Ana Lucia Granja de Souza

RESUMO: Este trabalho de pesquisa surgiu numa perspectiva em mostrar a população petrolinense e região São Franciscana que a nossa cultura é rica diversificada e que muitos artistas que aqui chegaram a exemplo de Ana das Carrancas engrandeceram e elevaram o nome da nossa cidade com sua arte popular na sociedade nordestina.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura, Ana das Carrancas, sociedade nordestina

INTRODUÇÃO

Este texto surgiu da necessidade em identificar que a Cultura petrolinense tem uma potencialidade de artistas populares cuja habilidade são diversas a exemplo de matérias utilizados como madeira, pedras, pintura, tecido e o barro que fez da nossa expoente maior Ana Leopoldina dos Santos, nossa Ana das Carrancas, como nossa representante da arte escultural do barro em nossa região, que pela relevância do seu trabalho ficou reconhecida nacionalmente pelo amor a arte e a nossa terra.

1. SUA HISTÓRIA DE VIDA E SUA ARTE NO BARRO

Para mim é uma coisa que deu muito resultado. Minha arte é herança de minha mãe que era louceira. Com ela aprendi muito. Depois o Divino Espírito Santo me inspirou para que eu fizesse o que desse em minha cabeça, e o que as minhas mãos pudessem modelar. Isso para mim é tudo. Eu me sinto muito feliz. (Ana das Carrancas)


Indubitavelmente a arte brasileira em especial a arte popular do nordeste é extremamente rica, encantadora, com características próprias do cotidiano e histórias do imaginário e crenças populares onde a alma de cada nordestino sobrepuja-se na valorização dos seus ideais místicos, histórias da vida empírica, na sua destreza oral de relatar os fatos vividos e principalmente de fazer deste elemento chamado terra, de onde se vê brotar suas raízes como o sertanejo que acredita nos valores éticos, morais, religiosos de sentimento acolhedor.
Dessa forma, a cultura popular em si, carrega essas características, esses conceitos como descreve a nossa querida Ana das Carrancas expressando sua forma de fazer arte e seu amor pela arte do barro, elemento indispensável na formação de sua vida profissional repassada de forma hereditária e pelo fato crucial que foi atender suas necessidades vitais como meio de sobrevivência.
Mulher, que desde menina conhece os obstáculos impostos pela vida, nasceu no dia 18 de Fevereiro de 1923 em Santa Filomena distrito de Ouricuri com o nome de Ana Leopoldina dos Santos, negra, apaixonada pelo barro, fez uma trajetória de vida bastante dura e vencedora. Veio para as margens do rio São Francisco fazer morada e buscar matéria prima abundante para fazer seus trabalhos. Dona Ana ficou conhecida como Ana das Carrancas, a Dona do Barro. As carrancas eram o símbolo maior do seu trabalho, porque os artistas petrolinenses faziam estas esculturas com madeira, mas do barro não se tinha. Com essa idéia de moldar carrancas de barro, seu trabalho como artesã decolou. O termo carranca define como rosto sombrio ou carregado, cara feia, com aspecto de mau humor. Apresentavam com formas variadas como antropomorfas (rostos humanos, normais ou diabolicamente disformes). Zoomorfas explorando cabeças de animais deformados com o objetivo de produzir espanto e medo, zooantropomorfas, combinação de semblantes humanos e animais sempre dirigidos para a horrorização da peça, em suma, as carrancas eram feitas para ornamentar navios em alto mar e para espantar os maus espíritos nos barcos em rios. Hoje constituem lembranças incorporadas ao passado e ao folclore.
Ana das Carrancas assim conhecida pelos petrolinenses, recebeu o título de Cidadã Petrolinense pela relevância do seu trabalho cultural e artístico, vindo através do seu sonho de morar nesta cidade, contribuiu de forma espetacular para engrandecimento da arte da argila que a levou a ser uma figura conhecida em todo território federal pela sua característica própria de trabalhar.

2. O AMOR COMO SUPERAÇÃO DE LIMITES E DEDICAÇÃO

Casada pela segunda vez, seu marido, senhor José Vicente, um marido exemplar, apesar de sua deficiência visual (cego) soube levar o nome da esposa ajudando-a a ser reconhecida nacionalmente com sua arte e seu estilo. Dona Ana para homenagear o seu marido, companheiro no amor e na vida, produzia suas peças com os olhos vazados como ela mesma costumava dizer.

"A cegueira dele nunca foi barreira para a gente trabalhar juntos, ver as coisas acontecerem dentro e fora de casa. Ele sempre entendeu meu ofício no cheiro do barro queimado, sempre entendeu as carrancas como arte de vida, projeto de sobrevivência da nossa família."

Ana das Carrancas, assim conhecida pelos petrolinenses, recebeu o título de Cidadã Petrolinense pela relevância do seu trabalho cultural e artístico, vindo através do seu sonho de morar nesta cidade, contribuiu de forma espetacular para engrandecimento da arte da argila que a levou a ser uma figura conhecida em todo território federal pela sua característica própria de trabalhar.
É notório observar que o amor supera todas as barreiras e limites humanos, mas que nada é impossível querendo vencer, superar esses limites. O senhor José Vicente foi novamente homenageado por sua esposa Ana com a criação do Núcleo de Apoio e Produção Braille José Vicente Barros. Este núcleo de referência regional foi implantado para atender os deficientes visuais na maior cidade sertaneja do estado ? Petrolina, mas também cidades circunvizinhas, fazendo assim uma entidade que ofereça cidadania e inclusão a estas pessoas especiais que não tem oportunidades de exercer um ofício socialmente.
Ana Leopoldina dos Santos recebeu vários títulos em sua homenagem. Com expoente cultural e patrimônio vivo de Pernambuco pela Secretária da Educação e Cultura do Estado. Em 2005 recebeu das mãos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, o título da ordem do mento cultural, com uma das mais importantes em legitimação as ações culturais desenvolvidas no país e para a felicidade maior da nossa Dona do Barro o sonho que ela sempre quis realizar, virou realidade em setembro de 2000 com a presença do Governador Jarbas Vasconcelos e outras autoridades locais, inaugurou o Centro de Artes e Cultura Ana das Carrancas, localizada em um dos bairros de Petrolina, próximo a rodoviária que dá acesso ao Aeroporto Senador Nilo Coelho. Foi um dia festivo para nossa artista de renome nacional e até internacional, em que políticos, artistas, jornalistas, radialistas, emissoras de TV local e nacional e até pessoas vindas de outro estado e comunidade local vieram prestigiar merecidamente esta artista que fez nome através do seu trabalho.
A nossa Dona do Barro, Ana Leopoldina dos Santos, partiu para o campo celestial no dia 01 de Outubro de 2008, vítima de parada cardíaca aos 85 anos de idade. Sua história de amor pela arte irá permanecer para sempre através do seu esposo e dedicação em vida pela divulgação da arte a todos que interessavam. Dona Ana foi a nossa representação maior do Sertão do Vale do São Francisco na expressividade do seu talento profissional e cultural que de forma grandiosa soube levar a todos os cantos do país o nome de sua terra que adotou de coração e paixão. Ana das Carrancas, expoente máximo da cultura do barro na região petrolinense e São Franciscana.


REFERÊNCIAS


ANDRADE, Emanuel. A Dama do Barro. Petrolina: Gráfica e Editora Franciscana, 2006, p. 24-119.

SA Y BRITTO, Maria Creuza. Petrolina: Origem, Fatos, Vida, uma História. Petrolina: Tribuna do Sertão, 1995, p. 334-335.