A Arte no Espaço Educativo 

Raquel Pinho de Souza[1] 

RESUMO

Este ensaio técnico reflete sobre a importância da arte no espaço educativo. A escola geralmente é onde a criança tem o primeiro contato com o universo artístico e  suas linguagens como: artes visuais, teatro, música, dança e literatura. Esse contato contribui para o desenvolvimento das mesmas, permite ampliar sua capacidade cognitiva e desenvolver análise crítica estética e contextual.       Neste contexto percebe-se nitidamente a importância da escola e do professor de oportunizarem aos alunos atividades que possibilitem o contato com todas as formas de expressões artísticas. Acreditamos que o estudo da arte deva se dar de forma interdisciplinar. Mesmo porque a arte tem essa vocação para interagir com as outras matérias, tornando-as mais lúdicas e prazerosas para o aluno.

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Palavra Chave: Arte. Educação. Criatividade. Pedagogia Waldorf.

 

1.INTRODUÇÃO

           

O presente artigo tem por finalidade, demonstrar a importância da Arte no espaço educativo. Utiliza como suporte teórico as pesquisas realizadas em livros, internet e material de apoio do curso de Arte e Educação.

            A arte no espaço educativo é um assunto que deve fazer parte das discussões sobre educação. Ela deve deixar de ser apenas uma mera prática recreativa e de lazer. Tem de estar ligada ao interesse de quem aprende, dessa forma terá sentido e deixará de ser distante de sua realidade.

Esse processo pedagógico busca a dinâmica entre o sentir, o pensar e o agir. E  tem como objetivo o desenvolvimento do educando nas diferentes linguagens artísticas.

Entender e estimular o ensino da arte torna a escola um espaço vivo, produtor de um conhecimento novo que aponte para a transformação.

2. A IMPORTÂNCIA DA ARTE NO ESPAÇO EDUCATIVO

              Ao longo dos anos, muito se tem falado e escrito sobre a necessidade da inclusão da arte na escola de forma mais efetiva. Desde 1971, pela Lei 5692, a disciplina Educação Artística torna-se parte dos currículos escolares. Muitas experiências têm acontecido, mas no contato direto com professores, diretores de escola e coordenadores pedagógicos, as intenções parecem apontar para um caminho interessante, mas é no confronto com a prática pedagógica no campo da arte que se nota a grande distância entre teoria e prática. Muitos equívocos são cometidos e a questão passa batida na maioria das vezes em que se questiona as vivências com a arte.

           Este quadro vem reforçar a postura inadequada de que o contato com o universo mágico da arte é importante, mas desnecessário. O ensino da arte fica fadado a um momento de lazer, onde os alunos ficam livres do rigor metodológico das tradicionais disciplinas.

            Assim, temos como desafio começar por desconstruir esses mitos para podermos perceber que o ensino de arte de qualidade deve ser acessível e presente na formação de todos nós. Vale uma rápida contextualização histórica para entendermos porque ainda, para a maioria das pessoas, é difícil perceber o seu lugar como campo de pesquisa e conhecimento. Com a Lei de Diretrizes e Bases de 1971 (5692/71) foi instituída a Educação Artística. Com esses fundamentos, pautados na superficialidade e sem foco no conhecimento, a arte entrou para o currículo obrigatório no Ensino Fundamental. Em consequência, em 1973, foram criados os primeiros cursos de licenciatura em Educação Artística, com uma formação mínima, com um currículo reduzido, pois se pretendia formar o professor de Artes em apenas dois anos, habilitando-o a ensinar simultaneamente música, teatro, artes plásticas e desenho geométrico em séries do então 1º grau e, até 2º grau.

            A partir dos anos 80, iniciou-se o movimento Arte-Educação, que permitiu a ampliação das discussões sobre a valorização e o aprimoramento do professor, que reconhecia o seu isolamento dentro da escola e a insuficiência de conhecimentos e competência na área, com o intuito de rever e propor novos rumos ao ensino de arte.

 Nesse novo espaço que começou a ser assumido pela sociedade civil, é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDB – Lei 9.394. de 20 de dezembro

1996), com uma nova concepção de educação.

 

Com LDB de 1996, é extinta a Educação Artística e entra em campo a disciplina Arte, e conhecida oficialmente como área de conhecimento: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural do aluno”. Logo em seguida, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (1997/1998), reconhecem, em seu texto, “a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens, incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica” (p.19).

Só então a Arte, como componente curricular, se legitima como área de conhecimento voltada para “a formação artística e estética dos alunos”, com delimitação clara entre as diferentes expressões – as Artes Visuais, a Música, o Teatro e a Dança -.Essa rápida contextualização do ensino de arte, evidenciando a sua mudança de lugar amparada pelos avanços legais, tem como propósito mostrar que aconteceram mudanças significativas – mesmo que ainda não incorporadas na prática cotidiana da maioria das escolas, ainda distantes das reflexões contidas na LDB e nos próprios PCN’s. Mas, de qualquer forma, as leis e orientações vigentes no Brasil, com destaque para o reconhecimento da arte como área de conhecimento, são mudanças concretas que revelam um percurso conceitual precioso para a compreensão da dimensão arte na formação humana em qualquer espaço educativo.

Essas conquistas são relativamente recentes e evidenciam porque ainda, para a maioria das pessoas, inclusive que atuam na educação, é difícil perceber a Arte como área de conhecimento.

Diretores de escola, coordenadores e professores devem estar preparados para entender a arte como ramo do conhecimento em mesmo pé de igualdade que as outras disciplinas dos currículos escolares. Reconhecendo não só a necessidade da arte, mas a sua capacidade transformadora. Aceitar que o fazer artístico e a fruição estética contribuem para o desenvolvimento de crianças e de jovens é ter a certeza da capacidade que eles tem de ampliar o seu potencial cognitivo e assim conceber e olhar o mundo de modos diferentes.

2.1 A ARTE NA PEDAGOGIA WALDORF

 

            Um exemplo bem sucedido onde a Arte é a base para o desenvolvimento dos demais conteúdos, é a Pedagogia Waldorf. Esta não se limita a um programa mínimo de matéria contido em livros e enciclopédias, mas leva a criança a relacionar-se com a vivência autêntica do mundo, através das diversas práticas artísticas que permeiam o ensino dentro da Pedagogia Waldorf. Esta vivência é uma das principais metas desta pedagogia, onde as artes plásticas, a música, a dramatização, a poética e os trabalhos manuais são atividades de fundamental importância.

Proporcionar ao jovem um contato com as atividades básicas primordiais da humanidade, como, por exemplo, tecer, fiar, modelar, esculpir e pintar, faz com que ele, ao passar por este tipo de experiência, cultive o respeito aos trabalhos manuais, valorizando o ser humano que os executa.

Em relação à música, grande importância é dada ao canto e a música instrumental. Desde a primeira série todos os alunos aprendem a tocar flauta doce. ‘Fazer música’ está inserido no contexto do ensino de todas as matérias de forma natural. Os alunos participam, conforme suas capacidades, de orquestras e corais da escola.

A música, o canto, a fala, a eurritmia (é uma arte de movimento, estreitamente ligada à palavra, ao som e ao tom), são atividades em que o elemento musical se expressa mais diretamente. Mas há uma maneira mais sutil e discreta de incluir o elemento musical em todas as matérias, em qualquer ensino. O próprio corpo humano contém harmonias musicais

Além disso, as atividades artísticas tem um fim pedagógico imediato que é trabalhar a perseverança e o capricho, atuando sobre a vontade e o senso estético. Ao produzir uma obra através da repetição consciente, o aluno exercita sua vontade e o desejo de fazer o melhor. Segundo, Rudolf Lanz (2005, p.50):

“ A criança pode não pensar, aprender ou conhecer qualquer fato sem que também esteja engajada emocionalmente. Ela acompanha tudo com reações sentimentais de simpatia ou de antipatia, de admiração, de entusiasmo ou de tédio...A criança quer imagens, e qualquer matéria escolar deve ser-lhe apresentada primeiro sob forma de imagens. Então, ela sentirá que “o mundo é belo”... Daí o imperativo absoluto de que todo o ensino, para realmente atingir a criança de maneira positiva, deve ser dado não de forma abstrata e teórica, mas a partir de fenômenos, de imagens que utilizem o manancial de forças de sentimentos e de fantasias presentes no ser infantil.”

As emoções e as vivências devem acompanhar o ensino de todas as matérias. O professor deve despertar no aluno sentimentos de admiração, de curiosidade, de entusiasmo diante do ensino de História, Matemática, etc. E a forma mais fácil de atingir esse objetivo, é o ensino através da Arte. Onde o sentimento do “belo” será cultivado através do fazer artístico. A passividade será substituída por atividades criativas.

            Desde bebê, o homem está acostumado a uma completa passividade mental; os meios de comunicação lhe servem as notícias, divertimentos, informação de todos os tipos pronta, e na escola não é diferente. O aluno é um receptor de informações, com um pensar reduzido a um raciocínio mecânico. Sua capacidade criativa se torna atrofiada. Segundo, Rudolf Lanz (2005, p.135):

“ … a importância das matérias artísticas, que apelam ao sentimento e à ação do aluno: ele tem de fazer algo com as mãos  ou outras partes do corpo – tem de criar algo que seja resultado de sua fantasia, usando a vontade, a perseverança, a coordenação psicomotora, o senso estético. Por isso essas matérias têm alto valor pedagógico e terapêutico, quando exercidas com regularidade.”

            O fazer artístico contribui para que a criança saia dessa passividade. Ele desperta no aluno a sua curiosidade, a sua inquietude, a vontade de descobrir o por quê das coisas. Ele produz o conhecimento em grande quantidade, com mais riquezas de detalhes e mais diversidade do que uma simples aula teórica.          O ensino da arte deve estar em consonância com a contemporaneidade. A sala de aula deve ser um espelho do atelier do artista ou do laboratório do cientista. Neles serão desenvolvidas pesquisas, técnicas serão criadas e recriadas, e o processo criador toma forma de maneira viva, dinâmica. A pesquisa e a construção do conhecimento é um valor tanto para o educador quanto para o educando, rompendo com a relação sujeito/objeto do ensino tradicional. Este processo poderá ser desafiador. Delimite-se o ponto de partida e o ponto de chegada será resultante da experimentação. Dessa forma, o ensino da arte estará intimamente ligado ao interesse de quem aprende.

            Segundo o PCN (1997 p.28) :

“... Apenas um ensino criador, que favoreça a integração entre a aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá contribuir para o exercício conjunto complementar da razão e do sonho, no qual conhecer é também maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas”.

            Esta maneira de propor o ensino da arte rompe barreiras de exclusão, visto que a prática educativa está embasada não no talento ou no dom, mas na capacidade de experienciar de cada um. Dessa forma, estimula-se os educandos a se arriscarem a desenhar, representar, dançar, tocar, escrever, pois trata-se de uma vivência, e não de uma competição. Estas crianças e estes jovens se reconhecerão como participantes e construtores de seus próprios caminhos. A arte fará parte de suas vidas e terá um sentido, deixando de ser aquela coisa incompreensível e elitista, distante de sua realidade.     

            Segundo o PCN (1997 p.32):

“... A qualidade imaginativa é um elemento indispensável na

apreensão dos conteúdos, possibilitando que a aprendizagem

se realize por meio de estratégias pessoais de cada aluno.”

            A arte é portadora dos conteúdos da imaginação e da fantasia, que brotam do inconsciente humano. Utilizada cotidianamente no processo de ensino aprendizagem, ela auxilia a aquisição dos conhecimentos na medida em que permite que as habilidades se desenvolvam e se reforcem através de cada exercício dado, por meio de cada movimento executado e que se fixem pela contemplação de cada produto concluído.

           

2.2 O CURRÍCULO NA PEDAGOGIA WALDORF

 

            Nas escolas Waldorf a arte perpassa constantemente a grade curricular. Está presente em todas as disciplinas inserida nos seus conteúdos. As matérias escolares são apresentadas de forma especialmente cativante, respeitando o ritmo interno de cada um. Os conhecimentos são tratados inicialmente sob a forma de imagens, evocando a sensação do “belo”. Assim, as aulas são como vivências, nas quais o professor faz do ensino uma obra de arte.

            As atividades artísticas e artesanais, integradas ao currículo, cumprem o papel, entre outros, de harmonizar o trabalho mental e físico dos alunos, no entanto, todas as matérias utilizam a arte como instrumental para atingirem os alunos por inteiro, em seu pensar, sentir e agir.

A Pedagogia Waldorf amplia o currículo do Ensino Fundamental com outras matérias, todas com conteúdo e currículo específicos para cada idade, sendo consideradas de igual importância para a formação do jovem e da criança: Música, Alemão, Inglês, Educação Física, Trabalhos Manuais, Artes aplicadas, Desenho, Pintura, Teatro, Marcenaria, Astronomia, entre outras

Português e Línguas

            Canções, versos e dramatizações entram no ensino do português e das línguas estrangeiras. O aprendizado da língua ocupa o centro da Pedagogia Waldorf. As letras, sílabas, fonemas são apresentados e trabalhados num ritmo harmônico, do qual o corpo inteiro participa. A essência das matérias ganha vida nos desenhos com giz colorido, trazendo criatividade ao processo de aprendizagem.

Matemática e Geometria

A matemática e a geometria merecem um enfoque vivo. O aluno aprende com todo o seu corpo sobre os números e as formas. Bater palmas, andar para frente e para trás, conquistar o espaço de números com corpo, emoções e mente. Essas são experiências propostas à classe.

Línguas Estrangeiras

O Ensino de línguas estrangeiras começa no primeiro ano (6 anos e meio), trazendo, a princípio de forma não intelectual, a musicalidade da língua e suas características culturais.

 

Os cadernos

Os alunos são estimulados a desenhar e escrever no próprio caderno, um instrumento importante no processo de aprendizado. Basta dizer que os cadernos tornam-se peças inesquecíveis ao longo da vida escolar de cada aluno. Eles reúnem uma síntese do material trabalhado em classe. É o material confeccionado pelo próprio aluno!

Passeios e excursões

Os passeios e excursões também são parte do currículo. Neles, os alunos fazem descobertas sobre botânica, mineralogia, geografia, história, etc. Também conhecem de perto profissões milenares da humanidade, como oleiros, tecelões, sapateiros e ferreiros.

 

Jardinagem


            As aulas de jardinagem despertam a criança para a importância da relação do ser humano com o meio ambiente. Preparar o canteiro, adubar, semear, colher e, às vezes, comer o fruto do próprio trabalho, descortinam a força dos processos da Natureza. Ao vivenciar as diversas etapas do crescimento de uma planta na horta e no jardim, a criança fortalece suas próprias forças evolutivas e desenvolve uma atitude de respeito e veneração à natureza.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Como demonstrado, a arte cumpre papel de suma importância no ambiente educativo. A sua inserção e aplicação efetiva nos currículos escolares irá contribuir para um desenvolvimento cognitivo, psíquico e motor dos alunos, expandindo sua capacidade reflexiva e crítica na sociedade na qual está inserida.

            É importante ressaltar que o objetivo da arte na educação não é formar artistas, mas sim indivíduos conscientes e aptos a exercerem a cidadania, desenvolvendo suas capacidades de reflexão e crítica. Certamente, na nossa existência, um dos maiores presentes que temos é a nossa própria capacidade de pensar, de elaborar… Por isso deve-se estimular sempre a criação, invenção, produção, reconstrução e reinvenção.

Ao invés de se desenvolver trabalhos impessoais, onde o educando apenas recria e transcreve as técnicas aprendidas, a Arte o estimulará a se retratar em suas produções artísticas. Desta maneira, o educando é capaz de manifestar a sua própria realidade, com todos os seus conflitos e desejos. Essa possibilidade que se abre contribui em muito para o amadurecimento do indivíduo, para o seu auto-conhecimento, para o despertar dos seus sentimentos, para a manifestação de suas próprias opiniões e, principalmente, para o verdadeiro sentido do “viver em grupo”.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

LANZ, Rudolf. A Pedagogia Waldorf: caminho para um ensino mais humano. São Paulo: Antroposófica.2005.

READ, Herbet. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes. 2001.

LUCKOW, Fabiane B. História e ensino de arte no Brasil. Indaial: Uniasselvi, 2011.

KREISCH, Cristiane. Ensino e aprendizagem de artes: currículo e avaliação. Indaial: Uniasselvi, 2011.

Pedagogia Waldorf. Sociedade Antroposófica. Disponível em: <http://www.sab.org.br/pedag-wal/pedag.htm>. Acesso em: 26 de março de 2013.

Escola Waldorf Querência. Pedagogia Waldorf. Disponível em: < http://www.ewq.com.br/6222/index.html>. Acesso em 26 de março de 2013.



[1] Pós-graduanda em Arte e Educação. E-mail: [email protected]