A AMÉRICA LATINA E OS ESTADOS UNIDOS: AS RELAÇÕES POLITICAS E ECONOMICAS ESTADUNIDENSES NOS ANOS DE GOVERNO DE RONALD REAGAN COM RELAÇÃO À REGIÃO (1981-1989).



Daniel Rodrigues de Lima1



RESUMO: O presente artigo tem como foco entender as relações entre América latina e os EUA nos anos do governo do republicano conservador Ronald Reagan. O objetivo é mostrar como se deram as relações politicas e econômicas entre América Latina e EUA durante os anos de presidência de Ronald Reagan, analisando as características principais. O método utilizado é o de revisão de bibliografia. Por fim, melhorarmos nossa compreensão acerca desse período da Historia da América Contemporânea.

Palavras chave: América Latina; Estados Unidos; Ronald Reagan; Relações; Politica e Economia.


INTRODUÇÃO

O fim da Segunda Guerra Mundial trouxe novas formas de relacionamento entre os países da América Latina e os Estados Unidos.
O temor da disseminação das ideias comunistas/ socialistas na região e a possibilidade de um novo conflito em escala Mundial com a implementação da Guerra Fria (1945-1989), levou os governos estadunidenses reverem suas posturas em relação a politica e a economia, sendo preciso sair do isolacionismo em relação a sua politica externa , e com isso vislumbra seu ideário de superpotência mundial.
Após a Segunda Guerra Mundial muitos países da América latina começam a ter regimes de caráter populista como são os casos de Brasil, Argentina, Uruguai, México, enquanto outros partiram para o lado comunista/socialista como Cuba, Nicarágua, Granada e Chile. A partir disso os Estados Unidos implementam sua politica de intervenção nesses países ora financiando as ditaduras de direita, ora financiando grupos armados em forma de guerrilhas ambos alinhados aos interesses estadunidenses.
Com a eleição de Ronald Reagan à presidência dos EUA em 1980, assumindo seu primeiro mandato em 1981 começa uma nova fase nas relações entre América Latina e os EUA.
Os objetivos desse artigo é mostrar como se deram as relações politicas e econômicas entre América Latina e EUA durante os anos de presidência de Ronald Reagan, analisando as características principais, e compreendendo com isso a visão e o interesse dos EUA com relação a América Latina.
O referencial teórico estará fundamentado na História Politica com interface na História Econômica, onde Luis Fernando Ayerbe nos fornecerá boa contribuição com sua obra "Estados Unidos e América Latina", em que os capítulos 6,7 e 8 da obra são fundamentais em nossa análise no sentido de nos darem suporte acerca de como foram os anos de governo de Ronald Reagan e sua politica e economia relacionados à região da América Latina e com essa reagiu a tal fato.
René Remònd em " História dos Estados Unidos" nos da contribuição para tecitura de nosso trabalho, pois o último capitulo da obra intitulado "A Superpotência: De Truman a Reagan", onde nos é mostrado como os EUA passaram a se articular com o mundo no decorrer do período chamado de Guerra Fria, dando base geral de como será a relação estadunidense não só com relação a América Latina, mas, com o mundo pós- Segunda Guerra.
O método que utilizaremos na produção de nosso trabalho é de revisão de bibliografia que consiste na análise acerca de produções sobre o tema, e com isso, entendendo as contribuições e ideias principais que os autores citados em nosso trabalho dão ao assunto em questão.
Por fim, o artigo segue mostrando: A relação entre América latina e EUA nos anos do governo de Ronald Reagan; e em seguida, com nossas considerações finais. Pretendemos dessa forma mostrar nossa opinião acerca de tais relações.


A RELAÇÃO ENTRE AMÉRICA LATINA E EUA NOS ANOS DO GOVERNO DE RONALD REAGAN.

As relações estadunidenses em relação não só ao mundo mas principalmente com a América Latina começam a ganhar formato a partir do governo republicano conservador de Ronald Reagan, onde Luis Fernando Ayerbe nos orienta sobre essa questão:

O pragmatismo do governo Reagan, que defende o apoio aos países que se comportam como aliados, independentemente do regime político vigente, sustenta-se teoricamente nas análises da cientista política Jean Kirkpatrick, que, nos seus artigos da revista Commentary, defende a necessidade de estabelecer uma distinção entre regimes autoritários e totalitários. Para ela, os primeiros representam uma forma de governo que, embora inevitável em certas circunstâncias, não assume um caráter permanente. É o caso da maioria dos países latino-americanos, onde os regimes autoritários, de natureza passageira, não são hostis aos Estados Unidos. Os segundos, associados aos regimes comunistas, são essencialmente desrespeitosos aos direitos humanos, assumem um caráter permanente e são definitivamente inimigos dos Estados Unidos. A partir do posto de representante do governo Reagan nas Nações Unidas, Kirkpatrick será uma voz ativa favorável às ditaduras militares latino-americanas, que enfrentam um crescente isolamento internacional. (AYERBE, 2002, p.209)

Essa politica externa dos Estados Unidos ficou conhecida como " Doutrina Reagan" em que a mesma segundo Antônio Gasparreto Júnior consiste em:

A Doutrina Reagan foi uma estratégia orquestrada e administrada pelo próprio presidente na qual os Estados Unidos contribuíam com guerrilheiros e movimentos de resistência que se posicionavam contra governos soviéticos e comunistas em países da Ásia, África e América Latina. Todas as ações eram desenvolvidas de forma secreta, mas o empenho era muito grande para que se pudesse reduzir a influência ideológica e governamental de soviéticos nas regiões onde investiam nos grupos de oposição.
Ao mesmo tempo, a Doutrina Reagan buscava a abertura de portas para o capitalismo e para a introdução do que até hoje os Estados Unidos utilizam como argumento, a promoção da democracia liberal.

Em grande medida, o crescimento econômico da América Latina nos anos de 1970 havia dependido dos empréstimos do exterior. Ao longo da década de 1980, manteve-se a tendência de queda da cotação de boa parte dos principais produtos primários de exportação latino-americanos. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos colocavam em prática uma política de valorização do dólar e de aumento das taxas de juros em nível interno. Isto significou uma dupla penalização para a América Latina, pois houve um aumento dos encargos com o serviço da divida, que se tornou mais cara, bem como um esvaziamento da oferta de capitais, dada a atração exercida pelo mercado norte-americano. Em consequência, os investimentos públicos contraíram-se.
O continente arrastou-se numa crise econômica por todos os anos de 1980. com relação a isso segundo Leandro Karnal (2007):

Depois da Segunda Guerra a política externa dos EUA foi orientada pela despreocupação em relação aos países da América Latina. Contudo, sem deixar de monitorar todos os governos da região, no sentido de frear possíveis regimes que promovessem reformas sociais ou mudanças na relação de subserviência aos americanos.


Para a negociação da divida e obtenção de mais créditos deveriam ser aplicadas reformas, que incluíam a abertura das economias nacionais ao mercado, bem como a inversão estrangeira, a redução do papel do governo como agente econômico, o impulso a novas exportações e medidas contra inflação. Segundo Luis Fernando Ayerbe:

são fatores que contribuem decisivamente para a vulnerabilidade externa das economias latino-americanas: a debilidade da vocação industrial do empresariado nacional e de outras forças sociais com presença marcante na política governamental, um protecionismo que favorece a ineficiência mais do que a capacitação produtiva nacional, a presença de empresas multinacionais em atividades que demandam pouca complexidade tecnológica e a inexistente, ou deficiente, dependendo do país, produção interna no setor de bens de capital.(AYERBE, 2002, p.231)


Em princípios de 1984, os países latino-americanos e caribenhos reuniram-se e assinaram a Declaração de Quito, proclamando a necessidade de coordenar esforços e políticas nacionais frente à crise econômica.
Entrada a década de 1980, com o fantasma do Vietnã já fazendo parte do passado, as medidas tomadas pelo governo conservador republicano tiveram como objetivo a retomada da hegemonia mundial por parte dos Estados Unidos. O principal temor era o chamado "efeito dominó" na América Latina. Onde segundo Ayerbe:

Para o governo Reagan, o principal temor nessa região é o chamado "efeito dominó" que, a partir das mudanças em Nicarágua e Granada e a crescente instabilidade em El Salvador e Guatemala, poderia favorecer uma onda revolucionária capaz de arrastar o México e penetrar nos próprios Estados Unidos, pelas grandes comunidades negras e hispânicas. ( AYERBE, 2002, p. 205)


As preocupações pelo aumento da escalada de violência no continente estavam voltadas, principalmente, para a América Central. O apoio financeiro aos contras, ex-guardas somozistas e mercenários que atuavam na Nicarágua, a partir da fronteira com Honduras, convulsionou ainda mais toda a região.
A participação norte-americana na Nicarágua foi através de ajuda e assistência militar às forças contra revolucionárias.
Onze anos após a queda da ditadura de Somoza, o governo eleito em 1990 defrontava-se com uma herança econômica crítica, produto do bloqueio norte-americano e da agressão dos "contras" na fronteira com Honduras.
Em El Salvador, os militares tinham dominado a cena política desde os anos de 1930, direta ou indiretamente. Recorreram à fraude nas eleições presidenciais de 1972, para impedir a chegada ao poder de uma coalizão de oposição conduzida pelo democrata-cristão Napoleón Duarte.
Em Honduras, os militares, direta ou indiretamente no poder há décadas, buscaram garantir uma saída de cena, imunes a investigações. Com a eleição em 1981 de Roberto Suazo Córdoba (1981 ? 1985), os militares garantiram o controle de todos os aspectos da segurança nacional em um processo de transição democrática original.
Se na América Central o decênio havia registrado um quadro sem precedentes de violência, com a morte de quase duzentas mil pessoas e o deslocamento de outros dois milhões, na América do Sul o processo de transição à democracia tendeu ser mais tranquilo. Com a crise econômica e a repressão sem limites, os governos autoritários não conseguiram conter os protestos internos, nem os da comunidade internacional. Contudo Ayerbe nos informa acerca da transição às democracias na América Latina:

A transição para a democracia na América Latina nos anos 80 não pode ser considerada um crédito no balanço da administração Reagan, que nunca apresentou essa questão como parte dos objetivos da sua política externa. Ela é um desdobramento da crise econômica que se agudiza a partir do segundo choque do petróleo, da fase recessiva que acompanha essa década e da crise geral na sociedade e no sistema político da maior parte dos países latino-americanos, dada a incapacidade dos regimes militares em apresentar soluções que contemplem a maioria do espectro social. Esses regimes se limitaram a impor, pela força, políticas excludentes, reprimindo as organizações representativas da pluralidade de interesses econômicos, sociais e políticos.(AYERBE, 2002, p. 209-210)

A ditadura argentina, na década de 1980, começou a sentir o peso das demandas para uma abertura democrática.
No Equador, depois do governo da última junta militar (1976-1979), houve uma sucessão de presidentes eleitos democraticamente. Na Bolívia, a volta à democracia se deu com a eleição de Hernán Siles Suazo (1982 ? 1985).
O Peru, ao contrário dos demais países da América do Sul, voltava à democracia em um contexto de explosão de violência, depois do governo do General Bermúdez (1975 ? 1980).
Apesar de que em Cuba se seguisse o domínio único do Partido Comunista e no México continuasse a hegemonia quase sem contestação do PRI, 1989 foi marcado por eleições presidenciais em quase todos os países latino-americanos, embora caracterizados por ritmos diferenciados de transição política.
Outra questão que terá grande intervenção estadunidense com sua relação com a América Latina é acerca do narcotráfico, onde esse fato será pauta da politica externa estadunidense acerca de sua politica de segurança nacional, em que de acordo com Ayerbe:

A partir das administrações republicanas dos anos 80, a grande mudança que se opera no combate ao tráfico de drogas será a vinculação desse problema com a segurança nacional, extrapolando o âmbito interno e policial da repressão, para transformar-se em tema de política externa, no qual a participação das Forças Armadas em operações fora do país começa a ser discutida.(AYERBE,2002, p. 213)


Entrada a década de 1990 as administrações norte-americanas tentariam ajudar a reconstruir as economias devastadas da América Central, mas as atenções se voltaram para as nações do antigo bloco soviético. A ajuda à região, tanto econômica como militar, caiu abruptamente em um cenário humano arrasado. Para boa parte da América Latina, com a crise econômica da década de 1980, isto se refletia num aumento da pobreza e ampliação das desigualdades sociais. Foi um custo muito alto no retorno democrático, ainda mais em um novo quadro internacional, no qual a América Latina para Washington, mais uma vez, deixava de ter importância.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Por fim, entendemos as relações estadunidenses com relação a América latina nos anos Reagan, se deram sempre de forma, onde os EUA buscaram com tais relacionamentos promover sua politica e economia as nações da América, em que seriam postos e impostos em prática os interesses estadunidenses, pois implementam sua politica de intervenção nesses países, ora financiando as ditaduras de direita, ora financiando grupos armados em forma de guerrilhas ambos alinhados aos interesses estadunidenses, e não sendo fundamentais no processo de transição para democracia da região, portanto, tal processo foi muito mais uma questão de caráter interno politico e econômico devido as crises em que a região era muito afetada e as manifestações da opinião pública e da população, do que por incentivo estadunidense durante a era Reagan. .

REFERENCIAS


Ayerbe, Luis Fernando. Estados Unidos e América Latina: a construção da hegemonia . São Paulo: Editora UNESP 2002.


GASPARRETO JÚNIOR, Antônio. Doutrina Reagan. Disponível em http://www.infoescola.com/historia/doutrina-reagan. Acessado em 25 de abril de 2011.


KARNAL, Leandro. A História dos Estados Unidos. São Paulo: Contexto, 2007.


REMÒND, René. História dos Estados Unidos. São Paulo: Martins Fontes, 1989.