é um desafio que requer o envolvimento não só da diretoria de enfermagem como do grupo de enfermeiros e equipe de enfermagem para que o processo se inicie e se mantenha2 , sendo as conquistas recompensadoras, uma vez que o futuro da nação são as crianças de hoje, que com o cuidado adequado, com base em sua infância, conseguirão crescer e constituir a população de amanhã.

CONCLUSÃO

Enfim, pode-se concluir que embora a amamentação seja uma condição historicamente imposta, ainda existem nos dias atuais muitos obstáculos para a sua prática, embora diversos trabalhos científicos comprovem inúmeros benefícios do leite materno, tanto para a mãe quanto para seu bebê. Para tanto, o enfermeiro é uma peça fundamental para promover o aleitamento materno, que se estende além do ato de amamentar, pois pode ser efetuado inclusive em mães ou bebês hospitalizados, através do banco de leite humano. Contudo, além da Enfermagem é necessário o desempenho de toda equipe de saúde multidisciplinar e do governo para a promoção ao aleitamento materno.

REFERÊNCIAS

1. Almeida João Aprigio Guerra de, Novak Franz Reis. Amamentação: um híbrido natureza-cultura. J. Pediatr. (Rio J.)  [serial on the Internet]. 2004  Nov [cited  2009  Apr  03] ;  80(5): s119-s125. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000700002&lng=en.  doi: 10.1590/S0021-75572004000700002.

2. Gouveia Helga Geremias, Lopes Maria Helena Baena de Moraes. Diagnósticos de enfermagem e problemas colaborativos mais comuns na gestação de risco. Rev. Latino-Am. Enfermagem  [periódico na Internet]. 2004  Abr [citado 2009  Abr  03] ;  12(2): 175-182. Disponível em: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692004000200005&lng=pt.

3. Passos Maria Cristina, Lamounier Joel Alves, Silva Camilo A Mariano da, Freitas Silvia Nascimento de, Baudson Maria de Fátima Reis. Práticas de amamentação no município de Ouro Preto, MG, Brasil. Rev. Saúde Pública  [serial on the Internet]. 2000  Dec [cited 2009  Apr  03] ;  34(6): 617-622. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102000000600009&lng=en. doi: 10.1590/S0034-89102000000600009.

4. Sandre-Pereira Gilza, Colares Luciléia Granhen Tavares, Carmo das Graças Tavares do, Soares Eliane de Abreu. Conhecimentos maternos sobre amamentação entre puérperas inscritas em programa de pré-natal. Cad. Saúde. Pub. [serial on the internet]. 2000. Abr-Jun [cited 2009 Apr 03]; 16 (2):457-466.Avariable from: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v16n2/2095.pdf. doi: 10.1590/S0102-311X2000000200016 

5. Scochi Carmen Gracinda Silvan, Kokuday Maria de Lourdes do Patrocínio, Riul Maria José Sartori, Rossanez Léa Silvia Sian, Fonseca Luciana Mara Monti, Leite Adriana Moraes. Incentivando o vínculo mãe-filho em situação de prematuridade: as intervenções de enfermagem no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Rev. Latino-Am. Enfermagem  [serial on the Internet]. 2003  Aug [cited 2009  Apr  03] ;  11(4): 539-543. Available from: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692003000400018&lng=en

6. Silva Isília Aparecida. Enfermagem e aleitamento materno: combinando práticas seculares. Rev. esc. enferm. USP  [serial on the Internet]. 2000  Dec [cited  2009  Apr  03] ;  34(4): 362-369. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342000000400007&lng=en.  doi: 10.1590/S0080-62342000000400007

7. Venancio Sonia Isoyama, Escuder Maria Mercedes Loureiro, Kitoko Pedro, Rea Marina Ferreira, Monteiro Carlos Augusto. Freqüência e determinantes do aleitamento materno em municípios do Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública  [serial on the Internet]. 2002  June [cited 2009  Apr  03] ;  36(3): 313-318. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102002000300009&lng=en. doi: 10.1590/S0034-89102002000300009

8. Venancio Sonia Isoyama, Monteiro Carlos Augusto. A tendência da prática da amamentação no Brasil nas décadas de 70 e 80. Rev. bras. epidemiol.  [serial on the Internet]. 1998  Apr [cited 2009  Apr  03] ;  1(1): 40-49. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X1998000100005&lng=en. doi: 10.1590/S1415-790X1998000100005.