A Língua Portuguesa é o principal veículo de comunicação utilizado por seus falantes buscando a interação com outras pessoas a fim de obter acesso às informações, aos conhecimentos e à cultura da qual fazem parte. Ela é capaz de fornecer os subsídios necessários à realização de diversas operações intelectuais; organizando o pensamento, possibilitando o planejamento das ações e apoiando a memória para construção da mensagem desejada ao interlocutor almejado, ou seja; durante o processo de comunicação é possível realizar diversas retextualizações, até conquistar a mensagem pretendida ao contexto discursivo.

Num processo de interação verbal é possível que haja alguma interferência no canal linguístico e a mensagem do emissor não seja compreendida pelo receptor e, esse necessite retomar a comunicação através de indagações do tipo (“Como?” “O quê você quis dizer com isso?”) garantindo assim, a manutenção do canal. Quando isso ocorre esse está realizando uma atividade epilinguística. Situações desse estilo, quando pedagogicamente organizadas, podem constituir importantes fontes de reflexão, análise e organização de informações sobre a língua e, no processo de ensino-aprendizagem, devem anteceder as práticas de atividades metalinguística, para que essas possam ter algum significado para os alunos conforme os usos em contextos reais de situações aprendizagens.

Nesse sentido o ensino de Língua Portuguesa destina-se a preparar o aluno para lidar com a linguagem em diversas situações de uso e manifestações, inclusive a estética, pois o domínio da língua materna revela-se como fundamental para o acesso às demais áreas do conhecimento. O desenvolvimento do conhecimento linguístico implica em situações de ensino-aprendizagem pautadas em práticas de leitura compreensiva e crítica de diferentes gêneros textuais; produção escrita em linguagem padrão; análise e manipulação da organização estrutural da língua, e percepção das diferentes linguagens (literária, científica, política, jurídica, visual, entre outras modalidades.) como formas de compreensão global do mundo.

Os objetivos de Língua Portuguesa salientam também que uma das principais responsabilidades dos professores é a criação de estratégias de diferentes formas de aprendizagens com o objetivo de a cada nível/série/ano das etapas de ensino o aluno possa apropriar-se de diferentes níveis de proficiências orais e escritas para desenvolver sua capacidade de compreender/interpretar textos diversos, de assumir a palavra e produzir textos, em situações de participação social com objetivos de agir e interagir no mundo (RELATÓRIO SARESP, 2009).

Nesse processo de construção da interação verbal visando à aquisição dessas competências e habilidades, percebe-se a importância do estudo dos gêneros discursivos na produção de sentidos, mas não se pode negar a importância e relevância da análise linguística para a produção do contexto dessa interação, pois ela também é parte constitutiva do todo discursivo tomando-se por base a produção textual. É importante lembrar que trabalhar a análise linguística também constitui práticas de aprendizagens relativas ao desenvolvimento da competência comunicativa /discursiva do aluno, que passa pela competência gramatical, interativa e textual.

O termo análise linguística refere-se ao exercício contínuo de reflexão sobre a linguagem, tomando por base a organização do texto (quer seja na sua modalidade escrita ou oral), o local social onde o mesmo foi produzido, o contexto de utilização e interlocução, o gênero escolhido, os elementos lexicais utilizados para garantir a interação, os recursos de textualização empregados naquele contexto e as regras gramaticais da língua, as quais são essenciais para compor o gênero selecionado.

Conforme consta nos documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) o texto é único como enunciado, mas múltiplo enquanto possibilidades para atribuição de significados diversos, devendo ser, portanto, objeto também único de análise/síntese. Sendo assim, o ensino de gramática não deve ser trabalhado isoladamente, uma vez que um texto abre uma infinidade de leques para exploração de nomenclaturas gramaticais e os sentidos que elas representam em um texto.

São vários fatores que implicam na produção de sentidos do texto, embora o enunciado seja único, como observado acima as interferências no canal linguístico comprometem e muito a compreensão da mensagem, mas isso é apenas uma das causas. Existem outras que vão além, como por exemplos: formas agramaticais de construção de frases, problemas relativos à sintaxe (concordância, regência, colocação pronominal, entre outros), à morfologia (classes de palavras), ou ainda aspectos fonológicos (ortoepia, prosódia e ortografia). Mas será mesmo necessário que o professor venha conceituar todos esses aspectos da língua para conquistar um aluno proficiente em competência leitora e escritora, segundo as exigências dos novos parâmetros curriculares?

As novas propostas curriculares têm como objeto de ensino centralizado no texto e suas especificidades conforme os conteúdos pautados em cada gênero textual utilizado para a ciclo/série/ nível de aprendizagens. Sendo assim as possibilidades de ensinar a gramática normativa podem ser perfeitamente ajustáveis e articuladas à gramática internalizada, pois não se pode negligenciar o saber implícito que cada aluno traz (vivência de mundo) ao adentrar os muros da escola.

Verifica-se, portanto, que não é possível ensinar a Língua Portuguesa e as normas que a regem sem que haja uma forma contextualizada para explanar determinado conteúdo, pois a língua não pode ser vista como algo estático, inflexível, mas, assim como o falante, ela é viva, adquirindo vida em contextos e situações diversas, assumindo também inúmeros significados, não sendo possível conferir-lhe determinada nomenclatura para análise de um vocábulo fora do seu contexto de produção, ou seja; é preciso desconstruir o conceito de certo ou errado na língua (posto que ela seja mutável) tomando consciência do adequado e inadequado, considerar o texto, suas condições e formas de produção, o locutor, os interlocutores, o canal utilizado para a comunicação, enfim, todos os aspectos que norteiam a análise do discurso.

Dessa forma, espera-se que os professores de Língua Portuguesa repensem sobre o ensino de gramática nas escolas a partir da metodologia sócio- interacionista, observando que as práticas de análise linguísticas são importantes formas de aprendizagens para proporcionar aos alunos oportunidades de compreensão lógica da organização textual, sua adequação gramatical e ortografia. Concebam práticas de elaboração de projetos do ensino de gramática utilizando a mesma como recurso nas atividades comunicativas que envolvam o uso da língua na produção e compreensão de textos orais e escritos em diferentes gêneros discursivos /textuais, seguidas de atividades de reflexão sobre a língua e a linguagem a fim de aprimorar as possibilidades de uso das múltiplas expressões linguísticas pelos alunos, onde esses exercerão a autonomia na seleção dos gêneros pretendidos às diversas situações de comunicação (torná-los poliglota dentro da própria língua), enfim, possibilitando-lhes oportunidades para o desenvolvimento de competências e habilidades para exercer a plena cidadania.

REFERÊNCIAS

Parâmetros Curriculares Nacionais (1999)

Relátório Saresp, 2009.

Programa Currículo e Prática Docente - Língua Portuguesa e Literatura - 2012