A Arte de Ensinar

A arte de ensinar é uma tarefa muito difícil, pois o educador além de colocar em prática suas teorias educacionais, vai transmitir o que é como homem social (seus hábitos; suas crenças; sua maneira de agir em casa, na rua e na escola,...)
Ensinar é tornar o ser mais humano, questionador, independente e experiente. Ensinar é construir continuamente, é livrar-se de mitos e preconceitos.

A Realidade
Segundo pesquisa feita pela Fundação Carlos Chagas e divulgada pela revista Gestão Escolar, a porcentagem de alunos do ensino médio que escolhem a docência como opção universitária é mínima (vide Gráfico1).


Mas porque isso acontece? Porque a docência ficou tão desprestigiada? Após um debate com especialistas, chegou-se a alguns pontos em comum: salários baixos, falta de plano de carreira, baixa formação inicial, e sem valor social.
A realidade que temos hoje é que grande parte dos alunos que fazem universidade visando à docência, são alunos com baixo rendimento escolar no ensino fundamental e médio.
Parece que estamos sempre andando em círculos. Educadores mal preparados que não conseguem dar uma formação de qualidade aos seus alunos que serão os educadores mal preparados do futuro.
Mas todo circulo pode ser cortado e transformado em uma reta, ou seja, em um novo caminho a trilhar.
Se acreditarmos que todos somos seres em movimento, em construção contínua, começaremos a ver uma luz no caminho. Temos de nos esforçar para começarmos ainda hoje a preparar o educando/educador de amanhã.
A boa qualificação profissional é a base para o que o educador saiba dar tudo de si ao educando, mas primeiramente terá de admitir que não é o único conhecedor na sala de aula; ele tem mais saberes específicos para transmitir, mais experiência, mas, seus alunos também têm seus conhecimentos e suas experiências e a união de saberes fortalecerá o ensino e a formação do cidadão social.
O preconceito tem sido nosso maior inimigo, criou-se uma barreira educador/educando/educador. A intolerância com as novidades provém da exclusão do diferente, permanecemos sempre dentro do nosso limite, não admitindo outras possibilidades que não sejam as nossas.
Vários passos já foram dados em relação à formação profissional do educador, mas muito ainda terá de ser feito.
O educador de hoje é o educando de ontem, devemos nos lembrar que a educação que recebeu não foi construída em bases solidas, foi uma educação feita através do professor como único a possuir saberes e o aluno aprendia a decorar sem qualquer objetivo específico além de saber de memória a matéria, aprendia-se a fazer alguma coisa sem a sua verdadeira compreensão funcional. A educação se deu de modo obrigatório e ameaçador, sem o devido desenvolvimento cognitivo
Com certeza, a qualificação profissional de fácil acesso e de boa qualidade é a única forma de se preparar os cidadãos de amanhã.

A Educação do Futuro
Edgar Morin em Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, exemplifica e simplifica a melhor maneira de chegar a uma educação com bases sólidas.
O estudo é a lapidação do ser. A educação tem sido passada de forma fragmentada ignorando-se a relação entre as diversas áreas do saber e as experiências dos educandos.
A escola deve ensinar as matérias pertinentes a ela, mas também terá de passar para seus alunos a cultura, a convivência social e a consciência cidadã. E isso se dará através do diálogo aberto e claro, permitindo a liberdade de expressão com respeito e responsabilidade.
Estamos acostumados a conviver com o erro e nos iludimos dizendo que não existe. Existe sim e devemos refletir sobre eles e colocá-los à visão de todos para que possamos corrigi-los através das nossas experiências e dos outros. Ninguém é possuidor absoluto da verdade e nem desprovido totalmente dela.
O educando deverá ser um cidadão com conhecimento e apto para a vida pessoal, social e profissional, capaz de discernir o certo do errado e o que há entre os dois, pois, o conhecimento poderá ser corrompido pelo erro e pela ilusão.
Apesar da diversidade de idiomas, culturas, religiões e outros, somos seres humanos a procura de uma vida melhor, digna e ética. Somente com a transformação de nossas atitudes em relação ao próximo e ao planeta e da união, poderemos construir um mundo melhor, com ética política, social e educacional.
Cada ser tem sua cultura; tem vocabulário próprio; tem consciência de si, de sua fala, do mundo, da vida, do homem e da sociedade característicos do meio em que vivem e nada disso deve ser desprezado, tem de ser utilizado na prática escolar mostrados aos educandos que sua experiência de vida unida aos saberes escolares irá ajudá-los a ter uma vida digna e satisfatória.
A ciência e a tecnologia evoluíram muito nos últimos tempos, graças à união de saberes ao longo da história. Apesar da evolução da tecnologia não se pode deixar que ela domine a construção do saber impedindo a individualização do ser humano, tornando-o mero espectador e provavelmente um indivíduo sem estimulo, sem experiências pessoais e sociais.
Estamos na era do aprender e reaprender constantemente, de sabermos quem somos, de compreendermos a diversidade e sermos éticos em todas as nossas atitudes.
A globalização não pode impor-se como um processo homogeneizador das diferenças, ela deve estabelecer a democracia e superar a crise social.
O progresso depende da boa educação que após romper com os modelos clássicos e alicerçar-se nos modelos atuais poderá se propagar de forma rápida e com bases sólidas.
A aprendizagem construtiva transforma. Faz com que os seres se relacionem com o meio físico e social. A criatividade, a interação, e a cultura provocam mudanças sociais expressivas.
A razão lógica deve conviver com os mais variados tipos de aprendizagem transdisciplinar vivido no cotidiano das pessoas. O sentimento, o movimento e o pensamento devem estar presentes em todos os atos educativos, pois, estão integrados no corpo do ser humano e deve ser tratado como um todo e não de forma fragmentada.
O educador deve estar atento a si mesmo e as suas experiências para que possa auxiliar na formação do outro; deve exercitar seu pensar reflexivo e a socialização das idéias para que tenha clareza das prioridades. Somente após admitir e transitar pelos diversos níveis paralelos da realidade e da capacidade de aprender poderá tratar da inclusão de todas as linhas de desenvolvimento do ser humano cognitivo, afetivo, espiritual, ético, moral, criativo etc..

"Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura reacionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual." (Paulo Freire)
"A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. " (Jean Piaget)

Bibliografia
Benzatti, Eduardo ? A educação e os educadores do futuro ? www.dominiopublico.gov.br
Luckesi, Cipriano Carlos - Formação do educador sob a ótica transdisciplinar ? Revista ABC Educatio ? ano 4 N°24 ? São Paulo: Editora Criart, maio/03
Matui, Jiron ? Construtivismo: Teoria Construtivista Sócio-Histórica Aplicada ao Ensino ? São Paulo: Editora Moderna, 1995
Ratier, Rodrigo ? É Preciso Atrair os Melhores ? Revista Gestão Escolar ? Ano I ? N°6 ? São Paulo: Editora Abril, fev./março 2010
Gráfico 1?Revista Gestão Escolar ? Ano I ? N°6 ? São Paulo: Editora Abril, fev./março 2010
Rosalina Suely Rodrigues Favaro
05/07/2010