A visão de Moreira

 

Marco Antônio Moreira foi professor de Física e Matemática em escolas secundárias das redes públicas e privada nos anos de1964 a1967. Desde 1968 e professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Doutorou em educação em ciências pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, em 1977, tendo como orientadores Joseph Novak, D.B. Gowin e D.F. Holcomb. Nessa mesma época, participou de seminários com David Ausubel.

Moreira é considerada atualmente um especialista em aprendizagem significativa, tendo diversas publicações na área, ministrando vários cursos e organizando encontros internacionais sobre a temática abordada. E além de professor de Física é também pesquisador 1A do CNPq na área de educação em ciências e orienta dissertações e teses nessa área.

Grande divulgador da teoria de Ausubel, foi através de seus estudos que a aprendizagem significativa tornou-se conhecida no Brasil, sendo hoje um tema bastante debatido no âmbito educacional.

Baseando-se em idéias desenvolvidas por Neil Postman e Charles Weingartner, Moreira desenvolveu um trabalho cuja argumentação centra-se na questão de que neste tempo de mudanças rápidas e drásticas, a aprendizagem deve ser não só significativa, mas também subversiva, pois constitui-se em uma estratégia necessária para sobreviver na sociedade contemporânea.

Para o citado teórico, estamos na era da evolução tecnológica e a educação, no entanto, continua ainda a promover vários conceitos fora de foco. Ainda se ensinam “verdades”, respostas “curtas”, entidades isoladas, causas simples e identificáveis estados e coisas fixos, diferenças somente dicotômicas. E ainda se “transmite” o conteúdo, desestimulando o conhecimento. O discurso educacional pode ser outro, mas a prática educativa continua a não fomentar o “aprender a aprender” que permitirá à pessoa lidar frutiferamente com a mudança e sobreviver.

A escola, por sua vez, ainda transmite a ilusão da certeza, mas procura atualizar-se tecnologicamente, competir com outros mecanismos de divulgação da informação e, talvez não abertamente ou inadvertidamente, preparar o aluno para a sociedade do consumo, porém, também fora de foco. Mas qual seria o foco? Qual seria então a saída mais viável?

Para Moreira (2000), a saída seria “uma postura crítica como estratégia de sobrevivência na sociedade contemporânea, ou seja, a solução seria a aprendizagem significativa crítica”.

Na concepção do teórico,

 

 A aprendizagem significativa caracteriza-se pela interação o novo conhecimento e o conhecimento prévio. Nesse processo, que é não literal e não-arbitrário, o novo conhecimento adquire significados para o aprendiz e o conhecimento prévio fica rico mais diferenciado, mais elaborado em termos de significado, e adquire mais estabilidade (MOREIRA e MASINI, 1982; MOREIRA, 1999).

 

Assim, o conhecimento prévio é, isoladamente a variável que mais influencia a aprendizagem. Em ultima análise só podemos aprender a partir daquilo que já conhecemos . Todos reconhecemos, que nossa mente é conservadora, aprendemos a partir do que já temos em nossa estrutura cognitiva. Como dizia Ausubel, se queremos promover a aprendizagem significativa é preciso averiguar esse conhecimento e ensinar de acordo.

Desse modo, sabendo o que é aprendizagem significativa , conhecendo princípios programáticos, estratégias facilitadoras como os organizadores prévios, os mapas conceituais, os diagramas V, bem como as condições necessárias para que a mesma ocorra, como então facilitá-la em sala de aula? O que falta aos professores para que a promovam como uma atividade crítica?

Na verdade, falta muito. A começar pela questão da preposição para aprender. Como provocá-lo? Muito mais do que a motivação, o que está em jogo é a relevância do novo conhecimento para o aluno. Como levá-lo a perceber como relevante o conhecimento que se pretende que o mesmo construa?

Antes, porém, é necessário buscarmos entender o que vem a ser aprendizagem significativa crítica. Para Moreira (ibid, 2000) “é aquela perspectiva que permite ao sujeito fazer parte de sua cultura e, ao mesmo tempo, estar fora dela”. Trata-se de uma perspectiva antropológica em relação as atividades de seu grupo social que permite ao individuo participar de tais atividades, mas paralelamente, reconhecer quando a realidade está se afastando tanto que não está mais sendo captada pelo grupo. É através da aprendizagem significativa crítica que o aluno poderá fazer parte de suas cultura e, simultaneamente, não ser subjugado por ela, por seus ritos, mitos e ideologias. É através dessa aprendizagem que ele poderá lidar construtivamente com a mudança sem deixar-se impotente frente a sua grande disponibilidade e velocidade de fluxo, usufruir e desenvolver a tecnologia sem tornar-se tecnólfilo. Por meio dela, poderá trabalhar com a incerteza, a relatividade, a não-causalidade, a probabilidade, a não-dicotomização das diferenças, com a idéia de que o conhecimento é construção (ou inversão) nossa, que apenas representamos o mundo e nunca o captamos diretamente.