A AFETIVIDADE E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

 

Marielle da Silva Cardoso 

 

 Na maioria dos contextos a relação professor e aluno são vista apenas no que se refere à transmissão de conhecimentos, mas este quadro vem mudando depois que se percebeu a relevância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem.  

Quando pensamos no papel do professor dentro da sala de aula é importante ressaltar que algumas das suas atribuições são: incentivar o aluno orientá-lo, tirar suas dúvidas, saber ouvi-lo e dentre outras. A afetividade pode ser definida de diferentes maneiras, entre elas, a filosófica, a psicológica e a pedagógica. Nesta pesquisa a afetividade será abordada na perspectiva pedagógica, tendo em vista a relação professor-aluno em sala de aula na educação de jovens e adultos.

O estabelecimento de vínculos afetivos dentro de uma sala de aula modifica o convívio diário e serve como facilitador do processo de ensino e aprendizagem. A influência que o professor tem dentro da sala de aula é grande, pois ele tem a capacidade de cativar ou não seu aluno, sendo a partir deste ponto que o professor vai estabelecer um clima que pode ou não favorecer o processo de ensino e aprendizagem, que se dá a através de um bom relacionamento entre ambas as partes.                                                   

Almeida (1999, p.107) relata que:

As relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente.

Assim fica bem claro que uma boa relação entre professor e aluno é essencial, pois muitas vezes o aluno adulto busca dentro da sala de aula um abrigo para enfrentar as dificuldades do cotidiano e neste momento que o ele percebe o interesse do professor que ele é o mediador e incentivador no processo de ensino e aprendizagem, e o bom relacionamento ajuda seu desenvolvimento intelectual, além de incentivá-los a continuar freqüentando as aulas.                                                                                                                                        O professor deve criar métodos criativos que despertam o interesse de seus alunos e relacionando suas experiências e vivências do seu dia a dia deixando os alunos participar das aulas trazendo suas contribuições. Sendo assim Schwinn relata que:

Algumas qualidades são essenciais ao educador de jovens e adultos são a capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição de encarar dificuldades como desafios estimulantes, a confiança na capacidade de todos de aprender e ensinar. Coerentemente com esta postura é fundamental que o educador procure conhecer os educandos, suas expectativas, sua cultura, as características e problemas de seu entorno próximo, suas necessidades de aprendizagem... deverá também refletir permanentemente sobre sua prática, buscando os meios de aperfeiçoá-la.  Programa re-aprender 1995 apud SCHWINN, Marilene 2010

De acordo com Freire (1996) fundamental é que o professor e alunos saibam da postura deles que é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada enquanto fala e enquanto ouve. Contudo o aluno deve participar das aulas questionando o professor, não havendo uma relação de autoridade, onde o professor e o detentor do saber, mas sim ativa com a participação dos alunos. Assim este ensino se torna mais significativo potencializando o processo ensino e aprendizagem nas aulas da EJA.                      

Afirmando, Freire (1996) diz que a prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança. Ou seja, podemos observar que todo trabalho para ser efetivo, tem que alcançar seus objetivos e a relação afetiva necessariamente, tem que ser estabelecida. Sendo assim Morales afirma:                              

Podemos sempre potencializar o que há de mais positivo em nós mesmos; não contaremos coisas divertidas em sala, mas podemos preparar bem nossas aulas; não mostraremos uma proximidade afetiva que não está em nós, mas podemos tratar todos com respeito o tempo todo. MORALES, 2001, p. 85

 Nesta concepção, o afeto dentro da sala de aula direciona-se para o ato de ensinar com uma relação afetiva, esse aspecto uma vez percebido se encontra em todo o processo de ensino – aprendizagem, a começar do planejamento do professor, no qual, este irá traçar objetivos e estratégias que irá favorecer um clima agradável, no momento da contextualização da matéria e do desenvolvimento do conteúdo.

A relação entre professor e aluno acontece quando o diálogo entre ambos é saudável, através do qual eles criam laços de amizades, que colabora no processo de ensino e aprendizagem, visto que esta relação será de grande relevância, pois o professor vai despertar o interesse dos alunos para as discussões proposta dentro de sala de aula, buscando um ensino mais dinâmico e de qualidade, no qual, se baseia na valorização da pessoa e seus conhecimentos trazidos para sala de aula.

O aluno adulto tem muito a contribuir para o processo de ensino-aprendizagem, não só por ser um trabalhador, mas pelo conjunto de ações que exerce na família e na sociedade. De sua parte, o educando, especialmente o adulto, ao perceber que está sendo tratado com um agente ativo, participante do processo de aprendizagem, vai se sentir mais interessado e mais responsável. A responsabilidade é tão superior nessa concepção que o aluno compreende que está mudando sua sociedade, sua realidade e a essência de seu país fato de estar mudando a sim mesmo e que a educação que recebe não é favor ou caridade e sim direito instituído conforme parecer 11/2000 que trata das Diretrizes curriculares para Educação de Jovens e Adultos. LOPES, Silva Paraguassu; SOUZA, Luiza Silva. 2008

 Aqui fica clara a percepção e a relevância da afetividade dentro da sala de aula de jovens e adultos, assim podemos analisar que a afetividade dentro desta modalidade de ensino é bastante precisa, pois, os alunos terão confiança e respeito com seus professores , este poderá trabalhar de forma mais clara e precisa, contribuindo para a formação dos alunos com o intuito de mostrar lhes seus deveres e direitos dentro da sociedade, visando sempre à participação destes de forma ativa e objetiva contribuindo para o processo de aprendizagem.

CHALITA (2004, p.230) afirma que “o grande pilar da educação é a habilidade emocional”, portanto, mesmo em ambiente escolar, é impossível desenvolver as habilidades cognitivas e sociais, sem trabalhar a emoção.

 

Fatores positivos e negativos da afetividade

 A afetividade é um grande potencializador no processo de ensino aprendizagem na educação de jovens e adultos. Mas este processo pode possuir fatores tantos positivos como negativos. É fundamental o professor compreender que esta modalidade de ensino envolve adultos com faixa etária diversificada, onde recebem alunos adolescentes até idosos, que têm como objetivo, as realizações pessoais e aumento da auto-estima. O professor da Educação de Jovens e Adultos deve trabalhar com seus alunos sabendo lidar com as diferenças que existem na sala de aula.

Respeitando os sonhos, as frustrações, as dúvidas, os medos, os desejos dos educandos, crianças, jovens ou adultos, os educadores e educadoras populares têm neles um ponto de partida para a sua ação. Insista-se, um ponto de partida e não de chegada. FREIRE, p. 16, 1996

É neste ponto que a afetividade pode ajudar o professor dentro da sala de aula, já que a afetividade tem um papel fundamental na relação professor aluno, pois é através desta relação que ambos podem compreender o significado dos momentos que vivenciam na sala de aula. “Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar”. (Fernández, 1991). Realmente quando existe este vínculo afetivo dentro da sala de aula os alunos se expressam melhor e mostram afetividade com os professores.

A partir do momento que o professor não consegue se relacionar bem com os alunos ou não consegue chamar sua atenção, este vínculo de afetividade se romper e os alunos se antipatizam com os professores e muitos alunos deixam a escola.

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da qualidade de interação professor – aluno e da existência do clima afetuoso entre ambos. 

Ressaltando tal afirmação Freire fala, não existe educação sem amor. “Ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da comunicação com os demais” (FREIRE, 1987: 29).

Contudo o vínculo afetivo entre professor e aluno da EJA pode contribuir para um processo significativo de aprendizagem, assim ratificando tal afirmação (CODO e GAZZOTTI, 2002) relatam que “é mediante o estabelecimento de vínculos afetivos que ocorre o processo ensino-aprendizagem”.

Referências Bibliográficas

 ALMEIDA, A. R. S. A emoção e o professor: um estudo à luz da teoria de Henri Wallon. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 13. São Paulo, 1999.

BARROS, Célia Guimarães Silva. Pontos de Psicologia Escolar. 5º Ed. São Paulo: Ática, 2004. 

CODO, Wanderley; GAZZOTTI, Andréa Alessandra. Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: 3ª Edição. Ed. Vozes. 2002.

CHALITA, Gabriel. Educação. A solução está no afeto. São Paulo, 12ª edição. Ed. Gente, Brasília, 1998.           

FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Art. Med.1991.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, Saberes necessários á prática educativa, 7º. Ed, Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).

____________. Pedagogia do Oprimido, 17º. Ed, Paz e Terra,1987.

LOPES, Selva Paraguassu; SOUZA Luza Souza. EJA: Uma educação possível ou mera utopia? Disponível em: http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/Revista_SelvaPLopes.pdf Acessado dia 19/09/2011.

MORALES, Pedro Vallejo. A relação professor-aluno: o que é como se faz. 3 ed. São Paulo: Loyola, 2001.