"A vida requer coragem acima de todas as outras virtudes; mas talvez o maior exemplo de toda a coragem humana seja o perdão." (E. Graham Howe)

"A fórmula básica de todo pecado é o amor frustrado ou desprezado." (Frans Werfel)


A Arte do Perdão (*)

O perdão tem uma qualidade curativa. Talvez isso aconteça porque a energia necessária para permanecer zangado com alguém é uma energia que desliga parte da vivacidade. Ela é rígida, implacável e controladora. Ela reduz a flexibilidade e a amplitude da pessoa irada. É claro que a raiva deve seguir sua progressão, sendo necessária para nos proteger das agressões e das impropriedades de nossos semelhantes. Assim, quando a oscilação do pêndulo levá-la ao perdão, não lute contra ele.

Mas lembre-se de que, só porque perdoou alguém que a magoou, você não de passar a vida com ele. Precisamos manter nossas vidas em dia se quisermos permanecer vitais.

A capacidade de perdão não pode necessariamente ser evocada à vontade, mas é possível criar uma atmosfera, uma predisposição para ele. Isso feito, ocasiões provocadoras serão mais passíveis de evocar uma conduta perdoadora, em vez de um comportamento irado, contínuo, e como de um robô nascido de ressentimentos purulentos. Só porque perdoa a pessoa significativa de seu passado, por quaisquer injustiças que lhe tenha causado você não tem de desfazer de seu bom julgamento, junto com sua raiva.

O amante que a abandonou, a amiga que a traiu, poderão fazê-lo novamente. Todos têm limites ao crescimento. A capacidade de ver as pessoas pelo que
elas são permite-nos chegar a um acordo com nossas experiências, em vez de enxergar a vida através de um véu de ilusão romântica.

Apesar disso, agir de modo amoroso com a pessoa que amamos, mesmo que ela esteja um tanto transtornada no momento, é muito mais fortalecedor do que se manter afastado em um esplêndido isolamento.

O equilíbrio entre o coração e a sua mente é a chave. O perdão abre o coração para a graça curativa. É uma capacidade que aumenta com a prática, assim como seus músculos aumentam com a ginástica. Às vezes, o caminho mais rápido para nossas metas é tortuoso. A sabedoria, o amor e o conhecimento a levarão ao mesmo lugar - em casa e no mundo.

Quando sofremos dos desapontamentos e das dores da vida, vistos através de nossas percepções da perda do que amamos muitas vezes se torna necessário isolar-se em autodefesa. Num certo sentido, entramos num estado de choque e de retirada do campo de batalha, para que possamos cuidar da própria sobrevivência e não sejamos destruídos. Nossos sistemas de apoio de reserva assumem o comando e parte de nossa essência ou vivacidade é reduzida. Mas depois de passado o choque, começa o processo de cura natural. Pouco a pouco, é possível voltar à vida de novo. Os infortúnios que não nos destruírem apenas nos fortalecerão.

Em nosso tempo livre, ao nos curarmos, poderemos abrir o coração ao amor verdadeiro, não confundido por ilusões e pelo pensamento fantasioso. As partes de nós que congelamos para proporcionar um anestésico natural à dor da perda - aquelas memórias meigas e interesses compartilhados - podem ser recuperados e seremos agora capazes de ver a realidade sob uma luz mais clara e quente. Mais fortes e melhores, poderemos prosseguir enriquecidos, se esse for o caminho que escolhemos. Mas esse caminho requer a coragem de sentir novamente à dor renovada da qual inicialmente recua - para sentir novamente a presença de outra pessoa. E sozinhos, para aliviar, em locais mais seguros, o drama anteriormente intolerável que nos chocou, levando-nos a um entorpecimento menos doloroso.

À medida que os sentimentos e atos de perdão hesitantes emergem, também emergirão mais plenos, mais ricos, melhor equipados para a vida e mais perdoadores também de nós mesmos. As marcas duras e rígidas da raiva se desfazem em uma recepção mais suave e complacente à vida renovada.

O perdão é um processo regenerativo. Se permanecermos zangados por um longo período de tempo, tenderemos a recriar cenários recordativos do trauma original que nos isolou antes. Isso se chama "compulsão de repetição" (a quem Freud se referia).

O câncer psíquico da raiva não liberada pode mutilar e matar nosso espírito, forçando-nos a um comportamento repetitivo e sem vida, enquanto a liberação emocional nos permite avançar ao próximo ato do drama de nossas vidas.

Portanto, não devemos jogar pessoas fora, só porque não se enquadram no projeto que originalmente tínhamos em relação a elas.

Assim, por que jogar fora o Amor? Ele é a nossa mercadoria mais preciosa.


* Raimundo Costa ? Julho-Agosto/2010 ? Psicologia - Psicoterapia
Fragmentos ? Análise e Anotações de leitura do Livro: Lições de Amor - do Psiquiatra britânico Ronald David Laing e da Psicóloga americana Roberta Russel ? Tradução de Ivo Korytowski ? Editoria Mandarim, São Paulo ? 1997