A AFROLITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA FERRAMENTA FAVORÁVEL À CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA CRIANÇA NEGRA

 

ROSANGELA GOMES SILVA

ZULEIDE DOS SANTOS ARTEAGA

MARTA MILA DE ARRUDA CONCEIÇÃO 

LAURA FAGUNDES MORAES

RESUMO

 

 

O presente artigo tem como objetivo evidenciar a representação do negro pela literatura infantil e as possibilidades da construção identitária da criança negra. Destaca-se por meio da pesquisa bibliográfica a importância da ressignificação pedagógica através de uma literatura cujas representações do negro estão voltadas aos aspectos sociais e do cotidiano, logo seja uma representação real da pessoa humana. Deste modo a través da história da afroliteratura pode ser apresentado formas que estimuleaceitação do eu negro bem o combate com todos os tipos de preconceitos raciais. Assim as inferências pedagógicas da educação infantil devem oferecer elementos que contribuam para estaaceitação e também da cultura afrodescendente. Neste sentido apresenta-se aqui uma breve reflexão sobre a temática em foco ao passo que se exemplifica algumas afroliteratura.

 

Palavras-chave: Identidade. Afroliteratura. Representação. Aceitação.

 

1-    INTRODUÇÃO

 

A Construção da Identidade da Criança Negra na Educação Infantil tem sido alvo de vários estudos.  Neste trabalho a reflexão que ora se pretende se norteará pelo seguinte tema “A Afroliteratura na Educação Infantil: Uma Ferramenta Favorável à Construção da Identidade da Criança Negra”.Diante disto aborda-se como a literatura afro-brasileira pode possibilitar conforme a teoria vigosktiana um cenário cognitivo que seja de fato favorávelàconstrução dos elementos necessários à formação da identidade da criança negra dentro do processo cognitivo da educação infantil.

Acredita-se que ao longo dos anos a escola foi acometida por uma representação vulgar do negro brasileiro, fazendo-a de uma forma um tanto pejorativa e preconceituosa. O negro sempre evidenciado como, o escravo, o feio, o mau, o empregado, o ladrão. Esta questão sempre levou a criança negra a não aceitação de sua condição étnico-racial e ao mesmo tempo difundiu a cultura do branqueamento. Diante disto se constitui dever da escola atual se contrapor a estes elementos apresentando a Afroliteratura com a ferramenta pedagógica na construção da identidade da criança negra. O uso efetivo da Afroliteratura podefavorecer a construção da identidade na educação infantil.

Diante da proposta de ensino que ora se propõe será necessário a pesquisa bibliográfica e o efetivo estudo de autores como: ABRAMOVICH, (1989),BARREIROS, (2015), BRASIL (2004), BETTELHEIM, ( 2007), BELÉM, (2012),COSTA, (2003), COELHO, (2000), DIONÍSIO (2010), ERIKSON, (1972), HALL, (2005), JOVINO, (2006), LAJOLO, (1986), MARIOSA, (2011), MOTA, (2010), PERES, (2012), PIRES, (2005) , ZYCH, ( 2011) e  e outros cujas teorias possam contribuir com a discussão da formação da identidade  na educação infantil.

 

2-    O SURGIMENTO DA LITARATURA INFANTIL

 

 Embora os dados possam se apresentar de forma um tanto vaga, ainda é possível fazer um breve histórico do desenvolvimento da literatura infantil. Os primeiros livros infantis surgiram no final do século XVII e durante o séc. XVIII, exatamente em um momento histórico em que a criança era vista com um adulto em miniatura e não como um ser em pleno desenvolvimento. Em detrimento a este entendimento não havia uma obra específicas para o público infantil. Ao passo que a participação de crianças no dos adultos, como em sarais e festas era algo muito comum. O que fazia com que as crianças desta época perdessem aos poucos suainfânciasem mesmo poder celebrar a alegria e a fantasia típica deste momento da vida.

Diante deste contexto o mundo adulto era transposto para a infância que o que se pode ser facilmente percebido tanto na literatura como nas obras de arte datadas dos séculos XVII e XVIII. Atoda a obra literária está fadada puramente em transmitir os valores vigentes, a saber, os da vida doméstica, do casamento e da burguesia. Mais tarde no século XIV é que surgem algumas faíscas de mudanças, embora um tanto tímidas e silenciosas se configuram de estrema importância para o processo de consolidação de literatura de fato voltada ao público infantil.

Coelho (1991) postula que o marco principal para o surgimento da literatura infantil está exatamente na abertura de uma nova mentalidade com relação a infância. Romper com antiga tradição já é considerado um ponto proeminente. Admitir que a infância está ligada a“instrução de emoções, diversão ou prazer, pelas histórias, mitos, lendas, poemas, contos, teatro” (p. 5) já era um passo largo, que aos poucos ganhava cada vês mais espaço. Na opinião do autor uma vez “criadas pela imaginação poética, ao nível da mente infantil, que objetiva a educação integral da criança, propiciando-lhe a educação humanística e ajudando-a na formação de seu próprio estilo”(IBID). A presença desta nova mentalidade foi muito importante e assegurou inclusive o surgimento de literatura com vocabulários amais adequados ao público infantil.

Diante desta nova compreensão da infância surge então um novo cenário, muito embora influenciado por valores não muito humanistas, mas que configurou um espaço importante para a construção literária. Assim os autores ainda tímidos começam escrever suas primeiras obras. Este é um fato que possui claramente influencia na construção da nova concepção de infância pois esta compreensão foi facilitadora do novo processo literário que seguiu. O berço desta inovação literária que traz como foco literatura para “crianças” é de acordo com Coelho (1991) na França sob a monarquia de Luiz XIV, pós o monarca manifestarsua  preocupaçãocom a questão da infância. E isso abriu caminho aos primeiros escritos. A saber, as Fábulas (1668) de La Fontaine; os contos da mãe gansa (1691/1697) de Charles Perrault; os Contosde Fadas (8 volumes-1696-1699) de Mme D’Aulnoy e Telêmaco (1699) de Fénelon.

 

2.1. A LITERATURA INFANTIL EM SOLO BRASIL

 

No Brasil também um marco nacional que possibilitou o surgimento de um novo movimento literário, a saber, a implantação da imprensa Régia em 1808. Todavia não ao contrário dos franceses os autores brasileiros ainda se mostravam tímidos e não tinham muita apreciação à nova modalidade, até mesmo por não demonstrar um mercado seguro. De acordo com Lajolo e Zilbermam, (1986) podem-se destacar asprimeira investidas leirarias em obras como “As aventuras pasmosas do Barão de Munchausen de 1818, a coletânea de José Saturnino, “coleção de histórias morais relativas [...] às idades tenras e um diálogo sobre geografia, cronologia, história de Portugal”(p.23). É necessário salientar que está literatura ainda não se tratava de obras puramente infantil, pois se achavam fortemente influenciadas por valores europeus séculos XVII e XVIII, cuja a representação da infância era totalmente castradora e negava o direito de ser criança.

Deste modo conforme assevera Arroyo (1998) é após a prolação da republica é que surgem novas políticas econômicas e um apoio digamos mais declarado às novas produções o que acaba por aguçar as mentes escritoras. Diante deste contexto temos a contribuição de Peres, Marinho e Moreira (2012.p.5) enfatizando que somente a partir de:

Apelos nacionalistas e métodos pedagógicos estimularam o aparecimento de livros infantis brasileiros, pois até então só tínhamos obras estrangeiras que surgiram nos últimos anos do século XIX, traduzidas e adaptadas, muitas delas por Carlos Jansen e Figueiredo Pimentel. Graças a eles, circulavam no Brasil Contos seletos das Mil e uma noites (1882), Robinson Crusoé (1885) Viagens de Gulliver (1888) As aventuras do Alebérrimo Barão de Munchharisen (1891) Dom Quichote de La Mancha (1901). Os contos clássicos de Grimm, Perrault e Andersen eram divulgados nos Contos da Carochinha (1894), nas Histórias da avozinha (1896); assinadas por Figueiredo Pimentel e editadas pela Livraria Quaresma. Neste período destacava-se, também, o livro dos Contos infantis (1886), de Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira. Em 1904, Olavo Bilac e Coelho Neto editam seus contos pátrios. Já em 1907, Júlia Lopes de Almeida lança as Histórias da nossa terra. Em 1910, surge a narrativa longa; Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manuel Bonfim. Segundo

A literatura infantil fica totalmente evidenciada no início do século XIX quando é publicada “a revista O Tico–Tico para diferentes faixas de idade, que de certa forma valorizava os padrões da burguesia”(Peres, Marinho e Moreira,2012, p.25). De acordo com as autoras em 1915 são editadas em solo nacional novas obras como:Dom Quixote, As aventuras de Gulliver, contos folclóricos e versões dos irmãos Grimm, de Perrault de Andersen e outras obras de autoria do professor Arnaldo de Oliveira Barreto. Estas obras totalizaram aproximadamente uma centena que ocupar lugar na primeira biblioteca infantil do país, no estado de São Paulo.

            Ainda de acordo com os apontamentos de Peres, Marinho e Moreira,2012), estas primeiras literaturas romperam com pensamento europeu que concebia a criança com adultos miniatura ainda trazia muitos resquícios de afirmação de valores da política europeia. Assim a nova modalidade literária que acabara de surgir se mostrava já no seu início prejudicada por representação estereotipada e estava focada na padronização de comportamentos. A modelação ideológica de caráter era algo comum.Lajolo; Zilbermam(1986, p. 34). Os “textos infantis envolviam as crianças que os protagoniza em situações igualmente modelares de aprendizagem: lendo um livro tendo conversas educativas com os pais e professores”. Assim embora a literatura infantil tivesse caído no gosto dos autores da época, ficou evidente a influência do patriotismo, e os modelos europeus de exaltação da natureza em detrimento a infância. Ao que se percebe havia “... uma extrema valorização da natureza torna-se radical em obras de autores como Olavo Bilac, Manuel Bonfim e Coelho Neto”.Lajolo; Zilberman, (1986) apud de Peres, Marinho e Moreira (2012.p.6).

Em 1919, Tales de Andrade com o romance Saudade, no qual nota-se um discurso menos metafórico e conotativo, endossando e propagando a imagem de um Brasil que encontra na agricultura, sua identidade cultural, ideológico e econômica encerrando assim, esse primeiro período da nossa literatura voltada para as crianças. Peres, Marinho e Moreira (2012.p.7)

A Tales de Andrade devotou-se a proeza de escrever as primeiras obras que representasse de fato o ideal da infância, mas foi Monteiro Lobato com uma nova perspectiva literária que abriu os caminhos reais à nova modalidade literária. De acordo com Coelho, (1991, p. 225), a ele “coube fortuna de ser, na área da literatura infantil e juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o Brasil de hoje...” as obras de Lobato o colocam como o divisor de águas entre o primeiro e segundo período literário

2.2. A CONSOLIDAÇÃO DA AFROLITERATURA

Bettelhein (2007, p.12) postula que “a literatura infantil aquela que objetiva “desenvolver a mente e a personalidade da criança” e não só divertir e informar; como a que se deve ter significado para a criança, isto é, transmitir as experiências da vida”.E neste sentido   Dionízio (2010: 11) contribui com a reflexão ao dizer: “A literatura, enquanto arte é um dos caminhos que pode ser percorrido pelo homem na busca de prazer nessas relações”.O que o autor quer dizer é das relações sociais é que saem os elementos necessários para a constituição da literatura. Não pois outro caminho que de fato leve a uma representação do real a não ser o da própria relação humana. Assim surgem o primeiro movimento entorno da nova modalidade.O que acaba por devotar o importante papel da literatura infantil na formação do pensamento e da personalidade humana.

Como sistema simbólico de comunicação inter-humana, ela pode revelar os desejos mais profundos do indivíduo, que por sua vez, se transformam em elementos de contato entre os homens, e de interpretação das diferentes esferas da realidade. Portanto, num movimento também de busca incessante, a literatura-arte, pode abrir múltiplos espaços para novas possibilidades do conhecer. E não se pode tirar da literatura infantil esse papel tão importante na formação do pensamento, pela qual cada adulto já passou ou estará repassando em algum momento da sua vida. DIONÍZIO (2010: 11)

              Na opinião de Mariosa (2011) “As histórias, neste período, não retratavam positivamente o negro e sua cultura, ao contrário, reforçavam a imagem dele como subalterno, analfabeto e ignorante.” A cultura do branqueamento ainda se fazia muito forte na essência das produções. Jovino (2006), contribui com pensamento de que nem sempre o negro teve a oportunidade de protagonizar uma obra literária.

As histórias terminavam por criar uma hierarquia de exposição dos personagens e das culturas negras, fixando-os em um lugar desprestigiado do ponto de vista racial, social e estético. Nessa hierarquia, os melhores postos, as melhores condições, as belezas mais ressaltadas são sempre da personagem feminina mestiça e de pele clara. (JOVINO 2006. p. 187)

              É a partir da década de 30 do século XIX que o negro passa se mostrado nos livros, mas todavia como serviçais. Nesta mesma direção salienta Souza (2005) apud de Mariosa (2011. p. 44):

 “O negro aparecerá desde os seus primórdios, tanto na história quanto na literatura. Porém, o que ocorre é uma sucessão de poetas e romancistas que representam o negro de forma estereotipada e inferiorizada. Os homens e as mulheres negras são apresentados com características de: preguiça, violência, estupidez, superstição, feitiçaria, malandragem, lascividade ou feiura. Aqueles que retratavam o negro com mais simpatia, como Castro Alves, não se identificavam com os mesmos. Eram motivados pelo momento histórico em que viviam e pela classe à qual pertenciam, definindo o negro com uma mistura de idealismo e medo.”

Mas é nos idos da década de 70 ainda que de forma muito rudimentar é que aparece de fato um compromisso literário com causa do negro que rompe vagarosamente com os estereótipos. E por fim torna-se real o movimento que com uma nova proposta de representação do negro. “E o resultado dessa proposta é um esforço desenvolvido por alguns autores para abordar temas até então considerados e impróprios para crianças e adolescentes como, por exemplo, o preconceito racial” Jovino (2006)   apud de Mariosa (2011. P.45).

Esta mudança trouxe para o cenário literário a realidade imediata do negro como pessoa humana, a denúncia contra o preconceito, os símbolos culturais afro, a aceitação do eu, passam a ser elementos literários. Assim os elementos afros dão origem a novas histórias e trazem um repertório novo à literatura infantil. De modo que o negro ganha espaço nos livros infantis, não que não o tivesse, mas como ser humano, como pessoa que cultiva valores e afetividade,Mariosa (2011. P.45).

A partir deste contexto afroliteratura passa a fazer parte das bibliotecas e das salas de aulas. Isto foi um passo muito importante mas não garante a reflexão necessária. É preciso que o professor seja o precursor dos caminhos na construção de saberes e da cultura negra. E deste modo fazer com que ela seja de fato seja compreendida, por negros brancos e mestiços, para que de fato sua abordagem seja livre de preconceitos. Pois não como deixar de dizer que a afroliteratura objetiva o rompimento com estereótipos e valores etnocêntricos de qualquer espécie.

A afroliteratura brasileira poderia ser entendida, ainda, como aquela produção que: possui uma enunciação coletiva, ou seja, o eu que fala no texto traduz buscas de toda uma coletividade negra...Para que o livro seja uma obra de referência, não basta trazer personagens negras e abordagens sobre preconceitos. É importante levar em consideração o modo como são trabalhados o texto e a ilustração.PIRES; SOUSA; SOUZA (2005.p.1).

 Na opinião Jovino (2006. P. 216)os livros que retomam traços e símbolos da cultura afro-brasileira, “tais como as religiões de matrizes africanas, a capoeira, a dança e os mecanismos de resistência diante das discriminações, objetivando um estímulo positivo e uma autoestima...” A afroliteratura evidencia um cenário para que o leitor tenha contato com o mundo afro através da representação simbólica. Isto dado ao fato de esta literatura não se prender ao passado de escravidão mas a outros elementos que afra cultura pode oferecer. Dentre as obras que representam a afroliteratura brasileira pode-se citar  Menina bonita do laço de fita  Ana Maria Machado, O amigo do rei Ruth Rocha, (Ática), O menino Nito - Sonia Rosa, Sundjata o leão do Mali – Will Eisner (Cia das letrinhas), Chuva de manga - James Rumford (Brinque Book), O menino marrom –Ziraldo, (ed. Melhoramentos, As tranças de Bintou -Sylvanie Diouf – (Cosac Naify), Tanto, tanto - TrishCooke (Ática) Adamastor, o Pangaré, Mariana Massarani (Melhoramentos), Que mundo maravilhoso - Joe Cepeda Julius Lester - (BRINQUE BOOK), A menina que bordava bilhetes – Lenice Gomes, (Editora Cortez), Quando eu digo, digo - Lenice Gomes – Paulinas, Ana e Ana – Célia Cristina & FE ed. DCL, Meus Contos Africanos- Nelson Mandela (Org.) Por que o Sol e a Lua Vivem no Céu: um Conto Popular Africano – André Koogan Breiman, Ed. Nacional, Ambira da beira do rio Zambeze: canções do povo xona inspiram crianças brasileiras.  Heloisa Pires, Ed. Salamandra, Krokô e galinhola- um conto africano (Brinque Book), Os tesouros de Monifa- Sonia Rosa (Brinque Book) e entre outros “O Cabelo de Lelê de Valéria Belém, Ed. IBEP.

2.3.EDUCAÇÃOINFANTILE CONSTRUÇÃO IDENTIDADE NA AFROLITERATURA

A construção da identidade de crianças negras na educação infantil tem se constituído em objeto de estudo de vários cientistas da educação. O que nos permite dizer que os eventos da vida diária são fortes estimuladores da construção identitária.  A questão da identidade não diferencia os grupos humanos estando pois presente em todas as sociedades humanas. De acordo com Munanga (1994, p. 177-178)“Qualquer grupo humano, através do seu sistema axiológico sempre selecionou alguns aspectos pertinentes de sua cultura para definir-se em contraposição ao alheio”.Para Hall (2005) apud de Mariosa (2011. P. 45) “a identidade é formada ao longo do tempo e da vivência do indivíduo, está sempre sujeita às influências do meio na sua constituição.

Em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornam importantes para ele. (Erikson 1972: 21)

Neste sentido aafroliteratura está nainteração e coloca os escolares e não escolares como cenário de resolução de conflitos, uma vez que traz em sua essência elementos que constituem a aceitação do eu negro e da superação de preconceitos.  Desta forma fica cada vês mais evidente o papel da escola e do professor em refletir e divulgar esta afroliteratura que tem se constituído em forte em eficaz ferramenta pedagógica para a construção da identidade.Silva (2010). Pois de acordo com Munanga (2005) apud de Mariosa (2011.p. 48), contribui com o diálogo ao asseverar que:“o contato com a diversidade e as especificidades da cultura africana, deixando, assim, para trás, uma visão estereotipada e preconceituosa das idiossincrasias dos referenciais afrodescendentes”.

[...] não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas. Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional [...]MUNANGA (2005) apud de MARIOSA (2011.p. 48)

A afroliteratura na educação infantil ajuda a consolidar a sala de aula como cenário de vivencias que possibilitam a construção da identidade infantil, aceitação do eu, e o cultivo dos valores necessários ao respeito e a cidadania. De acordo com Zych E Ujiie E Costa, (2010.p. 41), a afroliteratura deve ser“incorporada pelas crianças, a atitude de aceitação do outro em suas diferenças e particularidades precisa estar presente nos atos e atitudes dos adultos com quem convivem na instituição”.

Começando pelas diferenças de temperamento, de habilidades e de conhecimentos, até as diferenças de gênero, de etnia e de credo religioso, o respeito a essa diversidade deve permear as relações cotidianas. Uma atenção particular deve ser voltada para as crianças com necessidades especiais que, devido às suas características peculiares, estão mais sujeitas à discriminação. Ao lado dessa atitude geral, podem-se criar situações de aprendizagem em que a questão da diversidade seja tema de conversa ou de trabalho. (ZYCH E UJIIE E COSTA.2010,1998, p. 41)

As orientações do RCNEI (vol. I, 1998, p. 13), a identidade pode ser influenciada pelos cenários da educação infantil, ao passo que os mesmos apontam alguns aspectos a serem desenvolvidos, a saber:

O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.;O direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;O acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética;A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade

3-    COSIDERAÇÕES FINAIS     

 

Conclui-se diante dos estudos realizados que afroliteratura pode contribuir de forma efetiva com a construção da identidade da criança negra na educação infantil. Isto pelo fato de apresentar valores étnico raciais e matizes africanas que se constitui elementos de compreensão de valores necessários à identidade em construção.

Desta forma é possível que a escola contribua de forma a possibilitar cenários de aprendizagens que traduzem os elementos da cultura afro em ferramentas pedagógicas. Pois é preciso resolver conflitos raciais e a educação através da afroliteratura pode fazê-lo de forma muito tranquila e prazerosa.

Pois embora a raça não exista biologicamente, isto é insuficiente para fazer desaparecer as categorias mentais que a sustentam. O difícil é aniquilar as raças fictícias que rondam em nossas representações e imaginários coletivos. (MUNANGA, 2004, p.26).Desta forma fica evidente que os aspectos negativos à imagem do negro, pode ser superado pela nova representação trazida pela afroliteratura.

Conclui-se então que muito embora a afroliteratura seja de fato uma ferramenta eficaz, é pois importante que se se atrele a uma pedagogia diferente. Pedagogia esta capaz de traduzir em conteúdos aplicáveis cada elemento da afroliteratura, da cultura africana. E somente assim a escola se tornará um espaço democrático de aceitação das diferenças. Assim serão colocados em práticas os valores e a estética da diversidade afro em prol da construção identitária.

 

4-    REFERÊNCIAS

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989.

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