3.2 A APRENDIZAGEM EM AMBIENTE HOSPITALAR (Neusa Amorim) No contexto hospitalar, quando a causa de estar hospitalizado não afeta a área cognitiva, há a possibilidade de aprendizagem. Conforme Justi; Fonseca; Souza (2011, p. 42): Os escolares hospitalizados mostram que são capazes de continuar ampliando seus conhecimentos e desenvolvendo todas as suas potencialidades, mesmo com os sintomas provocados pela quimioterapia, pela radioterapia, por um transplante de medula ou outro tipo de tratamento de saúde. Em função disso, é preciso buscar caminhos para a aprendizagem por meio da escuta pedagógica e da observação. Nesse sentido, atuar junto a crianças e adolescentes hospitalizados implica num desafio que requer conhecimento e estratégias, que permita compreender a realidade e a necessidade de cada aluno, é preciso descobrir e buscar métodos que suscite neles o interesse em aprender, sem prejudicar seu quadro clínico. Sabe-se que a aprendizagem pode ocorrer em qualquer espaço onde haja interação e disposição para aprender, até mesmo no ambiente hospitalar. De acordo com Fontes (2007, p. 279), "é preciso deixar claro que tanto a educação não é elemento exclusivo da escola como a saúde não é elemento exclusivo do hospital". Assim pode-se dizer que a Classe Hospitalar pode ser considerada um espaço de ligação entre as ações educativas e as ações hospitalares e, portanto um local com possibilidade de ensino-aprendizagem. Matos; Mugiatti (2008, p. 73) também contribuem com este pensamento: "o homem, como agente de sua cultura, não se adapta, mas faz com que o meio se adapte à suas necessidades. Daí a quebra de paradigma ?escola só em sala de aula e hospital apenas para tratamento médico? faz parte da evolução". As autoras chamam de evolução o fato de que com o passar do tempo, tenha sido deixado de lado a ideia de que no hospital apenas trata-se das questões relacionadas à saúde e na escola das pedagógicas. É oportuno lembrar, que no hospital independente da faixa-etária o paciente, geralmente, tem cuidados voltados apenas para sua saúde, no entanto crianças e adolescentes estão em fase de desenvolvimento, o que sugere que outros aspectos também sejam contemplados. Diante disso, González (2007, p.348) revela que: Desenvolver as potencialidades da criança, modificar o comportamento infantil, evitar a completa ruptura da criança com a escola e seu meio sociocultural e ambiental e, em suma, oferecer para a criança a possibilidade de um desenvolvimento global são tarefas que fogem das competências e das funções do pessoal da saúde [...] A equipe de saúde não está habilitada nem autorizada a tratar de tais fatores, evidenciando, a necessidade da pessoa do pedagogo. Além disso, através do atendimento pedagógico hospitalar, é possível promover a interação e contribuir para o processo ensino-aprendizagem mesmo no ambiente hospitalar, tornando-o menos temível, menos frio, menos hostil. De acordo com González (2007, p.351): O que a pedagogia hospitalar está buscando, ao pretender a educação da criança doente, é o pleno desenvolvimento de suas faculdades mentais e seu aperfeiçoamento pessoal. [...] que continue progredindo na aprendizagem cultural, social e formativa e, principalmente, na maneira de saber enfrentar a doença, adquirindo uma maior autonomia pessoal e um atendimento educacional melhor e personalizado. Daí a relevância do atendimento pedagógico hospitalar a fim de atender a criança e o adolescente hospitalizado no processo do seu desenvolvimento, processo este que mesmo hospitalizado não é, e não deve ser interrompido. Conforme Justi; Fonseca; Souza (2011, p. 23): "a criança pequena está em formação e, mais do que qualquer outro indivíduo, ela precisa de atenção em todas as áreas de seu desenvolvimento, e não apenas no âmbito da patologia [...]". Porquanto, torna-se uma necessidade a implantação do serviço educativo hospitalar, visando dar continuidade à este processo do aluno enquanto paciente. Nesse sentido Matos; Muggiati (2008, p.71) ressaltam: Ratifica-se aqui, então, a necessidade de uma projeção emergente que, além de atender ao estado biológico e psicológico da criança, atenda também as obrigações escolares do educando no aspecto pedagógico. Tais alternativas, se processadas num ambiente diferenciado, irão beneficiar sua saúde mental, refletindo positivamente nos aspectos da saúde física e contribuindo, sensivelmente, para diminuir seu tempo de internação. Percebe-se, que as ações educativas realizadas com alunos hospitalizados podem contribuir com o desenvolvimento pedagógico como também favorecer a saúde mental e/ou diminuição do período de internação. Segundo Gonçalves; Valle, (1999, p. 275-277) "as crianças revelam esforços pessoais para a continuidade de seus estudos. Pedem para os pais trazerem o livro e o caderno utilizado na escola ou, ainda, dedicam-se à leitura diversa, desenhos e escrita espontânea". Não querem perder o vínculo com as práticas escolares, sentem falta delas. Nos casos em que a doença é mais comprometedora torna-se necessário um atendimento didático diferenciado e adequado ao seu estado de saúde. De acordo com Justi; Fonseca; Souza (2011, p. 38): [...] desenvolver uma adaptação curricular e a flexibilidade do plano de trabalho docente é fundamental para atender aos alunos acometidos de diferentes patologias, pois, geralmente, os tratamentos neoplásicos são muito agressivos ao paciente e acabam por comprometer o desenvolvimento de sua aprendizagem. Sendo necessário que o professor elabore estratégias especificas para atender estes alunos no seu processo de aprendizagem, respeitando sua dor, suas limitações e o estado emocional que possa estar vivenciando decorrente da doença. De acordo com Justi; Fonseca; Souza (2011, p. 25): "[...] professor e aluno podem construir conhecimento de modo efetivo e eficiente em qualquer lugar", até mesmo no Hospital. Uma vez que não existe lugar especifico para haver ensino-aprendizagem, basta que os envolvidos estejam dispostos a ensinar e a aprender. Para citar este trabalho: AMORIM, Neusa da Silva. A PEDAGOGIA HOSPITALAR ENQUANTO PRÁTICA INCLUSIVA. Porto Velho, 2011. disponível em: Para conhecer este trabalho na íntegra ou outras obras da autora envie email para: [email protected]