O filme “O nome da Rosa” é romance de Umberto Eco, dirigido por Jean Jacques Annaud e protagonizado por Sean Conery. É uma apresentação na qual a sinopse delineia-se por ocorrências transcorridas e durante a Baixa Idade Média (século XI ao XV) e, que aborda estranhas mortes num mosteiro beneditino, que é investigada pelo ator protagonista citado, porém, é também marcado pela forma envolvente e precisa, de se retratar a vida na épocas medieval.
Entretanto, o presente trabalho, permite-se não focalizar a história em si, como foco do que se pretende aqui estudar, mas os aspectos arquitetônicos-sociais que a projeção disponibiliza.
Nesse aspecto, é conveniente estabelecer características próprias de um período em que as invasões e o feudalismo fizeram desaparecer quase totalmente a vida urbana na Europa. As cidades que sobreviveram à decadência do Império Romano transformaram-se em meras residências de bispos e de senhores feudais, pouco vinculadas a sua zona rural e a outras cidades. O processo de empobrecimento começou a reverter nos reinos europeus. Muito lentamente, a organização feudal da sociedade passou a dar lugar a uma nova ordem, em que o papel econômico mais dinâmico passa para a burguesia urbana.
O Nome da Rosa, relembra a problemática suscitada pelo nominalismo entre o que é essencial, que parece ser o nome da rosa como nome, em si um conceito, portanto um universal, dessa forma, eterno, imutável, imortal e de sua contraposição a rosa particular, individual no mundo, flor de existente única na realidade, que por acontecer também é passageira, mortal e transitória. (NÓVOA, 2005)
A arte gótica foi a expressão estética da baixa Idade Média. A invenção do arco ogival e da abóbada de nervuras, apoiada em arcobotantes e contrafortes, permitiu a construção de gigantescas e elevadas catedrais, capazes de alojar um número de pessoas muito maior do que as velhas igrejas românicas. (MOTA, 1997).
O filme sugere um ambiente no qual as contradições, oposições, querelas e inquisições, no início do século XIV, justificam ações humanas, as virtudes e os crimes dos personagens, monges copistas de uma abadia cuja maior riqueza é o conhecimento de sua biblioteca. Para os personagens, a discussão do essencial e do particular, do espiritual e da realidade material, do poder secular e da insurreição, dos conceitos e das palavras entranham pelo mundo uma teia de inter-relações das mais conflituosas. A representação, a palavra e o texto escrito passam a ter uma importância vital na organização da abadia beneditina, gestando o microcosmo do narrador. A arquitetura da abadia faz lembrar os (des)caminhos e a difícil situação de decidir politicamente em uma Itália dividida entre o norte rico e articulado e o sul pobre e violento.
Não obstante, o que se mostra no filme é efetivamente verdadeiro. Um gesto, as pessoas nas ruas, o estilo dos edifícios, e a conduta plebéia sem o poder da comunicação, a indumentária dos personagens, a expressão de seus rostos, tudo tem a sua importância exatamente porque constituem a matéria de uma outra história, distinta da história narrada. Daí, o conveniente passa a ser considerar a história a partir das imagens. Não procurar nelas apenas a confirmação ou a negação de um outro saber, o da tradição das projeções. Para considerá-las tal qual, ainda que seja para evocar outros saberes, ou para captá-los melhor, faz-se necessário associar o produto cinematográfico ao mundo que o produz e, nessa visão, para a arquitetura o gótico é enfatizado pela representação do mosteiro beneditino (Abadia), cujo expoente artístico manifestou-se no florescimento do gótico, como relação de reciprocidade com o universo, onde o cosmos e algo de divino foram fontes de inspiração das edificações.(NÓVOA, 2005)
Em “O Nome da Rosa”, o que se observa é que tais manifestações foram possibilitadas pela evolução das técnicas de construção, com o aparecimento do arco ogival, por exemplo, e em conseqüência do surgimento de uma forma de vida e uma cultura urbana, dominadas pela burguesia e inferindo às edificações uma sensação orgânica e mística escolástica do espaço, que reflete no íntimo do espectador.
Com relação ao mosteiro o sentimento absorvido é de magnitude e imponência, podendo inclusive reportar-se ao pensamento de Payot apud Brandão (1999) que argumenta que “O templo representa o mundo; mas o mundo, inversamente, é construído como um tempo. Aqui, o reenvio é recíproco (...) e o edifício como arquitetura, isto é, ordem simétrica, reenvia ao mundo como modelo, isto é harmonia e proporcionalidade universal”.
Para compreender essa gênese da arquitetura, é conveniente atentar para três fatores determinantes: as possibilidades que em dado momento as técnicas e materiais propiciam; as necessidades a que um edifício concreto atende; e as concepções artísticas predominantes. São, portanto, três elementos sincrônicos – técnico, social e estético – cuja inter-relação ao longo dos séculos marcou os diferentes períodos arquitetônicos. Seu estudo constitui a base do desenvolvimento histórico.
Todavia e, segundo Bolitshauser (1968, p. 1702), no período gótico observa-se como caráter geral da arquitetura, três pontos fundamentais: “o ocaso das brandes abadias do período romântico anterior (...)” mas não deixa também de ser observado “a prosperidade crescente dos centros urbanos, que permitem a construção de imponentes sedes administrativas e edifícios civis (...)” e, por fim “a progressiva diminuição do feudalismo e a conseqüente transformação dos castelos-fortaleza em castelos-residência”. É quando se percebe a diferença entre nobreza e a plebe; da imponência e grandeza das residências nobres, onde se acolhem as pessoas ligadas e a distância das residências dos plebeus, que se restringem à desordem, às construções escurecidas e excludentes.
REFERÊNCIAS
BOLTSHAUSER, João. História da Arquitetura. Vol.IV. Belo Horizonte: UFMG, 1968.
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. O Gótico. In: A formação do homem moderno vista através da arquitetura. 2.ed. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
ECO, Umberto. O Nome da Rosa. Adaptado para o filme e dirigido por Jacques Annaud.
MOTA, Myriam Becho; BRAICK, Patícia Ramos. História das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna, 1997.
NÓVOA, Jorge. Apologia da relação cinema-história. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org> Acessado em: 26/08/2005.