2010: DILMA OU MARINA? EIS A QUESTÃO!

OU O MINISTÉRIO DA ATITUDE ADVERTE: MEDIOCRIDADE FAZ MAL À SAÚDE

 

“Elite estúpida e senil/ Que empresta amparo legal pra todo mal do Brasil/ Verme do toma-lá-dá-cá/Que vende o voto de vetar a violência e a miséria.”

(Zé Geraldo, compositor e cantor))

 

   O meu primeiro texto dessa série – “Por que não votar em José Serra – foi enviado para mais de trezentas pessoas da minha lista de contatos no hotmail. A primeira leitora que me escreveu comentando, pede logo de imediato que faça outro “detonando” também com a candidatura da Dilma e dizendo que fica na esperança de que eu esteja, assim como ela, “acreditando que a Marina Silva vai fazer a tão sonhada mudança que esperávamos do Lula, que apesar dos muitos acertos acabou se adequando ao modus operandi da política brasileira.”

  Olha, se vivêssemos num País realmente sério, acredito que nesse ano elegeríamos uma mulher para presidente, como já fizeram o Chile e a Argentina (só para ficarmos aqui embaixo mesmo). Para ser ainda mais claro, cito as palavras da escritora Marilene Felinto (Caros Amigos nº 149, de agosto/2009, página 7): “Se a mulherada tivesse vergonha na cara e um mínimo de autoestima, adquirida após quase um século de batalha feminista pelo reconhecimento da mulher como indivíduo capaz e, em vários aspectos, melhor do que o macho, vai eleger uma fêmea para presidente do Brasil na próxima eleição.

  Seria extraordinário eleger uma mulher para próximo governante do Brasil, seria bom para a democracia brasileira, e homenagem (ainda que tardia) às grandes mulheres que se forjaram aqui na militância de esquerda contra a ditadura militar (tantas Dilmas), às grandes mulheres que venderam sua força de trabalho nas fábricas de tecido de Pernambuco (tantas Irenes), nos canaviais do interior paulista como bóias-frias (tantas Marias), nos seringais do Acre (tantas Marinas) ou nas cozinhas-igrejas dos interiores de Minas escrevendo poemas (tantas Adélias)...”

  Em relação a Marina Silva, assim como aconteceu com a Heloísa Helena em 2006, acho que ela não terá grandes chances de se eleger, pois, como disse no primeiro texto, as eleições são ganhas por quem tem grana e mídia. Então, pela lógica e pelo andar da carruagem, o que irá acontecer? Serra vem com a grana das multinacionais e com boa parte da grande mídia elitista do Sudeste, como aconteceu com FHC nas duas eleições e com Geraldo Alckmin. Já Dilma virá forte, apoiada pelo carisma e popularidade de Lula, além da máquina do governo... É complicadíssimo esse nosso País!

  O que sei é que, para o Brasil, um bom ano novo seria aproveitarmos o período eleitoral para debatermos os rumos que corrigirão os problemas que persistem. Mas quem está realmente interessado em fazer isso? Veja o que escreveu o ex-reitor da UnB e atual senador da República pelo PDT Cristovam Buarque, em recente artigo publicado no site www.geracaoeditorial.com.br: “Graças à capacidade de comunicação e de aglutinação do presidente – aliada ao seu senso de responsabilidade na economia e seu sentimento de solidariedade social -, ocorreu um retrocesso nos debates sobre os rumos para o Brasil. A oposição ficou sem bandeiras, apenas denúncias, o povo se sente atendido pelo pouco que recebe, a economia continuou sua marcha, atendendo classes médias e empresários. Os intelectuais se calaram. Os estudantes foram acomodados; os sindicatos, descaracterizados e desmoralizados. Além de que o prestígio internacional do Lula, interno e externo, criou uma unanimidade reverencial, pela admiração ou pela bajulação.”

  Quanto à tão sonhada mudança: se Lula, que veio de baixo e aprendeu, a duras penas, como é para um nordestino, ex-operário, semi-analfabeto, como alguns insistem em dizer, gordo e feio chegar à presidência (assista ao filme!) não conseguiu fazer, acho difícil alguém conseguir. Temos muitos burros no poder. Em termos de política é daqui para pior. E tome mensalão e mensalinho! Todos acabam se adequando ao modus operandi - quer seja vereador ou presidente - é como um vício, uma cocaína, ou um vírus que vai contaminando a alma da pessoa... E como afirmou o escritor Luciano Pires no seu livro “Brasileiros pocotó: Reflexões sobre a mediocridade que assola o Brasil”, página 41: “Está na hora de crescer um pouco, de perder a preguiça e procurar entender por que acontece o que acontece, antes de sair colocando a culpa em A ou B. e não interessa quem seja A ou B. Se o alvo ontem era FHC, hoje é o Lula, amanhã...(?) e nada, NADA vai mudar. A culpa vai continuar sendo do presidente.” Acesse o site dele: www.lucianopires.com.br e confira.

  E, assim como a leitora do início do texto, também continuo acreditando que a mudança desse País vai continuar sendo feita por quem veio de baixo, pelo cidadão comum, que aprende aos trancos e barrancos como é difícil estudar, trabalhar e crescer. Esperar que as mudanças aconteçam sempre de cima para baixo, é ter muita paciência! Não há justiça social neste País. Justiça social é quando todos os cidadãos participam da divisão justa do bolo. E isso NUNCA aconteceu por aqui, por comodismo ou por sei lá o que mais. É como disse o pacifista norte-americano Martin Luther King: “Nossa geração não lamenta tanto os crimes dos perversos quanto o estarrecedor silêncio dos bondosos.”

  Além do comodismo e do silêncio, temos também um APAGÃO CULTURAL nesse País. E temos muitos artistas por aí contribuindo com ele. Apagão cultural é quando o governo dá vinte vezes mais dinheiro para a cultura do que jamais foi dado... E apesar disso, não conseguimos citar um grande artista como Glauber Rocha, Raul Seixas, Dodô & Osmar etc. Você é capaz de citar um?

  Era PT. Precisamos da era pós-isso.

  No primeiro texto, encerrei indicando um texto; agora, encerro indicando uma música de 1976, de Raul Seixas: “Eu Também Vou Reclamar”. Um trecho dela: “Mas é que se agora, pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto, todo mundo tem que reclamar...” A letra completa você encontra aqui: www.vagalume.com.br.

  Vamos lá! Bola pra frente! Fé na vida, fé no homem (e na mulher), fé no que virá...

  Aguarde o terceiro texto dessa série, que será sobre direitos humanos (ou a falta deles).

(Márcio Melo, professor de História, Filosofia e Sociologia; estudante de Direito; aprendiz de historiador e de filósofo)